sábado, 15 de julho de 2017

NO CENTRO DO FURACÃO

14 Savana 14-07-2017 Savana 14 -07-2017 15A rica base de Satunjira, tomada no mega assalto de 21 de Outubro de 2013, que precipitou a primeira fase da tensão político-militar, que viria a terminar em 2014 com a assinatura do Acordo para a Cessação das Hostilidades Militares, a 5 de Setembro, entre o então estadista Armando Guebuza e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama. Cinco de Junho de 2017 vai ser uma noite inesquecível, sobretudo para os jovens jornalistas que faziam a maioria da comitiva. Não era para menos. Numa das suas primeiras aventuras, tiveram de dormir sem fazer o banho e alguns sem cobertor. Afinal, só 10 jornalistas é que tiveram os cobertores com feições militares. Antes de se recolher aos pequenos colchões preparados para a imprensa, o intenso frio da serra quase que passa despercebido para uma classe que está preocupada em mandar os primeiros despachos para Maputo, através duma internet bastante deficitária. Enquanto isso, outros estão preocupados em recarregar os telemóveis e o equipamento jornalístico para a missão do dia seguinte. E lá se vai a noite. Coube aos jovens militares ali afectos confeccionar a xima, o arroz e os “bifes”, como de caprino, que vão constituir o cardápio do dia. Nhamadjiwa, uma base antigamente denominada por Mazembe, é um nome resultante da abundância, no passado, de rolas. Na língua local, Djiwa significa rola, Madjiwa rolas (o plural de Djiwa) e Nhamadjiwa é o sítio onde abundam rolas que devastavam culturas agrícolas das populações. Enquanto isso, Mazembe era um antigo guerrilheiro da Renamo, que era vulgarmente conhecido por Rasta Mazembe, nascido em Manica que, mais tarde, se fixou naquele ponto do Posto Administrativo de Vunduzi. Foi morto em 2013, em Muxúnguè, no quadro as confrontações militares entre as forças governamentais e da Renamo. Tensão indisfarçável A jornada do dia seguinte, 6 de Julho, começa pouco depois das 6h, com uma As mazelas que a Serra acoberta correspondente do semanário Zambeze, Benedito Cobrissua. O nome de Catueira, também colaborador do SAVANA, foi fornecido ao MDN na tarde anterior, pela direcção editorial do jornal. É preciso lembrar que, a 28 de Abril do ano passado, foi a Lusa, num despacho de Catueira, que noticiou a existência de valas comuns na Gorpongosa, fruto de denúncias de camponeses, o que irritou alguns sectores governamentais. Para o MISA Moçambique, um organismo regional de promoção da liberdade de imprensa, a decisão do Ministério da Defesa Nacional (MDN), de impedir que os dois jornalistas verificassem, no terreno, a retirada das tropas governamentais das polémicas posições situadas na Serra, é uma violação grave da liberdade de imprensa e do direito à informação. “A decisão de excluir dois jornalistas de imprensa privada, não só constitui uma ameaça indirecta aos órgãos de informação, como também coloca em causa a transparência e seriedade do processo de verificação da retirada das forças armadas nas posições objectos desta visita de jornalistas”, repudiou o MISA Moçambique, que é o capítulo moçambicano do Media Institute for SouthernAfrica. Após a distribuição de kits de ração de combate, a equipa segue viagem com destino a Canda, com a escolta já reforçada com três viaturas blindadas de transporte de tropas militares. A odisseia de até ao último reduto de Dhlakama Cerca de 14:20h, a comitiva, ida de Inchope, deixa a EN1 e toma o rumo da Serra, numa picada a Este da localidade de Canda, a primeira povoação assinalável a norte da ex-vila Paiva de Andrade, hoje vila da Gorongosa. Uma cancela seguida de uma posição militar prenunciam a entrada para uma zona, militarmente, sensível. Aberta a cancela improvisada de material precário e com os militares em continências espalhafatosas, inicia-se a excursão mata adentro. O destino é Nhariroza, uma antiga posição da Renamo tomada pelas FDS em Maio de 2016. Os pedregulhos que servem de ponte no pequeno riacho que ali corre desafiam o trânsito para os “4x4”. Mas logo depois da travessia, só as viaturas militares é que podiam prosseguir. Chumbava assim a teoria de que qualquer carro com tracção às quatro rodas é um todo o terreno. E a voz de comando ordena para os jornalistas se apinharem nos três transportes de tropas blindados (APC), os únicos com “cilindros, cavalos e tracção ” para o trajecto, embora fosse problemá- tica a chegada (não ensaiada) ao cume da Serra. Com as dificuldades de transitabilidade, só perto das 16h é que se atingiria a posição, que fica a qualquer coisa como 10 km de Canda. Carcaças de viaturas incendiadas e edifícios em escombros denunciam a violência do conflito armado naquela que terá sido uma das primeiras posições da Renamo a ser tomada pelas FDS. nistro da Defesa Nacional não tardou em ordenar a organização de uma expedição jornalística para a Gorongosa. A partida foi marcada para 5 de Julho. E às 4h30, os jornalistas começavam a chegar à base aérea de Maputo, debaixo de um frio e cacimbo intensos, característicos de uma madrugada de inverno. Era o início de uma cavalgada que, durante dois dias, levaria cerca de 20 profissionais da comunicação social, esmagadoramente pró-governamental, a escalarem aquele que foi o epicentro das confrontações armadas entre as FDS e o braço armado da Renamo, no quadro da chamada tensão político- -militar. Passados 15 minutos depois das 6h, um ruidoso avião militar de fabrico russo (Antanov) decolava da pista de Mavalane, com destino ao aeródromo de Chimoio, deixando para trás dois repórteres azarados. Habituados ao conforto das carreiras comerciais, os jornalistas não se coibiram de protestos pelo desconforto do que era, para muitos, a primeira viagem num voo militar. A rota é feita numa hora por jacto, mas tem o dobro da duração no bimotor turbo-hélice russo. Às 8h:15, o Antanov pilotado por uma tripulação russa aterrava no aeródromo de Chimoio, de onde a comitiva viria a partir às 8:45h., num “mini-bus” pertencente à Assembleia Municipal de Manica. Depois de um “pesado” pequeno-almo- ço – xima (farinha de milho) e frango - num restaurante da capital de Manica, a comitiva, liderada pelo chefe das For- ças de Defesa e Segurança (FDS) na Gorongosa, o coronel “WindeUani Bedford” e pelo representante do Comando Geral da Polícia (PRM), Ezequiel Muianga, (ambos vindos de Maputo com os jornalistas), seguiu viagem em Ford Rangers 4x4, cabine dupla, que os esperavam nos arredores de Chimoio. O próximo ponto de paragem foi o Inchope, o entrocamento onde o país se cruza, ao centro. É aqui onde são feitos os últimos acertos antes de se percorrer os derradeiros 90 km para a Serra da Gorongosa, num esburacado troço da Estrada Nacional Número 1 (EN1), a espinha dorsal de Moçambique. No Inchope, “ordens superiores”, e não de “distribuição de ração”, como pretende legitimar alguma imprensa do establishment, viriam a deixar por fora o “antipatriota” corresponde da Agência Lusa, André Catueira, mas também o Por detrás dos discursos políticos lavrados em salas climatizadas dos centros urbanos e muitas vezes baseados em relatórios de conveniência, há uma outra vida que se passa do outro lado da Gorongosa, longe dos holofotes da comunicação social. Na semana passada, o SAVANA fez parte de uma delegação jornalística que calcorreou o sopé da Serra para a verificação da retirada ou não de militares, em algumas das oito posições que poderão ter sido tomadas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) entre Maio e Setembro de 2016. Foram dois dias, 5 e 6 de Julho, de escala às antigas posições de Nhariroza, Nhandar, Mapanga-Panga, Nhautchendje, Nhamadjiwa (transformado numa estratégica base das FDS) e a base de Satunjira. Nos detalhes, semblantes apavorados com o aparato militar que compunha a comitiva, sugeriam traumas profundos de um povo, severamente, fustigado por uma guerra movida pelo Governo e a Renamo. Mas do outro lado da barricada, lá estava gente, devidamente, instruída para “cantar”, em frente das câmaras televisivas, hossanas a favor do Governo e propalar impropérios contra a Renamo. É o retrato de uma operação marcada também por embates verbais entre os representantes do executivo e do maior partido da oposição na equipa de monitoria da trégua. Mas detalhe por detalhe. Ao que o SAVANA apurou, a ida de jornalistas à sempre rebelde “terra da oposição” foi uma iniciativa do ministro da Defesa, Salvador M´tumuke, em resposta ao presidente da Renamo, que acusou os militares de desobedecerem o Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança (FDS), Filipe Nyusi. Citado pelo diário “O País” de 03 de Julho, Afonso Dhlakama contrariou Salvador M´tumuke, afirmando que não houve retirada de militares das oito posições acordadas (Filipe Nyusi anunciara a 25 de Junho que havia ordenado a retirada de oito posições até 30 de Junho), mas sim movimentação de uma posição para outra. Para Dhlakama, a situação revelava indisciplina nas FDS e desobediência ao Comandante em Chefe. As declarações do “pai da democracia” não caíram bem no seio das chefias militares, tendo causado um profundo mal-estar. E o miCinco minutos depois, “WindeUani Bedford”, o rigoroso comandante das FDS na Gorongosa, convida os jornalistas para dar as explicações que se impõem. Na sua interpretação, Nhariroza era uma base logística da Renamo que foi conquistada na perseguição ao que chamou de “bandidos armados”. Contrariando Afonso Dhlakama, que denunciou manobras que consistiram em movimentação, por exemplo, das posições de Nhariroza e de Lourenço (como é vulgarmente conhecido o regulado de Nhandar) para Nhaulanga e Canda, respectivamente, “Bedford” disse que parte do efectivo dos 120 homens das FDS que ali estavam, e que compunham uma companhia, foi retirada para a base de Satunjira e a outra para as suas zonas de origem, um pouco por todo o país. Anotou que a posição de Canda não faz parte das oito em causa, visto que foi criada antes da eclosão do conflito armado, pelo que, a sua desactivação está fora de questão. A posição militar de Canda está situada no povoado com o mesmo nome, a escassos metros da EN1 e, justamente, numa das portas de entrada à Serra e é um estratégico ponto para monitorar qualquer movimentação de e para o cimo da Gorongosa, onde se acredita esteja aquartelado Afonso Dhlakama e seus próximos. De Nharizoza, a próxima escala é a antiga posição de Nhandar (nome proveniente de um rio local que assinala os limites do Posto Administrativo de Nhamadzi)) ou Lourenço (nome proveniente de um antigo e famoso cantineiro local), mas como a natureza não foi simpática para as interligações entre os regulados, é preciso retomar à EN1, na direcção para a vila da Gorongosa, para se encontrar a via que dá acesso à Nhandar, pouco mais de 8 km mata adentro. E o tempo não faz contemplações. A luz solar cede espaço à ditadura da escuridão na serra. Quando se atinge Nhandar, cuja via de acesso é também um verdadeiro calvário, é preciso recorrer às luzes das viaturas para descortinar o pouco que resta de um local que, de acordo com explicações de “Bedford”, servia de corredor de abastecimento da guerrilha do maior partido da oposição. “EP1 Nhandar” é o pouco que se consegue ler na parte do velho edifício onde incide a iluminação gerada pelos veí- culos militares. Trata-se duma Escola Primária do Primeiro Grau abandonada no calor das confrontações armadas. Para trás ficou por realizar o sonho de 301 crianças que ali frequentavam as aulas da 1ª a 5ªclasse. Com a tomada de Nhandar, dois pelotões, ou seja, 40 homens das FDS, foram ali posicionados e terão sido retirados no dia 26 de Junho último, 24 horas depois de, em plena praça dos Heróis Moçambicanos, o Comandante-em- -Chefe das FDS anunciar, no quadro das celebrações dos 42 anos da independência, a desactivação de oito posi- ções na Serra. Embora a Renamo indique que os militares que ali estavam foram reposicionados em Canda, “Bedford” diz que não, foram também para Satunjira e outros para as suas zonas de origem, de onde partiram para responder ao “chamamento da pátria”. Com a noite a cair, a comitiva retoma a EN1, de novo a caminho da vila da Gorongosa, até à entrada que dá acesso à Vunduzi, onde se vai pernoitar, concretamente, na base de Nhamadjiwa (que faz parte das polémicas oito posições), que foi o último reduto da Renamo tomado a 27 de Maio de 2016. Neste desvio, outra cancela militar também prenuncia a entrada para um dos principais teatros de operações no contexto da tensão político-militar. Esta estrada bordeja a serra pelo Sul e Leste e passa por nomes históricos da guerrilha da Renamo como Casa Banana e bases Cavalo e Galinha. Nhamadjiwa, que se acredita ser o último esconderijo de Afonso Dhlakama, está transformado num dos principais quartéis da serra da Gorongosa. Tendas e cabanas construídas de material local compõem o “quartel” encravado na mata, não muito distante da histó- Por Armando Nhantumbo escala ao acampamento da equipa de monitoria da trégua, a 1.5 km da base de Nhamadjiwa. Trata-se dos oito membros, 4 do Governo e 4 da Renamo, estacionados naquele ponto da província de Sofala, para supervisionar o cumprimento da trégua militar que resultou dos entendimentos entre o presidente da República e o presidente da Renamo. Aqui, as divergências entre as duas equipas vão, inevitavelmente, despoletar o ambiente de tensão que se vive no terreno e que o discurso oficial procura disfarçar. Quem toma a palavra primeiro é o coronel Borges Nordino, do lado do Governo, que vai dizer aos jornalistas que a equipa está ali posicionada há cerca de dois meses. Acrescentou que a equipa de monitoria testemunhou a retirada das oito posições acordadas, conforme disse o Governo e apelou ao líder da Renamo a também abandonar as matas, juntamente com os seus homens. Visivelmente nervoso, o coronel João Buca, da brigada da Renamo, tratou de desmentir, categoricamente, que estejam ali há 2 meses. Segundo Buca, a brigada vinha funcionando na base de Nhamadjiwa, mas, estranhamente, no dia anterior, por volta das 17h, foi retirada para o novo local, alegadamente, por ordens do ministro da Defesa Nacional. Mais do que isso, Buca contesta que haja retirada de posições militares na Gorongosa. Diz que há, isso sim, movimentações de um lado para o outro. “Os compromissos não estão a ser cumpridos no terreno” sentenciou, mencionando Nhancunga, Mapanga-Panga, Nhautchendje, Nhariroza e Lourenço (Nhandar) como as cinco posições que se retiraram de outras posições na serra, tais como Nhaulanga, Canda e Mangueiras. Com o caldo entornado, numa opera- ção que se esperava uma Renamo mais “educada”, “Bedford” viu-se obrigado a tomar a palavra para o que chamou de “corrigir equívocos” do representante do partido de Afonso Dhlakama. Na sua reacção, precisou que as posições de Canda, Mangueiras e Nhaulanga já existiam antes da tensão político-militar, uma versão que não deixa de ser posta em causa por aqueles que questionam porquê militares tiveram que se fixar nas matas antes da eclosão do conflito. Mangueiras era também uma base da Renamo. O SAVANA interpelou o coronel João Buca para obter mais esclarecimentos, mas Bedford “decretou” o fim das entrevistas, proibindo assim que a reportagem do Jornal mantivesse contacto com o representante da Renamo. Daqui, retoma-se a Nhamadjiwa, de onde segue-se para a posição de Mapanga-Panga. Servir a comunidade ou “secar” fontes da Renamo? A caminho de Mapanga-Panga, é notá- vel o esforço das autoridades governamentais na abertura de infra-estruturas sociais, sobretudo vias de acesso. Ao que o SAVANA apurou, mais do que a prestação de serviços às comunidades, está em jogo, sobretudo, escan- 9HULÀFDQGRRFXPSULPHQWRGRLQFXPSULPHQWRQD*RURQJRVD galhar as bases de apoio da Renamo. Os precursores da estratégia, ao nível governamental, acreditam que, com a implantação de projectos de desenvolvimento, na região, a Renamo irá perder, paulatinamente, os seus alicerces. Jovens antes desempregados agora estão ocupados em actividades de desbravamento da mata para abertura de vias. Para além de empregar uma população que, sem nada para fazer, facilmente se entrega à Renamo, os projectos de abertura de vias de acesso vão desmantelando aquele que é dos maiores trunfos da guerrilha: a mata. Aliás, as FDS já fizeram as contas e dizem que todas as antigas bases da Renamo serão requalificadas. A de Nhamadjiwa, por exemplo, será transformada numa esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM). A filosofia subjacente é o povoamento da mata. Não foi por acaso que, recentemente, a região foi conectada à rede nacional de energia eléctrica, em cerimónia de propaganda comandada pela governadora de Sofala, Helena Taipo. A previsão é que, em 4 meses, as obras de electrificação do Posto Administrativo de Vunduzi abranjam os povoados de Mucodza, Tazaronda, Satunjira, Nhamadjiwa e Cavalo. Na hora de implantação do primeiro poste de energia,em Março último, em Vunduzi, Taipo anunciou que estão disponíveis 6 milhões de meticais para implementar projectos de desenvolvimento naquela região do distrito da Gorongosa. *UXSRVGHFKRTXHV Com a picada cada vez mais estreita, a caminho de Mapanga-Panga, ficaram para trás as viaturas, incluindo as de transporte militar. Semblantes assustados com a movimentação, de novo, de militares, denunciam traumas profundos de um povo severamente dilacerado pela guerra, da mesma forma que machambas engolidas pelo capim sugerem uma campanha agrícola prejudicada pelas confronta- ções. Mas para além desse povo colhido de surpresa, do outro lado da barricada pontificam os “yesmen”, devidamente instruídos para “cantar”, em frente das câmaras televisivas, hossanas a favor do Governo e propalar impropérios contra a Renamo. Ao que nos foi informado, tratava-se dos pontos focais, ao nível das comunidades, com quem as FDS vêm trabalhando na perseguição a Dhlakama e seus homens. São esses que têm fornecido informações às forças governamentais, que inclusivamente foram decisivas para a tomada de algumas antigas posições da Renamo. São esses que, semana finda, vestiram a capa “população”, procurando se fazer passar de “camponeses anónimos” para “saudarem os esforços e o comprometimento” do Governo para com a paz e condenarem a “renitência” da Renamo na pacificação do país. Um desses “camponeses”, com “vestu- ário acima da média”, chama-se Victor Vasco. A dado passo, exaltou-se, quando falava a jornalistas na base de Mapanga-Panga, naquilo que parecia nada mais do que uma tentativa impressionar os oficiais militares que acompanhavam atentamente a sua alocução. Curiosamente, na posição de Mapanga-Panga, agora tem hasteada uma bandeira da Frelimo, o partido governamental. Para o comandante “Bedford”, trata-se de mera coincidência, na verdade dentre várias outras, afirmando que o acesso da Frelimo ao local resulta do trabalho que eles fizeram primeiro em “escorraçar” a Renamo e depois em desocupar o posto. Contou que, à semelhança das outras posições, Mapanga-Panga foi ocupada no quadro das perseguições que as FDS vinham fazendo aos homens armados da Renamo. Disse que o efectivo de 40 homens que havia ocupado o local foi desactivado logo após o anúncio da trégua. Com tudo preparado ao detalhe, enquanto a equipa de jornalistas percorria a Serra adentro, uma brigada da saúde distribuía redes mosquiteiras às comunidades. Mais uma coincidência. Com uma escala na antiga posição de Nhautchendje, que segundo “Bedford” foi desactivada antes mesmo do pedido de Afonso Dhlakama, a missão terminou no chamado santuário da Renamo, tomado pelas FDS no assalto em que morreu o antigo deputado Armindo Milaco, em Outubro de 2013. É hoje o maior e principal “quartel” das FDS na Gorongosa. É a partir dali onde foram coordenadas todas as operações na serra e é para lá também onde as chefias militares dizem terem sido colocada parte dos militares que estavam nas oito posições desactivadas. Artefactos militares, que incluem viaturas blindadas de transporte de tropas, tendas e cabanas erguidas de material precário, perfazem hoje a antiga “residência oficial” de Afonso Dhlakama, onde os militares dividem espaço com gado caprino. De Satunjira, regressou-se a Nhamadjiwa para o balanço de 2 dias no sopé da Serra, com o comandante “Bedford” sem novidade senão repetir o que já havia dito em outras ocasiões: que as oito posições acordadas foram desactivadas. “Não sei onde está a desobediência das Forças Armadas a que se refere o líder da Renamo” desabafou. Deixou claro que a base de Satunjira não será desactivada porque é anterior ao conflito, o que não é verdade, pois foi tomada justamente no quadro da tensão politico militar. O que é certo é que, independentemente da desactivação das chamadas oito posições, com bases como a de Satunjira activas, as FDS continuam a controlar as principais movimentações na serra, tendo em conta a sua localização geoestratégia no presente conflito. É que Satunjira, à semelhança de posições como a de Canda, são pontos nevrálgicos para monitorar o cume da Serra e os seus locais mais inacessíveis. Para o comissário da Polícia, Ezequiel Muianga, que integrou a equipa de jornalistas em representação do comando geral da PRM, não faz sentido questionar a permanência das FDS em bases estratégicas da Renamo porque se enquadra em dispositivos normais das forças governamentais. Nos desdobramentos de dois dias, os jornalistas escalaram sucessivamente as posições de Nhariroza, Nhandar, Mapanga-Panga, Nhautchendje, Nhamadjiwa (transformado numa estratégica base das FDS) e a base de Satunjira. Ficou por escalar as posições de Mucossa, Nhancunga e Nhanthaca, alegamente, por falta de tempo. Borges Nordino, Governo João Buca, Renamo Militares reposicionam-se na base de Satunjira Parte das polémicas posições no cinturão da Gorongosa

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