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Ano VIII – Fundado 14.Mar.2005
Nº 760 o 04.Junho.2013
Editor: Xavier de Figueiredo
Breves
» Em editorial de pendor crítico dedicado ao tema dos investimentos angolanos no
sector da comunicação social em Portugal, o semanário Agora, 01.Jun, refere que
“governantes angolanos, associados a banqueiros, acabam de comprar (...) a
Controlinveste”. A figura usada para identificar os compradores foi considerada uma
referência indirecta ao Vice Presidente, Manuel Vicente, e a Carlos Silva, PCA do
BPA, duas personalidades que o Agora (AM 747), desde a sua passagem para o
chamado Grupo Madaleno (AM 736), trata com alegada acrimónia. Em 04.Jun o jornal
i, de forma indirecta também ligado ao Grupo Madaleno, identifica o empresário
angolano António Mosquito (AM 728) como accionista maioritário de uma sociedade
de capital de risco, apresentada com compradora da Controlinveste. Em 2012 (AM
707), a Controlinveste esteve em vias de ser comprada pela Newshold, mas a operação
gorou-se.
» O director do Gabinete de Informacao (Gabinfo), Moçambique, Ezequiel Mavota,
terá instruído a RM e TVM a não procederem à recolha de declarações dos
animadores do movimento grevista dos médicos, em especial do presidente da
respectiva associação sindical, Jorge Arroz. RM e TVM são os dois mais importantes
ocs do Estado; a atenção que prestaram ao assunto, inclusive por alturas da detenção
de J Arroz, foi ezígua. O Gabinfo é o organismo que na Estrutura do Estado absorveu
algumas funções do extinto Ministério da Informação. E Mavota, jornalista, foi, antes,
responsável editorial da RM.
Angola: JES dá rara entrevista televisiva
Pesquisa
José Eduardo dos Santos (JES) tem prevista para hoje, 04.Jun, uma entrevista televisiva ao
jornalista free lancer Henrique Cymerman. A anuência de JES à sugestão da entrevista terá
sido determinada pela oportunidade associada à mesma de contraditar afirmações/acusações
nefastas para si próprio e para o regime, ultimamente feitas no estrangeiro por personalidades
angolanas e outras. No juízo de altos funcionários do gabinete presidencial, os referidos
pronunciamentos, incluindo entrevistas de Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku, nas
recentes viagens de ambos ao estrangeiro, fazem para de uma “campanha política e de
imprensa” visando desgastar a figura de JES e assim abalar o regime. A entrevista de JES a H
Cymerman esteve prevista para 28.Maio, mas comprometeu-se por razões não devidamente
apuradas; o jornalista chegou mesmo a deixar o país, mas regressou em 03.Jun, desta feita com
a garantia de que a entrevista seria concedida. Em 31.Mai foi assinalada uma reunião na PR
destinada a apreciar o assunto, para a qual foi convocado o MCS, Luiz de Matos. H
Cymerman, profissional conceitado, trabalha em regime livre para importantes ocs
internacionais, caso da SIC, da qual é correspondente em Israel. Supõe-se que a SIC é uma das
televisões internacionais em que há maior interesse na emissão da entrevista.
Moçambique
Crise Renamo
1 . A maleabilidade acrescida que as autoridades de Moçambique passaram a observar
(AM 759) na sua conduta face à crise gerada pelo chamado “acantonamento” na
Gorongosa do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, suscitou em meios competentes
apreciações como as seguintes:
- Começou a ser notada, de forma nítida, após o “incidente” de Muxungué –
factor considerado determinante.
- Outros factores influenciadores: ausência e/ou tibieza de apoios internacionais à
conduta até então mantida pelo Governo; surgimento de críticas internas,
inclusive no próprio regime.
Na esteira do “incidente” de Muxungué o Presidente Armando Emílio Guebuza
(AEG) dispôs-se finalmente a receber Joaquim Chissano para uma conversa sobre a
crise, solicitada por este, e o seu emissário nas conversações com a Renamo, José
Pacheco, passou a denotar superior boa vontade negocial.
Após o segundo “incidente”, na Gorongosa, foram libertados todos os militares da
Renamo detidos antes, em Muxungué, e aventada a possibilidade de o Governo estar a
preparar uma alteracao pontual da Lei Eleioral, por forma a atender à reivindicacão da
Renamo de estabelecimento de uma regra de paridade na composição da CNE.
2 . O desprimor operacional com que a FIR, uma força especial da Polícia, se
comportou em duas escaramuças armadas com a Renamo, Muxungué e Gorongosa,
transmitiu uma ideia de fraqueza do Governo, que o mesmo, movido pelo intuito de
evitar “impactos” sociais e políticos negativos, tratou de ocultar/dissimular.
Na perspectiva das autoridades, uma evolução da situação baseada em elementos como
as demonstrações de fraqueza da FIR, combinada com a tibieza de esperados gestos de
apoio ou boa vontade da comunidade internacional, tenderia a fragilizar o Governo e,
eventualmente, a diminuir a sua capacidade de controlo da situação.
Em ambos os recontros a FIR sofreu 26 ou 34 baixas, conforme versões da Polícia ou da
Renamo, contra apenas uma baixa do lado desta. O facto de ser atribuída à FIR a
iniciativa das refregas e de a mesma dispor de blindados de rodas Kasper para sua
protecção, agrava o seu comportamento.
Além da FIR (Força de Intervenção Rápida), estaciona na Gorongosa um destacamento
do GOE (Grupo de Operações Especiais), também da Polícia (AM 712) assim como
força de reserva à ordem do EMGFA, constituída por uma unidade de “Comandos” do
Exército – até agora inactiva.
3 . A evolução da crise gerada pelo “acantonamento” de A Dhlakama deu também
lugar a um despertar da oposição interna a AEG, que assim saiu do estado de
“adormecimento” em que se encontrava desde o último congresso da Frelimo (AM
699); a atitude do Governo e de AEG face à crise é alvo de objecções.
As correntes internas adversas a AEG viram na actual conjuntura uma oportunidade de
ajuste de contas com o mesmo, também “justificado” pela convicção de foram
marginalizadas (AM 752), no acesso a vantagens para a elite política da exploração
próxima de recursos como o gás natural e outros minérios
4 . A atitude neutral que a comunidade internacional tem vindo a observar no
acompanhamento da crise em Moçambique (condicionada por posições afins dos EUA,
União Europeia e países do chamado grupo nórdido do G 19), está baseada em factores
como os seguintes:
- Conveniência de evitar que a presente crise degenere em instabilidade
potenciadora de danos como o comprometimento de grandes investimentos.
- A Renamo tem razão nalgumas das suas queixas (AM 717), embora a forma de
protesto que seguiu não tenha sido a mais adequada.
- É útil a uma melhor distribuição da riqueza, capaz de minimizar a pobreza, que a
Frelimo e o seu rgime sejam gfiscalizados por uma posição forte.
A principal reserva do G 19 em relação ao Governo prende-se com a corrupção – que se
julga facilitada pela hegemonia política da Frelimo. A exploração de recursos naturais
de mais alto valor, gás natural e minérios, dará azo a um alastramento do fenómeno da
corrupção, se a Frelimo “for deixada à sua mercê”.
Mogens Pedersom, embaixador da Dinamarca e presidente do G 19, fez recentemente
declarações públicas incisivas em relação à corrupção no Estado (referência a casos
concretos) e aos seus efeitos perversos na sociedade. Donativos do G 19 constituem ca
de 60% das receitas oerçamentais.
5 . A Dhlakama é favorecido pela ideia de que desempenhou um papel de genuína
cooperação com a Frelimo na pacificação do país, a que se juntam agora informaçõers
segundo as quais tem estado a resistir a pressões internas para enveredar pela violência
como meio de lidar com “humilhações e provocações do Governo”.
Embaixadas em Maputo têm feito sentir a A Dhlakama que deveria abandonar as
montanhas em que se encontra “acantonado” desde 15.Out.2012 (AM 703), para
dialogar com a AEG. As reservas que tem apresentado têm sido consideradas
“compreensíveis” por parte das mesmas embaixadas.
As pressões internas sobre A Dhlakama, provenientes de antigos comandantes da
guerrilha da Renamo, são também alimentadas pela ideia de que o chamado diálogo
com o Governo constitui um “entretenimento” destinado a permitir a este “ganhar
tempo e desgastar a Renamo”.
6 . A mudança de atitude verificada no Governo não poderia, tendo em conta realidades
da política moçambicana, ter sido posta em marcha sem a iniciativa ou o beneplático de
AEG. O representante do Governo nas conversações com a Renamo, José Pacheco, tem
estreitas ligações pessoais e políticas a AEG.
O ponto de vista dos analistas é o de que AEG atendeu com a nova flexibilidade a
“sugestões” que lhe terão sido feitas no plano regional e internacional, e tentou esvaziar
um clima de descontentamento face ao regime que se manifesta em diversos meios da
sociedade e em alas do regime.
7 . A Renamo está a preparar para breve uma reunião do seu Conselho Nacional (CN),
em princípio 12/14.Jun, na vila da Gorongosa. A par dos 100 membros do CN, também
deverão participar na reunião outros quadros da Renamo, tais como os 128 delegados
distritais – no total ca de 400 pessoas.
Ciente de dificuldades logísticas que terá de enfrentar para organizar a reunião, na
verdade uma espécie de Congresso, sem essa designação, a Renamo prepara a criação
de condições destinadas a compensar a ausência de facilidades que habitualmente lhe
são negadas por “instruções” ao mercado oriundas da Frelimo.
FIM
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