terça-feira, 31 de março de 2020

A Nova Frelimo


Elisio Macamo
Dün, 19:01 ·



A Nova Frelimo

Alguém me perguntou, no inbox, o que quero dizer com a “Nova Frelimo”. Pego o conceito emprestado à maneira como se descreve uma agremiação política que nasce dos escombros duma outra. O exemplo mais imediato disto seria a UNITA que nasceu do desaparecimento físico de Jonas Savimbi. No caso da Frelimo, não houve um fim idêntico, mas a mudança de geração foi significativa e, em princípio, poderia ter constituído um momento de ruptura com velhas formas de fazer coisas.

Há, para mim, um certo sentido em que esta ruptura aconteceu. Existe uma Frelimo que pelo menos em termos de postura pública é radicalmente diferente de todas as outras que eu conheci. As suas principais características são três. A primeira consiste no abandono aparente duma tradição que pelo menos teoricamente era parte integrante da Frelimo, nomeadamente a auscultação pública antes da tomada de grandes decisões. Como o processo de paz definitiva provisória mostrou, não houve nenhum esforço visível de auscultar a opinião pública. Tudo fez-se na calada de telefonemas entre os líderes sob o pano de fundo de coros de vozes que associavam toda a interpelação crítica com recusa de paz. Antes de negociar a paz com a Renamo, Chissano criou um debate interno que culminou com a aprovação duma nova constituição que criou as bases para a negociação. Mesmo Guebuza, em circunstâncias diferentes, fez a negociação de forma aberta – as várias rondas negociais que vimos – e com recurso a mediadores nacionais bem identificados.

A segunda característica da nova Frelimo é a convivência com pessoas com um discurso extremo e “divisionista”. Nunca na história da Frelimo houve casos de militantes que fizessem recurso visível ao insulto e à ameaça (de morte) contra outros membros da Frelimo. É verdade que aos “reaccionários” sempre foi reservado outro tratamento, mas essas eram pessoas que tinham sido já “saneadas”. Os insultos de que foi vítima o ex-Presidente Guebuza por parte de militantes que, mesmo assim, receberam cargos que manifestam a confiança política do governo são de arrepiar. A forma visceral como quadros séniores como Hunguana ou Waty foram atacados sem que houvesse um distanciamento do partido ou que, pelo menos, este chamasse atenção de forma aberta deu que pensar.

Finalmente, a terceira característica é a falta de interesse em fazer da crítica motivo de auto-crítica como a Frelimo sempre defendeu fazer. Quando Samora Machel Júnior desafiou as estruturas mafiosas do partido em Maputo, ele virou alvo de ataques concertados. Não houve nenhuma preocupação aparente em fazer disso motivo de reflexão sobre o que está mal ou bem no partido. O mesmo se pode dizer em relação às dívidas ocultas. Ao invés duma reflexão sobre o que tinha permitido que isso acontecesse, optou-se por fazer uma caça às bruxas e transmitir a ideia de que “infiltrados” teriam sido responsáveis por algo que manifestava problemas sérios de controlo pelo partido.

Dum modo geral, a Nova Frelimo representa o que me parece ser uma nova maneira de fazer política em Moçambique. A elaboração duma visão estratégica é relegada a um plano secundário. No seu lugar, dá-se prioridade à defesa do que a Frelimo faz e ao ataque contra quem critica. Isto não é completamente novo. Esse modo de fazer política foi inaugurado pelas alas mais radicais do G-40 e representou, até certo ponto, o lado negativo da revitalização do partido feita por Guebuza. Na ausência dum projecto paralelo de democratização da Frelimo essa revitalização acabou fazendo da Frelimo uma força omnipresente que asfixiou o próprio partido. A Nova Frelimo herdou isto, mas desprovida duma visão estratégica clara, transformou-se num exercício descarado de poder e violência totalitária.

O termo “violência totalitária” é dum sociólogo francês, Michel Maffesoli. Ele descreve o que acontece ao poder quando este não assenta em nenhuma utopia. Segundo ele, o poder, nessas circunstâncias, não passa de violência que precisa dum ambiente “tribal” (nós e eles) para existir. Governar é burocratizar (é só ver a “descentralização” ou a ridicularização de administradores que não sabem recitar informação), mas também criar inimigos (da paz, por exemplo, que se resolve não pela criação de estruturas políticas que permitam uma melhor convivência pluralista, mas sim que acomodem quem pensa diferente para passar a ser igual ao semelhante...) e, fundamentalmente, conferir poderes mágicos à palavra mesmo que esta não tenha efeitos práticos palpáveis (um bom teste será o anúncio que será feito esta noite: aposto que a sua substância vai residir na impressão que se vai dar de parecer estar a fazer qualquer coisa; podemos discutir isto logo, logo).

A Comissão Política, reduzida ao estatuto de veia transmissora de saudações, é o representante fiel desta Nova Frelimo.




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Ilidio Da Silva Um retrato bem fiel da nossa política.
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Pedro Guiliche Estive a ler o argumento sobre a Nova Frelimo, que me pareceria mais interessante estar entre aspas. Digo isso, vendo a Frelimo como instituição e que os seus estatutos e programas são revistos de 5 em 5 anos, aonde existe lá a sua linha política.
Por falar em partidos, ocorreu-me que a literatura sobre esta matéria aponta que desde o surgimento dos Partidos Políticos, várias características partidárias têm sido alteradas e inseridas novas nomenclaturas para defini-los. De Partido de massas, à catch-all, profissional eleitoral e cartel. Ainda assim, o debate prevalecente é se a “transformação” ou tipologia do Partido resolve o problema central de pensar no papel deste empreendimento político. No caso de Moçambique, podíamos pensar eventualmente na medida em que eventuais transformações correspondem ou não à capacidade de canalizar as demandas da sociedade aos órgãos competentes. Com isso, não estou a apadrinhar promoção de qq das formas deploradas de fazer política apontadas no texto. Apesar disso, tenho algum receio de associar certos comportamentos extremistas que podem ser de pessoas à instituição. Portanto, nem sempre posso concordar que posições extremas, emitidas por certos membros, reflectem necessariamente a posição do Partido. Pode ser o caso de uma nova fase da história em que o debate sobre a função do Partido político deve merecer update, com um maior envolvimento da sociedade como um todo.

Aposto que se um dia Bill Gates disser que Nyusi não está à altura do cargo que ocupa vão deixar de usar computadores porque foram feitos por pessoas que não vivem em Moçambique e, por isso, não podem servir lá.





Elisio Macamo
2 saat ·



Provar o próprio remédio

Tenho estado a ler muito sobre epidemias, sobretudo sobre a cólera. É um tema fascinante. É interessante redescobrir, nas discussões que acompanharam essas epidemias, os mesmos discursos que se repetem hoje em relação ao Covid-19 sobre os pecados do capitalismo, sobre como o mundo vai ser diferente depois disso, etc. Interessou-me, em particular, a história dum alemão, Max von Pettenkofer, um dos maiores percursores da saúde pública. Foi o primeiro ocupante da cátedra de higiene em Munique e ainda hoje existe lá um instituto de saúde pública com o seu nome.

É, na verdade, uma figura trágica. Cometeu provavelmente um dos maiores erros científicos, mas no seu equívoco contribuiu bastante para a melhoria da saúde pública. Ele rejeitou a tese de Robert Koch, o grande bacteriologista alemão, segundo a qual a cólera seria causada por germes. Insistiu na tese do miasma, portanto, na ideia de que maus ares é que seriam responsáveis pela cólera. Não é que ele discordasse completamente da teoria dos germes. Ele defendia apenas que só os germes em si não eram suficientes para explicar a infecção. O que acontecia, segundo ele, é que esses germes precisavam de detritos com os quais se misturavam no solo para emitir gases que depois infectavam as pessoas. Por isso, o mais importante era criar condições de salubridade para que o lixo não fecundasse os germes.

Foi essa ideia que deu o pontapé de saída para a saúde pública. A tese estava equivocada, mas os seus efeitos foram salutares. Tão convencido estava ele desta tese que até se prontificou a demonstrá-la bebendo um copo cheio de germes da cólera que Robert Koch lhe enviou. Ele disse que estava disposto a morrer pela ciência. Daí o título da reflexão: provar o próprio remédio. Ele não morreu de cólera, mas contraiu uma forma suave. Os relatos históricos são pouco claros. Uns dizem que Koch, por saber que aquilo seria mortífero, enviou culturas menos fortes. Outros dizem que ajudantes de von Pettenkoffer diluíram o conteúdo. Outros ainda dizem que o transporte de Berlim para Munique durante o mês frio de fevereiro teria também contribuído para suavizar o conteúdo. A verdade é que von Pettenkoffer nunca mais recuperou dessa derrota e acabou até se suicidando. Pela ciência.

Ocorreu-me contar esta história por causa do momento que o País atravessa. A ameaça do Covid-19 é real e merece toda a atenção que está a receber do governo. Pessoalmente, considero que há muitos problemas estratégicos nessa atenção, mas, prontos, é o nosso governo e, infelizmente, já me habituei a não esperar muito dele, sobretudo deste governo. A declaração do estado de emergência feita pelo Presidente da República é bem sintomática disso. Nota-se, e espero estar equivocado, grande despreparo a começar pela aparente falta de respeito em relação aos procedimentos democráticos que exigem a ratificação dessa decisão pelo parlamento. Você não faz fanfarra e “declara” o estado de emergência antes dessa ratificação, por mais formal que ela seja. Você anuncia que vai pedir isso e que depois vai anunciar.

A questão não é apenas pedântica. Num País bem governado, o parlamento seria o lugar onde se discutiriam os pormenores desse estado de emergência. Lá o governo havia de beneficiar da assessoria que vem da interpelação crítica que os partidos de oposição (e deputados patrióticos do partido no governo) iriam fazer. Mas em Moz é tudo diferente. O Presidente vai ao parlamento pedir um cheque em branco para lutar contra um inimigo formidável. Não sei, sinceramente, se é apenas má assessoria. Mas a julgar pelo seu silêncio cada vez mais escandaloso e vergonhoso em relação a Cabo Delgado, fico mais convencido ainda de que é também uma questão de falta de respeito pelas pessoas que o colocaram no poder.

Há aqui uma perversão da lógica de provar o próprio remédio. Max von Pettenkofer fê-lo pela ciência. Em Moz o governo quer provar a todo o custo que têm razão aqueles que duvidam da sua competência. E os seus porta-vozes inoficiais, cujas reacções agressivas eu já previa enquanto criticava o curso errático do nosso governo, não querem deixar os seus créditos em mãos alheias. Ainda ontem escrevia eu que uma das características da Nova Frelimo consiste em perder tempo atacando quem critica ao invés de se concentrar no essencial. Tufa, já sou objecto de análises juridico-psicanalíticas apostadas em mostrar que uma pessoa que vive fora do País não entende o seu país natal. Tudo isto dito por pessoas que escrevem numa língua europeia utilizando vocabulário técnico produzido por uma ciência levada a África e utilizando artefactos tecnológicos estrangeiros.

Aposto que se um dia Bill Gates disser que Nyusi não está à altura do cargo que ocupa vão deixar de usar computadores porque foram feitos por pessoas que não vivem em Moçambique e, por isso, não podem servir lá. Eu, apesar de tudo, e por ser simpatizante da Frelimo, continuo a acreditar em Nyusi. Só espero que um dia ele se mostre merecedor disso afastando-se dessas pessoas que só atrapalham.

O País agradeceria.




41Munguambe Nietzsche, Alvaro Simao Cossa ve 39 diğer kişi

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Antonio Gundana Jr. Foquei-me na parte final do texto. Não havia como resistir. Realmente, a situação está cada vez mais delicada. Assessoria virtual por assessores inoficiais inoperacionais!
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Constantino Reis 👏👏👏vamos fazer mais Como então...." in linguagem dos brothers Mangolê?"
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Djoko Chemane Eu não vi nenhum conteúdo na análise jurídico psico-analítico. Não sei porque tem havido muita tendência a aversão pelo discurso de qualidade neste país. Atacar uma opinião bem fundamentada com um papelucho daqueles é confrangedor...
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O cotidiano em tempo de crise


Elisio Macamo‎ - ESTADO DE EMERGÊNCIA: CIDADANIA EM TEMPOS DE CRISE
Dün, 14:30 ·

O cotidiano em tempo de crise
Este artigo faz parte duma iniciativa provocada pelo isolamento causado pela pandemia do Covid-19. Vários juristas, sociólogos, economistas, antropólogos, jornalistas, cientistas políticos e activistas sociais associaram-se a esta iniciativa e escrevem sobre o signidicado do Estado de Emergência, uma decisão inédita em Moçambique e em grande parte do mundo.


Uma boa parte daquilo que somos constitui-se nas pequenas coisas do dia a dia. As decisões que tomamos em relação à melhor maneira de chegarmos ao serviço, o que vamos comer, com quem manter boas relações, o que fazer em relação ao vizinho que toca a música muito alto, como evitar que as coisas que os outros fazem no seu dia a dia não nos criem problemas, etc. O cotidiano seria fácil de organizar se ele obedecesse à ideia que alguns sociólogos têm de que a vida social é sempre uma resposta a constrangimentos estruturais. Infelizmente, as coisas não são assim. O cotidiano é, na maior parte das vezes, um espaço de negociação, subversão e apropriação desses constrangimentos com resultados frequentemente imprevisíveis.
Isso faz do cotidiano, sobretudo em contextos precários como são uma boa parte dos nossos contextos de sociabilidade, espaços de enorme criatividade, no bom e no mau sentido. A criatividade no bom sentido é quando as respostas que as pessoas encontram para os seus desafios do cotidiano não põem em causa a sua própria reprodução social. Muitas vezes a linha que separa a boa criatividade da má é bastante fina. O comércio informal, por exemplo, garante à pessoa que o pratica a satisfação de parte das suas necessidades básicas, mas também priva a economia formal de recursos e contribui para minar o respeito pelas regras. No fundo, a criatividade é a descrição da natureza precária do nosso projecto nacional.
Não há dúvidas, contudo que aquilo que a gente toma por informalidade é, na verdade, a manifestação prática da criatividade do nosso cotidiano. O formal, por ser exíguo e imprevisível, não oferece às pessoas um quadro seguro de referência para a organização das suas vidas. Daí o recurso à criatividade que, na verdade, é apenas a manifestação da impossibilidade de organização da vida sem a transgressão do formal.
Neste sentido, o nosso cotidiano constitui-se em oposição ao formal. Nos seus espaços periféricos, isto é nos bairros, mercados e espaços precários de socialização, o nosso cotidiano é uma frente erigida contra um inimigo externo difuso, mas que ganha sempre corpo em toda a manifestação formal vista preferencialmente como intrusão. Curiosamente, a informalidade funciona como tubo de escape que ajuda as pessoas a “esquecerem” o formal. Quando vendedores informais, por exemplo, desabafam que não têm outro remédio senão se exporem à doença – ou quando recusam aceitar a existência da ameaça – a racionalidade do que dizem está na representação da sua vida como um desafio ganho, apesar de tudo.
É neste contexto que deve ser vista a restricção da vida social que um Estado de Emergência implica. Do ponto de vista prático, essa restricção significa o estrangulamento da criatividade tão essencial à vida e do ponto de vista político a visibilização do Estado como o “verdadeiro” inimigo. Este é o problema que a decisão de declaração dum Estado de Emergência devia ponderar. Ela seria uma espécie de “declaração de guerra” contra os menos afortunados. Sem outro tubo de escape, o mais provável é que as pessoas concentrem a sua atenção nesse “inimigo” através de acções concretas “subversivas” (furando o isolamento imposto), mas também através da subversão das narrativas oficiais (com teorias de conspiração que têm o estado e a medicina como seus vilões – algo que tem acontecido de forma recorrente no contexto de campanhas como a prevenção da cólera). Desprovido de recursos económicos para ajudar as pessoas a garantir a sua existência, a reacção mais provável das autoridades é a repressão que, no limite, vai fechar as duas partes num ciclo vicioso.
Disto decorre que a declaração dum Estado de Emergência, por um lado, – caso, de facto, existam razões sanitárias convincentes (o que, por enquanto, não me parece o caso, apesar de todo o alarido) – deve ser acompanhada de medidas económicas e repressivas bem pensadas e, por outro lado, duma reflexão sobre o tipo de Estado que é possível num contexto em que o cotidiano se estrutura como em Moçambique. Qualquer que seja a decisão, a sua implementação vai depender também da identificação de “fazedores locais de opinião” (grupos religiosos, chefes de “gangs”, estruturas administrativas locais, etc.) com quem se deve manter um diálogo constante.




27Munguambe Nietzsche, Jessemusse Cacinda ve 25 diğer kişi

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Ernesto Nhanale Elisio Macamo muito boa elaboração que, embora curta, faz uma excelente classificação (tipifica muito bem elaborada). Nao irei repetir, mas deixa-me dizer que, em conclusão, esta questão do Civid 19 expõe-nos como um Estado. Tenho vindo a notar que as nossas discussões sobre o problema da Civid 19 são mais do que debater as vantagens ou desvantagens de uma opção, mas sim o conflito entre o que as medidas que se exige para o combate do vírus (Civid) e o que realmente somos como um Estado. Remete-nos a todo o trabalho que deveríamos ter vindo a fazer, faz tempo: Construirmos um Estado. Hoje, nos encontramos numa prova e avaliacao que nos testa a nossa preparação, pois temos de encontrar soluções para responder ao problema que nos debate hoje. Vejamos que estamos num cenário em que tudo mundo esta concentrado nos esforços nacionais de fazer face a pandemia, se houver quem reparar nos problemas dos mais pobres, vai ser para evitar que lhes repasse a doença. No restante, este 'e um convite para pensarmos no Estado, mais do que as medidas sobre o Civid 19. Esta dualidade entre o "formal" e "informal" nos persegue e nos coloca de maos atadas, pois tudo redunda na fragilidade das nossas instituições!
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Elisio Macamo é isso. é por isso que é importante olhar para crises como oportunidades. como bem diz, é necessário recuperar o tempo perdido na imaginação e construcção do estado.
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Fernanda Lopes Nao tenhamos ilusoes. O virus so circula transportado. Impoe se quebrar/abrandar esse transporte, seja de fora para dentro do Pais, seja so dentro do Pais. E antes que cresca! Ganhando tempo para a Ciencia encontrar mitigacao/cura. Claro que tem consequencias, desde logo a paragem do tecido empresarial e comercial. Veremos se o Estado tem auxilio financeiro para oferecer as empresas e individuais, formais ou informais. Sera dificil, face aos rombos das “dividas ocultas”. Mas disso depende a manutencao ou extincao do fraco tecido empresarial que apesar de tudo, vai criando emprego!
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Tomás Timbane Não percebo nada de pandemias, muito menos de medidas de mitigação. Nem sei se é isso de que precisamos neste momento. O que tenho percebido é que no ocidente poucas dessas medidas tem funcionado, mas no oriente percebe-se que as medidas funcionam. Eventualmente nunca se venha a saber quais as medidas que são determinantes para mitigar a pandemia. Quando pergunto a pessoas da área, são unânimes num conselho: fica em casa. E, nos últimos dias, depois de criar condições para fazer o mínimo necessário fora de casa, vejo que a maior parte dos moçambicanos não o pode fazer, até porque depende do que faz no dia a dia para sobreviver. Surge, assim, um dilema: deixar as pessoas na rua, com o risco de a maior dos moçambicanos ser contaminada? É que sendo a maior parte dos moçambicanos pobres, cujos rendimentos dependem de actividades diárias, o problema que se coloca, até do ponto de vista moral, é se faz sentido confinar essas pessoas, impedindo-as de sair à rua para garantir o seu sustento diário. Mas também se pergunta se valerá a pena deixá-las na rua, com o risco de todas serem contaminadas, com as consequências que todos imaginamos, pois não há hospitais, não há equipamentos, não há pessoal que chegue. Não se trata de alternativas fáceis: cada uma delas vai ter consequências drásticas. E a pergunta que se coloca é simples: e agora? Prefiro que os políticos oiçam os especialistas e decidam conforme a recomendação destes. E, pelo que tenho lido, os especialistas dizem para fechar tudo, todos dizem, primeiro a saúde, depois se vê. É evidente que no nosso caso – como em muitos outros – é uma oportunidade não só para repensar o nosso Estado, mas, também, vermos como o podemos construir, juntos. Só que isso é muito difícil, tornando-se, pois, numa oportunidade perdida…infelizmente.
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Elisio Macamo qualquer que for a decisão tomada, ela não será fácil. o melhor que a gente pode fazer nestas circunstâncias é expôr os aspectos que na pressa de se prevenirem certos danos podem ser descurados e acabar por ser contraproducentes. nisto penso que a ideia que tem sido veiculada de que não existe uma panacea precisa de se fazer valer no seio dos nossos decisores políticos. em minha opinião, na ásia não há casos de "lock-down" completos. cá na europa ainda não se sabe se isso está a funcionar. pessoalmente, tenho pouca simpatia por um estado de emergência que implique o que se está a fazer na áfrica do sul pelo simples facto de que não vejo como isso iria funcionar em maputo. sou a favor do estado de emergência como cobertura para a tomada de decisões necessárias ao combate da pandemia, mas espero que isso não implique fechar tudo. receio consequências piores do ponto de vista sanitário, político e económico.
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Eduardo Domingos
Dün, 21:26 ·



PR declara estado de emergencia!

Essa medida vai ser dificil de ser acatada pela populaçao. A fome sente-se, corona virus ate hoje é um mito para as populacoes.
Faltou muito trabalho de base.
Nos moldes como foi anunciado o estado de emergencia, o presidente teve em consideraçao as fragilidades da nossa sociedade....Devamını Gör




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Francisco Campira Meu amigo EduardoDomingos k tal efetuarmos trocas comerciais? Eu mando matapa e mandioca e tu mandas-me feijão e milho. Com o meu amigo Mouzinho Zacarias podemos trocar minhas matapas e mandiocas e tu envias-me peixe seco e camarão e com Augusto Magaure o k podemos trocar?
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Augusto Magaure Podemos e muito, porque as trocas comerciais não é entre machambeiros, como queres fazer entender ao Eduardo Domingos. Kkkkkkk
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Emìlio Daùsse Tem muitos estabelecimentos não essenciais que vão continuar a funcionar normalmente.
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Manuel Carlos Zacarias Estado de emergencia antes detestado ao ponto de mostrar-nos sacos de alimentos por distribuir e de repente parabeniza a medida!!!
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O cotidiano em tempo de crise

O cotidiano em tempo de crise
Este artigo faz parte duma iniciativa provocada pelo isolamento causado pela pandemia do Covid-19. Vários juristas, sociólogos, economistas, antropólogos, jornalistas, cientistas políticos e activistas sociais associaram-se a esta iniciativa e escrevem sobre o signidicado do Estado de Emergência, uma decisão inédita em Moçambique e em grande parte do mundo.

Uma boa parte daquilo que somos constitui-se nas pequenas coisas do dia a dia. As decisões que tomamos em relação à melhor maneira de chegarmos ao serviço, o que vamos comer, com quem manter boas relações, o que fazer em relação ao vizinho que toca a música muito alto, como evitar que as coisas que os outros fazem no seu dia a dia não nos criem problemas, etc. O cotidiano seria fácil de organizar se ele obedecesse à ideia que alguns sociólogos têm de que a vida social é sempre uma resposta a constrangimentos estruturais. Infelizmente, as coisas não são assim. O cotidiano é, na maior parte das vezes, um espaço de negociação, subversão e apropriação desses constrangimentos com resultados frequentemente imprevisíveis.
Isso faz do cotidiano, sobretudo em contextos precários como são uma boa parte dos nossos contextos de sociabilidade, espaços de enorme criatividade, no bom e no mau sentido. A criatividade no bom sentido é quando as respostas que as pessoas encontram para os seus desafios do cotidiano não põem em causa a sua própria reprodução social. Muitas vezes a linha que separa a boa criatividade da má é bastante fina. O comércio informal, por exemplo, garante à pessoa que o pratica a satisfação de parte das suas necessidades básicas, mas também priva a economia formal de recursos e contribui para minar o respeito pelas regras. No fundo, a criatividade é a descrição da natureza precária do nosso projecto nacional.
Não há dúvidas, contudo que aquilo que a gente toma por informalidade é, na verdade, a manifestação prática da criatividade do nosso cotidiano. O formal, por ser exíguo e imprevisível, não oferece às pessoas um quadro seguro de referência para a organização das suas vidas. Daí o recurso à criatividade que, na verdade, é apenas a manifestação da impossibilidade de organização da vida sem a transgressão do formal.
Neste sentido, o nosso cotidiano constitui-se em oposição ao formal. Nos seus espaços periféricos, isto é nos bairros, mercados e espaços precários de socialização, o nosso cotidiano é uma frente erigida contra um inimigo externo difuso, mas que ganha sempre corpo em toda a manifestação formal vista preferencialmente como intrusão. Curiosamente, a informalidade funciona como tubo de escape que ajuda as pessoas a “esquecerem” o formal. Quando vendedores informais, por exemplo, desabafam que não têm outro remédio senão se exporem à doença – ou quando recusam aceitar a existência da ameaça – a racionalidade do que dizem está na representação da sua vida como um desafio ganho, apesar de tudo.
É neste contexto que deve ser vista a restricção da vida social que um Estado de Emergência implica. Do ponto de vista prático, essa restricção significa o estrangulamento da criatividade tão essencial à vida e do ponto de vista político a visibilização do Estado como o “verdadeiro” inimigo. Este é o problema que a decisão de declaração dum Estado de Emergência devia ponderar. Ela seria uma espécie de “declaração de guerra” contra os menos afortunados. Sem outro tubo de escape, o mais provável é que as pessoas concentrem a sua atenção nesse “inimigo” através de acções concretas “subversivas” (furando o isolamento imposto), mas também através da subversão das narrativas oficiais (com teorias de conspiração que têm o estado e a medicina como seus vilões – algo que tem acontecido de forma recorrente no contexto de campanhas como a prevenção da cólera). Desprovido de recursos económicos para ajudar as pessoas a garantir a sua existência, a reacção mais provável das autoridades é a repressão que, no limite, vai fechar as duas partes num ciclo vicioso.
Disto decorre que a declaração dum Estado de Emergência, por um lado, – caso, de facto, existam razões sanitárias convincentes (o que, por enquanto, não me parece o caso, apesar de todo o alarido) – deve ser acompanhada de medidas económicas e repressivas bem pensadas e, por outro lado, duma reflexão sobre o tipo de Estado que é possível num contexto em que o cotidiano se estrutura como em Moçambique. Qualquer que seja a decisão, a sua implementação vai depender também da identificação de “fazedores locais de opinião” (grupos religiosos, chefes de “gangs”, estruturas administrativas locais, etc.) com quem se deve manter um diálogo constante.
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  • Ernesto Nhanale Elisio Macamo muito boa elaboração que, embora curta, faz uma excelente classificação (tipifica muito bem elaborada). Nao irei repetir, mas deixa-me dizer que, em conclusão, esta questão do Civid 19 expõe-nos como um Estado. Tenho vindo a notar que as nossas discussões sobre o problema da Civid 19 são mais do que debater as vantagens ou desvantagens de uma opção, mas sim o conflito entre o que as medidas que se exige para o combate do vírus (Civid) e o que realmente somos como um Estado. Remete-nos a todo o trabalho que deveríamos ter vindo a fazer, faz tempo: Construirmos um Estado. Hoje, nos encontramos numa prova e avaliacao que nos testa a nossa preparação, pois temos de encontrar soluções para responder ao problema que nos debate hoje. Vejamos que estamos num cenário em que tudo mundo esta concentrado nos esforços nacionais de fazer face a pandemia, se houver quem reparar nos problemas dos mais pobres, vai ser para evitar que lhes repasse a doença. No restante, este 'e um convite para pensarmos no Estado, mais do que as medidas sobre o Civid 19. Esta dualidade entre o "formal" e "informal" nos persegue e nos coloca de maos atadas, pois tudo redunda na fragilidade das nossas instituições!
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    • Elisio Macamo é isso. é por isso que é importante olhar para crises como oportunidades. como bem diz, é necessário recuperar o tempo perdido na imaginação e construcção do estado.
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  • Fernanda Lopes Nao tenhamos ilusoes. O virus so circula transportado. Impoe se quebrar/abrandar esse transporte, seja de fora para dentro do Pais, seja so dentro do Pais. E antes que cresca! Ganhando tempo para a Ciencia encontrar mitigacao/cura. Claro que tem consequencias, desde logo a paragem do tecido empresarial e comercial. Veremos se o Estado tem auxilio financeiro para oferecer as empresas e individuais, formais ou informais. Sera dificil, face aos rombos das “dividas ocultas”. Mas disso depende a manutencao ou extincao do fraco tecido empresarial que apesar de tudo, vai criando emprego!
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  • Tomás Timbane Não percebo nada de pandemias, muito menos de medidas de mitigação. Nem sei se é isso de que precisamos neste momento. O que tenho percebido é que no ocidente poucas dessas medidas tem funcionado, mas no oriente percebe-se que as medidas funcionam. Eventualmente nunca se venha a saber quais as medidas que são determinantes para mitigar a pandemia. Quando pergunto a pessoas da área, são unânimes num conselho: fica em casa. E, nos últimos dias, depois de criar condições para fazer o mínimo necessário fora de casa, vejo que a maior parte dos moçambicanos não o pode fazer, até porque depende do que faz no dia a dia para sobreviver. Surge, assim, um dilema: deixar as pessoas na rua, com o risco de a maior dos moçambicanos ser contaminada? É que sendo a maior parte dos moçambicanos pobres, cujos rendimentos dependem de actividades diárias, o problema que se coloca, até do ponto de vista moral, é se faz sentido confinar essas pessoas, impedindo-as de sair à rua para garantir o seu sustento diário. Mas também se pergunta se valerá a pena deixá-las na rua, com o risco de todas serem contaminadas, com as consequências que todos imaginamos, pois não há hospitais, não há equipamentos, não há pessoal que chegue. Não se trata de alternativas fáceis: cada uma delas vai ter consequências drásticas. E a pergunta que se coloca é simples: e agora? Prefiro que os políticos oiçam os especialistas e decidam conforme a recomendação destes. E, pelo que tenho lido, os especialistas dizem para fechar tudo, todos dizem, primeiro a saúde, depois se vê. É evidente que no nosso caso – como em muitos outros – é uma oportunidade não só para repensar o nosso Estado, mas, também, vermos como o podemos construir, juntos. Só que isso é muito difícil, tornando-se, pois, numa oportunidade perdida…infelizmente.
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    • Elisio Macamo qualquer que for a decisão tomada, ela não será fácil. o melhor que a gente pode fazer nestas circunstâncias é expôr os aspectos que na pressa de se prevenirem certos danos podem ser descurados e acabar por ser contraproducentes. nisto penso que a ideia que tem sido veiculada de que não existe uma panacea precisa de se fazer valer no seio dos nossos decisores políticos. em minha opinião, na ásia não há casos de "lock-down" completos. cá na europa ainda não se sabe se isso está a funcionar. pessoalmente, tenho pouca simpatia por um estado de emergência que implique o que se está a fazer na áfrica do sul pelo simples facto de que não vejo como isso iria funcionar em maputo. sou a favor do estado de emergência como cobertura para a tomada de decisões necessárias ao combate da pandemia, mas espero que isso não implique fechar tudo. receio consequências piores do ponto de vista sanitário, político e económico.
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PR declara estado de emergencia!
Essa medida vai ser dificil de ser acatada pela populaçao. A fome sente-se, corona virus ate hoje é um mito para as populacoes.
Faltou muito trabalho de base.
Nos moldes como foi anunciado o estado de emergencia, o presidente teve em consideraçao as fragilidades da nossa sociedade....
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