domingo, 8 de março de 2020

Moçambique é quase um estado falhado liderado por corruptos, diz antigo embaixador dos EUA



Dennis Jett - Doadores e países ajudam a corrupção em Moçambique
Moçambique é um país que “está prestes a tornar-se num estado falhado, cuja democracia é uma farsa” disse o antigo embaixador dos Estados Unidos em Moçambique, Dennis Jett.
Jett acusou países ricos e doadores internacionais como o Programa de Desenvolvimento da ONU e a Conta do Desafio do Milénio de contribuirem para a manutenção do sistema de corrupção e abuso de poder deixando o povo moçambicano apenas com opções de revolta armada, emigração ou "resignação"
Escrevendo na revista americana dedicada a questões internacionais “Foreign Policy”, Jett disse que as riquezas energéticas descobertas em Moçambique não vão garantir a sua segurança ou melhoria da governação e acusou os paises ricos de “inadvertidamente acabarem por assegurar que a sua pobreza vai continuar”.
No seu artigo, Dennis Jett, actualmente professor de Assuntos Internacionais na Universidade da Pensilvânia criticou também ásperamente organizações internacionais de ajuda por serem “cúmplices” na manutenção da actual situação em Moçambique.
Dennis Jett disse que a principal causa do pessimismo para com o futuro de Moçambique se deve principalmente à corrupção de “um pequeno grupo de políticos” que governa o país desde 1975.
“Como um país em que o Produto Interno Bruto é menos de um por cento daquele dos Estados Unidos, Moçambique é simplesmente demasiado pobre para financiar as necessárias instituições da democracia que poderiam fornecer contrapesos (checks and balances) ao poder da elite governante”, escreveu o professor acrescentando que os governantes moçambicanos têm sido ajudados “pela cumplicidade de alguns países, companhias de energia como a ExxonMobil e organizações de ajuda como o Programa de Desenvolvimento da ONU e Corporação do Desafio do Milénio e pela indiferença de outros”.
O antigo embaixador americano em Maputo disse que Moçambique não estava preparado para se auto governar quando alcançou a independência em 1975 “porque as autoridades portuguesas não tinham investido na educação da população local”.
Os líderes da Frelimo que assumiram o poder realizaram eleições após o fim da guerra civil “mas o governo tem continuamente usado do seu poder para as falsificar”, escreveu Jett que dá depois pormenores da falsificação das últimas eleições , da violência contra opositores e da corrupção exemplifcada com o caso das “dívidas ocultas”.
“Devido ao facto da sociedade civil ser fraca, do parlamento e o sistema judicial estarem debaixo da mão da Frelimo e a imprensa ser em grande parte controlada pelo governo ou totalmente intimidada, os líderes fazem face a pouca pressão para governarem democráticamente e ou honestamente”, opinou Dennis Jett para quem “a única esperança é que a comunidade internacional possa tentar impor algumas (limitações ao poder do governo)”.
Mas o antigo diplomata disse que isso levantaria acusações de neo colonianliismo e para além disso “os países ricos estão mais preocupados com a estabilidade em paises que são parcialmente estados falhados do que com a democracia”.
No seu artigo o antigo embaixador dos Estados Unidos no Maputo criticou o Departamento de Estado por ter apelado às autoridades moçambicanas “a resolverem as preocupações graves de missões de observação das últimas eleições”.
“Por outras palavras o Departamento de Estado estava a sugerir que o governo deveria investigar-se a si próprio por tacticas que usou para assegurar que vence as eleições”, escreveu o Dennis Jet que criticou também um plano do PNUD de 60 milhões de dólares para ajudar “a descentralização do governo e encorajar a participação digital na democracia”, recordando que apenas 21% dos moçambicanos têm acesso à internet e que “uma coisa que a FRELIMO tornou claro ao longo dos anos é que não tenciona abrandar o seu controlo do poder dando a entidades locais que podem não ser leais à Frelimo, qualquer medida de autoridade”.
Dennis Jett criticou também o plano da Conta do Desafio do Milénio e outros doadores de doarem dinheiro “sem imporem quaisquer limitações ao abuso do poder pelo governo moçambicano embora sejam (essas organizações) que fornecem metade do orçamento do governo”.
Dennis Jett afirma que “a insurgência e terrorismo no norte vão permancer e o povo moçambicano vai ficar a pensar o que é mais destrutivo, se os ciclones que têm atingido o país ou o seu proprio governo”.
Para Dennis Jett a comunidade de doadores “ignora a corrupção e continua a oferecer ajuda humanitária e de desenvolvimento” o que não resolve os problemas do país.
“Tratar a causa básica dos males do país – a má governação – em vez do sintomas do problemas parece ser algo para além da capacidade de atenção dos paises ricos e em oposição aos seus interesses comerciais”, escreveu Dennis Jett.
“E por isso o povo de Moçambique fica com as opções da resistência armada, terrorismo Islamita, emigração ou resignação”, escrecentou o antigo embaixador americano em Moçambique
Dennis Jett foi embaixador dos Estados Unidos entre 1993 e 1996 durante a presidência de Bill Clinton


Masoquismo analítico
Eu tenho imensas dificuldades com a atitude crítica de alguns compatriotas. No seu horizonte analítico parece existir apenas a crítica ou a defesa do governo. No meio nāo parece haver nada. Toca daí achar tudo bom, ou mau, o que é crítico, ou bom. Por mais imbecil que seja. É o caso dum horrível texto escrito por um diplomata americano a dizer que Moz é um estado “falhado”. Circula no Facebook, nos grupos de Whatsapp e já o recebi por email também. Hoje em dia, o ignorante não é aquele que não tem acesso ao conhecimento científico, mas sim aquele que não sabe, ou não quer, depurar factos. Como canta Bob Marley, onde a água abunda, o ignorante está com sede.
Factos não falam por si. Factos, sem uma inferência lógica provada por outros factos, não validam uma tese. Dizer que Moz é um estado falido porque há fraude eleitoral, dívidas ocultas, insurgência armada de jovens, deterioração das condições de vida, assassinato de observadores eleitorais, etc. não constitui prova de nada. É circular, no mínimo, porque toma o que define o conceito - estado falhado - como prova do falhanço. É analiticamente problemático porque se focaliza no que confirma a tese, não no que a poderia falsificar. É o viés da confirmação tão característico da “análise” ideológica. É simplesmente grave pegar em “razões” tão complexas como os “factos” acima indicados para “explicar” a tese do falhanço do Estado quando para cada uma delas existem várias alternativas de explicação. No mínimo, o que se deve fazer é descartar essas outras explicações. Você que gostaria de aprender a ler criticamente, ganhe o hábito de nunca se fiar apenas naquilo que confirma o que pensa. Procure por alternativas e descarte-as. O texto do diplomata não passava uma prova de sociologia justamente por considerar tudo o que confirma o palpite do autor como sendo a verdade. Por exemplo, o assassinato do observador eleitoral, apesar de todos os indícios conhecidos, não está assente como tendo sido encomendado pela Frelimo e por ele ser observador. Outro exemplo: o relatório da missão europeia de observação é fraquinho e não serve como apoio para nada sem que o autor o submeta a uma análise.
Agora, na verdade há uma pequena tentativa, fracassada, de elaboração dum argumento com sentido. Esta tentativa encontra-se na tese segundo a qual os factos acima indicados fariam parte dum plano da Frelimo de se perpetuar no poder. É imbecil como argumento, mas menos mau do que até aqui comentei. O problema disto, contudo, é que é exactamente neste ponto que se precisa de material novo, algo que o autor não faz. Para mim, moçambicanos que lêem estas coisas e acreditam estar perante “grande” análise estão, na verdade a rasgar os seus diplomas. Ninguém, com a cabeça no lugar, contesta os factos. Mas como esses factos são postos a falar constitui um problema e nós os Mozes temos a obrigação de interpelar estas coisas melhor e com maior seriedade. Estar apenas contra ou a favor, sem interpelar criticamente, não me parece uma atitude patriótica, ou séria. Ao contrário do que o diplomata americano escreve, o problema de Moz não é uma comunidade de doadores e multinacionais que dão trela ao governo corrupto de Moz. O nosso problema é que decisões importantes sobre nós são tomadas por pessoas como o diplomata americano que são duma mediocridade analítica gritante. Assusta-me mais saber que estamos reféns dessa gente do que não saber como uma pessoa assim chega assim tão alto na carreira diplomática duma nação tão grande como os EUA.
Assusta-me também a recorrente ausência de sentido crítico entre nós. Temos um governo que deixa muito a desejar e uma oposição ainda pior. Se queremos o bem da nossa terra, temos que aprender a avaliar melhor os seus problemas. Estar apenas contra ou a favor é pouco.

Má reputação é pior que pobreza
Enquanto alguns dirigentes nossos dançam efusivamente ao som dos trompetes dos Mazione, pouco depois de receberem presentes de subservientes súbditos em cerimónias coreografadas à boa moda das nossas costumeiras tradições – como se houvesse muito por celebrar num país em profunda crise – circulam lá fora as mais vexantes observações sobre o estado de coisas no nosso país. Um antigo diplomata Americano em Moçambique acaba de publicar um artigo devassador em que considera Mozambique um estado falido. O seu argumento é que os “parceiros” internacionais do país têm sido cúmplices de um regime político sem nenhum compromisso com a democracia e com o estado de direito, e pouca inclinação para estabilizar o país e aliviar milhões de seus cidadãos da pobreza absoluta. Fraudes eleitorais, alta corrupção, controlo e intimidação da imprensa, esquadrões de morte, macabros assassinatos de quem ousa opor-se ou pensar diferente, e intermitentes conflitos armados. Estas são as imagens que compõem o quadro negro pintado por este ex-diplomata, um quadro que circula pelo mundo fora há já algum tempo.
A abordagem do ex-diplomata faz coro às já familiares narrativas miserabilistas sobre África, o tal afro-pessimismo que mais obscura que revela. É uma abordagem que mede os países Africanos pelo padrão estabelecido pela experiência e modelo do Ocidente. Está subjacente nela a normalidade definida a partir do centro. Na periferia reside a anormalidade, a aberração, os estados falidos. Há muito que refutar nesta abordagem. O próprio epíteto de estado falido é pouco esclarecedor. O que se não pode refutar são os factos que o sustentam. O quadro que o ex-diplomata pinta é a nossa imagem. As más línguas dos nossos vizinhos sobre a nossa casa se espalham em duas circunstâncias. Ou por inveja da nossa estabilidade e felicidade, ou porque de facto somos uma bagunça. Os países de sucesso controlam a imagem que querem que o mundo tenha de si, bem como a narrativa que se constrói sobre si, por mais caóticas que as coisas possam ser. As melhores famílias sabem disto. Podemos refutar que o nosso seja um estado falido. Podemos até chamar o autor de agente da CIA ou de qualquer das mãos externas a que nos acostumamos apontar o dedo sempre que se toca na nossa ferida. Mas uma coisa é clara. A nossa reputação lá fora é muito má. Não temos como refutar a bagunça que é a nossa casa, e a munição que ela oferece para a má língua dos outros.
Engana-se quem pensa que o que os outros pensam de nós não tem implicações económicas e sociais. Uma má reputação enfraquece-nos na competição por investimentos externos. Na economia global em que vivemos, reputação vale mais que recursos. Há muitos países, alguns deles nossos vizinhos, cujos líderes estão engajados em construir uma narrativa de estabilidade para atrair investimentos. Não basta ter recursos minerais. É também importante ter uma boa reputação para poder ombrear com o capital externo, mais interessado em sacar lucros que no desenvolvimento local. O ex-diplomata diz que a ExonMobil já está a pressionar o nosso governo a alocar mais tropas em Cabo Delgado para evitar a inviabilização da exploração de gás. Atenção. A empresa não está a encorajar o governo a resolver o conflito e estabilizar a região, muito menos a estender a mão para ajudar na resolução da crise. Quer apenas que o seu investimento seja protegido. Não importa ao capital se o país está a arder ou não, desde que o seu lucro não seja comprometido. Um país com má reputação não tem a musculatura necessária para obrigar este tipo de capital a ser mais responsável e a ter um papel mais efetivo no progresso do país. Ter má reputação significa não ser levado a sério. Não ser respeitado. Qualquer líder que ler o texto devastador do ex-diplomata, por mais informado que seja, terá sempre um desdém quando receber o seu congénere de Moçambique. Isso tem consequências graves.
Ademais, um país descrito como falido, sobretudo por entidades de um país poderoso como os EUA, é o lugar perfeito para a encubação de grupos terroristas. É no caos que esses grupos se acomodam e crescem.
Urge construirmos uma outra imagem do nosso país. A nossa liderança precisa assumir a sua responsabilidade. Isso não acontece com danças apoteóticas e bajulações como se aristocratas fossem. Enquanto eles se acomodam nas suas poltronas, a nossa república vai nua. É já lendária a nossa vergonha. Não é vergonhoso ser pobre. Há muitos países pobres como o nosso, cujos cidadãos andam de cabeça erguida pelo mundo fora. Vergonhoso é ser objeto de chacota e estar sempre na má língua dos outros. Podemos não vencer a pobreza. Mas a nossa reputação, essa podemos e devemos limpar. E isso começa por arrumarmos a nossa casa.
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  • Anne Pitcher The west is not now nor ever should have been a model for any state in Africa- African countries need to find their own way and as you say clean their own houses.
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    Yanıt yaz...

  • Melo David Mogoa Belo artigo de reflexão mas enquanto não haver comprometido por parte dos nossos governantes nada poderá mudar
  • Danny-el Mabjaia Yah. A verdade contida neste artigo me deixa sem forças de tal forma que fico sem saber se vou aplaudir ou lamentar...
  • Cristiano Matsinhe Cristiano Matsinhe Sabes Mamidji, até me incomodaria menos com o que o exterior pensa de nós, não fosse pela profusão com que, no interior, insistimos em armar circos (politico militares, eleitorais, de descentralização enganosa e onerosa, de pseudo engenharias financeiras, de criminalidade encoberta no Estado - vide o caso Matavele e outros). Incomoda-me mais o insolente ar com que ritualizamos a nossa condição de desencontrados, em constante negação do que vemos no espelho. Em certo sentido, somos de um narcisismo informado por apoteótica cegueira. Pior, enquanto uma suposta maioria aplaudir, não duvido que possamos retumbantemente perpetuar, por tempo interminado, tal tragicômica-condição.

1 comentário:

Unknown disse...

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