O país está em ebulição com o período eleitoral. Poderia (deveria, até) ser uma festa, mas infelizmente, não é. Está-se perante uma competição importante pois decidirá o futuro de milhões e, futebolisticamente falando, onde uma das equipas tem do seu lado a federação (CNE) o árbitro (Tribunal Constitucional), os fiscais de linha (Polícia e Forças Armadas), tendo por isso rejeitado, categórica e arrogantemente, o vídeo árbitro (órgão eleitoral independente, apartidário e imparcial), como recomenda o art.º 107.º da própria “constituição jessiana”.

Por William Tonet
Mas, ainda assim, os demais actores (oposição), excluídos da pré-época (registo eleitoral), da contratação das empresas fornecedoras dos kits e sistema informático (INDRA e SINFIC), para a realização do processo eleitoral acreditam, talvez ingenuamente, que serão vencedores.
Sabe ou deveria saber, a oposição que na política, melhor, na alta política, onde um dos contendores (MPLA) está no poder há 42 anos, a análise ligeira dos fenómenos e as omissões de casos, que atentam contra a Constituição e as leis, pagam-se muito caro. Demasiado caro. Muitas das vezes de tal maneiro caro que nem tempo se tem para fazer contas…
E a factura, nem precisa de incluir o NIF (número de identificação fiscal), porquanto na ausência de órgãos e instituições de Estado cidadãs, toda a máquina estando partidocratamente rotulada, com a cumplicidade das lideranças políticas, tudo se processará visando legitimar a fraude, no dia eleitoral, porque a batota está incubada nas entranhas do sistema. Do sistema e dos que dele fazem parte, por acção ou omissão.
Ninguém pode, das equipas concorrentes, dizer não saber ao que vai. Sabem, faz tempo, que o jogo será sempre desigual, sendo igual, apenas o choro e as lamentações finais.
A oposição durante toda a fase preparatória quis ser politicamente correcta (ou cobarde?), com medo de ser acusada de incitar à violência e à guerra, demitiu-se inclusive de apoiar manifestações da sociedade civil, enquanto o regime consolidava, consolida e branqueia a imagem, mesmo em fase da maior crise económica, fruto da monstruosa roubalheira institucional, assente na lógica “eduardista” de “acumulação primitiva de capital”, onde a maioria dos dirigentes rouba ou delapida o erário público, para enriquecimento ilícito.
Diante de tantas evidências, a oposição não mugiu nem tuge e quando pretendia arreganhar, face aos ilícitos, o regime coloca-a num parque de diversão, com a Constituição, as leis e os tribunais, para se divertirem, com a instauração de processos, que resvalam para o ralo das casas de banho, porque os homens das togas pretas são todos membros dos comités de especialidade do partido no poder.
E todos o sabem. Tanto assim é que havendo flagrante violação do n.º 4 do art.º 180.º CRA (Constituição da República de Angola), a oposição numa estranha conivência, cala-se, aplaude a violação constitucional, do presidente e maioria dos juízes que validarão as eleições gerais de 23 de Agosto, terem o mandato expirado (2008 à 2017).
Mero desconhecimento? Tudo os incrimina, pois têm a obrigação de saber somar e conhecer a norma, que diz: “os juízes do Tribunal Constitucional são designados para um mandato de sete anos não renovável e gozam garantias de independência, inamovibilidade, imparcialidade e irresponsabilidade dos juízes dos restantes tribunais”.
Aqui chegados, a pergunta impõe-se: não seria esta, causa bastante para a oposição unida se manifestar e condicionar a participação, até se respeitar a Constituição jessiana?
Assim, anestesiada que está, o MPLA/Estado tem a certeza de nada lhe acontecer, marimbar-se para os doentes nos hospitais públicos, carentes de paracetamol, anti-palúdicos, balões de soro, compressas, álcool, mercurocromo, mas comprar para os seus militantes e cabos eleitorais, com dinheiro dos “cofres públicos”, milhares de carrinhas e jeeps novos, engalanados com a cara do candidato João Lourenço.
É uma clara afronta à maioria da população pobre que, nesta fase de crise, chega a não ter dinheiro para comprar uma mandioca, mas também, líderes que se indignem e revoltem com estes abusos.
Por outro lado, os crimes de corrupção sucedem-se nos últimos tempos, os mais revoltantes foram os 500 milhões de dólares desviados, por altos funcionários da Presidência da República, para o BES de Dubai, os 500 mil dólares do menino Danilo, 23 anos, desempregado, mas filho do Presidente da República, na compra de um relógio, os 25 milhões de dirigentes da SONANGOL, a bordo dos aviões da TAP e, finalmente, o vice -presidente da República, Manuel Vicente, ter sido constituído arguido num processo, em Portugal, acusado pelos crimes de corrupção activa e branqueamento de capitais.
Com todo este arsenal, para paralisar o país, com base na lei e exigir outra postura do regime, a oposição não age, não capitaliza, não sai à rua em manifestações, contra a CORRUPÇÃO, mantém-se amorfa, passiva, indiferente e diz que vai a jogo mesmo assim.
E tanto vai, que se tornou cúmplice do nepotismo, do peculato e da falência total, por roubo de capitais de dois bancos comerciais (CAP e BESA) e a falência técnica de outros tantos (BPC, BCI, BDA).
Os malandros estão todos, absolutamente todos, identificados, mas nada lhes acontece, uma vez para o actual MPLA/Estado parecer que: “ROUBAR É UM DEVER REVOLUCIONÁRIO”. Uma convicção enraizada no controlo absoluto dos órgãos de comunicação social públicos, das telecomunicações, do sistema judicial e judiciário, do sistema financeiro e bancário, da partidarização efectiva dos órgãos policiais, das Forças Armadas e de defesa e segurança.
Com todas estas ferramentas e sem alterações significativas e radicais, no “modus operandi” da oposição a postura da comunicação social pública de beneficiar, excessiva e exclusivamente, em período eleitoral, o MPLA e o seu candidato é escandaloso.
É desta forma, infelizmente, que em muitos lugares, a provocação, a humilhação faz germinar as sementes da guerra e, ao que parece, se não emergir, entre nós, uma voz autorizada e precavida, um dia, por a fome estar a rastejar, já em muitas pontas das baionetas, ela pode deflagrar.
O exército dos famintos, dos pobres, desempregados e desmobilizados das guerras, não pára de crescer e, nas zonas urbanas, o ostracismo a que estão votados os quadros que não bajulam, pode propiciar a descrença no multipartidarismo, na democracia, nas eleições, por verem que nada vai mudar, senão a vontade de nada mudar, ainda que as carripanas de todos actores vaticinem, hoje, a vitória final.
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