Drª. Sayaka Funada Classen
Professora Associada, Tokyo University of Foreign Studies
sayakafc@tufs.ac.jp
Tóquio, 20 de Janeiro de 2013
1
Conteúdo
Introdução................................................................................................................ 2
1. O discurso observado entre as partes interessadas do ProSAVANA.................. 2
(1) O que é o ProSAVANA? .................................................................................. 2
(2) A transição do discurso sobre o ProSAVANA e as suas 4 fases ..................... 4
(3) As mudanças na natureza do discurso público sobre o ProSAVANA ............ 5
(4) As características de cada discurso e seus antecedentes ............................... 6
(a) “Sucesso do desenvolvimento do Cerrado/cooperação japonesa com o
Brasil” ............................................................................................................... 6
(b) “Cooperação Sul-Sul/Triangular através da parceria Brasil-Japão”.......... 8
(c) “Levando o sucesso do Cerrado para a África (ProSAVANA)”.................... 8
(d) “Solução para a segurança alimentar mundial através do
desenvolvimento da savana tropical da África”............................................... 9
(e) “Estagnação da agricultura em Moçambique”.......................................... 10
(f) “O não cultivado norte moçambicano” ....................................................... 11
(g) Correção de meio caminho e “desenvolvimento baseado em modelo” ...... 12
(h) “Agricultura como um negócio/coexistência de camponeses e agronegócio
de larga escala”............................................................................................... 13
(i) “Conformidade com códigos de conduta internacionais”........................... 14
(j) “Parcerias e Investimentos win-win”......................................................... 15
(k) “Oportunidades de negócios para empresas japonesas e brasileiras”...... 15
(l) “Apropriação de terras / competição com a China”................................... 18
(m) “Retorno à assistência tradicional a pequenos agricultores baseada em
Projectos da JICA e balanceados com abordagens orientadas ao
investimentos” ................................................................................................ 19
2. Análise do discurso e o seu contexto ............................................................... 19
(1) Análise baseada nas vozes da sociedade civil de Moçambique .................... 20
(2) Análise com base na realidade das comunidades rurais e de seus meios de
sobrevivência no Norte de Moçambique ............................................................ 22
2
(3) Análise com base nas experiências anteriores do Brasil e de outros países da
África .................................................................................................................. 29
(a) Caso do Brasil............................................................................................ 29
(b) Casos de outros países africanos – apropriação de terras ........................ 31
(c) Lições a serem aprendidas por Moçambique............................................. 33
Conclusão ............................................................................................................... 34
* Este artigo é uma tradução parcial para o português de um capítulo de mesmo título a ser publicado em 2013,
originalmente escrito em japonês. A autora1 aprecia todo o apoio dado por cidadãos voluntários em traduzir e revisar
o texto.
Introdução
Este artigo examina as características e os antecedentes, muito debatidos, do “Programa de
Cooperação Triangular para o Desenvolvimento da Agricultura das Savanas Tropicais em
Moçambique, nomeadamente, ProSAVANA-JBM”, assinado conjuntamente pelos governos
do Japão, Brasil e Moçambique em 2009. O artigo busca analisar o discurso e os argumentos
observados em documentos e discussões dos planeadores e promotores japoneses deste
programa. O artigo está organizado da seguinte forma. A primeira secção traça a evolução
do discurso que as partes interessadas do ProSAVANA empregam para apoiar o seu
envolvimento no programa. A segunda secção examina tais discursos baseado (1) nas vozes
da sociedade civil local, (2) nas características socio-culturais do norte de Moçambique, a
área abrangida pelo projecto, e (3) em casos precedentes de apropriação de terras
observados no Brasil e em outros países africanos. Por fim, a autora realça as características
e os desafios no que se refere o actual discurso predominante na assistência internacional
para o desenvolvimento.
1. O discurso observado entre as partes interessadas do
ProSAVANA
(1) O que é o ProSAVANA?
É fundamental entender que o programa ProSAVANA foi originado como um
empreendimento cooperativo entre o Japão e o Brasil. Isto pode ser mais claramente
entendido ao se fazer referência ao nome original do projeto, “o Programa de Parceria
Brasil-Japão para o Desenvolvimento Agrícola da Savana Tropical de Moçambique” (JICA
Sept. 28, 2009; Hosono 2012:32), e ao se observar a linha do tempo dos encontros
conjuntos mantidos por oficias dos governos brasileiro e japonês que levaram à cooperação
no âmbito do ProSAVANA [veja Tabela 1].
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Tabela 1 - Processo Preparatório do ProSAVANA
Ano/Mês Locais Eventos e Pessoas
2000 (Março) Tóquio Estabelecimento do convênio-quadro Tripartite para cooperação
intergovernamental no âmbito do Programa de Parceria Japão-Brasil-JBPP.
2004 (Setembro) Brasil Visita do Primeiro-Ministro japonês Junichiro Koizumi.
2005 (Maio) Tóquio Primeiro-Ministro Koizumi e o Presidente Lula da Silva acordam trabalhar
juntos para uma “Reforma da ONU” e preparar o Intercâmbio Brasil e Japão
para o ano 2008.
2006 (Maio) Brasil Visita do Ministro de Agricultura do Japão, Shoichi Nakagawa.
2006 (Setembro) Brasil Segunda visita do Ministro Nakagawa.
2007 (Abril) Brasil Sadako Ogata, Presidente da Agência de Cooperação Internacional do Japão
(JICA), e Celso Amorin, Ministro de Relações Exteriores do Brasil, decidem
promover o JBPP.
2007 (Maio) Brasil Visita do Ministro de Agricultura Toshikatsu Matsuoka.
2007 (Agosto) Brasil O Ministro japonês de Relações Exteriores, Taro Aso, e o Ministro Amorin
confirmam a “revitalização da parceria estratégica”.
2008 (Ao longo
do ano)
Japão/Brasil Ano de Intercâmbio Brasil-Japão / Centenário da Imigração Japonesa no
Brasil.
2008 (Maio) Brasil Visita do Ministro de Agricultura do Japão Masatoshi Wakabayashi.
2009 (Julho) Cimeira do
G8 em
L’Aquila,
Itália
O Primeiro-Ministro Aso e o Presidente do Brasil, Lula da Silva, concordam
em conduzir o “Desenvolvimento Agrícola das Savanas Tropicais Africanas”.
2009, 17 de
Setembro
Maputo Assinatura do acordo do ProSAVANA pelo Vice-Presidente da JICA, Kenzo
Oshima, pelo Diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), Marco
Farani, e pelo Ministro de Agricultura de Moçambique, Soares Bonhaza
Nhaca.
2009 (Setembro)
a 2010 (Março)
Mozambique Pesquisa preparatória do ProSAVANA preparada pela JICA.
2010 (Outubro) Brasília 10º aniversário do Programa de Parceria Japão-Brasil, com a presença de
directores dos escritórios do Brasil e Centro-América da JICA, do Embaixador
Japonês no Brasil, de Vice-Ministros do Brasil, do Ministro brasileiro de
Relações Exteriores e do Diretor da ABC.
Compilado pela autora.
Desde o seu início, o programa ProSAVANA não foi concebido em conjunto com os
habitantes da região, nem houve interesse em ir ao encontro das necessidades locais. Ao
contrário, o projecto foi concebido como uma maneira do Japão e Brasil trabalharem juntos
para alcançar uma reforma da ONU, participarem em novas estruturas políticas e
económicas globais, como BRICS e o G20, e promoverem conjuntamente a extração e
produção de bens. O Japão e o Brasil possuem laços históricos em função da migração em
massa de japoneses para o Brasil no século passado. O programa tem sido repetidamente
publicizado como a principal componente da assistência internacional japonesa (JICA, 2012
b: 88). A campanha de relações públicas tem sido tão efetiva que, ao final de 2011, a
Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hilary Clinton, elogiou o ProSAVANA como uma
concreta “cooperação sul-sul” que melhora a efetividade da assistência internacional,
durante 4º Fórum de Alto-Nível Sobre a Eficácia da Ajuda (HLF4), realizado em Busan, Coréia
do Sul, dando grande encorajamento aos actores japoneses (JICA, 2012b: 19). Também no
Japão, o programa ProSAVANA recebe cada vez maior publicidade como um exemplo
promissor da assistência para o desenvolvimento concedida pelo Japão. Isto é
especialmente importante no momento em que se aproxima a 5ª Conferência Internacional
de Tóquio sobre Desenvolvimento da África (5ª TICAD), uma conferência realizada a cada
cinco anos com o objectivo de fortalecer as relações entre os governos africanos e japonês.
4
Embora a JICA e o governo japonês promovam o Programa ProSAVANA como se ele
já tivesse sido bem sucedido, ainda não está claro por quê eles apresentam esta alegação,
tendo em vista que o programa ainda não foi implementado no terreno, como a Tabela 2
indica.
Tabela 2 – Plano do Programa ProSAVANA
2011~2015 Assistência para melhorar a capacidade de pesquisa e de transferência tecnológica.
2011~ Outros investimentos privados, empresas com Responsabilidade Social Corporativa.
2011~2013 Plano Director de Desenvolvimento Agrícola.
2013 Empréstimos e Subvenções Oficiais, Investimento Estrangeiro.
Compilado pela autora, com base no 5º seminário do ProSAVANA (JICA, 31 de Julho 2012).
Dessa forma, é muito difícil compreender o que realmente é o Programa
ProSAVANA. Qual é o seu objetivo central? Mesmo para quem pode ler documentos em
japonês e é treinado em análise de políticas, é difícil visualizar o que finalmente representa
este projecto. É ainda mais difícil saber quem tem responsabilidade sobre o quê. E o
planejamento das atividades permanece pouco claro em razão da falta de informações e
uma troca constante de argumentos, justificativas e enfoque.
As mesmas preocupações aqui apresentadas foram expressas durante entrevistas
com organizações locais da sociedade civil (moçambicanas) e outras agências de doadores,
conduzidas pela autora em Maputo em Agosto e Setembro de 2013. Esta é a principal razão
pela qual a autora decidiu realizar uma análise do discurso do programa baseada nos
materiais publicados.
(2) A transição do discurso sobre o ProSAVANA e as suas 4 fases
Antes da assinatura do Programa ProSAVANA pelos três governos, é importante
compreender como o planeamento do programa foi realizado entre os actores japoneses e
entre estes e suas contrapartes brasileiras2
. É difícil saber quando estas reuniões ocorreram,
já que não existe documentação pública. Algumas informações foram publicadas apenas em
2009 e estes são os documentos analisados em detalhe neste artigo. Os documentos
examinados vêm de quatro fontes: Primeiramente, a página eletrônica da JICA (incluindo
seus relatórios) e artigos publicitários; Segundo, entrevistas realizadas com as partes
interessadas e uma revisão dos seus documentos e artigos de suporte do programa; Terceiro,
organizações relacionadas como o MoFA (Ministério de Relações Exteriores do Japão) e
JETRO (Organização de Comércio Exterior do Japão); e finalmente, notícias veiculadas em
jornais japoneses, brasileiros e internacionais.
Com base na análise destas fontes documentais, a seguinte periodização foi
elaborada pela autora: [Primeira fase] desde a assinatura do acordo em 2009 até a pesquisa
preparatória (2009-2010); [Segunda fase] desde o final da pesquisa preparatória até o início
do programa (2010-2011); [Terceira fase] desde o início do programa até a actualidade
(2011-2012); e [Quarta fase] dotando o Programa ProSAVANA de uma aparência de
programas tradicionais da JICA de ajuda a pequenos agricultores.
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(3) As mudanças na natureza do discurso público sobre o ProSAVANA
Os principais temas do discurso sobre o Programa ProSAVANA observados durante a
[Primeira fase] podem ser sintetizados da seguinte forma: (a) “Sucesso do desenvolvimento
do Cerrado/cooperação japonesa com o Brasil”; (b) “Cooperação Sul-Sul/Triangular por meio
da parceria Japão-Brasil”; (c) “Levar o sucesso do Cerrado para a África (ProSAVANA)”; (d)
“Solução para a segurança alimentar global através do desenvolvimento da savana tropical
na África”; (e) “Estagnação da agricultura em Moçambique”. Todos os discursos aqui
mencionados não possuem base concreta. Os discursos foram aparecendo através da
análise de imagens e dados ao nível macro, sem o conhecimento básico sobre a terra e os
povos na área de actuação do programa, isto é, o norte de Moçambique.
Similarmente, o discurso observado durante a [Segunda fase] foi: (f) “O nãocultivado
norte moçambicano”; (g) “Correcção de meio caminho do discurso original e
desenvolvimento baseado em modelo”; (h) “Agricultura como um negócio/coexistência
entre pequenos agricultores e agronegócio de larga escala”; (i) “Conformidade com os
códigos de conduta internacionais”.
Durante esta fase, o discurso da [Primeira fase] teve que ser modificado com base
nos resultados encontrados na pesquisa preparatória conduzida no norte de Moçambique.
Tornou-se claro que “o desenvolvimento agrícola (não o rural) através do investimento
direto e os princípios da economia de mercado” deveriam ser a principal característica do
programa. Isto levou a preocupações generalizadas em Moçambique, Japão e no resto do
mundo de que o programa era mais um exemplo do que se tornou popularmente conhecido
como “a corrida de terra” ou “apropriação de terras” que esta ocorrendo no mundo, em
especial na África. Esta é a razão porque o discurso se modificou para incluir preocupações
com a (h) “coexistência” e (i) “conformidade com os códigos de conduta internacionais”.
O discurso observado na [Terceira fase] se torna predominantemente orientado a
negócios. Isto pode ser facilmente observado nos seguintes discursos deste período: (j)
“Parcerias win-win e Investimentos”; (k) “Oportunidades de negócios para empresas
brasileiras e japonesas”; (l) “Corrida de terras/competição com a China”. O discurso foi
influenciado pela recente missão conjunta entre os sectores privados e públicos do Japão e
do Brasil instalada no norte de Moçambique e pelo aumento global dos preços dos
alimentos.
Se houvessem de facto grandes oportunidades de negócios esperando em
Moçambique, por que os contribuintes japoneses deveriam subsidiá-los? A JICA foi obrigada
a balançar a visão predominante orientada ao negócio com discursos da fase anterior,
levando a actual [Quarta fase] do discurso, (m) “Retorno da assistência tradicional da JICA
via projectos para pequenos agricultores, balanceados com abordagens orientadas ao
investimento”.
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Tabela 3 – Transição do discurso do Programa ProSAVANA e a sua periodização de 2009 a
Setembro de 2012.
Fase Ano Discurso
Primeira Fase
2009-2010 (a) “Sucesso do desenvolvimento do Cerrado/cooperação
japonesa com o Brasil”
(b) “Cooperação Sul-Sul/Triangular através da parceria JapãoBrasil”
(c) “Levando o sucesso do Cerrado para a África (ProSAVANA)”
(d) “Solução para a segurança alimentar global através do
desenvolvimento da savana tropical na África”
(e) “Estagnação da agricultura em Moçambique”
Segunda Fase
2010-2011 (f) “O não-cultivado norte moçambicano”
(g) “Correção de meio caminho e desenvolvimento baseado em
modelo”
(h) “Agricultura como um negócio/coexistência de pequenos
agricultores e agronegócio de larga escala”
(i) “Conformidade com códigos de conduta internacionais “
Terceira Fase
2011-2012 (j) “Parcerias win-win e Investimentos”
(k) “Oportunidades de negócios para empresas brasileiras e
japonesas”
(l) “Corrida de terras/competição com a China“
Quarta
Fase
2012-
actualmente
(m) “Retorno à assistência tradicional baseada em projectos da
JICA para ajuda aos pequenos agricultores, balanceados com
abordagens orientadas ao investimento”
Compilado pela autora.
(4) As características de cada discurso e seus antecedentes
Com base nas mudanças de discurso observadas nas fontes documentais da primeira a
quarta fases, a autora pretende analisar cuidadosamente os argumentos presentes em cada
fase:
(a) “Sucesso do desenvolvimento do Cerrado/cooperação japonesa com o Brasil”
O desenvolvimento do Cerrado, que é a história de sucesso do desenvolvimento da “uma
terra desabitada e estéril” do Cerrado no Brasil, é o modelo para o Programa ProSAVANA.
De facto, é de central significância para o todo o programa e das partes interessadas. A
importância do projecto de desenvolvimento do Cerrado é evidente nos seminários da JICA
e suas campanhas de relações públicas, apesar da “descoberta” da incompatibilidade deste
7
argumento com as realidades do Norte de Moçambique. Explicações típicas são
apresentadas a seguir.
“Japão e o Brasil tem continuado a operar no Projecto de Desenvolvimento Agrícola do
Cerrado Japão-Brasil por mais de 20 anos. Hoje, a área do Cerrado se tornou uma
região agrícola de alto nível mundial (JICA, 25 de Maio de 2009)”.
“O Projecto de Desenvolvimento Agrícola do Cerrado, que criou uma gigantesca área
agrícola, é um projecto de grande porte nas experiências passadas da Assistência Oficial
ao Desenvolvimento (AOD) do Japão. Ele contribui para transformar o Brasil em um dos
dois grandes pilares da cadeia global de alimentos, ao lado dos Estados Unidos (JICA, 30
de Junho de 2009)”.
Uma avaliação detalhada do desenvolvimento do Cerrado será apresentada na
secção 2. Antes dessa avaliação, há necessidade de trazer algumas informações básicas
sobre a JICA e seu discurso.
A JICA foi criada através da fusão, em 1973, da Agência Internacional de Cooperação
Técnica (OTCA) estabelecida em 1962, e a Agência dos Serviços para Emigração Japonesa
(Japan Emigration Service: JEMIS), esta última o resultado de uma união dos antigos órgãos
oficiais de emigração e assentamentos em 1963, através de um órgão coorporativo
subordinado ao Ministério de Relações Exteriores. Suas raízes são, dessa forma, projectos de
colonização no exterior. Ainda anteriormente à Segunda Guerra Mundial, os predecessores
da JICA apoiaram migrantes japoneses que assentaram no Brasil no sector agrícola. A
maioria dos migrantes japoneses antes e depois da Segunda Guerra deixou o Japão com a
esperança de adquirir grandes extensões de terras agrícolas no interior do Brasil, tendo em
vista que estas terras não estão disponíveis nas pequenas ilhas montanhosas do Japão,
especialmente para a segunda ou terceira geração das famílias (Masterson & Funada Classen,
2004).
A JICA possui suas raízes na assistência às colónias na América Latina, em especial no
Brasil, visto que a grande concentração de japoneses naquele país. A JICA passa por
dificuldades em quebrar com este passado. Uma grande quantidade de recursos,
equivalente a quase US$ 805 milhões (51% dos quais financiados pelo Governo japonês), foi
gasto no projecto de desenvolvimento do Cerrado, na esperança de que os migrantes
japoneses adquirissem terras e as companhias japonesas dominassem o negócio dos
produtos agrícolas brasileiros. Porém, tem havido muitas criticas ao projecto entre o
Exército e deputados brasileiros, a Conferderação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), as
Federações de Trabalhadores da Agricultura de Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo, e até
mesmo alguns migrantes japoneses, devido a diversas situações de falta de transparência e
falhas (JICA,2001:22;35;44;69; SanMartin e Pelegrini,1984; Pessoa,1988:103;110;125-126).
Tendências recentes e mudanças no ambiente mundial converteu desenvolvimento
do Cerrado numa espécie de “caso de sucesso” devido ao grande aumento dos preços dos
produtos agrícolas e ao número crescente de acordos bilaterais e regionais de comércio, que
tem facilitado os investimentos e deslocamento dos bens, ou seja, commodities.
8
(b) “Cooperação Sul-Sul/Triangular através da parceria Brasil-Japão”
Em adição ao mandato original da JICA de apoiar os migrantes japoneses na América Latina,
especialmente no campo da agricultura, um outro foi concedido à JICA pelo seu predecessor,
OTCA, isto é, cooperação econômica com os vizinhos asiáticos como um substituto para as
reparações da Segunda Guerra Mundial. Em 2000, entretanto, tanto os países asiáticos
como latino-americanos “graduaram” ou “estavam para graduar” da assistência oficial do
Japão, AOD. Este foi o período em que muitos escândalos relacionados á AOD japonesa
foram revelados, e, devido à longa recessão no Japão, os contribuintes começaram a exigir
maior transparência e responsabilização do seu uso. Todos estes factores levaram a uma
redução do orçamento de AOD e uma mudança da assistência da Ásia e América Latina para
África. Estes são os antecedentes da emergência da “Cooperação Sul-Sul/Triangular” no
contexto japonês. Este movimento foi elogiado pelas contrapartes brasileiras, conforme
reproduzido a seguir:
“Marco Farani da Agência Brasileira de Cooperação declara que, dentre as cooperações
triangulares com a Alemanha, França, EUA e Japão, o esquema japonês é o mais
importante (JICA, 24 de Novembro de 2010)”.
Adicionalmente a estes antecedentes históricos, quatro eventos contribuíram para
que as partes interessadas do Japão mudassem o seu foco dos antigos recipientes de ajuda
para a África depois de 2000. (1) A Cimeira do Milênio realizada em 2000, (2) Sadako Ogata,
ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, tomou a liderança da JICA como
Presidente em 2003, (3) o rápido e profundo envolvimento da China em África no final da
segunda metade dos anos 2000, e (4) a realização do TICAD IV, onde o Governo japonês
prometeu triplicar sua ajuda para a África3
. Muito embora a África tenha se tornado o
principal foco da AOD japonês, não havia especialistas japoneses suficientes que tivessem
experiências nas áreas requisitadas e em várias regiões da África. A falta de habilidades nos
idiomas também foi uma barreira limitante da cooperação japonesa. Na África, não só
existem países anglófonos mas também muitos países francófonos, lusófonos e arábicos e
cada um deles possue numerosas línguas locais.
A JICA não procurou superar este desafio através da “localização” de suas operações,
como as agências da ONU têm feito. Ao invés, eles introduziram “Cooperação Sul-Sul”,
levando especialistas asiáticos e japoneses para a África. Em especial, japoneses brasileiros
(nipo-brasileiros) foram convidados para papéis chave na cooperação triangular e se
tornaram instrumentos da diplomacia, pois isto aumentava a visibilidade da ajuda
“japonesa”, ao mesmo tempo em que fortalecia as relações com o Brasil4
.
(c) “Levando o sucesso do Cerrado para a África (ProSAVANA)”
Embora o Programa ProSAVANA se demonstre como uma ferramenta adequada para servir
aos interesses japoneses de fortalecer as relações com África e com o Brasil (incluindo os
japoneses brasileiros) e segurar os produtos agrícolas, na verdade, as diferenças entre o
Brasil e África não são tão pequenas. Dessa forma, algumas similaridades devem ser
encontradas e enfatizadas, no sentido de levar o “sucesso brasileiro” para África.
9
“O Cerrado do Brasil e a savana tropical de Moçambique possuem muitas
características agronómicas em comum, e o projecto de desenvolvimento do Cerrado
possui um conjunto de técnicas agrícolas úteis para o desenvolvimento agrícola em
Moçambique. Em especial, se esperam que as técnicas de melhoramento do solo que
foram sendo acumuladas no decorrer do projeto Cerrado e a introdução de cultivos
apropriados deverão contribuir para aumentar a produtividade da agricultura na
savana tropical moçambicana, levando a uma melhoria dos padrões de vida para
pequenos agricultores (JICA, 28 de Setembro de 2009)”.
“O Cerrado e a área de savana tropical na África possuem muitas semelhanças. Através
de 30 anos de iniciativas de desenvolvimento agrícola como a do Cerrado, o Brasil
acumulou muito conhecimento que poderia ser ampliado para a agricultura tropical da
África. A previsão é de que aumentar a produtividade através do uso dos resultados
destes experimentos poderá ser alcançada com relativa facilidade (JICA, 30 de Junho de
2009)”.
(d) “Solução para a segurança alimentar mundial através do desenvolvimento da
savana tropical da África”
A ênfase nas semelhanças entre o Cerrado brasileiro e a savana tropical africana tem
resultado em novas iniciativas de transformação da África no “novo Cerrado”, no intuito de
replicar o “sucesso” e contribuir para a segurança alimentar global.
“A demanda mundial por alimentos é forte, e uma oferta estável de alimentos tem se
tornado um importante assunto global. Uma das soluções é o desenvolvimento
sustentável da savana tropical através do uso de grandes extensões não utilizadas. (…)
As capacidades construídas por meio do desenvolvimento agrícola do Cerrado trazem a
possibilidade de não apenas resolver o problema de falta de alimentos em África, onde
metade das savanas tropicais do mundo se encontram, como também contribuir para a
segurança alimentar mundial (JICA, 25 de Maio de 2009)”.
“Metade das savanas tropicais do mundo se concentram em África, onde existe uma
vasta região de terra agrícola não utilizada. O mundo está buscando uma nova base de
produção e exportação de alimentos. O desenvolvimento agrícola da savana tropical na
África irá beneficiar não somente os países relacionados, como também todo o mundo
(JICA, 30 de Junho de 2009)”.
“Se ‘o último continente remanescente para a produção agrícola’ alcança a ‘revolução
verde’, a segurança alimentar mundial pode ser amplamente resolvida. ProSAVANA é
um passo adiante na realização deste sonho (Hongo, 2010:17-19)”.
Nestes argumentos, observa-se um termo usado de forma repetitiva como evidência
das semelhanças entre o Cerrado e Moçambique, isto é, “savana tropical”. Esta é uma das
categorias climáticas do sistema de classificação estabelecida pelo geógrafo, meteorologista
e climatologista Russo-Alemão, Wladimir Koppen, no final do século XIX. É também chamada
de “clima tropical húmido e seco”. De acordo com a classificação de Koppen, o Cerrado
10
brasileiro e muitas partes da África, incluindo o Moçambique, podem ser considerados
“savana tropical”.
As áreas categorizadas como “savana tropical” ou “clima tropical húmido e seco”,
que oferece condições favoráveis para a produção agrícola, rapidamente se tornaram alvo
não apenas de projectos de assistência, como também de investimentos externos em
agricultura. Isto tem causado uma série de problemas, tendo em vista que o uso da
classificação de Koppen é facilmente confundida com outro sistema de classificação na qual
“savana” é caracterizada como uma área aberta em que existem muitos animais e poucas
árvores e que pode ser facilmente transformada em terra agrícola. Esse desvio da noção do
termo tem resultado em danos a florestas abertas em todo o mundo.
(e) “Estagnação da agricultura em Moçambique”
Quando se fala sobre “levar o sucesso do Cerrado brasileiro para a África”, existe a
impressão que a “savana tropical” africana é “vasta”, “inutilizada” e que “espera que seja
cultivada como no caso do Cerrado”.
Moçambique foi escolhido como o lugar mais apropriado para implementar o
“modelo do Cerrado”, visto que partes do país pertencem a “mesma savana tropical”, possui
“vastas terras não cultivadas” e é similar ao Brasil no sentido de ser um país lusófono. A
“baixa produtividade” dos agricultores moçambicanos e as “vantagens” do modelo do
Cerrado, isto é, agricultura industrial de larga escala (mecanização e alta quantidade de
insumos químicos), são enfatizados. Isso é claro nos seguintes documentos da JICA.
“Depois do fim de 16 anos de guerra civil, Moçambique conseguiu realizar três eleições
nacionais sem grandes problemas graças aos seus esforços de democratização,
acompanhadas por estabilidade política e económica, e é tido como um dos países mais
bem sucedidos na construção de paz no pós-conflito. Entretanto, a pobreza é problema
muito grave, e de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas
de 2007-2008, Moçambique se encontra na 172ª posição de um total de 177 países, o
que coloca o país como um dos menos desenvolvidos do mundo. Embora 80% da
população esteja engajada na agricultura, eles são forçados a permanecer em uma
agricultura de subsistência de baixo uso de insumos e baixa produtividade, dessa forma
sofrendo com a pobreza. Pelo contrário, cerca de 70% da terra de Moçambique
(540.000 km2
) é categorizada como região de savana tropical e permanece vastamente
inutilizada e adequada para a agricultura (JICA, 28 de Setembro de 2009)“.
“O sector agrícola de Moçambique é responsável por cerca de 27% do GDP, cerca de
10% das exportações e absorve cerca de 80% da mão de obra. Muito embora existam
cerca de 36 milhões de hectares aráveis, apenas 16%, ou seja, 5,7 milhões de hectares,
é verdadeiramente cultivado (JICA, Fevereiro de 2011)”.
A análise de Moçambique através do uso de índices macro estatísticos dá a
impressão que o sector agrícola do país se encontra estagnado, o que leva as pessoas a
acreditarem que o Moçambique é o mesmo que o Cerrado brasileiro.
11
(f) “O não cultivado norte moçambicano”
A área climática “savana tropical” é limitada a região Norte de Moçambique. Esta é uma das
principais razões porque o Programa ProSAVANA almeja esta região. Para os planeadores do
ProSAVANA, as similaridades grográficas entre o Cerrado e o Norte moçambicano são
também evidentes como pode ser visto no mapa seguinte, que apresenta as mesmas
latitudes das duas regiões. Este argumento é utilizado em quase todos os documentos da
JICA sobre o ProSAVANA até agora.
Mapa 1. Mapa da JICA distribuído durante simpósio (13 de Junho de 2012)
Não é claro qual é o tipo de impacto conferido ao projecto moçambicano pelo facto
de possuir a mesma latitude do Cerrado brasileiro. Por exemplo, o Japão compartilha a
mesma latitude que a Coréia, China, Irão, Turquia, Espanha e os Estados Unidos, porém isto
não significa que estes países possuem condições agrícolas semelhantes às do Japão.
Em síntese, o discurso observado no apoio ao Programa ProSAVANA durante a
primeira fase enfatizava: i) primeiro, o fortalecimento das relações diplomáticas entre o
Japão e o Brasil, ii) segundo, pintava um cenário de que Moçambique era um “caso similar”
ao Cerrado brasileiro, e iii) terceiro, os discursos de relações públicas encorajavam a
implementação do projecto enfatizando os benefícios para os africanos e para a segurança
alimentar global. A primeira fase do discurso deixou de fora ou ignorou as realidades locais,
bem como as experiências das pessoas que vivem na área de actuação do ProSAVANA.
Conforme os agentes japoneses que visitaram o Norte de Moçambique pela
primeira vez, seus argumentos começaram a mudar e, dessa forma, um novo discurso foi
sendo criado. Os discursos anteriores falavam da “savana tropical” de Moçambique como
“terra inutilizada”, “com baixa produtividade” e caracterizada por “escassez de alimentos e
pobreza”. Em poucas palavras, essa terra foi julgada como “estagnada” pela JICA. Na
realidade, essa região possui solos ricos e produtivos, além de recursos hídricos, e é uma das
regiões mais povoadas de Moçambique. Notando a contradição entre a realidade e os
discursos anteriores, a JICA começou a criar um novo discurso.
“A savana tropical da região que se espalha até a parte Norte do país é identificada
como a de maior potencial para a produção agrícola, já que a terra é especialmente
adequada para a agricultura devido à boa quantidade de chuvas e a presença de vastas
12
áreas. Esta região, entretanto, é majoritariamente inutilizada. Ademais, agricultores de
pequeno porte estão limitados devido a sua aderência a práticas agrícolas tradicionais,
as quais são, em sua maioria, de agricultura extensiva, na qual tanto a produtividade
para o consumo quanto para a venda não é alta. Até mesmo as técnicas utilizadas por
agricultores médios ou de grande escala são limitadas e não muito produtivas. Dessa
forma, a expansão de terras cultivadas e o aumento da produtividade agrícola são
esperados com a introdução de tecnologia agrícola e de investimento (JICA, Fevereiro
de 2011)”.
A ênfase nas “semelhanças agronómicas” quietamente substituiu o discurso anterior
que enfatizava as semelhanças de clima e latitude. Esta mudança ocorreu devido às
diferenças óbvias entre a fertilidade do solo das duas regiões. Um novo discurso emergiu
apontando para o fato de que o Norte de Moçambique é muito adequado para a agricultura
e tem o potencial de ser altamente produtivo. Os agricultores locais apenas conhecem
agricultura tradicional extensiva e não podem expandir suas terras agrícolas, nem aumentar
sua produção, dessa forma, a terra permanece como um “tesouro inutilizado esperando por
tecnologias e investimentos estrangeiros”.
(g) Correção de meio caminho e “desenvolvimento baseado em modelo”
Enquanto oficialmente continuava a promoção do projecto que enfatizava as semelhanças
entre os dois casos e utilizava o slogan “do Cerrado para África”, esta contradição foi
aparentemente percebida por alguns promotores do programa, e começou a ser
cuidadosamente mencionada como o seguinte.
“Devido a diferenças substantivas entre os ambientes socio-económicos brasileiro e
africano, nós não podemos pensar que implementaremos o modelo de
desenvolvimento do Cerrado brasileiro sem quaisquer modificações. (...) O estilo de
desenvolvimento do Cerrado na savana pode ser implementado, porém isto não irá
resolver os problemas de desenvolver as comunidades de uma maneira geral. Será
necessário um “novo modelo de desenvolvimento”, tal como a introdução de
cooperativas, pesquisa, esquemas de financiamento e melhorias de infra-estruturas
(JICA, 30 de Junho de 2009)”.
Ainda assim, não foram mencionadas as grandes diferenças agronómicas entre o
Cerrado brasileiro e o Norte de Moçambique. O solo do Norte de Moçambique era “demais
rico”, em comparação ao “infértil Cerrado”. Assim, um importante ajuste foi feito pela JICA.
Isto pode ser visto na seguinte explicação sobre um projecto relacionado ao ProSAVANA
chamado “Projecto de Melhoria da Capacidade de Pesquisa e de Transferência de
Tecnologia para o Desenvolvimento da Agricultura no Corredor de Nacala em Moçambique”
(de aqui em diante, mencionado no texto como Projecto Nacala).
“Embora o conhecimento e a informação sobre o desenvolvimento do Cerrado possam
ser transferidos à savana moçambicana no intuito de aumentar a produtividade da
agricultura, devido a diferenças nos ambientes socio-económicos, a maneira mais
efetiva seria através do estabelecimento de um “modelo de desenvolvimento agrícola”,
13
para que os agricultores percebam o potencial do desenvolvimento agrícola do
Corredor de Nacala (JICA, Fevereiro de 2011)”.
Isso significa que o discurso de semelhanças foi ajustado com a adição de outros
objectivos, mudando o discurso no sentido de dar maior enfoque ao “aumento da
produtividade agrícola” em resposta ao argumento que se baseava no discurso de “baixa
produtividade” (f). Esta tendência é a mesma observada na descrição mais detalhada do
projecto do Corredor de Nacala apresentada abaixo:
"Com o objetivo de reduzir a pobreza entre os pequenos agricultores, aumentar a
segurança alimentar e desenvolver a economia através de investimentos privados na
área de savana, este programa não encoraja apenas o desenvolvimento agrícola.
Procura também desenvolver um modelo de coexistência entre pequenos agricultores
e investidores. (...). Cientistas irão pesquisar culturas agrícolas que poderão ser
sustentavelmente produzidos na área do Corredor de Nacala, além de estabelecer um
modelo para apoiar a tomada de decisão, de forma que os agricultores e os escritórios
de extensão agrícola possam utilizá-lo como uma ferramenta para selecionar os
sistemas de cultivo e as tecnologias apropriadas (JICA, Fevereiro de 2011)”.
O principal objectivo do Projecto do Corredor de Nacala passou a ser o aumento da
produção em toda a área de actuação do projecto. O Projecto de Nacala, entretanto, falhou
em descrever em detalhes as necessidades dos agricultores locais e como estes estavam
actualmente produzindo. Apenas se assume que a criação de “novos modelos” e “novos
instrumentos” irá solucionar os problemas destes agricultores. O discurso enfatiza a
“coexistência entre pequenos agricultores e investidores estrangeiros”, porém de forma
alguma é claro quanto aos objectivos finais e as prioridades.
A análise das fontes documentais até o momento deixa claro o ponto de partida do
Programa ProSAVANA, que pode ser sintetizado através dos disscursos de “transferência do
sucesso do desenvolvimento do Cerrado”, “cooperação Japão-Brasil”, “semelhanças do
Cerrado e Moçambique” teve que ser modificado para “estabelecimento de um novo
modelo e ajustamento” quando os gestores se depararam com realidade da área de
actuação do projecto, o Norte de Moçambique.
(h) “Agricultura como um negócio/coexistência de camponeses e agronegócio de
larga escala”
Depois deste período, "aumentar a produtividade agrícola" tornou-se um dos objectivos
mais importantes do programa, e o discurso foi reformulado no sentido de que “estas terras
vastas e inutilizadas, mas férteis” deveriam ser utilizadas por “aqueles que as podem usar
eficientemente”. A premissa era louvar os princípios da economia de mercado e da
promoção de investimentos pelo sector privado. Produtividade agrícola é que está sendo
promovido, sem expressar qualquer preferência sobre os pequenos agricultores já
existentes ou a propensão contra o agronegócio de larga escala.
14
“Com base na ideia de que o agronegócio de larga escala e os pequenos agricultores
podem coexistir de uma maneira apropriada, o governo de Moçambique está buscando
trazer investimentos para o país (JICA, 11 de Maio de 2012)”.
É aparente, entretanto, que existiam algumas dúvidas por parte dos planeadores e
promotores da JICA sobre este aspectos do ProSAVANA, como se demonstrado nas frases
abaixo.
“O Projecto ProSavana (sic), cujo objectivo é promover uma estratégia de
desenvolvimento agrícola e rural competitiva e orientada ao mercado, tem-se
confrontado com a questão se deveria apoiar pequenos agricultores pobres ou se
deveria promover a agricultura de larga escala que consiste, basicamente, de
companhias estrangeiras apoiadas por investidores estrangeiros privados. Foi apontado
que se for o último caso, ele poderia levar a apropriação de terra. (...mas) também
deveria ser possível promover a mecanização agrícola que aumentaria a
competitividade tanto do agronegócio de larga escala, quando dos pequenos
agricultores locais, de uma forma que estes possam coexistir. (…) Ideias inovadoras e
específicas, que buscam uma agricultura lucrativa, sem uma preocupação especial
sobre o tamanho da propriedade (Hongo, 2010:17-18)”.
Embora a questão crucial tenha sido reconhecida e parafraseada, uma conclusão
rápida sobre a direcção do Programa ProSAVANA como “uma iniciativa de promoção
paralela de pequenos agricultores e o agronegócio competitivo de larga escala” foi feita com
o intuito de responder aos interesses aos quais o programa realmente serve. O “uso de
investimento privado” foi mencionado como uma condição necessária para atingir o
objectivo definido como prioridade principal, ou seja, produzir “lucro”.
Este tipo de abordagem, chamado em um provérbio de “matar dois coelhos com
uma só cajadada”, tem sido constantemente repetida na AOD do Japão, e frequentemente
resultou em fracasso. Os actores não concordam sobre quais projectos dever receber
prioridade e os resultados terminam por ser inconclusivos.
(i) “Conformidade com códigos de conduta internacionais”
Durante este período, como descrito em (g), a supremacia da economia de mercado que
continuou após o final da Guerra Fria, e o aumento repentino dos preços internacionais dos
alimentos intensificaram a apropriação de terras em muitas áreas do continente africano.
Por sua vez, o disfarce deste processo de apropriação de terras como “investimentos
agrícolas” provocou muitas críticas internacionais. Sabendo disso, o funcionário da JICA na
época envolvido com o programa afirmou:
“O relatório publicado pelo Banco Mundial como uma contramedida à apropriação de
terras (...) apoiou a possibilidade de um desenvolvimento paralelo entre o agronegócio
de larga escala e a agricultura de pequeno porte. O relatório também apontou para que
15
a formulação de um ‘código de conduta’ fosse necessária, de forma que os investidores
sigam sete princípios (…)(Hongo, 2010:17)”.
Nós podemos observar na [Segunda fase] que vários ajustes foram sendo feitos no
decorrer da formulação e preparação do projecto. Um modelo de investimento agrícola que
permitisse o aumento da produção agrícola e a coexistência de pequenos agricultores e
agronegócio de larga escala passou a ser a direcção do Programa ProSAVANA.
(j) “Parcerias e Investimentos win-win”
Na [Terceira fase], na qual a implementação teve início, o número de instituições envolvidas
e a cobertura da imprensa aumentaram rapidamente depois que uma delegação de actores
japoneses e brasileiros visitaram o Norte de Moçambique. Embora as explicações da JICA
durante este período sejam vagas, outras declarações, como da JETRO, foram bastante
claras no que concerne os resultados dessa missão.
“Os legisladores brasileiros falam sobre benefícios para os três países. `Os três países
possuem diferentes pontos fortes, o que torna o trabalho conjunto fácil e claro. O Brasil
irá produzir culturas agrícola, o Japão irá distribuí-los e Moçambique irá estabelecer as
bases para o investimento`. O Japão, que ajudou o crescimento da agricultura brasileira,
irá cooperar com o Brasil para apoiar o desenvolvimento agrícola de Moçambique. É
importante que todos os envolvidos se beneficiem com isto (JETRO, 21 de Agosto de
2012)”.
A visão promovida é de uma utopia baseada na ideologia de livre mercado, que
vizualiza a possibilidade de que todos os envolvidos se beneficiem do projecto através do
uso de suas forças. O ponto esquecido nesta visão é que existem verdadeiros agricultores
que vivem na área e nada se menciona sobre como eles poderão se beneficiar desta visão.
Isto se deve ao facto de que o projecto se tem desenvolvido rapidamente e advém de uma
ideia de megaprojectos económicos, com a ampla variedade de actores. A afirmação abaixo
explica claramente este fenómeno.
“Neste projecto, JICA e Embrapa irão investir 13,4 milhões de dólares no
desenvolvimento da agricultura no Corredor de Nacala (Brasil-Nikkei, 1 de Maio de
2012)”.
(k) “Oportunidades de negócios para empresas japonesas e brasileiras”
Uma missão conjunta dos sectores público e privado do Japão foi enviada ao Norte de
Moçambique em Abril de 2012. Esta missão foi composta por 19 membros, incluindo
equipas da JICA, representantes do sector privado e do governo japonês, como oficiais do
Ministério de Agricultura, Florestas e Pesca (MAFF), do Ministério de Economia, Comércio e
Indústria (METI) e do Ministério de Relações Exteriores. Esta missão recebeu ampla
cobertura da mídia e de instituições nacionais como a JICA, JETRO e outros. Uma
característica comum da cobertura da imprensa sobre o episódio foi o enfoque em
“oportunidades de negócios”.
16
“Nas áreas ao redor do Corredor de Nacala, existem mais de 14 milhões de hectares de
terras agricultáveis, e isso corresponde a cerca de três vezes o total da área agrícola
do Japão (ênfase minha).(…) Pode-se confirmar que os fatores observados nesta região,
como solos, clima, recursos hídricos e vegetação, demonstram um grande potencial
para promover o desenvolvimento regional através do investimento agrícola.(…) Podese
também aproveitar a oportunidade para confirmar a abundante mão-de-obra.(…) Tal
como um dos representantes das empresas participantes notou ‘este é um
megaprograma que nós não teríamos capacidade de participar em circunstâncias
normais. As condições necessárias se encontram lá e alguns projectos decisivos já
começaram a ser implementados’ (JICA, 14 de Maio de 2012)”.
“Muitos grandes empresários do Japão participaram na missão para encontrar
fornecimento de soja e gergelim para importação (Brasil-Nikkei, 1 de Maio de 2012)”.
“Em África e na América do Sul, a infraestrutura de armazenamento e comercialização
das grandes multinacionais de grãos ainda não foram desenvolvidas na mesma medida
que àquelas da Europa ou Norte-Americanas. Existe, portanto, uma grande
oportunidade para as empresas japonesas serem as pioneiras (Nikkei Online, 18 de
Agosto de 2012)”.
“Do ponto de vista da segurança alimentar, o Japão pode encontrar oportunidades de
negócios nas indústrias de distribuição e comercialização. (O Programa ProSAVANA)
oferece a vantagens de reduzir as barreiras de entrada no mercado africano através da
promoção de parcerias entre actores brasileiros e japoneses (JETRO, 21 de Agosto de
2012)”.
Existem desafios para fazer negócios em África. A maioria das empresas japonesas
não possui muito conhecimento sobre os costumes locais e tampouco as habilidades de
idioma, em especial nos países lusófonos. Visto desta perspectiva, a colaboração entre o
Brasil e o Japão ganhou entusiástico apoio. Isso pode ser claramente observado nos
seguintes comentários de empresários japoneses que participaram na missão conjunta.
“O envolvimento brasileiro neste projecto é grande devido às vastas diferenças entre o
Japão e o Moçambique em termos de idioma, ambiente social e maneira de fazer
negócios.(…) Assim, colaborar com empresários do Brasil, que estão acostumados com
a cultura japonesa, irá facilitar o nosso acesso. ‘(Nós devemos) empregar alguns
brasileiros que falam a mesma língua que se fala em Moçambique, para treinar os
recurso humanos locais.’ Um empresário japonês compartilhou essa esperança, se
referindo a gestão de plantações em Moçambique que será feito em cooperação com
os brasileiros (JETRO, 21 de Agosto de 2012)”.
A cobertura da imprensa acima mencionada demonstra que o governo e os
empresários japoneses estavam ávidos para trabalhar em cooperação com empresas
brasileiras. As contrapartes brasileiras, entretanto, não pareciam compartilhar o mesmo
entusiasmo, velocidade e propósito.
17
“Agricultores e produtores de maquinários agrícolas do Brasil fizeram perguntas
concretas, uma atrás de outra, para representantes do governo de Moçambique.
‘Como podemos nos mudar para aqui? ’ ou ‘Nós gostaríamos de despachar uma missão
de prospecção o quanto antes possível’ (Sankei Business, 20 de Agosto de 2012)”.
“Mais de dez pessoas da delegação brasileira do agronegócio deram uma boa resposta,
dizendo, ‘ainda existem alguns problemas de infraestrutura, mas nós gostamos do solo
daqui, que produz bons resultados sem nenhum fertilizantes químico,’ e ‘parece que a
introdução de um pouco de nossa tecnologia irá empurrar o crescimento’. Já existem
um plano de voltar para uma nova inspecção em Julho.(…) Senhor Nishimori, um
congressista brasileiro, disse que "nós gostaríamos de oferecer apoio mais sólido para
que agricultores (brasileiros) se mudem para a região (Norte de Moçambique) (Brasil
Nikkei, 1 de Maio 2012)”.
Os comentários dados pelo congressista nipo-brasileiro claramente demonstra a
intensão de estabelecer plantações ou colónias de agricultores brasileiros e agronegócios no
Norte de Moçambique. A razão para este entusiasmo se encontra na “diferença” entre o
Norte de Moçambique com o Cerrado, apesar dos constantemente repetidos argumentos da
JICA sobre “semelhanças agronómicas” entre as duas regiões. Isto é, “bons solos” e “bons
resultados sem qualquer fertilizante”. Os brasileiros não apenas gostaram da fertilidade do
solo daquela região, como também ficaram surpreendidos com o incrível baixo preço da
terra.
“Ainda que o Moçambique possuam características de solo e clima semelhantes, o
Presidente da AMAPA (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão) disse a
Reuters que algumas áreas do país (Moçambique) da costa Sudeste da África possuem
solos ainda mais férteis que o do Brasil. ‘O preço da terra por aqui é muito bom para ser
ignorado’, disse Augustin, e adicionou que existem riscos inerentes de comprar terra no
Brasil devido aos altos preços e rígidas regulamentações ambientais. (Em Moçambique),
aos produtores que recebem as concessões de plantio é exigido apenas o pagamento
de um taxa de R$ 21 por hectare (US$ 5,30 por acre), além de receberem uma isenção
para importação de maquinário agrícola. Terra produtiva de primeira no sul do Brasil
pode custar até R$ 35.000 por hectare, comparado a R$ 5.000 nas regiões de fronteira
do Centro-Oeste e savanas do Nordeste (sic.), onde a infraestrutura é pobre.(…) O
Ministro de Agricultura de Moçambique, Jose (sic.) Pacheco, fez a oferta após visita ao
Brasil cerca de três meses atrás. O país está oferecendo concessões de 50 anos para
produtores brasileiros desenvolverem até 6 milhões de hectares (15 milhões de acres)
da savana5
. O Brasil actualmente cultiva 24 milhões de hectares de soja e outros 18
milhões de milho e algodão (Reuters, 21 de Agosto de 2011)”.
Como mencionado acima, terras em Moçambique foram oferecidas ao preço
exorbitantemente baixo, inacreditável no Brasil (USD 1,00 por hectare em Moçambique,
enquanto USD 2.900,00 por hectare no Brasil, de acordo com Chiara [2011]). Os
investimentos em agricultura em Moçambique também são atrativos ao agronegócio
brasileiro devido às frouxas regulamentações ambientais.
18
Com base na análise dos comentários das partes interessadas do Brasil,
aparentemente os brasileiros vêm o Programa ProSAVANA como “um projecto de aquisição
de terra vantajosa e fácil”. Este ponto é bem claro no discurso do deputado brasileiro, Luiz
Nishimori, na sua entrevista no programa de televisão da Câmara dos deputados difundido
no dia 27 de Junho de 2012 logo depois da sua visita a Moçambique como o líder da missão
brasileira para o pgorama ProSAVANA6
.
(l) “Apropriação de terras / competição com a China”
Os agricultores e empresas brasileiros não foram os únicos que viram Moçambique como
um país atrativo para a aquisição de terras agrícolas.
“Recentemente, a crise global de alimentos surgiu como uma preocupação global.
Diversas nações estão competindo por terras que possuam a possibilidade de abrigar
megaprojectos de produção agrícola e muitos empresários estão competindo por estes
contratos de terra (Brasil Nikkei, 1 de Maio de 2012)”.
É interessante notar que os jornais nipo-brasileiros apontaram a corrida global por
terras no mesmo artigo que introduziu a missão do ProSAVANA e o entusiasmo brasileiro
pelas terras férteis do Norte de Moçambique. Um jornal japonês, Sankei, também discutiu a
actual corrida por terras em conjunto com o Programa ProSAVANA, enfatizando que a China
e outros países são os rivais do Japão e do Brasil, e que o projecto (ProSAVANA) irá ajudar a
“dar um passo a frente em tal competição”.
“As companhias de produção de cereais chinesas e americanas estão se movendo em
direcção a aumentar o relacionamento com o Moçambique, e existem muitos rivais
(para os japoneses e brasileiros). Os actores japoneses planeam apoiar com tecnologia
agrícola e desenvolvimento dos recursos humanos através da promoção de parcerias
entre os sectores público e privado, de forma a dar um passo a frente na
competição.(...) A razão porque os brasileiros estão acelerando a implementação do
projecto reside no facto que não é apenas o Japão e o Brasil que estão interessados em
Moçambique. A China também se encontra ansiosa em obter terras da África para
garantir o suprimento de soja. (...) Cargill, a maior multinacional comercializadora de
cereais no mundo, anunciou neeste Março que está comprando 40 mil hectares de
terras agrícolas para produzir soja e trigo. (...) A apropriação de terras está se
intensificando na medida em que governos locais a promovem através da oferta de
licenças (Sankei Business, 20 de Agosto de 2012)”.
Da cobertura anterior, pode se observar que a competição entre investidores
estrangeiros por apropriação de terras tem se intensificado fortemente em Moçambique.
Dentre os competidores, China é um dos actores mais activos, e o governo japonês possui
profundas preocupações, visto que a China tem sido um “rival escondido” da AOD do Japão
e sua diplomacia para com África7
.
“Na procura por alimento e recursos naturais, a China tem aumentado a sua AOD e
seus investimentos em África. Na 5ª Conferência de Ministros do ‘Fórum de
Cooperação Sino-Africano’, a China anunciou o estabelecimento de um fundo de
19
desenvolvimento, oferecendo empréstimos para governos africanos de até US$ 20
bilhões para os próximos três anos. Enquanto isso, o Japão irá receber o a 5º TICAD
(Conferência de Tóquio sobre Desenvolvimento da África) no próximo ano,
continuando a lutar pela liderança no desenvolvimento africano (Nikkei Online, 28 de
julho de 2012)”.
Conforme o a 5º TICAD se aproxima, espera-se que o Programa ProSAVANA tenha
um papel ainda mais importante na autopromoção e publicidade da assistência japonesa
para a África, diferenciando-se de outros doadores, em especial a China.
(m) “Retorno à assistência tradicional a pequenos agricultores baseada em
Projectos da JICA e balanceados com abordagens orientadas ao investimentos”
Enquanto aumenta-se o entusiasmo no sentido de acelerar o investimento em Moçambique,
tem se tornado mais e mais difícil justificar o envolvimento da JICA desde o início do
projecto. Existe uma grave suspeita, tanto internamente quanto fora de Moçambique, de
que o propósito do Programa ProSAVANA é aquisição barata de terras. Para contrapor este
rumor, a JICA empregou o discurso de “coexistência com o agronegócio de larga escala”.
Mas a JICA foi forçada a retrabalhar extensivamente em seus planos, no objectivo de dar a
aparência de que o seu envolvimento no Programa ProSAVANA não é diferente do que
sempre tem sido feito, como apoiar pequenos agricultores com assistência técnica na área
de desenvolvimento agrícola.
“A produção de soja e gergelim poderia rapidamente ser aumentada através da ênfase
na criação de modelos organizacionais e de transferência de tecnologia para pequenos
agricultores, sem excluir também agricultores médios e corporações de larga escala.
Assim, formula-se e verifica-se o modelo de coexistência, com aumento da produção
(JICA, 31 de Julho de 2012)”.
Não importa o quanto a JICA tente retornar à forma tradicional de ajuda com
enfoque em pequenos agricultores locais e procure projectar tal imagem no intuito de
impedir maiores críticas, a organização ainda opera na ideia de que o ProSAVANA irá se
tornar “o Cerrado da África”. Essa estrutura se encontra firmemente estabelecida, além de
já ter sido extensivamente publicitado, e uma grande gama de actores já se encontram
amplamente envolvidos e com grandes expectativas.
Até aqui, apresentou-se uma descrição do discurso com base nas informações
adquiridas até Setembro de 2012. Na secção seguinte, irá fazer uma análise mais
aprofundada do desse discurso.
2. Análise do discurso e o seu contexto
Nesta secção, a autora analisa o discurso anteriormente exposto e o seu contexto, baseado
nos seguintes pontos de vista: (1) as vozes da sociedade civil de Moçambique, (2) a realidade
e os meios de sobrevivência das comunidades de pequenos agricultores do Norte de
Moçambique, e (3) casos anteriores no Brasil e em África.
20
(1) Análise baseada nas vozes da sociedade civil de Moçambique
De acordo com entrevistas realizadas pela autora com membros de organizações da
sociedade civil de Moçambique (uma organização de agricultores de abrangência nacional e
dois grupos ambientalistas8
) no início de Setembro de 2012, as organizações compartilham
graves preocupações em relação ao Programa ProSAVANA e sobre a forma como ele está
sendo conduzido. Muitos aspectos foram levantados como problemáticos. As críticas estão
centradas ao redor de três pontos: desconsideração em relação à soberania política dos
povos, o processo de negociação não é democrático, e a falta de responsabilização
(accountability). Estas críticas podem ser resumidas nos seguintes pontos:
1. Apropriação de terras e o problema de protecção do direito à terra que é garantido aos
agricultores,
2. Negligência e ignorância sobre o esforço de produção dos agricultores locais do Norte
de Moçambique,
3. Problemas ambientais causados por desmatamento, alto uso de fertilizantes químicos e
agrotóxicos e promoção da monocultura,
4. Danos à segurança alimentar devido a investimentos em agricultura de exportação,
sacrificando a produção dos povos em nível local, regional e nacional,
5. Por conseguinte, violação da soberania do povo de Moçambique.
É correto afirmar que não foi feita sequer uma descrição sobre os actuais esforços
de produção dos agricultores locais nas fontes documentais das agências japonesas, como
foi esclarecido nas secções anteriores. Os agricultores locais foram representados como
povos que apenas conhecem agricultura tradicional e extensiva e que não podem sustentar
a sua produção de alimentos. Ou então como “mão-de-obra abundante”, a qual o Programa
ProSAVANA precisa trazer um novo modelo para melhorar métodos e organizações.
As preocupações da sociedade civil moçambicana se tornaram tão fortes que no dia
11 de Outubro de 2012, a maior organização de pequenos agricultores de Moçambique, a
União Nacional de Camponeses (UNAC) publicou uma declaração criticando o Programa
ProSAVANA (UNAC, 11 de Outubro de 2012) que recebeu atenção mundial. Embora os
argumentos apresentados na declaração sejam parecidos aos descritos acima, as afirmações
foram baseadas nos resultados de pesquisas realizadas desde a primavera de 2012 por
diversas ONGs moçambicanas e internacionais, como ORAM, GRAIN e outras. E a declaração
provocou grande impacto, pois os problemas relatados no Programa ProSAVANA não
tinham sido amplamente conhecidos até então.
Uma das principais preocupações se relaciona à apropriação de terras. Como será
discutido na secção (3) deste artigo, o programa foi planeado e teve início num período em
que o mais controverso fenómeno relacionado à apropriação de terras na África estava
ocorrendo em Moçambique. Embora estes pontos sejam brevemente mencionados no
discurso sintetizado como “códigos internacionais”, e tanto a JICA quanto os planeadores e
promotores do programa tenham demonstrado uma visão optimista com relação a estas
normas, não foi divulgada nenhuma informação de como estes problemas serão evitados. À
medida em que o tema de apropriação de terras tem se tornado um problema de âmbito
global, uma ONG japonesa denominada “No! to Land Grab, Japan” ( Não! à apropriação de
21
terras, Japão) enviou uma nota aberta à JICA, no dia 10 de Dezembro de 2011, com relação à
possibilidade de apropriação ou uso de terras no âmbito do Programa ProSAVANA. Em
resposta a esta nota, a JICA declarou que “neste momento, nós não planeamos isto”, porém
continuou no parágrafo seguinte que “esta área pertence ao Estado e existe a possibilidade
de uso das terras por investidores estrangeiros no futuro, com base nas leis específicas
sobre terras do Governo de Moçambique (JICA, 5 de Janeiro de 20129
).
As típicas declarações ambíguas das agências governamentais japonesas não são
nada claras com respeito a se terras serão ou não tomadas para serem usadas por empresas
brasileiras ou japonesas. Sobre as actividades actuais, entretanto, os delegados brasileiros
discorreram abertamente sobre as expectativas de se obter boas terras com pouco dinheiro
devido a sua participação no Programa ProSAVANA (Reuters, 15 de Agosto de 2011; Brazil
Nikkei, 1 de Maio de 2012).
Em um seminário aberto organizado por iniciativa de ONGs japonesas no final de
2012 em Tóquio, quando perguntados sobre a possibilidade de aquisição de terras (de
qualquer tipo, como arrendamento e outras formas) por parte de empresários do
agronegócio brasileiro no contexto do Programa do ProSAVANA, tanto a JICA, quanto o
MoFA não negaram esta possibilidade, porém responderam que “nós não podemos dizer
que isso não ocorrerá, porque de facto nós não estamos fazendo o Plano Director (do
Programa)” e “a coexistência de grandes e pequenos agricultores é importante” (JICA, 15 de
Novembro de 2012; MoFA, 14 de Dezembro de 2012). Na verdade, de acordo com uma
fonte interna da JICA para consultores, o Plano Director do programa supostamente incluiria
medidas que poderia “responder” a uma possível apropriação de terras causada pela
promoção de desenvolvimentos agrícolas de média e larga escala (JICA, 2011 Saikoji: 12).
Do ponto de vista dos pequenos agricultores e cidadãos moçambicanos, isto não é
apenas um tema de terras, mas um tema de soberania. Isto é, soberania sobre terras,
alimentação e autodeterminação, logo, sobre uma democracia baseada no direito dos povos.
A UNAC compartilha este ressentimento, como demonstrado na declaração abaixo.
“Desde que ouvimos falar do Programa ProSavana, temos notado uma insuficiência de
informação e reduzida transparência por parte dos principais actores envolvidos.(…)
Nós camponesas e camponeses, condenamos a forma como foi elaborado e se pensa
implementar o ProSavana em Moçambique, caracterizado pela reduzida transparência
e exclusão das organizações da sociedade civil em todo processo, particularmente as
organizações de camponeses. Após uma análise profunda do ProSavana, Nós
camponeses, concluímos que: o ProSavana é resultado de uma política que vem do
topo para a base, sem no entanto levar em consideração as demandas, sonhos e
anseios da base, particularmente dos camponeses do Corredor de Nacala (UNAC, 11 de
Outubro de 2012)”.
A UNAC expressou grave descontentamento e reservas sobre o facto de que não
houve consulta, nem informações claras, além de continuamente receber a resposta de que
22
“nada ainda está decidido”, para, em um momento posterior, informações subitamente
surgirem na imprensa.
Ademais, isto vai muito além do que uma simples violação da soberania dos
agricultores locais na área de actuação do programa. De acordo com alguns membros da
sociedade civil, a abordagem do projecto está começando a influenciar negativamente a
própria sociedade civil moçambicana e também a democracia. Isso é decorrência do facto de
que embora muitas organizações da sociedade civil sejam activas em Moçambique,
incluindo várias organizações de pequenos agricultores, os promotores do Programa
ProSAVANA estão escolhendo indivíduos específicos de algumas organizações que tem se
demonstrado dispostos a colaborar, no intuito de poder afirmar posteriormente que “a
sociedade civil está participando nas discussões”.
Este tipo de manipulação utilizando organizações da sociedade civil ou seus
representantes tem sido utilizado em várias ocasiões pelo governo de Moçambique. Porém
tem-se alcançado um ponto em que observam vários impactos negativos na sociedade de
Moçambique como um todo, quando os novos membros das Comissão Nacional de Eleições
foram instalados com base na nova lei eleitoral de 2007. A lei estipula que a maioria dos
membros deva ser de organizações de sociedade civil. Porém na realidade, este progressivo
dispositivo legal tem traído as expectativas dos cidadãos, tendo em vista que muitos destes
membros da “sociedade civil” terminam por ter algum tipo de conexão com partido no
poder, a FRELIMO. Esta lei eleitoral terminou por criar muitos obstáculos a eleições livres e
justas, e revelou que o Moçambique alcançou um estado de “deslize para um sistema de
partido único” ou “sobreposição de partido e Estado” dentro de um sistema multipartidário
(Manning, 2010; Mozambique Political Bulletin, 2009-2010).
A “participação das organizações dos agricultores” no âmbito do Programa
ProSAVANA foi conduzida com a mesma técnica, e a sociedade civil local tem criticado as
agências de cooperação japonesas por não respeitar a transparência ou os processos
democráticos da sociedade civil local, levando a situações onde um autoritarismo superficial
do governo local é confirmado e facilitado.
(2) Análise com base na realidade das comunidades rurais e de seus
meios de sobrevivência no Norte de Moçambique
Como foi examinado na secção anterior, as justificativas apresentadas pelos gestores e
promotores do Programa ProSAVANA mudaram em diversos momentos. No início, as
“semelhanças com o estéril cerrado” foram enfatizadas, que depois foram modificadas para
“terras não utilizadas/cultivadas, apesar de serem férteis e abundantes”, e ultimamente foi
modificado novamente para admitir que “é difícil garantir grandes áreas de terra por conta
da alta densidade populacional em algumas áreas” (JICA, 31 de Julho de 2012).
Pessoas familiarizadas com o contexto moçambicano sabem que o Norte de
Moçambique possui não apenas um solo rico, como também recursos hídricos, e dessa
forma é populoso. E que isto tem tido um papel importante no desenvolvimento da
agricultura de Moçambique através do esforço de pequenos produtores desde o período
23
colonial até hoje (Isaacman 1995; Funada-Classen 2012). Estes factores levam a perguntas
inevitáveis sobre a capacidade de pesquisa das agências de cooperação do Japão, em
especial da JICA. A JICA é uma das maiores agências de cooperação do mundo em termos de
orçamento anual. Se fossem os pequenos agricultores os beneficiados do trabalho da JICA,
de que forma estão sendo protegidos os seus interesses através do apoio a uma abordagem
orientada ao mercado para o desenvolvimento agrícola, que inevitavelmente favorece a
agricultura de larga escala e os interesses associados ao poder?
Confrontados com uma realidade contraditória “recentemente descoberta”, a JICA
começou a prestar mais atenção para a província de Niassa, de menor povoamento. Muito
embora esta província possua baixa densidade populacional de uma forma geral, sua parte
sul tem uma densidade populacional relativamente alta devido às condições agrícolas
similares as do interior da província vizinha de Nampula. Ademais, mais do que metade da
cadeia montanhosa do Norte (região nordeste da Província) é uma reserva de vida selvagem.
Por fim, sua área ocidental não é climaticamente classificada como “savana tropical” e
possui uma baixa densidade populacional devido ao facto da produtividade agrícola ser
baixa.
Quais propósitos políticos estão sendo considerados ao se fazer uma análise das
regiões com base em classificações de climas ou ecossistemas? Como apontado nas secções
anteriores, “savana tropical” é meramente
uma categoria climática (uma aletenância
entre a estação de seca e chuvosa) e não se
basea no tipo de solo ou vegetação. Por
outro lado, de uma maneira geral, savana é
também definida em termos de vegetação,
e a Enciclopaedia Britannica explica que a
savana é caracterizada como “clima quente
e de estação seca, com árvores escassas e
dispersas, possuindo basicamente uma
vegetação de capim comprido”.
No Japão, e talvez em todo o
mundo, “savana” leva a uma imagem de
terra com poucas árvores. Também o discurso do “Cerrado” de “terras estéreis” projecta
uma imagem de que quase não existem árvores. Existem, entretanto, dois tipos de savana,
“savana gramínea” e “savana lenhosa”. A última representa um estado de transição na
maturidade do ecossistema.
Não se sabe se o uso dessa terminologia de “savana”, como no caso do título
“ProSAVANA” é propositada ou não. O uso do termo “savana” tem certamente levado o
público a ignorar a rica vegetação da região, especialmente suas florestas, promovendo uma
imagem de converter o ecossistema em uma extensa terra agrícola.
A área de actuação do ProSAVANA, o interior do Norte de Moçambique, é uma
savana lenhosa. Muito da “terra não cultivada” da Província de Niassa está coberta ou era
coberta pela ampla floresta “miombo”, que se extende até a Tanzânia. Isto pode ser
Mapa 2 Distribuição das Savanas Lenhosas
Fonte: Unidade de Distribuição do Centro de
Arquivo para Dinâmicas Biogeoquímicas
Floresta de Alta Densidade (Vermelho)
Floresta de Média Densidade (Verde)
Floresta de Baixa Densidade (Azul)
Área de
actuação do
ProSAVANA
24
claramente observado no mapa da Unidade de Distribuição do Centro de Arquivo para
Dinâmicas Biogeoquímicas10. Embora uma ampla parte do interior da região norte seja
coberta por savana lenhosa, as fontes documentais japonesas analisadas pela autora nunca
se referiram ao termo “floresta”, nem mesmo uma única vez. Ao invés, foi divulgado que o
Norte de Moçambique é coberto por terras intocadas, como demonstrado na legenda da
foto, que diz “terras inutilizadas se estendem permeadas de terras de pequenos agricultores
(JICA, 28 de Setembro de 2009)”.
Estas terras e florestas chamadas de inutilizadas foram amplamente reivindicadas
por povos que dependem dos recursos naturais. Ou seja, nunca foram “estéreis”. E os
habitantes podem ter uma intenção de utilizá-las como terra agrícola no futuro.
Esta terra tem sido constante objecto de disputa entre os habitantes da área. Duas
das três províncias abrangidas pelo Programa ProSAVANA são as mais populosas de
Moçambique. As províncias de Nampula e Zambézia, com uma população de mais de 3,9
milhões e 3,8 milhões, respectivamente, possuem aproximadamente 40% de toda a
população do país11. Isto se deve a abundância de água e a fertilidade da terra, o que levanta
sérias dúvidas com respeito ao argumento dos gestores do ProSAVANA que enfatizam “as
semelhanças agronómicas com o Cerrado”. Talvez seja por esta razão que a JICA
recentemente alterou seus argumentos, dizendo que “é difícil garantir terras de larga escala
e contínuas”. Por outro lado, a província de Niassa, onde recentemente a JICA afirmou que
“é possível garantir terras de larga escala e contínuas”, florestas ou bosques transitórios
dominam a área. De acordo com o director de agricultura, 77%, ou cerca de 9,4 milhões de
hectares da província de Niassa são cobertos com florestas (Notícias, 4 de Setembro de
2012). Nesta província, entretanto, florestas do tipo miombo estão rapidamente
desaparecendo devido ao corte das árvores para exportação por empresas privadas, e
também para garantir lenha para os habitantes locais. Recentemente, na província de Niassa,
seis empresas multinacionais começaram a plantar florestas de monocultura. Uma área total
de 2 milhões de hectares foi plantada para “mitigar o aquecimento global” (ibid.), mas estas
culturas tem levados a emergência de conflitos sobre terras, águas e uso da floresta (Seufert,
2012).
Muito embora documentos recentes tenham enfatizado que o objectivo do
programa é “aumentar a produtividade da agricultura tradicional extensiva”, estes não
explicam o que, como ou porque produzem os agricultores locais. Eles também afirmam o
quão “pobres” são os agricultores locais devido a “baixa produtividade”, mas eles não
mencionam nada sobre seus meios de sobrevivência. Em outras palavras, o aumento da
produtividade tem sido enfatizado sem conhecer a real situação das pessoas que vivem na
área12.
O Norte de Moçambique possui uma grande variação geográfica e dessa forma os
agricultores locais adaptam a sua agricultura de acordo com as condições locais. Existem
áreas costeiras, subúrbios urbanos, terras altas, terras húmidas baixas, e terras interiores
onde culturas comerciais estão amplamente se expandindo. Por exemplo, na província de
Niassa, que é considerada como possuidora de “muita terra” e, logo, alvo do programa, a
25
agricultura sob forma de contratos de empresas de tabaco tem se expandido nestes últimos
anos. Isto tem levado a um desmatamento de larga escala, seguido por um rápido aumento
no uso de fertilizantes químicos e outros agrotóxicos (Juaréz and Perez-Nino, 2012).
Contrariamente à visão da JICA de “agricultura estagnada”, o principal item de exportação
agrícola de Moçambique é o tabaco e as maiores áreas de produção são as províncias de
Tete e Niassa13.
Pesquisa feita pela autora nos anos de 2010 a 2012 no Distrito Maúa, área de
expansão da produção de tabaco, constatou que o tabaco é uma “cultura dos homens” para
as comunidades locais, e que o lucro das vendas pertence aos produtores homens. Foi
observado que os homens que obtém grandes quantidades de dinheiro gastam, em sua
maioria, com bebidas e pagamentos a prostitutas, o que também está crescentemente
envolvido com casos de violência e disputas domésticas. Isso tem levado a estagnação da
produção de alimentos, em alguns casos, a criação de “um marido e três mulheres”, situação
que é historicamente rara na área14. Ademais, foi observado que as relações intracomunitárias,
baseadas na relação de matrimônio e residência local, se encontram em
disputa.
Na provincial de Niassa, além do cultivo de tabaco, o cultivo de algodão teve início
no período colonial. Antes de se chegar a conclusão que a promoção de uma “agricultura
lucrativa” é a saída para os problemas de Moçambique, a realidade do problema actual de
promoção de investimentos na agricultura para a produção de culturas comerciais por
companhias privadas precisa ser mais bem analisada. Não tem havido suficiente pesquisas
detalhadas sobre isso, em especial em Niassa, e não existem registos públicos de que os
actores envolvidos no ProSAVANA possuem esta preocupação ou que fizeram estes estudos
durantes a preparação e planeamento do projecto. Ao invés, estes simplesmente
enfatizaram que os agricultores estão praticando “agricultura tradicional subdesenvolvida”,
e deram a impressão de que nenhum esforço está sendo feito pelos agricultores locais para
aumentar sua produtividade ou que nenhum investimento está sendo feito na região (JICA,
Fevereiro de 2011).
A negligência das práticas locais de agricultura no Norte de Moçambique e sua
importância para a manutenção de resiliência e estabilidade tem suas razões. Parece claro
nos objectivos do projecto do Corredor de Nacala que é o desenvolvimento “agrícola” e não
desenvolvimento “rural” que está sendo almejado. O desenvolvimento agrícola se enfoca
apenas no aumento da produção agrícola e com este enfoque as necessidades da sociedade
rural são negligenciadas. Tem havido uma falta de vontade por parte da JICA em ver
problemas associados com a busca do que eles chamam de “agricultura lucrativa”, como os
expostos no caso da produção de tabaco. Da mesma forma, a busca reducionista de
aumento da produção agrícola como resposta para o desenvolvimento agrícola proíbe que
os gestores vejam as reais necessidades do povo local e da sociedade de Moçambique. A
negligência sobre os agricultores locais, seus meios de sobrevivência e a sociedade local
pode ser observada no facto de que tem havido muito pouca pesquisa de campo realizada
pelos consultores da JICA neste projecto. Entrevistas foram realizadas com apenas 20
agricultores, de diferentes escalas (MoFA, 14 de Dezembro de 2012)15.
26
A negligência com respeito aos
agricultores locais e seus meios de
sobrevivência e a ênfase na importância
da “produtividade” técnica, “agricultura
lucrativa” e “coexistência entre
pequenos e grandes agricultores”
coincidem com o actual fenómeno de
investidores privados que correm em
direcção à África na busca de aquisições
de terras. Moçambique tem sido um
dos países mais almejados neste
fenómeno devido a seus ricos recursos
naturais em termos de terras e água,
além da abundância de mão-de-obra. De acordo com a análise do relatório publicado pela
Land Matrix, uma organização estabelecida por especialistas mundiais em assuntos de terra,
Moçambique se encontra como o segundo maior alvo deste fenómeno, tanto em número,
quanto a área abrangida por estes acordos (Anseeuw et.al./Land Matrix, 2012). Isto está
ocorrendo com ou sem apoio de cooperação e investimentos japoneses. Este fenómeno tem
ajudado a aumentar o PIB de Moçambique, mas também tem dado início a grandes
influências no ambiente natural, nas vidas dos povos e suas relações sociais (Mozambique
News reports & clippings, 21 de Setembro de 2012).
Existem poucos casos de sucesso, como o Gurué, na província de Zambézia,
resultado de 8 anos de esforços de ONGs e agricultores locais no estabelecimento de
cooperação entre o sector público e privado para um projecto para produção de soja
(Hanlon and Smart, 2012). Entretanto, é bastante raro encontrar projectos que são
planeados e implementados com base na iniciativa e motivação das comunidades locais,
como este caso. Na maioria dos casos, o investimento que foi aplicado se baseia no discurso
do “primado do lucro” promovido pelos governos e companhias estrangeiras, não
importando com direitos e preocupações dos habitantes locais, o que tem gerado conflitos
com eles.
Este tipo de discurso e o consequente influxo de investimentos tem promovido a
prática de comprar as autoridades locais como os chefes das vilas ou os “chefes tradicionais”,
que jogam um importante papel na garantia de formalizar a participação e aceitação dos
residentes locais, o que influência em grande medidas as relações de poder das
comunidades locais.
Amartya Sen tempo apontou, a algum tempo atrás, para a perda dos direitos como a
principal causa da pobreza a desnutrição. Não faz sentido falar do problema de pobreza sem
ter em conta uma análise das relações de poder. Um discurso que prioriza a “redução de
pobreza através da introdução de mecanismos de cima para baixo que buscam o lucro”
resulta em contradições entre os objectivos percebidos por aqueles que possuem poder e a
real experiência de vida das comunidades rurais. Dessa forma, é necessário discutir como
Fonte: Anseeus, et.al./Land Matrix, 2012:9.
27
evitar os problemas de perda dos direitos dos habitantes. Não existe o reconhecimento de
que estes problemas existem nos documentos do ProSAVANA.
É importante melhorar os meios de sobrevivência dos pequenos agricultores,
aumentar e manter sua produtividade agrícola e providenciar acesso a mercados para seus
produtos. A questão é como fazer isto? Ademais, é o acesso a mercados direccionado ao
mercado doméstico ou global? O desmatamento tem de ser evitado, e para que isso ocorra,
actores externos como o Japão devem ser capazes de ajudar através da resposta às
demandas dos povos locais. Dessa forma, é problemático que o processo de planeamento e
introdução do Programa ProSAVANA tenha procedido até o momento com muito pouca
consulta aos habitantes locais e pela contínua referência às supostas similaridades da
experiência do Cerrado brasileiro (UNAC, 11 de Outubro de 2012).
Os actores do ProSAVANA mais recentemente tem dado atenção a “coexistência
entre pequenos agricultores e empresas de médio e grande porte” (JICA, 11 de Maio de
2012). Não é claro, entretanto, como eles irão evitar os problemas de concentração de
propriedades e de relações de poder no momento em que Moçambique já se encontra no
meio do fenómeno de apropriação de terras. Deve-se lembrar de que a terra e os recursos
hídricos são limitados, logo a priorização da agricultura de exportação vem em detrimento
das necessidades locais.
“Resolver o problema da segurança alimentar mundial” foi sempre citado como um
dos objectivos nos documentos japoneses (JICA, 25 de Maio de 2009; 15 de Maio de 2010;
Fevereiro de 2011; 24 de Agosto de 2012). A tão chamada baixa produtividade dos
pequenos agricultores tem sido condicionada às preocupações necessárias no que se refere
a sua própria segurança alimentar, ao meio ambiente, à cultura e à sociedade. Se o principal
propósito deste programa é aumentar a produtividade agrícola, o enfoque em aumentar a
produtividade por unidade de área deve ser a medida de sucesso. Como Vandana Shiva,
Miguel Altieri e outros repetidamente têm documentado, agricultores tradicionais de
pequeno porte produzem muito mais alimentos por unidade de área do que monoculturas
de larga escala16. Isto se diferencia da retórica de que o único modo de alimentar o mundo é
através da agricultura industrializada de larga escala, mecanizada e de alto uso de insumos,
basicamente o tipo de agricultura que levou “ao sucesso do desenvolvimento do Cerrado”.
Na verdade, existem actualmente mais de 65 milhões (um terço) de brasileiros que sofrem
de insegurança alimentar no país, apesar de tal “sucesso” de desenvolvimento agrícola
(Clements & Fernandes,2012:22). O mesmo fenómeno está ocorrendo em Uganda, apesar
da corrida por terras (FOEI, 2012:5). Questões como “como alimentar o mundo?” ou como
“deveria o mundo ser alimentado” estão em uma área de disputa.
O discurso que tem sido ouvido é o de que “a economia local é revitalizada por meio
do aumento do emprego aos trabalhadores rurais”. O que se vê ao redor do mundo é que é
improvável que os trabalhadores rurais recebam salários suficientes para que suas famílias
possam obter alimentação adequada. Tradicionalmente, o seu nível mínimo de nutrição tem
sido mantido porque suas famílias são apoiadas pelas comunidades rurais em diversas
formas, na qual as mulheres compartilham os custos sociais de forma desigual. Os povos
28
africanos têm sido constantemente traídos pela alegação de que o capital internacional irá
criar oportunidades de empregos (FOEI,2012:12).
O actual fenómeno de insegurança alimentar entre os agricultores locais, a
degradação da produção familiar e a criação de empregos temporários e casuais, ao invés de
permanentes, é idêntico ao que ocorreu no Cerrado após a introdução do programa de
desenvolvimento PRODECER, Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o
Desenvolvimento dos Cerrados (Pessoa, 1988: 7; 89; 116-117).
Conforme apontado por agricultores locais e organizações da sociedade civil, este
programa não tem sido planeado com base em consultas com os habitantes locais ou
organizações da sociedade civil, nem com base em uma compreensão da real situação local
(UNAC, 11 de Outubro de 2012). Com base em documentos públicos lançados pela JICA até
Setembro de 2012, é impossível encontrar informações sobre qualquer esforço sério de
consultar os povos locais. Muito embora, de acordo com o MoFA, tenham ocorrido diversas
“reuniões com os actores envolvidos”, com a participação de organizações locais desde Abril
de 201217, as organizações sentiram que estes eventos não foram reais consultas, mas
apenas reuniões via única para distribuição de informação. Isto apenas levou ao aumento da
suspeita das intenções dessas reuniões e do projecto como um todo18. Ao contrário, tem
sido amplamente propagado pela JICA que os três governos e empresas privadas do Japão e
do Brasil tem se encontrado, discutido e trabalhado em conjunto. Existe uma ausência de
qualquer menção, e dessa forma qualquer preocupação, com os habitantes locais que
certamente devem ser os mais afetados pelo programa.
Também não é claro o quanto da percepção interna, atitude e estrutura do projecto
pode ser modificada, visto ser um projecto de características políticas (internamente
chamado “projecto do ex-Primeiro Ministro Aso”
19), orientado pela diplomacia e baseados
em interesses de investimento. A JICA possuía como sua principal doutrina um
“desenvolvimento centrado nas pessoas”, mas até agora não mostrou a atitude nem o
propósito de “ficar do lado dos habitantes locais”. A JICA tem repetidamente afirmado que o
objectivo do projecto é “aumentar o investimento e a produção agrícola”e alcançar
“coexistência com empresas privadas”, embora eles não tenham feito nenhum esforço sério
na buscar do conhecimento da realidade local, nem em consultar (ao invés de “compartilhar
informações”20) com os agricultores locais, organizações de agricultores e organizações da
sociedade civil que trabalham com questões de terras e segurança alimentar21.
Esta tendência observada entre os actores japoneses envolvidos no ProSAVANA não
é nova para algumas pessoas. Vera Lúcia Salazar Pessoa, que conduziu pesquisa detalhada e
entrevistas em três localidades no Cerrado, concluiu:
“O projeto (PRODECER) foi preparado por atores externos e de cima para baixo e não
houve consultas com as populações locais (Pessoa, 1988:128)”.
Embora o tempo, região e países sejam diferentes, a expressão é idêntica ao
pronunciamento da UNAC sobre o Programa ProSAVANA. A história se repete.
29
(3) Análise com base nas experiências anteriores do Brasil e de
outros países da África
(a) Caso do Brasil
Desrespeito aos “direitos dos agricultores” e problemas de apropriação de terras como os
expressados no Programa ProSAVANA tem ocorrido em todo o mundo nestes últimos anos.
No Brasil, o investimento agrícola está avançando, corporações estão se apropriando de
terras de populações para expansão das áreas agrícolas, e agora estão avançando em áreas
de florestas. Como resultado, a destruição ecológica está aumentando a favor do sistema de
produção monoculturas de grande escala para biocombustíveis, soja e cana de açúcar
(Pessoa, 1988; Mendonça, 2009; Clements & Fernandes, 2012). Ao mesmo tempo, culturas
indígenas estão sendo destruídas através de ataques e assassinatos dos habitantes que
tentam proteger a terra e a natureza (Pessoa, 1988: 182).
“Os agricultores do Cerrado”, mencionados nos documentos da JICA são “Nikkei e
colonos europeus do sul do Brasil” (JICA, 30 de Junho de 2009), que excluem os camponeses
locais e os pequenos agricultores que vivem e vivíam na área. Pessoa vivamente descreve o
processo de marginalização destes povos, isto é, a perda do controle da sua terra, a
degradação de seus meios de vida, seus status de semi-escravos nas plantações dos colonos,
e a migração para as zonas urbanas. Deste modo, procede-se à completa destruição dos
indivíduos e da vida comunitária (Pessoa, 1988: 84; 89-90; 105-106).
Em 1981, 2685 famílias se levantaram e organizaram 16 campanhas pela reforma
agrária. Em 1983, o número de conflitos de terra aumentou para 53 dilatando-se para 65 em
1984 (Ibid.:181-182). Tudo isso ocorreu durante a cooperação com o Japão e a introdução
do PRODECER no Cerrado durante a ditadura militar brasileira (1964-85).
Hoje está claro que a descrição do Cerrado como “terra estéril e desabitada”, como
descrita pelos japoneses que glorificam a “história de sucesso do desenvolvimento do
Cerrado” não é precisa. Como discutido na Secção (2), esta área foi uma savana lenhosa, de
certa forma um tesouro da natureza em termos da abundância de espécies de árvores.
Muito embora existam diferentes dados sobre o desmatamento do Cerrado (55% do
stélite MODIS de 2002; 48% de acordo com o IBAMA, 2011, e 80% de acordo com a WWF), o
facto de que este projecto de desenvolvimento danificou grandes extensões de florestas e
natureza não pode ser negado (Klink & Machado, 2005). Até mesmo o especialista japonês
em temas brasileiros que vem acompanhando este projecto, Kotaro Horisaka, descreve o
processo de desenvolvimento do Cerrado da seguinte forma.
“A estrada nacional se alonga através do horizonte, pela terra convertida e criada
através da destruição de todas as árvores por tratores que pareciam tanques de guerra
(Horisaka 2012: 47)”.
Afinal, o Cerrado não era terra “estéril” onde ninguém vivia, ao invés era “rica em
biodiversidade” devido à população dispersa. Esta riqueza foi, entretanto, profundamente
destruída pelo desenvolvimento do Cerrado. Yutaka Hongo, pessoa chave da JICA e iniciador
30
do Programa ProSAVANA, que trabalhou no desenvolvimento do Cerrado por mais de 20
anos e hoje é chamado de “uma enciclopédia viva do Cerrado” por sua instituição, insistiu
em sua entrevista que eles desenvolveram a área porque era “estéril”, sendo que esta
expressão tem origem na descrição dada pelo antropologista francês Claude Lévi-Strauss,
em seu livro publicado em 1930, “Tristes Tropiques” (JICA, 30 de Setembro de 2009)22. Para
ele e seus colegas, o desenvolvimento do Cerrado foi um “grande sucesso” em todos os
aspectos e não foi feita nenhuma consideração sobre os temas relacionados ao meio
ambiente ou aos direitos das populações indígenas (Hongo and Hosono 2012).
Na terra “estéril e desabitada” do Cerrado, havia populações tradicionais e povos
“quilombolas”23s que retiravam o seu sustento com base na agricultura nas ricas terras do
Cerrado. De acordo com Vera Pessoa, que conduziu trabalho empírico para sua dissertação,
suas terras foram retiradas de seu controle para o desenvolvimento do Cerrado durante o
tempo da ditadura brasileira. As pessoas foram deslocadas para uma área protegida,
marginalizada, tornando-se apenas trabalhadores rurais, por conseguinte mais pobres
(Pessoa, 1988).
Em 1992, estes povos se organizaram para lutar pelos seus direitos. Eles
estabeleceram uma associação de agricultores chamada Rede Cerrado, e requisitaram
diálogo com a JICA, que entretanto se recusou a recebê-los (Inyaku, 8 de Novembro de
201224).
Não existe nenhuma descrição, nos documentos sobre o desenvolvimento Cerrado
publicados pela JICA, sobre estes agricultores locais. A JICA menciona “agricultores”
repetidamente, mas eles não se referem aos pequenos agricultores locais que vivem na área
por anos, mas aos colonos europeus ou japoneses/nikkei da parte sul do Brasil que estavam
buscando terra, e foram designados como “melhores agricultores” (JICA, 30 de Junho de
2009).
Este “sucesso sem legados negativos” e a negligência das minorias, indígenas e os
direitos ambientas do desenvolvimento do Cerrado, observados no discurso dos
planeadores do ProSAVANA, é o contexto chave das características de planeamento e
discurso do Programa ProSAVANA. Como foi analisados nas secções anteriores, sem um
entendimento da realidade local e dos fenómenos globais, o Programa ProSAVANA foi
iniciado e propagado como uma “réplica do desenvolvimento do Cerrado” (Ministro de
Agricultura José Pacheco, AIM, 26 de Dezembro de 2012) já que existem muitas
“semelhanças” (JICA 2009-2012) e a “terra não é utilizada ou a produtividade é baixa” (JICA,
Fevereiro de 2011).
O problema de transportar a experiência do Cerrado para África sem reconhecer
seus aspectos negativos não está confinado apenas ao desmatamento e a destruição
ecológica correspondente. FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional),
uma organização da sociedade civil brasileira, publicou um relatório de emergência
intitulado “Cooperação e Investimentos Internacionais no Brasil” criticando o Programa
ProSAVANA e apontando para o facto de que o conflito e a contradição entre pequenos
agricultores e monocultura de larga escala observado no desenvolvimento do Cerrado no
31
Brasil será reproduzido noutros países (FASE 2012:32-33). Porém, por aqueles que o
promovem, nenhuma análise foi refeita, e o slogan do “sucesso do desenvolvimento do
Cerrado” continua a ser utilizado.
Num seminário organizado recentemente em Tóquio, a JICA orgulhosamente
compartilhou informações sobre sua assistência a um “plano de conservação ecológica” e
sua “vigilância com respeito ao corte de madeiras ilegal na Amazônia” (JICA, 31 de Julho de
2012). Estas mensagens de relações públicas ficam pálidas quando comparadas com o
envolvimento da JICA no desmatamento do Cerrado – uma realidade que eles não desejam
discutir em público. As organizações da sociedade civil tanto no Brasil quanto em
Moçambique estão preocupados que os promotores japoneses e brasileiros estão apenas
dizendo suas perspectivas no projecto de desenvolvimento do Cerrado e não estão
dispostos a ouvir as vozes dos povos “de baixo”. Isto leva a uma alta possibilidade de que os
problemas observados no projecto de desenvolvimento do Cerrado serão repetidos no
Norte de Moçambique.
A FASE também criticou no seu relatório que o slogan do ProSAVANA como um
projecto de “cooperação Sul-Sul” esconde um movimento de expansão dos investidores
privados brasileiros, e que o projecto não deveria ser considerado como “Sul-Sul”, mas sim
como “Cooperação Norte-Sul”, visto que na realidade existe motivação por parte de
corporações brasileiras em usar este projecto como sua estratégia de inserção global (FASE,
2012). É exatamente este ponto que foi fortemente discutido por académicos
Moçambicanos e membros da sociedade civil local contra académicos brasileiros que
propuseram os benefícios da “cooperação horizontal Sul-Sul”, durante uma conferência
académica internacional organizada em Moçambique25. Durante o debate, até mesmo o
termo “Imperialismo Brasileiro” foi utilizado.
Pontos similares aparecem no jornal japonês editado por um funcionário da JICA,
Hiroyuki Kubota. Embora suas expectativas com relação ao ProSAVANA sejam altas,
interessantemente ele declara o seguinte:
“Países emergentes tem o mérito de se posicionarem como membros do “Sul”,
garantindo assim sua liberdade de acção.(...) A relação com estes países no contexto de
‘cooperação Sul-Sul’ é bastante similar ao debate sobre coordenação entre os doadores
tradicionais (Kubota, 2010:3)”.
(b) Casos de outros países africanos – apropriação de terras
A frase “terra não utilizada” é uma expressão usada não apenas para o Brasil ou
Moçambique, mas também outras áreas rurais em todo mundo. E é utilizada não apenas por
actores envolvidos no Programa ProSAVANA, como também pelo Banco Mundial e outros. O
Banco Mundial publicou um artigo em 2009 intitulado “Acordando o Gigante Adormecido da
África: Perspectivas para a Agricultura Comercial na Zona de Savana de Guiné e Além”. O
documento menciona que a África possui 600 milhões de hectares de Savana de Guiné
(equivalente a “Savana tropical da África” utilizada pela JICA), e cerca de 400 milhões de
hectares poderiam ser utilizadas para a agricultura (The World Bank, 2009: 1). O Banco
32
Mundial ainda afirma que “menos de 10 por cento dessa área é actualmente cultivada, o
que a torna uma das maiores reserva de terra sub-utilizada no mundo”.
De acordo com a JICA e o Banco Mundial, metade da “Savana de Guiné/Savana
tropical” ocorre na África, e isso tem chamado cada vez maior atenção de investidores
públicos e privado (The World Bank, 2009; JICA, 30 de Junho de 2009). Muitas das áreas de
savana lenhosa na África têm sido renomeadas como Savana de Guiné ou “savanas tropicais”
da África, e tem se tornado um alvo para o rápido desenvolvimento agrícola.
Desde 2000, e ainda mais depois da crise dos alimentos de 2007-08, investimentos
em agricultura de larga escala têm sido direccionados para a África, e uma grande
quantidade de terra já foi tirada do controle das comunidades locais. A África já conta com
754 casos confirmados de negocios de terra envolvendo investimentos externos nos últimos
10 anos, correspondendo a 56,2 milhões de hectares (o que equivale a quase 5% de toda a
área agricultável ou o tamanho da área total do Quênia). Muitos problemas e conflitos têm
ocorrido em vários países (dados LandMatrix; The Guardian, 23 de Abril e 27 de Abril de
2012). O relatório anual da Land Matrix também aponta que 62% da área total apropriada
nesta corrida de terras está localizada em África (Anseeuw et.al./Land Matrix 2012: 7).
Os promotores do Programa ProSAVANA têm se apoiado aos relatórios do Banco
Mundial e sete “Princípios de Investimento Agrícola Responsável” os quais o governo
japonês ajudou na sua formação, e tem tentado propagar a visão de que investimentos
agrícolas de larga escala feitos por companhias podem coexistir com pequenos agricultores.
E que por meio do uso destes princípios, pode-se evitar confrontação (Hongo, 2010:17; JICA,
14 de Dezembro e 31 de Julho de 2012).
O relatório do Banco Mundial e os “Princípios”, entretanto, têm sido duramente
criticados por especialistas, organizações de produtores e organizações ambientais em todo
mundo por legitimizar a corrida global por terras, ao invés de desafiar a sua legitimidade. O
Relator Especial das Nações Unidas sobre o Direito à Alimentação, Olivie De Shutter, é um
dos líderes das críticas estes princípios, e em seu artigo intitulado “Destruindo os
Camponeses do Mundo”, ele conclui:
“Muito frequentemente, manipula-se o uso de noções como ‘reserva de terra agrícola’
em alguns casos para designar terras nas quais muitos dependem como meio de
subsistência, e que são sujeitos a direitos de propriedade de longa data. (...) Este
conjunto de princípios (…) permanece puramente voluntário. Mas o que se requer é
que se insista que os governos cumpram com suas obrigações de direitos humanos,
incluindo o direito a alimentação, o direitos de todos os povos a dispor livremente de
seus recursos e riquezas naturais, e o direito de não ser privado dos seus meio de
subsistência. Como estes princípios ignoram os direitos humanos, eles negligenciam a
dimensão essencial de responsabilidade (De Shutter, 2010)”.
De Shutter também critica que a competição entre os pequenos agricultores e a
grande agroindústria tende a ser desigual. Ao mesmo tempo, ele não esquece em afirmar
que os pequenos agricultores prestam serviços vitais à sociedade, como a preservação da
33
agro e biodiversidade, a resiliência das comunidades locais a choques de preço e de clima, e
a conservação ambiental (Ibid.).
Em Abril de 2012, a ONG ambiental internacional FOEI (Friends of the Earth
International) e a Via Campesina (uma organização internacional de agricultores)
organizaram uma campanha internacional e criticaram fortemente que a política do Banco
Mundial para privatização e concentração de terras estava criando meios para que
companhias tomassem 80 milhões de hectares de terras de comunidades rurais em todo
mundo nos últimos anos. Eles também acusaram o Banco de promover políticas e leis
“orientadas às corporações, ao invés de orientadas às pessoas” (FOEI Report, 2012; the
Guardian, 23 de abril de 2012).
David Kureeba, membro da Associação Nacional de Ambientalistas Profissionais de
(NAPE) Uganda disse o seguinte:
“Os direitos dos povos a terra (em Uganda) estão sendo demolidos. A agricultura de
pequena escala e uso das florestas que protegem a vida selvagem, as tradições e a
alimentação estão sendo convertidos em áreas palma africana apenas para o lucro do
agronegócio (The Guardian, 23 de Abril de 2012)".
(c) Lições a serem aprendidas por Moçambique
É interessante analisar o entendimento da JICA sobre direito à terra. Em sua resposta a um
questionamento de uma ONG japonesa sobre aquisição de terras, a JICA declarou que
“aquela área pertence ao Estado, e existe a possibilidade de que seja utilizada por
investidores privados não moçambicanos no futuro, baseado no sistema de uso da terra
especificado pelo governo Moçambicano (JICA, 5 de Janeiro de 201226). Este tipo de
declarações dada por organizações governamentais japonesas não é clara. Na verdade, é
contraditório. Ainda mais interessante, depois da visita dos delegados públicos e privados
dos países ao Norte de Moçambique em 2011 e 2012, os delegados brasileiros falaram
abertamente que suas expectativas com relação ao Programa ProSAVANA ao que diz
respeito a aquisição de grandes quantidades de terra a baixos custos (Reuters, 15 de Agosto
de 2011; Brazil Nikkei, 1 de Maio de 2012).
As ambiguidades e contradições continuam. Em discussões durante um seminário
aberto entre NGOs japonesas, a JICA e o MoFA, estes não negaram a possibilidade de que a
terra pudesse ser adquirida por empresários do agronegócio brasileiro no contexto do
Programa ProSAVANA, e repetiram que “nós não podemos dizer / não sabemos, pois ainda
estamos no processo de elaboração do Plano Director” e que “a coexistência entre
agricultores de larga escala e pequenos produtores é uma importante característica deste
programa” (JICA, 15 de Novembro de 2012; MoFA, 14 de Dezembro de 2012).
O que está claro na resposta da JICA ao questionamento é a completa negligência da
JICA sobre os direitos à terra que os agricultores e comunidades locais possuem, já que
Moçambique e outros países africanos tomam os direitos costumeiros à terra dos habitantes
locais como uma importante base legal. Mesmo após a introdução da Lei de Terras de 1997,
os agricultores continuam a possuir o direito de uso da terra. A JICA apenas menciona que o
34
Estado possui a terra e que seu uso será determinado pelo actual sistema de governo. Este
“sistema”, entretanto, como foi descrito anteriormente, não tem prevenido a corrida de
terras que está a ocorrer em Moçambique.
Deixar toda a responsabilidade nos ombros dos governos recipiendários e escapar
das críticas através do uso de termos como “ajuda por demanda”, “suas decisões”, “suas
questões de governação” e “soberania estatal” é o que se observa durante as discussões
sobre o desenvolvimento do Cerrado. E a lógica tem resultado na negligência aos direitos
dos povos locais. O problema aparenta estar enraizado e pode ser uma estratégia política
motivada por interesses económicos, tendo em vista que tem repetidamente emergido.
Enfrentando ainda maiores críticas, a JICA respondeu declarando que o mandato
original da JICA é apoiar os agricultores locais. Sua assistência aos pequenos agricultores é,
entretanto, apenas parte do projecto. Mesmo se alguns agricultores se beneficiam da
assistência da JICA, poder-se-ia chamar “coexistência e desenvolvimento paralelo com
pequenos agricultores” se ao mesmo tempo a terra, os recursos hídricos e as florestas das
áreas ao redor são dizimados e o direito de acesso à terra é tirado de muitos habitantes?
Isto não é apenas retórica vazia, já que Moçambique já é o segundo país mais almejado nos
contrato mundiais de terra. E para o agronegócio brasileiro, o Programa ProSAVANA oferece
a oportunidade de se adquirir vastas áreas de alta qualidade e com termos bastantes
favoráveis.
O problema não diz respeito apenas às aquisições de terra. O processo é também
uma ameaça à democracia, como mencionado no ponto (1) desta secção. Os promotores do
ProSAVANA são capazes de encontrar indivíduos que estão dispostos a falar em favor do
programa, no intuito de proteger a legitimidade dos apoiadores do programa. Conforme o
tempo passa, se torna cada vez mais claro que promover os interesses do ProSAVANA é
negar os interesses dos agricultores locais e das organizações da sociedade civil. Estas
organizações estão preocupadas com os impactos negativos na democracia e a divisão entre
os agricultores locais está se tornando cada vez mais forte. Neste contexto global, regional,
nacional e local, mesmo se os promotores do programa continuam a mudar sua ênfase a
cada vez que se encontram “novos” factos e críticas, muitos agricultores, cidadãos,
especialistas dentro e fora de Moçambique vêm o programa ProSAVANA como um projecto
de ajuda do Japão para a expansão internacional do agronegócio brasileiro sob a premissa
de “cooperação Sul – Sul ou cooperação tripartite”.
Conclusão
A autora discutiu as mudanças no discurso e a análise do contexto. É aparente que a falta de
responsabilização e de transparência tem persistido, tanto no que diz respeito aos direitos
dos povos locais, como dos cidadãos. A causa deste problema se refere ao facto de que o
programa tem origem como um projecto político, diplomático e comercial, e não foi iniciado
com preocupação sobre as necessidades dos habitantes locais, nem sobre seus desafios
frente às actuais forças da globalização. Embora os planeadores e promotores do Programa
ProSAVANA tenham conseguido levantar recursos públicos (impostos) utilizando palavras
35
como “falta”, “não utilizada”, “baixa produtividade”, “pobreza”, “falta de alimento”, eles
estavam apenas fazendo afirmações com base em observações de dados ao nível macro,
pressupostos e imagens utilizados sem qualquer pesquisa de campo, nem discussões sobre
como vivem os habitantes locais.
Qualquer pessoa que uma vez tenha visitado o Norte de Moçambique irá levantar
muitas perguntas sobre a descrição feita pela JICA. Se os agricultores do Norte de
Moçambique tem tantos problemas, como é possível que ele consigam alcançar seus meios
de vida? Como é possível que o Norte de Moçambique seja a região do país com maior
população? Como eles podem ser a região com a maior produção agrícola do país? A lacuna
entre o discurso oferecido pelos promotores do programa para o público é tão
desconectada da realidade local que alimenta suspeitas e impede a construção de confiança
com o povo local. Esta tendência pode ser observada no seguinte comentário de um dos
promotores do projecto:
“As pessoas de Moçambique tem dependido demais da ajuda internacional. Por isso, é
necessário trazer maiores investimentos, ao invés de mais ajuda.”27
O Norte de Moçambique é historicamente a região mais marginalizada do país. A
marginalização resultou em número desproporcional de rebeldes anti-governamental que
participaram na guerra civil de 16 anos (Funada Classen, 2012). Os agricultores locais,
entretanto, conseguiram se tornar os principais produtores de alimentos do país, e
importantes produtores de bens para exportação. Eles foram grandes contribuidores da
reconstrução do pós-guerra, e mesmo assim não foram reconhecidos pelos planeadores do
Programa ProSAVANA. Visto que, conforme a JICA, não havia agricultores na região, “um
novo modelo” e a “entrada de grandes agronegócios” foram impostos como uma
necessidade. Tal falta de entendimento e respeito pela sociedade local e pelos esforços e
pela história dos povos da região entre os promotores do ProSAVANA tem origem na falta
de respeito pelas lutas dos povos. Tem se movido apenas pela busca do lucro e pela
preocupação em proteger a reputação dos apoiantes do programa.
Isto parece estar historicamente incorporado na ajuda japonesa observada não
apenas no desenvolvimento do Cerrado, como também na assistência prestada a
Moçambique no passado. Em 1983-84, no meio da guerra interna de pós-independência de
Moçambique, o governo japonês começou a enviar químicos agrícolas como doação de
ajuda, ao invés de alimentos, que eram tão necessitados 28. Isto também ajudou a
administração Marxista-Leninista de Samora Machel a suavizar sua posição em relação ao
Oeste, de acordo com documentos internos do MoFA29. Os químicos agrícolas, sobretudo
pesticidas produzidos por empresas químicas japonesas e enviados através de empresas
japonesas de distribuição, foram dados sob o nome de “Doação para a Assistência do
Aumento da Produção de Alimentos”, ou KRII/2KR30. A doação de pesticidas continuou
através da guerra e muito embora a assistência tenha sido dirigida especificamente para a
produção de alimentos, foi utilizada na indústria do algodão. Mas como a maioria dos
volumes não era controlada, apenas em 2000, quando uma grande enchente atingiu
Moçambique, foi descoberto que a maior parte dos pesticidas havia sido mal utilizada,
36
causando vários problemas ambientais e estavam espalhados em lugares desconecidos31.
Organizações locais e internacionais da sociedade civil trabalharam em conjunto com
cidadãos japoneses pesquisando, publicando declarações e participando em movimentos
sociais, actividades e diálogos desde 2000, quando finalmente o governo japonês teve que
admitir o problema e passou a tomar responsabilidade pelo tratamento das pesticidas, além
de excluir a distribuição de pesticidas em seus futuros programas de assistência. O programa
KRII foi remodelado e renomeado como “Doação para Agricultores Desprivilegiados” 32.
Devido a estes problemas, para muitos em Moçambique, a assistência
governamental do Japão, especialmente a assistência à agricultura, tem sido considerada
como problemática. Pode ser caracterizada como egocêntrica, sem uma compreensão da
realidade local, desrespeitosa com relação aos agricultores locais e a sociedade civil, e sem
preocupações com o meio ambiente. Esta é a razão porque muitos japoneses que estão
trabalhando em Moçambique depois dos problemas passados estão tentando prevenir a
repetição de problemas passados. O ProSAVANA foi trazido por japoneses que não possuem
experiências nestes escândalos. Logo, eles não perceberam a quão crítica era a audiência de
Moçambique em relação à AOD do Japão.
Por muito tempo, os doadores utilizaram a abordagem de “o que está faltando” no
desenvolvimento de planos e projectos. Esta abordagem foi descartada no final dos anos
1990, depois de tantos fracassos e projectos com impactos negativos. O avanço da
economia de mercado em todo o mundo desde o final da Guerra Fria tem influenciado os
formuladores de políticas públicas e a opinião pública a tal ponto que quase todos acreditam
que a única prescrição para a redução de pobreza e segurança alimentar é promover o
crescimento económico. Esta rápida mudança que está ocorrendo na África sob o nome de
“desenvolvimento agrícola” é, na verdade, a última fase de unificação da economia mundial,
destinada à integração total de todos os habitantes da África e de todas as remotas áreas
rurais da África. O Programa ProSAVANA segue entusiasticamente esta confiança global na
supremacia do “crescimento económico”.
Esta não é apenas a história de Moçambique ou nem mesmo apenas da África. O
trecho a seguir é o que o economista indiano da Universidade Nehru, Professor Jayati Ghosi,
tem declarado sobre o investimento direto no sector agrícola, e sobre o arrendamento de
grandes áreas na Etiópia e Somália.
“Isto reflecte um padrão de investimentos que as corporações indianas não têm
permissão para fazer na Índia. O que ocorre na Índia é que é cada vez mais difícil
conseguir terras contínuas para arrendamento porque existem pequenos proprietários
que resistem e padrões mais complicados de propriedade. (…) Nós temos mais
protecção. (…) Os investidores indianos estão começando a se comportar como os
investidores coloniais em alguns dos países mais pobres do mundo. Se estas
companhias podem se comportar assim na África, é apenas uma questão de tempo
para começar a fazer o mesmo na Índia”
33.
Seria possível que o Programa ProSAVANA tivesse o seu planeamento, formulação e
execução organizados no Japão? Provavelmente não. Mas não é possível dar uma resposta
37
definitiva para tudo. “Crescimento económico” adquiriu um status quase religioso no
mundo moderno. É a solução para quase todos os problemas que nós encontramos. As
relações de poder são encobertas pela disparidade de poder e a riqueza das corporações
continua a aumentar enquanto povos locais são marginalizados. Mesmo após o grande
terremoto no leste do Japão e a explosão das estações nucleares de Fukushima Daiichi, nós
observamos que o governo e os grandes empresários japoneses continuam a ignorar o dano
que suas acções causam na saúde dos povos e das crianças, na sociedade e no meio
ambiente, no intuito de continuar a fazer lucro com a energia nuclear.
A assistência japonesa é um espelho da sociedade japonesa, e a estratégia de
assistência é um reflexo da sociedade. Por isso, os mesmos erros se repetem tanto no Japão,
Brasil como em Moçambique.
Ainda não é tarde para mudar este programa. A autora espera que este artigo
contribua para levar a esta mudança.
Biografia
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chamada Rede de Apoio a Moçambique e colaborou com outras ONGs defendendo o desenvolvimento de
políticas apropriadas, ajuda humanitária e desenvolvimento rural. Ela é a autora do livro The Origins of War in
Mozambique: A History of Unity and Divisions (Ochanomizu Shobo, 2012), originalmente escrito em japonês para
uma tese de PhD submetida em 2006. A versão japonesa publicada em 2007 recebeu um prêmio da Associação
Japonesa de Estudos Africanos em 2008. O livro cobre 120 anos da história dos povos do norte de Moçambique,
em especial os Makhuwa. Estará brevemente disponível para ampla distribuição pela editora African Minds
Publisher (http://www.africanminds.co.za/). 2 Muitas reuniões ocorreram entre o Brasil e Japão entre os anos de 2005 a 2009, como mostrado na Tabela 1. 3 Este processo pode ser encontrado nos arquivos de documentos da NGO japonesa, a qual a autora foi VicePresidente,
chamada Fórum da Sociedade Civil de TICAD (http://www.ticad-csf.net/eng/index.htm). 4 Encontra-se os seguintes palavras dizendo “será uma ideia utilizar Nikkei brasileiros” num document interno da
JICA aos consultores japoneses (JICA 2011 “Gyomushijisho”:4). A pessoal enviada pelo Brasil á sede do
ProSAVANA em Nampula é atualmente uma nipo-brasileira. 5 Depois que este artigo provocou grandes preocupações dentro e fora de Moçambique, o Ministro de
Agricultura Pacheco negou sua promessa de oferecer grandes extensões de terra. A questão, entretanto,
permanece se Moçambique está oferecendo terra a brasileiros no âmbito do Programa ProSAVANA ou não. 6 O video pode ser visto no TV Câmara “Palavraberta” (http://farmlandgrab.org/post/view/21652). Nishimori
mencionou que o ProSAVANA é para os jovens brasileiros sem emprego e terra devido a falta de terra no Brasil
para experimentar agricultura moderna na escala grande em Moçambique. ) 7 A rivalidade com a China foi a base da “parceria estratégica com o Brasil” promovida pelo Japão durante a
administração de Koizumi, no sentido de ganhar a competição diplomática sobre a “Reforma da ONU” como
mencionado anteriormente. O Japão tentou alterar o Conselho de Segurança da ONU que tem seus assentos
permanentes ocupados pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, incluindo a China. A estratégia era obter
um assento permanente através do convencimento da formação de uma aliança com os poderes regionais Índia
e Brasil, além da Alemanha, outro membro não permanente. Este foi o primeiro desejo do MoFA, mas falhou
decisivamente devido à forte influência da China nos países africanos, mesmo com os esforços de longo prazo do
MoFA, como o TICAD. O Programa ProSAVANA foi, dessa forma, um projecto adequado neste contexto visto pela
perspectiva do MoFA e alguns políticos japoneses.
8 UNAC (União Nacional de Camponeses), Justiça Ambiental (JA), e Friends of the Earth (FOE). 9 Esta resposta foi postada no site official da ONG japonesa No! to Land Grab, no dia 15 de Janeiro de 2012.
(http://landgrab-japan.blogspot.jp/2012/01/jica.html) 10 http://webmap.ornl.gov/wcsdown/wcsdown.jsp?dg_id=10011_9. Durante este seminário aberto em Tóquio
em Novembro de 2012, um dos funcionários da JICA explicou que a razão porque eles não iriam tratar do assunto
floresta era que eles iriam realizar uma pesquisa sistemática com o objectivo de descobrir qual é a actual
disponibilidade de terra dentro do programa ProSAVANA. Esta pesquisa recebeu financiamento, porém ainda os
resultados ainda não foram produzidos. Entretanto, já existem grandes quantidades de dados livres disponíveis e
compartilhados na internet. Por acessar dados público e livres, é possível aprender sobre a abundância de
recursos naturais do Norte de Moçambique e a quantidade importante de pessoas que vivem nesta região, antes
de concluir directamente que não há florestas ou povos vivendo na região e que existem “vastas áreas não
utilizadas e disponíveis”.
11 Estes dados são baseados no censo nacional conduzido em 2007, de forma que a população actual é maior,
porém baseada em estimativas. Instituto Nacional Estatística (http://www.ine.gov.mz/Map.aspx). 12 Isto foi confirmado por algumas entrevistas realizadas pela autora em Agosto e Setembro de 2012 com
pessoas envolvidas no Programa ProSAVANA e projectos relacionados. Ainda que três anos já tenham se passado
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desde a assinatura do acordo, eles ainda não fizeram uma pesquisa detalhada de campo, e alguns deles ainda
tentaram escrever um relatório com base na entrevista com a autora. A explicativa dada pela JICA ou pelo MoFA
sobre este assunto é que eles ainda estão na “fase de planeamento” e que “isto é papel da contraparte
moçambicana” (JICA, 15 de Novembro de 2012; MoFA, 14 de Dezembro de 2012), muito embora a versão final
do Plano Director deva ser publicada no Outono de 2013. 13 Não existe, entretanto, uma política para o cultivo de tabaco, e a organização dos agricultores de tabaco ainda
não foi promovida. Consequentemente, o preço pago aos produtores de tabaco tem se mantido em níveis baixos.
Esta é na verdade a razão porque as principais áreas produtoras de tabaco se deslocaram do Malawi e Zimbábue
para Moçambique.
14 Nesta área, a poligamia é comum, porém é raro que maridos tenham mais que duas esposas. 15 Os assuntos relacionados ao Programa ProSAVANA foram discutidos durante a Reunião Ordinária do Conselho
de Política sobre AOD com as ONGs e o Ministério de Relações Exteriores, organizada em Tóquio, 15 de
Dezembro de 2012. Esta informação foi dada pelo MoFA como uma prova de seu “diálogo” com as comunidades
locais e com os pequenos agricultores durante o Conselho. Quando perguntado sobre a pouca quantidade de
pesquisa e entrevistas que podem levantar as diferentes realidades da região e sobre projectos de larga escala, o
seu argumento foi, novamente, de que eles ainda estão na “fase de planeamento” e isto é responsabilidade da
contraparte moçambicana.
16 Miguel Altieri, “Pequenos agricultores como um activo ecológico planetário”
(http://www.twnside.org.sg/title2/susagri/susagri045.htm); Documentário “A economia da felicidade” por
Helena Norberg Hodge.
17 Esta informação foi dada por funcionário da MoFA durante a reunião do conselho organizada em 14 de
Dezembro de 2012. 18 A autora entrevistou estas organizações (de Setembro a Dezembro de 2012). 19 Taro Aso foi o Ministro de Relações Exteriores durante a fase inicial das preparações do Programa ProSAVANA.
Ele visitou o Brasil em agosto de 2007 e prometeu revitalizar a parceria do Japão com o Brasil, promovendo
planeamento estratégico bilateral para cooperação internacional no âmbito do Ano de Intercâmbio Japão – Brasil
de 2008, e finalmente acordou com o Presidente Lula da Silva em começar este projecto na Itália, durante a
Cimeira de L ‘Aquila organizada em Julho de 2009 (ver tabela 1). Aso revisitou o Brasil em janeiro de 2011 como
Embaixador em Missão Especial, depois da visita do ex-Primeiro Ministro Taro Abe ao Brasil em Maio de 2010
(site do MoFA http://www.mofa.go.jp/region/latin/brazil/data.html). 20 Interessantemente, a palavra “consulta” foi raramente utilizada pela JICA, optando-se por “compartilhamento
de informações / explicações”, “comunicação” ou “troca de visões” após o aumento das críticas das organizações
locais. De acordo com a JICA, a declaração da UNAC é o resultado de “incompreensões baseadas na falta de
comunicação mútua” (JICA, 15 de Novembro de 2012). 21 Seu argumento é de que “nós ainda estamos na fase de planeamento”. 22 Hongo repetiu a mesma estória durante as discussões que ocorreram em Tóquio, no dia 8 de Novembro, e
também mencionou que originalmente o projecto ProSAVANA foi sua ideia. Seus colegas admitiram que ele é o
mais entusiasmado promotor do ProSAVANA.
23 Quilombos são comunidades organizadas por escravos fugidos das plantações brasileiras. 24 Este ponto foi compartilhado por Tomoya Inyaku, um especialista japonês sobre o tema no Brasil, durante o
seminário aberto em Tóquio, 8 de Novembro de 2012. 25 Trata-se da III Conferência do IESE (4 e 5 de Setembro de 2012), organizada em Maputo, Moçambique. 26 No! to Land Grab, Japan (http://landgrab-japan.blogspot.jp/2012/01/jica.html 27 De uma entrevista feita pela autora, no Outono de 2012, com um japonês relacionado ao ProSAVANA. 28 Alimentos foram dados sob forma de empréstimo. 29 Estes documentos foram obtidos através da Lei de Liberdade de Informação. 2KRNetwork. http://www.paw.hiho.ne.jp/kr2-net/en_fr/index.html
30 Este esquema de ajuda foi estabelecido depois da Rodada Kennedy durante os anos 1960 e sob o ambiente da
Guerra Fria. Foi determinado um sistema que estabelecia a quantidade que cada país ocidental iria oferecer
como assistência a alimentação, especialmente trigo, para os países em desenvolvimento pró-Ocidente. Esta
doação alimentar é chamada KR. Tendo em vista que o Japão importa trigo, e com o sucesso do lobby das
empresas químicas japonesas, o governo deu início a uma segunda rodada de KR, no intuito de cobrir a parte
acordada internacionalmente por meio de agroquímicos e maquinarias (2KR Network, 2005). 31 Os detalhes se encontram no website da NGO japonesa que foi criada e se envolveu activamente para mudar
este tipo de esquema de ajuda, 2KR Network. http://www.paw.hi-ho.ne.jp/kr2-net/en_fr/index.html 32 Informações no site da MoFA sobre isto:
(http://www.mofa.go.jp/mofaj/gaiko/oda/shiryo/hakusyo/03_hakusho/ODA2003/html/siryo/sr3110210.htm). A
tradução em inglês do esquema foi mudada de “pobres” para “desprivilegiados”, por sugestão feita pela 2KR
Network. 33 Entrevista http://www.stopafricalandgrab.com/.
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