Esta é a primeira sentença proferida contra Cabral na Lava Jato; ele é acusado de receber R$ 2,7 milhões de propina por obras do Comperj, no Rio de Janeiro
access_time
13 jun 2017, 13h53 - Publicado em 13 jun 2017, 11h55
O juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, condenou nesta terça-feira o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB-RJ)
a 14 anos e 2 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. É a primeira sentença proferida contra o peemedebista no
âmbito da Operação Lava Jato —
ele ainda é réu em outras nove ações na Justiça Federal do Rio de
Janeiro. O governador é acusado de receber cerca de 2,7 milhões de reais
de propina da empreiteira Andrade Gutierrez referente às obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras, entre 2007 e 2011.
“A culpabilidade é elevada. O condenado recebeu vantagem
indevida no exercício do mandato de governador (…). A responsabilidade
de um Governador de Estado é enorme e, por conseguinte, também a sua
culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver ofensa mais grave do
que a daquele que trai o mandato e a sagrada confiança que o povo nele
deposita para obter ganho próprio”, escreveu Moro no despacho.
Além de Cabral, também foram condenados o ex-secretário de
Governo do Rio Wilson Carlos Cordeiro de Silva Carvalho — a 10 e 8 meses
de reclusão — e o ex-sócio e apontado como “homem da mala” do
ex-governador, Carlos Emanuel de Carvalho Miranda — a 10 anos. Os dois
também por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Por outro lado, Moro decidiu absolver a mulher do
ex-governador Adriana de Lourdes Ancelmo dos mesmos crimes “por falta de
prova suficiente de autoria ou participação”, conforme a decisão — o
mesmo se deu com a esposa de Carlos Miranda, Mônica Carvalho. Os
ex-dirigentes da Andrade Gutierrez Rogério Nora e Clóvis Peixoto também
eram réus no processo, mas tiveram as ações suspensas porque fecharam
acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF)
de Curitiba, os empreiteiros foram orientados pelo ex-diretor da
Petrobras — e delator premiado — Paulo Roberto Costa a tratar de
pagamentos ilícitos com o então governador e o seu grupo político para
não terem problemas em contratações com a estatal. Na delação, os
executivos da Andrade relataram que Cabral chegou a pedir propina dentro
do Palácio da Guanabara, sede do governo no Rio, em uma reunião em
2008.
A ação em questão trata especificamente de um contrato de
terraplanagem do Comperj, firmado em 28 de março de 2008 entre a
Petrobras e um consórcio de empreiteiras que tinha como integrante a
Andrade. A obra foi orçada inicialmente em 819,8 milhões de reais,
recebeu 5 aditivos e acabou custando aos cofres da estatal 1,17 bilhões
de reais, segundo a procuradoria de Curitiba. O valor da propina teria
correspondido a 1% do contrato.
Em seu despacho, Moro afirmou que o esquema no Comperj está
inserido num contexto de “cobrança de propina sobre toda obra realizada
no Rio”, o que indica “ganância desmedida” por parte dos réus. Ele ainda
apontou como elemento agravante a “situação falimentar” do Estado, “com
sofrimento da população e dos servidores públicos”. “Embora resultante
de uma série de fatores, [a crise] tem também sua origem na cobrança
sistemática de propinas pelo ex-governador e seus associados, com
impactos na eficiência da Administração Pública e nos custos dos
orçamentos públicos”, escreveu o juiz.
Procurada, a defesa do ex-governador ainda não se manifestou sobre a condenação.
Sem comentários:
Enviar um comentário