O presidente das empresas Ematum, MAM e Proindicus confirmou à Bloomberg que expulsou os auditores da Kroll do seu escritório "porque queriam detalhes sobre questões da segurança do Estado".
O presidente das empresas moçambicanas Ematum, MAM e Proindicus, António do Rosário, confirmou esta sexta-feira à agência Bloomberg que expulsou os auditores da Kroll do seu escritório “porque queriam detalhes sobre questões da segurança do Estado”.
De acordo com uma carta obtida pela Bloomberg e que foi autenticada pelo responsável destas três empresas públicas no centro do escândalo da dívida de Moçambique, António do Rosário assume que é a ‘Pessoa A’ identificada no sumário executivo publicado pela Procuradoria-Geral da República e mostra-se desafiante face às críticas da consultora.
“Para a Kroll, nós sabemos quem vocês realmente são e o que querem”, escreveu o presidente das empresas na carta obtida pela Bloomberg, acrescentando: “Estou contente de ver a maneira muito negativa como me atacaram, porque isso prova que nós não cedemos a pressões e não temos medo”.
A direção das empresas, continuou, fará o que for preciso para que tenham sucesso, e explicou que a compra dos navios, através dos empréstimos, era necessária para proteger os 2.800 quilómetros de costa de piratas do mar.
As três empresas entraram em incumprimento financeiro nos últimos meses ao não pagarem os cupões relativamente aos títulos de dívida pública, em janeiro, e aos empréstimos, cujas prestações começaram a ser falhadas já no ano passado.
António do Rosário disse ainda, na carta enviada à Kroll e citada pela agência de informação financeira Bloomberg, que as críticas que lhe foram dirigidas vêm de pessoas não identificadas que “querem desesperadamente” que as forças de segurança falhem.
“Hoje a nossa independência económica está em risco”, disse. “A luta continua! Independência económica ou morte, nós vamos vencer”, concluiu o presidente das três empresas públicas que contraíram dívidas no valor de mais de 1,4 mil milhões de dólares.
Segundo a auditoria que foi divulgada parcialmente no sábado, a Mozambique Asset Management (MAM) e a Proindicus não conseguiram explicar para onde foram quase 2 mil milhões de dólares em empréstimos obtidos nos últimos cinco anos.
António do Rosário é o presidente da Ematum, que emitiu obrigações entretanto convertidas em títulos de dívida pública no valor de 850 milhões de dólares, e é também o líder da MAM e da Proindicus, que contraíram empréstimos escondidos no valor de 535 e 622 milhões de dólares, respetivamente.
No sumário da auditoria, a Pessoa A, que António do Rosário assume ser ele, é criticada por não dar informação alegando ser “classificada” e não estar disponível e, por outro lado, são apresentadas inconsistências entre as explicações dadas pela Pessoa A e o Ministério da Defesa e a Privinvest, o empreiteiro que organizou a venda dos navios, sobre o uso dos 500 milhões de dólares dos 850 milhões angariados pela Ematum.
A auditoria diz ainda, segundo a Bloomberg, que a Pessoa A geriu mal as três empresas, atrasando a entrega dos projetos, e que disse à Kroll que as faturas dos navios de pesca atuneira escondiam a compra de outros ativos, o que a Privinvest diz ser “completamente falso”.