Danilo Verpa/Folhapress | ||
Joesley Batista, um dos donos da JBS |
Publicidade
Uma perícia privada realizada pelo Instituto Brasileiro de Peritos (IBP) a pedido da Folha
indica que as frequentes interrupções na gravação da conversa entre o
empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer devem ter sido
causadas pelo próprio aparelho utilizado para captar o áudio.
Segundo o instituto, equipamentos móveis como o utilizado suspendem a
gravação enquanto não há som, para economizar bateria e maximizar o
tempo de gravação. Esse efeito de interrupção automática da gravação
dificulta a identificação de eventuais cortes propositais, caso eles
tenham sido realizados.
"Esse mecanismo certamente contribuiu para prejudicar a inteligibilidade
de certas palavras, além da baixa qualidade técnica do equipamento
utilizado e das condições de gravação", afirma o laudo preliminar.
Na conversa, o empresário relata ao presidente Michel Temer que "zerei
tudo" com o deputado federal preso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e que deu
conta de dois juízes e um procurador para ter acesso à investigação da
Lava Jato.
O IBP não teve acesso ao equipamento usado, mas realizou testes com outro do mesmo tipo.
"A gravação questionada apresenta frequentes descontinuidades no tecido
sonoro, tanto nas falas quanto no ruído de fundo", afirma a equipe do
Instituto Brasileiro de Peritos, formada pelo diretor Giuliano Giova,
doutor em ciências pela Escola Politécnica da USP, os engenheiros
Gustavo Batistuzzo e Felipe Rinaldi de Campos e as fonoaudiólogas
Priscilla Donaire Brasil e Aline Cristina Pacheco Castilho
"Existe um lapso de tempo para que esta operação ocorra, o que pode
gerar eventos como esses constatados na gravação, dependendo do tempo de
silêncio e da amplitude do sinal que reativa a gravação", acrescenta o
grupo.
Segundo o instituto, o valor probante da gravação só poderá ser
efetivamente apurado com análise dos gravadores, das mídias originais e
da cadeia de custódia, ou seja, do registro da geração e manipulação das
mídias e dos arquivos de áudio.
Em geral, arquivos digitais possuem registros técnicos sobre suas
características e sua geração e manipulação, os chamados metadados. Mas o
arquivo analisado não possui metadados que atestem qual foi o programa
utilizado em sua geração e outros dados técnicos como data da gravação
de áudio. Sua ausência prejudica a verificação da integridade da peça em
questão.
O áudio, feito pelo empresário na noite de 7 de março no Palácio do
Jaburu, foi entregue diretamente à Procuradoria-Geral da República em
meio à negociação de delação premiada. A gravação não passou pela Polícia Federal,
que só entrou no caso no dia 10 de abril e deve entregar nesta sexta
(23) sua perícia ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin.
No inquérito de investigação de Temer, aberto pelo ministro Edson
Fachin, a PGR aponta suspeita de corrupção passiva, organização
criminosa e obstrução de Justiça. O áudio gravado por Joesley é um dos
elementos da investigação.
Além da gravação da conversa, a PGR lista, por exemplo, outras suspeitas contra Temer, como o recebimento de R$ 500 mil pelo deputado afastado e preso Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), aliado do presidente da República.
O presidente deve ser denunciado até a próxima terça-feira (27). A
defesa do presidente Michel Temer classifica o relatório parcial
apresentado pela Polícia Federal que aponta crime de corrupção passiva
por parte do peemedebista como "absolutamente frágil, prematuro e
precário".
O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Temer, afirmou
nesta quinta-feira (22) que, se a perícia da Polícia Federal não
apontar adulteração na gravação que o empresário Joesley Batista fez do
presidente, "preocupará". "Se a perícia não mostrar nada, fica difícil",
afirmou.
PERÍCIAS
Em maio, outro laudo a pedido da Folha,
feito por Ricardo Caires dos Santos, perito judicial pelo Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, concluiu que a gravação da conversa
entre Joesley e Temer havia sofrido mais de 50 edições.
O perito aponta indícios claros de manipulação, mas não indicava causas
ou mecanismos. Para Santos, o áudio tem "vícios, processualmente
falando", o que a invalidaria como prova jurídica.
Contratado pela defesa de Michel Temer, o perito Ricardo Molina disse em
maio que a PGR é "ingênua" e "incompetente" ao utilizar a gravação como
prova para abrir um inquérito contra o peemedebista.
Segundo Molina, o gravador usado pelo empresário da JBS é "vagabundo" e
"não é possível" garantir que a gravação seja "autêntica", portanto,
argumenta Molina, o áudio não pode ser utilizado como prova judicial.
Durante apresentação de seu laudo, em coletiva à imprensa em Brasília,
Ricardo Molina disse que o áudio está "contaminado por inúmeras
descontinuidades", com diversos pontos "inaudíveis" e de "possível
edição", o que, para ele, seriam "suficientes" para "jogar a gravação no
lixo".
O perito, no entanto, não é assertivo ao responder se há ou não edição
no áudio. "Existem dezenas de pontos de descontinuidade" nos quais "se
poderia fazer cortes sem deixar vestígios", explica.
Perguntado diversas vezes por jornalistas se não era possível ser definitivo sobre o tema, o perito concluiu: "Se você está me colocando na parede, eu diria que sim, que houve edição".
Perguntado diversas vezes por jornalistas se não era possível ser definitivo sobre o tema, o perito concluiu: "Se você está me colocando na parede, eu diria que sim, que houve edição".
Sem comentários:
Enviar um comentário