terça-feira, 27 de junho de 2017

OS CRÍTICOS DE ZANDAMELA

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com)

A idade das ideias não se mede pela antiguidade ou frescura dos ossos, mas pela cristalização ou inovação do pensamento. Marcolino Moco in Angola: Estado-Nação ou Estado-Etnia Política?, 2015, p.166.
Há sensivelmente três semanas que Rogério Zandamela, também chamado de “Xerife de Washington”, está sob fogo cruzado, sobretudo em algumas redes sociais corriqueiras, por suspeita de ter conduzido “mal” o dossier da recapitalização e gestão do Moza Banco, pela Sociedade Kunhanha, entidade que tutela o fundo de pensões do Banco de Moçambique (BM).
Subsidiado pela dúvida metódica, decidi levantar algumas questões: quem são afinal os que criticam Zandamela? E porque o fazem? Aquando da sua nomeação para o cargo de governador do BM, as vozes que hoje o criticam, vociferaram que o presidente da República estava a trazer um “espião” para Moçambique. Até citaram Samora “Quando o feiticeiro nos entra pela casa adentro é porque alguém lhe abriu a porta! O feiticeiro seria, então, o governador do BM e o porteiro o presidente da República. 
Havia a tradicional ideia de que o presidente Nyusi nomearia um elemento da mesma família partidária ou da casta superior de economistas nacionais, provavelmente para alimentar o clientelismo que hodiernamente presenteia o nosso país. Felizmente, os tempos mudaram, ainda que permaneçam alguns focos de resistência.
A dinâmica de actuação e a coragem de tomar decisões, sem precisar de eucaristias partidárias ou vindo de qualquer grupo de interesse, a compatibilidade da dupla Nyusi e Zandamela acabaram com o pensamento fossilizado e rompeu com alguns “cordões umbilicais” que se alimentavam do Banco Central. Governar é assumir riscos, mesmo quando algumas receitas são amargas e difíceis de digerir. O exercício do poder não admite curvas.
Sou um defensor acérrimo da análise contrafactual (o uso do “se”). Com efeito, acredito que possa ter havido alguma falta de ética na indicação da Kunhanha para a recapitalização e gestão do Moza Banco, mas também acredito (passe o pleonasmo) que uma decisão contrária daquela que se tomou, teria tido consequências dramáticas, se tivesse sido uma outra entidade, da qual não se conhece a “alma”. Os moçambicanos não devem pensar que estão fora dos radares do terrorismo, só porque nunca foi alvo de um ataque. A decisão de Zandamela pode ter sido tomada com base nestes critérios: a segurança do sistema financeiro nacional.   
É claro que Zandamela, como qualquer ser humano, está sujeito a erros. Não criticá-lo, penso que seria um acto de cobardia. Mas, convenhamos, estabelecer cruzadas com o fito de lhe assassinar o seu carácter, é uma atitude feia e desonesta de transpirar o rancor. A raiva é cega.
Há um tempo atrás eu considerava os críticos de Zandamela como indutores do desenvolvimento, mal soube que alguns deles deram pareceres fraudulentos para que instituições como o Moza Banco e outras estivessem exauridas e à beira da falência, só depois é que me apercebi da crueldade da minha inocência.  
Todos nós devíamos agradecer a Zandamela por se um extintor que vem de geografias em que o rigor financeiro é uma didáctica, por isso deixem-no trabalhar livremente na sua nobre missão, para resgatar o prestígio do banco central. Atacá-lo, sem princípios básicos da lógica, não adiantará em nada, até porque ele próprio compreendera que “um gladiador deve morrer na arena.”
Esta semana consultei ao meu amigo Nkulu sobre a matéria em apreço. Eis a resposta “Esta é uma das áreas em que sou leigo, analfabeto, mas, quando o Governador falou, entendi que a situação melhorou e que, em comparação aos meses anteriores, a depreciação do metical está a diminuir. Em todo o caso,    aquela pasta é concorrida e o que as pessoas gostam de ouvir é dizer que  tudo está mal. Estamos mal acostumados e algumas contestações são internas, do BM, porque as gorduras ilógicas estão a ser extirpadas. A vaca leiteira está deixando de dar o leite, das mamas e dos mamilos o conteúdo já não brota. Dr. Zandamela está produzindo inimigos a partir das suas medidas e estes que hoje gritam, ontem tinham bocas seladas/lacradas pelas benesses ilegítimas/ilegais. Deixem-no trabalhar e arrumar a desorganizada casa. Toda a cirurgia é mais ou menos dolorosa.”
Termino com uma frase popular que diz “Quando tiveres dúvida para que lado seguir, siga o povo.”
Zicomo e um abraço nhúngue ao Valentim, colombiano de solo e moçambicano de alma.
WAMPHULA FAX – 27.06.2017

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