Os iranianos decidiram atacar o Daesh a partir do seu território
EPA
Os incidentes entre as potências internacionais envolvidas no
conflito sírio não param de se repetir: desta vez, a aviação dos Estados
Unidos destruiu um drone armado de fabrico iraniano operado por milícias pró-Bashar al-Assad no Sul da Síria.
O incidente acontece um dia depois do aviso da Rússia,
que promete tratar como “alvos legítimos” quaisquer aviões
norte-americanos ou da coligação liderada por Washington que voem “a
oeste do rio Eufrates”. Por “precaução”, a Austrália, que participa
nesta força internacional formada em 2014 para combater os terroristas
do Daesh, suspendeu os seus ataques aéreos no país.
Aos sírios já
aconteceu de tudo desde 2011, mas nas últimas semanas são os países
estrangeiros que combatem o Daesh ou apoiam o regime (a Rússia e o Irão)
que têm tomado acções inéditas contra os outros. Em causa estará a
vontade de estabelecer “linhas vermelhas” com trocas de mensagens
bélicas entre potências com interesses contraditórios no país e na
região.
Num comunicado, as forças dos EUA dizem ter abatido o drone depois do aparelho “ter manifestado intenções hostis e avançado na direcção das forças da coligação”.
Antes, um responsável militar explicara à AFP que o caça F-15 americano destruiu o drone
Shahed 129 por este estar “a ameaçar as forças americanas no terreno”,
na região de Al Tanf, junto à intersecção das fronteiras com a Jordânia e
com o Iraque. “Eles estavam a avançar contra os nossos homens e
preparavam-se para atacar.” Nas últimas semanas, esta zona tem sido
cenário de vários confrontos entre forças pró-Assad e os EUA, que aqui
usam uma base para treinar grupos aliadas, como os curdos.
Desde
que EUA e Rússia coordenam operações ficara estabelecido que a zona em
redor da base de treino estava a salvo de ataques militares (agora,
Moscovo interrompeu estas comunicações). Mas a meio de Maio, ataques aéreos liderados por Washington
na mesma área atingiram milícias iranianas; já no início de Junho, 60
membros de outro grupo formado por Teerão para ajudar Damasco entraram
na zona “desmilitarizada” com tanques e armas antiaéreas – em resposta,
dois dias depois, os EUA derrubaram um primeiro drone iraniano.
A
escalada dos últimos dias envolveu o derrube por parte dos americanos
de um caça sírio – a primeira vez que tal acontece – e a decisão russa
de acompanhar os aviões internacionais com sistemas antimísseis,
ameaçando disparar contra os que atravessem a linha do Eufrates, rio que
vem da Turquia e atravessa a Síria numa linha diagonal antes de entrar
no Iraque.
A subida de tom pôs alguns analistas a especular sobre
um confronto aberto EUA-Rússia, algo que não será desejado por nenhuma
das partes. Certo é que alguns dos acontecimentos na Síria, como os
ataques mais sistemáticos de Assad e dos seus aliados contra forças
rebeldes pró-EUA e os disparos americanos contra grupos pró-regime ou o
próprio regime podem continuar. Isto porque, com o Daesh em perda
acelerada, importa mesmo saber quem controla cada zona de onde os
jihadistas são forçados a recuar.
Poderio iraniano
No
mesmo sentido, Teerão decidiu dar provas do seu poderio militar ao
lançar mísseis do país contra alvos do Daesh no Leste da Síria, algo que
nunca fizera apesar do apoio que concede a Assad desde o início da
revolução síria. O controlo do Sul da Síria é especialmente importante
para a República Islâmica e para a sua ambição de assegurar um corredor
terrestre a uni-la aos países aliados do Iraque, Síria e Líbano, num
desejado "crescente xiita" de influência.
Noutra nota da crescente
tensão, um caça russo Su-27 passou “a metro e meio” de um avião de
reconhecimento americano no mar Báltico, mantendo-se durante alguns
minutos a essa distância do RC-135. O Comando Europeu (EUCOM) dos EUA
descreve o voo do aparelho russo como “errático” e fala de “uma
interacção perigosa”.
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