segunda-feira, 12 de junho de 2017

A UNITA desorienta o seu próprio eleitorado - Faustino Henrique


Luanda - Embora caiba às instituições como a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e o Tribunal Constitucional, nas vestes de tribunal eleitoral, avaliar agora e depois as “queixas” da UNITA, não há dúvidas de que no que à análise política destes movimentos e eventuais implicações eleitorais dizem respeito muito há que se lhe diga.
Fonte: Jornal de Angola
É provável que para a liderança da UNITA, e está no seu direito cogitar assim, todo esse exercício que faz em torno de eleições livres, transparentes, justas e democráticas só trazem benefícios para o partido. Mas na verdade, quando o partido dos “maninhos”, por tudo e por nada, põe em dúvida grande parte dos passos em direcção às eleições, antes e até ao momento, está igualmente a enviar uma mensagem de indecisão e descrença aos seus potenciais eleitores.

Não se pretende, com estas palavras, pôr em causa as reclamações ou inquietações apresentadas pela UNITA que, como sabemos, à luz das leis em geral e da eleitoral em particular encontram espaço de submissão junto das instituições. Aliás, apenas assim se justifica a diligência feita há dias pela UNITA quando fez entrega à CNE de uma carta reclamando um novo concurso para a contratação de duas empresas que vão fornecer serviços tecnológicos nas eleições gerais de 23 de Agosto.

E obviamente caberá às instituições decidir que as reclamações apresentadas pela UNITA dentro dos marcos legais são passíveis do tratamento que as leis as reservam ou se não passam de actos de verdadeira improcedência.

Era bom que a UNITA não fosse levada apenas a avaliar os eventuais benefícios com todo este “barulho eleitoral”, mas tivesse igualmente a sensibilidade e responsabilidade de calcular a forma como, desinteressadamente, poderá estar a induzir os seus potenciais eleitores a embarcar na mesma lógica de desacreditação do processo eleitoral e eventual cruzar dos braços no dia da votação.

Com as devidas ressalvas, relativamente a um eventual tratamento jurídico-legal por parte das instituições em relação às “queixas” da UNITA, ainda assim a onda de desconfiança, denúncia de batota e algum pânico nas hostes do Galo Negro pode estar a contribuir para desorientar o seu próprio eleitorado.

Há um trio de responsáveis da UNITA que tem emprestado o seu rosto para este exercício que consiste numa evidente ambiguidade traduzida na crença no processo eleitoral e até na vitória, ao mesmo tempo que pré-anunciam fraude eleitoral.

No início do ano, em Paris, o líder do partido, Isaías Samakuva, como se soubesse ou previsse já os resultados das eleições marcadas para 23 de Agosto, dizia, citado pela agência Lusa, que “se as eleições não forem transparentes, forem fraudulentas outra vez, eu estou a dizer a todo o mundo que é preciso fazer atenção porque os angolanos estão completamente fatigados do que se passa hoje, estão cansados do regime que governa o país hoje e não vão aceitar mais nenhuma fraude assim”.

Dois anos antes, Vitorino Nhany, na pele de secretário-geral da UNITA, em alusão à Lei Eleitoral, dizia que “com essa engenharia toda que eles estão a fazer através da lei eleitoral, chegamos à conclusão de que já tem ratoeiras, já tem fintas”.

Nas redes sociais, embora mais pessoal e não vincule necessariamente o partido, Estêvão Katchiungo mostrou-se preocupado com o que chamou de batota, numa alusão ao pleito eleitoral que o mesmo acredita que venha a ser ganho pela UNITA.

Esse trio de responsáveis da UNITA, ao desacreditar o processo, ao evocar permanentemente dúvidas, reclamações e algum pânico, independentemente da sua razoabilidade, tende a influenciar negativamente as suas bases de apoio.

Qual é o adepto que se mostra motivado a pagar para ir ao estádio assistir a uma partida de futebol cujas regras, tal como alegado pela equipa que apoia, visam prejudicá-la?

Ao insistirem nestas reclamações, ressalve-se as razões e sobretudo se as mesmas merecerem tratamento por parte das instituições, a UNITA poderá estar a reforçar o sentimento de desconfiança e indecisão aos seus eleitores, bem como levá-los a ponderar abstenção.

Vale a pena insistir que independentemente da pertinência ou não das reclamações, era bom que a UNITA avaliasse bem os custos e benefícios desta empreitada, porque as implicações junto do eleitorado podem ser devastadoras, sobretudo quando se alega o que até agora não se prova de maneira tangível. Por outras palavras e relativamente à mensagem de conquista do eleitorado, dir-se-ia que a UNITA está a “espantar a caça”, na medida em que a informação e recado sobre o posicionamento do partido nestas eleições chegam com algum ruído. O potencial eleitor da UNITA, dando crédito à descrença do seu partido em eleições livres, transparentes, justas e democráticas, começa a questionar a utilidade do seu voto, facto que devia levar já a liderança do partido dos “maninhos” a mudar de discurso.

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