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quarta-feira, 14 de junho de 2017
Os moradores previram um "acidente catastrófico" em Londres
— aconteceu e matou 12 pessoas
O número de mortos pode aumentar. Não se sabe se há vítimas dentro do
escombro calcinado do prédio e há desaparecidos. Durante anos,
moradores alertaram para as falhas de segurança.
No prédio de 24 andares que ardeu nesta quarta-feira no centro de
Londres, o alarme contra incêndio não disparou. Methrob, que vivia no
17.º andar, só percebeu o que se estava a passar quando ouviu os carros
dos bombeiros. Ao chegar à rua, viu que "o revestimento do edifício
parecia um fósforo", como disse à BBC.
O incêndio, de proporções catastróficas, matou 12 pessoas, feriu 74 e
as autoridades avisaram que o número pode aumentar. Dezoito feridos
estão em estado crítico.
O alarme foi dado por volta da 1h da manhã desta quarta-feira. Um
incêndio deflagrara num prédio de 24 andares. Não se sabe, ainda, o que
provocou as chamas, mas um grupo de moradores fez repetidos alertas, ao
longo dos últimos anos, devido às precárias condições de segurança do
edifício caso houvesse um incêndio, apesar de recentemente ter sido
feita uma remodelação que custou mais de 11 milhões de euros.
"Nos meus 29 anos nos bombeiros nunca vi nada com esta escala", disse
a comissária dos bombeiros de Londres, Dany Cotton, ao jornal The Guardian, comentando as dimensões do fogo que engoliu quase toda a Torre Grenfell, construída em 1974, e localizada no bairro de Kensington.
Mais de 200 bombeiros combateram durante toda a noite e madrugada as
chamas — tornaram público que chegaram seis minutos depois de terem
recebido a primeira chamada de emergência.
Um desastre "nunca visto"
Na
tarde desta quarta-feira a polícia metropolitana londrina confirmava a
morte de 12 pessoas e avisava que o número vai aumentar — não esperava
encontrar sobreviventes dentro do prédio calcinado. Também para a
polícia, este foi um desastre "nunca visto".
Aumentar
Não era claro se estavam mais pessoas no interior da torre, mas algumas das que lá moraram estão dadas como desaparecidas.
Com
os bombeiros, estiveram no local 40 viaturas de combate ao incêndio e
20 ambulâncias, a "trabalhar incansavelmente em condições muito
difíceis". Uma equipa de engenheiros avaliou a estabilidade do edifício,
concluindo que não havia risco de colapso apesar de ter ficado
praticamente todo destruído.
O prédio era composto por 120
apartamentos e foi alvo de uma remodelação no valor de dez milhões de
libras (mais de 11 milhões de euros), concluída no ano passado. Nas
obras, foi instalado um novo sistema de aquecimento, vidros duplos e o
tal revestimento exterior que ardeu como um fósforo.
O presidente
da câmara de Londres, Sadiq Khan, considerou o incêndio um "acidente de
enorme gravidade" e disse que "existem muitas perguntas a fazer nos
próximos dias".
Em comunicado, Downing Street (a sede do Governo)
informava que a primeira-ministra, Theresa May, está "profundamente
triste pela trágica perda de vidas" no incêndio na Torre Grenfell.
Explosão em frigorífico?
Uma
das perguntas mais repetidas esta quarta-feira é "o que provocou este
desastre". A investigação para descobrir a origem do incêndio iniciou-se
logo que as chamas foram controladas mas não foram divulgados
pormenores. O Guardian dava conta de relatos que circulavam
entre os moradores e que mencionavam uma explosão num frigorífico no
quarto andar do prédio. No entanto, esta informação não foi confirmada.
Nos
últimos anos, um grupo de moradores, o Grenfell Action Group, publicou
no seu blogue repetidos avisos e críticas sobre a falta de segurança da
torre. Em Novembro do ano passado, o grupo acusava a administração do
edifício de ser uma "mini-máfia". E dizia que só um "acidente
catastrófico" poderia expor publicamente a "incompetência" da
administração dos apartamentos e as falhas de segurança. A organização
queixava-se, entre outras coisas, da falta de instruções sobre como
actuar em caso de incêndio e da existência de apenas uma saída de
emergência. "Não podem dizer que não avisámos", dizia na altura.
Já
em 2013, após um pequeno incêndio provocado por um curto-circuito, o
grupo de residentes afirmara que por pouco tinha sido evitada uma
tragédia.
Depois do incidente desta quarta-feira, a organização publicou um texto na sua página na Internet
onde diz que todos os seus avisos caíram "em saco roto", juntando os
links — dez no total — de todos os alertas que fizeram nos últimos anos.
"Nós previmos que uma catástrofe como esta era inevitável e apenas uma
questão de tempo", lê-se.
Em comunicado, a Kensington and Chelsea
Tenant Management Organisation, responsável pela gestão das habitações
neste bairro londrino, do qual faz parte a Torre Grenfell, diz que é
demasiado cedo para especular sobre as causas da tragédia e que estava
ao corrente das queixas dos moradores. "É demasiado cedo para especular
sobre o que causou o incêndio e para contribuir para a sua propagação",
afirma o comunicado. "Estamos conscientes de que foram levantadas
preocupações por parte dos moradores. Nós levamos sempre os alertas a
sério e isto fará parte das nossas próximas investigações", diz ainda o
texto, citado pelo Guardian.
Os moradores que
sobreviveram ao desastre garantiram que os alarmes de incêndio não
dispararam e que foram surpreendidos pelos gritos de socorro dos
vizinhos. Conta quem viu que era possível ver pessoas presas no interior
do prédio a fazer sinais usando as lanternas dos seus telefones e a
bater nos vidros, gritando desesperadamente por ajuda. As testemunhas
disseram que era um ambiente infernal.
Existem ainda testemunhos que dão conta de pessoas que se atiraram pelas janelas — um bebé terá sido lançado pela mãe do nono ou 10.º andar e salvo por um homem que estava na rua e o apanhou.
"Nós
vimos pessoas na janela do segundo andar a contar do topo do edifício.
Havia quatro pessoas que estavam a gritar e depois a janela ficou
completamente escura por causa do fumo e aquela parte do edifício estava
coberta de chamas. O pior foi ver pessoas presas e a sensação de ser
inútil. Estávamos provavelmente a ver pessoas a morrer, e a sensação de
não fazer nada, simplesmente não podermos fazer nada, é horrível",
contou à BBC Line Sterring, uma dinamarquesa de 23 anos.
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