Sobre 260 bois que ninguém viu!
Na
nossa última edição, falamos de um assunto que ganha contornos de
escândalo a nível do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar.
Reportamos, então, que o Tribunal Administrativo, na sua análise de
contas do Estado, detectou que foram sacados do Tesouro Público mais de
onze milhões de Meticais para a compra de 260 bois para o fomento
pecuário a criadores de gado, mas esses animais nunca ninguém viu.
O Ministro da Agricultura, o Engenheiro José Pacheco, minimiza esse problema bicudo, que cheira a corrupção com a alegacão de que “houve apenas uma pequena falha de tesouraria que depois foi regularizada”, mas o seu Secretário Permanente, reconhece que houve incumprimento por parte do fornecedor dos bovinos e o assunto está na Procuradoria-Geral da República.
Ora parece que estamos na presença de mais um caso de grande corrupção, em que foi desenhado, em algum gabinete, um esquema para a retirada de fundos do erário público, para o fomento de gado a alguns criadores mas que estes na verdade nunca receberam tais animais.
O Ministro da Agricultura, o Engenheiro José Pacheco, minimiza esse problema bicudo, que cheira a corrupção com a alegacão de que “houve apenas uma pequena falha de tesouraria que depois foi regularizada”, mas o seu Secretário Permanente, reconhece que houve incumprimento por parte do fornecedor dos bovinos e o assunto está na Procuradoria-Geral da República.
Ora parece que estamos na presença de mais um caso de grande corrupção, em que foi desenhado, em algum gabinete, um esquema para a retirada de fundos do erário público, para o fomento de gado a alguns criadores mas que estes na verdade nunca receberam tais animais.
Num contexto
em que se apela à produção de carne, para a redução do défice alimentar
no país, num contexto em que se encorajam os criadores de gado a
envidarem esforços para o aumento de produção nacional de carnes, é má
atitude desviar mais de onze milhões de Meticais para a compra de 260
cabeças de gado bovino e no final do dia tais cabeças sumirem.
Bem
gostaríamos que a empresa contratada para o fornecimento das tais
cabeças de bois, a Seed Moq viesse a público, através das páginas deste
jornal, esclarecer o que efectivamente aconteceu com o dinheiro saído do
Estado e registado pelo Tribunal Administrativo como sendo para a
compra de gado, mas que até a semana passada tal gado não tinha sido
entregue.
Bem
gostaríamos que o próprio Ministro Pacheco se explicasse com mais
detalhe e mais responsabilidade sobre estes mais de onze milhões que
saíram dos cofres do Estado para a compra de animais que ninguém sabe
onde foram.
Aliás, o
Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar é especialista no desvio
de fundos do Estado, através da invenção de projectos ou fundos para
apoiar camponeses ou a produção alimentar pelo pais fora, mas que depois
tal Agricultura nunca é fortalecida.
O projecto
PRoAgri é, entre vários, um pequeno exemplo, em que um pequeno grupo de
consultores e funcionários ganhou dinheiro em nome do fortalecimento da
agricultura.
Esclarecendo-se
este caso dos 260 bois, dar-se-á um exemplo de transparência na gestão
da coisa pública. Se não houve desvio nenhum, melhor ainda. Se o gado
foi comprado e entregue, que se explique, sem margem de dúvidas, que as
260 cabeças foram distribuídas para criadores A, B, C e D.
Não temos
nenhuma maldade contra a cúpula do Ministério da Agricultura. Apenas
queremos saber onde foram parar os bois comprados a Seed Moq, pela
módica quantia de 11.796.250 Meticais usados na compra de 260 cabeças de
gado para o fomento pecuário.
Só queremos
saber isso. Caso não nos digam, temos então fortes razões para
suspeitarmos de haver gato escondido neste negócio. É que 11 milhões de
Meticais é muita mola camarada Pacheco. Onde estão os
bois?
MAGAZINE INDEPENDENTE – 06.06.2017
NOTA: Alguém conhece a empresa “SEED MOQ.”? Parece que apenas produz e vende sementes para a agricultura.
Fernando Gil
O MINISTRO
Mukhulhwani entre os ministros e dor de cabeça
Butsu Makanda
Não conheço a tradução de MukhulhwanI em nenhuma outra língua que não se já a minha nativa. Hoje tem pessoas que tratam outras por “mais velho”, o que parece isso, mas não espelha bem aquela figura que conheci e convivi com ela no Livalene.
Mukhulhwani não está decretado em nenhum lugar como autoridade, nem eleito, nem nomeado. Não tem tomada de posse nem exoneração.
Mas Ministro tem tudo isso. E acreditem em mim, entre os Ministros tem Mukhulhwanis de topo e de protectores dos Ministros mais fracos. Aqui as regras de jogo variam, mas a essência é a mesma. O Ministro é escolhido pelo Presidente do País, a pessoa mais forte do País que é escolhida pelo povo nas eleições. Não sei como ele escolhe os Ministros, mas se você for escolhido, a primeira coisa que tem que saber é quem é o Mukhulhwani de todos os Ministros e quem pode ser teu. Aqui não é como no Livalene, que a gente descobre logo através da pancadaria.
É preciso saber que cada Ministro tem a sua agenda.
Butsu Makanda
Não conheço a tradução de MukhulhwanI em nenhuma outra língua que não se já a minha nativa. Hoje tem pessoas que tratam outras por “mais velho”, o que parece isso, mas não espelha bem aquela figura que conheci e convivi com ela no Livalene.
Mukhulhwani não está decretado em nenhum lugar como autoridade, nem eleito, nem nomeado. Não tem tomada de posse nem exoneração.
Mas Ministro tem tudo isso. E acreditem em mim, entre os Ministros tem Mukhulhwanis de topo e de protectores dos Ministros mais fracos. Aqui as regras de jogo variam, mas a essência é a mesma. O Ministro é escolhido pelo Presidente do País, a pessoa mais forte do País que é escolhida pelo povo nas eleições. Não sei como ele escolhe os Ministros, mas se você for escolhido, a primeira coisa que tem que saber é quem é o Mukhulhwani de todos os Ministros e quem pode ser teu. Aqui não é como no Livalene, que a gente descobre logo através da pancadaria.
É preciso saber que cada Ministro tem a sua agenda.
Uns chegaram
para ficar e a sua principal agenda é ficar sempre. Outros chegaram
acreditando que vem mudar o País e que vão ter resultados rápidos.
Outros pensam que vieram para ter acesso a negócios e pensam
genuinamente ou não que chegou a sua vez de combater a sua pobreza
absoluta ou abrir portas para ficar rico.
Há ainda outros que pensam que estão ali como prémio de alguma coisa que fizeram e ainda os que não entendem bem porque foram escolhidos.
Para complicar o jogo há agendas de outros de fora que pensam que tu que és Ministro, vais ajudar a cumprir.
Os empresários querem que facilites os negócios deles; a população lá das áreas menos empresariadas e com domínio da pobreza quer água, escola, posto de saúde, maternidade, energia, antena de telefone e outros bens e serviços bem básicos.
Mas esperam também que isto venha de graça, porque se tiver que pagar qualquer coisa, não tem como. E tem a agenda da pessoa que te escolheu, que espera que tu cumpras. Estas agendas diferenciadas e pessoais não são bem conhecidas por todos.
Cada um conhece a sua. As agendas dos outros vais ter que descobrir aos poucos. E tens que descobrir, porque caso contrários, podes estar a fazer uma coisa que achas que é boa, e estares a pisar os calos de outro Ministro, ou do empresário. E ele se pode vingar se tiver como.
Há, no entanto, uma agenda comum conhecida que é dirigir os trabalhadores do teu Ministério, que também tem agendas diferentes. É nesta parte da agenda conhecida que todos os Ministros juntos formam uma coisa igual aos pastores de gado. Não estou a chamar os trabalhadores do Ministério de gado.
Talvez pensar em rebanho para ficar igual a igreja onde o padre é pastor e os crentes são o rebanho. Assim, não ofendo a ninguém. Se alguém se ofender é porque não é crente. A dor de cabeça para cada Ministro escolher o seu Mukhulhwane começa a qui. Tudo começa numa ordem formal e estabelecida.
Nesta ordem começa pelo Presidente. Este é o Mukhulhwani de todos sem dúvida. Depois vem o Primeiro Ministro que é só um Mukhulhwani a sério quando tem a força do Presidente.
Ele não tem força própria.
É força emprestada. Depois vem em ordem os Ministros que são da Comissão Política.
Entre eles, o mais antigo na Comissão é o mais Mukhulhwani. Da mesma maneira com os Ministros que são do Comité Central, a começar por aqueles que são do secretariado. Depois os outros. Aqui conta quem foi escolhido primeiro e depois a pasta dele. Há uma hierarquia das pastas que não tenho bem a certeza de conhecer. Por exemplo sei que a pasta das Finanças ou Economia, dá mais espaço de Mukhulhwanisse do que a pasta dos desportos ou cultura. Mas esta hierarquia conta mas não conta muito. Por exemplo um Ministro que não é da Comissão Política nem do Comité Central pode estar mais chegado ao Presidente por amizade passada ou familiaridade de perto ou de longe, ou ainda por outra razão. Este Ministro pode ser um possível Mukhulhwani maior que o Primeiro
Ministro até. Até pode não ser Ministro, mas se meter nos assuntos dos Ministros desde que tenha o ouvido do Presidente. Até pode ser um funcionário abaixo de Ministro, mas que é chegado ou tem alguém chegado ao Presidente, pessoa influente no Partido, no Primeiro
Ministro, ou noutro Ministro bem posicionado nas lides de Mukhulhuanamento.
Como se vê, fica difícil encontrar o Mukhulhwani certo. Se tiveres cotovelos fortes, o melhor é acotovelar suavemente os outros até ficares mais chegado ao próprio Presidente.
Uma vez acertado o teu Mukhulhwani, tens que te comportar como se fosse no Livalene. Consulta-o sobre o projecto ou programa que vais submeter no debate do Conselho de Ministros.
Informa-o sobre coisas importantes, sobretudo aquelas coisas que o ajudam a manter e a cumprir a sua agenda. Apoia sempre o projecto dele com pareceres e opiniões bem favoráveis. Se sabes de uma ameaça contra ele e a sua agenda, corre para informar.
Lembra-te que se ele é um Mukhulhwani a sério, deve haver pessoas que te querem derrubar para ocupar o teu lugar ou para enfraquecer
a força do teu Mukhulhwani.
Lembra te também que há outros bem posicionados que querem derrubar a ele. E podem usar a ti se não abrires os olhos. Ou podem se vingarem em ti.
Jogo complicado, este. Mas também podes escolher ficar bem quieto, como se não tivesses agenda. Aí talvez não precisas de Mukhulhwani, mas corres o risco de ser empregado de todos.
Quem corre por gosto não cansa e quem cansa depressa não corre.
MAGAZINE INDEPENDENTE – 06.06.2017
Há ainda outros que pensam que estão ali como prémio de alguma coisa que fizeram e ainda os que não entendem bem porque foram escolhidos.
Para complicar o jogo há agendas de outros de fora que pensam que tu que és Ministro, vais ajudar a cumprir.
Os empresários querem que facilites os negócios deles; a população lá das áreas menos empresariadas e com domínio da pobreza quer água, escola, posto de saúde, maternidade, energia, antena de telefone e outros bens e serviços bem básicos.
Mas esperam também que isto venha de graça, porque se tiver que pagar qualquer coisa, não tem como. E tem a agenda da pessoa que te escolheu, que espera que tu cumpras. Estas agendas diferenciadas e pessoais não são bem conhecidas por todos.
Cada um conhece a sua. As agendas dos outros vais ter que descobrir aos poucos. E tens que descobrir, porque caso contrários, podes estar a fazer uma coisa que achas que é boa, e estares a pisar os calos de outro Ministro, ou do empresário. E ele se pode vingar se tiver como.
Há, no entanto, uma agenda comum conhecida que é dirigir os trabalhadores do teu Ministério, que também tem agendas diferentes. É nesta parte da agenda conhecida que todos os Ministros juntos formam uma coisa igual aos pastores de gado. Não estou a chamar os trabalhadores do Ministério de gado.
Talvez pensar em rebanho para ficar igual a igreja onde o padre é pastor e os crentes são o rebanho. Assim, não ofendo a ninguém. Se alguém se ofender é porque não é crente. A dor de cabeça para cada Ministro escolher o seu Mukhulhwane começa a qui. Tudo começa numa ordem formal e estabelecida.
Nesta ordem começa pelo Presidente. Este é o Mukhulhwani de todos sem dúvida. Depois vem o Primeiro Ministro que é só um Mukhulhwani a sério quando tem a força do Presidente.
Ele não tem força própria.
É força emprestada. Depois vem em ordem os Ministros que são da Comissão Política.
Entre eles, o mais antigo na Comissão é o mais Mukhulhwani. Da mesma maneira com os Ministros que são do Comité Central, a começar por aqueles que são do secretariado. Depois os outros. Aqui conta quem foi escolhido primeiro e depois a pasta dele. Há uma hierarquia das pastas que não tenho bem a certeza de conhecer. Por exemplo sei que a pasta das Finanças ou Economia, dá mais espaço de Mukhulhwanisse do que a pasta dos desportos ou cultura. Mas esta hierarquia conta mas não conta muito. Por exemplo um Ministro que não é da Comissão Política nem do Comité Central pode estar mais chegado ao Presidente por amizade passada ou familiaridade de perto ou de longe, ou ainda por outra razão. Este Ministro pode ser um possível Mukhulhwani maior que o Primeiro
Ministro até. Até pode não ser Ministro, mas se meter nos assuntos dos Ministros desde que tenha o ouvido do Presidente. Até pode ser um funcionário abaixo de Ministro, mas que é chegado ou tem alguém chegado ao Presidente, pessoa influente no Partido, no Primeiro
Ministro, ou noutro Ministro bem posicionado nas lides de Mukhulhuanamento.
Como se vê, fica difícil encontrar o Mukhulhwani certo. Se tiveres cotovelos fortes, o melhor é acotovelar suavemente os outros até ficares mais chegado ao próprio Presidente.
Uma vez acertado o teu Mukhulhwani, tens que te comportar como se fosse no Livalene. Consulta-o sobre o projecto ou programa que vais submeter no debate do Conselho de Ministros.
Informa-o sobre coisas importantes, sobretudo aquelas coisas que o ajudam a manter e a cumprir a sua agenda. Apoia sempre o projecto dele com pareceres e opiniões bem favoráveis. Se sabes de uma ameaça contra ele e a sua agenda, corre para informar.
Lembra-te que se ele é um Mukhulhwani a sério, deve haver pessoas que te querem derrubar para ocupar o teu lugar ou para enfraquecer
a força do teu Mukhulhwani.
Lembra te também que há outros bem posicionados que querem derrubar a ele. E podem usar a ti se não abrires os olhos. Ou podem se vingarem em ti.
Jogo complicado, este. Mas também podes escolher ficar bem quieto, como se não tivesses agenda. Aí talvez não precisas de Mukhulhwani, mas corres o risco de ser empregado de todos.
Quem corre por gosto não cansa e quem cansa depressa não corre.
MAGAZINE INDEPENDENTE – 06.06.2017
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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