quinta-feira, 20 de julho de 2017

A cidadania rancorosa e as estratégias punitivas


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POR: Josué Bila
Há cada vez mais crença conveniente de que, com muitíssima urgência, a perspectiva jurídico-legal (particularmente o Direito criminal, encontrado em regimes democráticos constitucionais) resolverá os problemas de Moçambique. Parece engano de quem esquece que as pessoas, em suas relações sociais, mais conservam o “regime provinciano ngungunhânico” (trocar ou vender pessoas [servos/escravos] por um cavalo ou por uma sombrinha para uma das esposas) e menos constroem aparatos democráticos constitucionais, nos quais os indivíduos alegadamente se associam não na base de privilégios, imprevisões e distinções, mas na base do individualismo igualitário e nas previsibilidades. 
Parece-me que a cidadania rancorosa impercebe que um dos seus deveres é associar-se à cidadania comprometida com a reflexão, para tentar compreender o lugar histórico no qual as relações de Poder se constrõem e se estruturam e como as mesmas (relações de Poder) se encontram entrelaçadas às variadíssimas malhas sociais nas quais as pessoas dinamizam, fabricam e solucionam as suas vidas. Como as pessoas (autoridades governamentais ou vendedores/usuários de latrina melhora) solucionam as suas vidas e por que solucionam do jeito como elas solucionam e não de outro jeito? O que faz com que uma pessoa tome uma estratégia determinada que a liga a muitas outras pessoas, as quais cooperam na materialização daquela estratégia?
A cidadania rancorosa talvez sem tardar entrará em trombose social, pois mais usa estratégias punitivo-encarceradoras ao regime provinciano ngungunhânico e menos faz perguntas para a compreensão dos processos sociais e políticos, acasalados com a História. Quais caminhos para se aceder ao tal sonhado regime democrático constitucional? Duvido que será por estratégias da cidadania rancorosa, a exemplo do “apanha ladrão governamental” (khoma muyivi ou khoma xiguevenga).

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