Cartas ao Presidente da República (53)
“Um erro não chega a ser erro, até que a pessoa se recuse a corrigi-lo”, (John Kennedy)
Bom dia,
Presidente Nyusi. Há cada vez mais um séquito de aduladores seus que
tenta, a todo custo, imbecilizar o povo. A partir das redes sociais até
aos debates radiofónicos o assunto é o mesmo: o Presidente Nyusi está a
trabalhar, por isso que baixaram os preços dos combustíveis, a LAM já
pode voar para o espaço europeu, e blá, blá, blá… Francamente, o povo
não quer saber o que foi, como foi, mas apenas de que malha é tecida a
sua vida no presente.
O Presidente
ainda tem muito por fazer e por onde explorar politicamente sem ser pelo
discurso estafado do “nós fizemos”, “nós conseguimos”. Esta repetição
tende a normalizar o absurdo. Do Presidente da República o povo espera
acções concretas e não a reencarnação de um personagem de uma comédia
barata, com um guião fraco como esse das capoeiras públicas.
O seu exército
de fieis, Presidente, parece querer passar ao povo a ideia de que o
Presidente Nyusi é o melhor. Razões? Só a súcia dos camaradas é que as
conhece.
Sempre vê Sol
onde há nuvens. Vê fartura onde há miséria. Às vezes acho que estamos em
dois Moçambiques; um dos camaradas e aduladores (o próspero) e outro do
povo (dos My Love e toda a miséria subjacente).
O que os
beija-mão tentam transmitir ao povo (não sei se é a seu mando,
Presidente) é um insulto à inteligência popular. O debate político, em
Moçambique, se tornou mesquinho, para não dizer que é inexistente.
Há analistas
medíocres que tentam construir narrativas de baixo jaez para enganar o
povo, enquanto eles se lambuzam das migalhas que caem da mesa opulenta
do poder.
Até aqui,
arrisco a dizer, muitas das decisões tomadas pelo seu Governo,
Presidente, são espontâneas. Parece não haver foco. E mesmo as decisões
que nos obrigam a elogiá-las, ainda não sentimos o seu efeito. Por
exemplo, diz-se que o Metical está a se fortalecer face ao Dólar.
A pergunta é: o que isso significa em termos práticos às famílias pobres de muitos moçambicanos? Se nem o Tseke têm à mesa…
E quando os lambe-botas falam da trégua, romantizam-na. Floreiam-na.
Jamais
procuraram saber quais foram os motivos que nos empurraram à guerra. E é
aqui onde jaz o erro, porque enquanto não se fizer uma reflexão precisa
sobre o que falhou em vários acordos de paz, que os sucessivos Governos
da Frelimo assinaram com a Renamo, sempre desembocaremos na mesma
instabilidade.
Ou seja, em todos os intervalos eleitorais, teremos guerra!
Os aduladores
do Presidente da República tudo o que fazem é uma tentativa vã de
proibir o povo de interrogar. Há toda uma necessidade de nos
interrogarmos, como povo, se, efectivamente, este é o Moçambique que
queremos.
O que nos
devia preocupar, sobremaneira, é o porquê o líder da Renamo, o senhor
Afonso Dhlakama, ainda continua nas matas de Gorongosa, depois de nos
ter concedido uma trégua ilimitada. O que lhe impede de vir à cidade? O
que lhe motivou para nos dar essa trégua? Alguém sabe? Será que não se
vai indispor, qualquer dia desses, e nos voltar a arrancar essa paz que,
ao que tudo indica, anda nos seus bolsos?
Para mim,
esses debates radiofónicos, de analistas políticos lunáticos, deviam
centrar-se em coisas sérias. O que fazem quando lá estão é aldrabar ao
povo e a eles mesmos. Acham que o País vai melhorar a partir das suas
lucubrações medíocres? Se Moçambique tende a entrar nos carris (não sei
se é verdade), o Governo e quem o chefia, não estão a fazer nada que
lhes mereça aplausos. É sua tarefa. Aliás, tarefa essa que me parece que
têm dificuldades de levarem a bom porto.
Por isso que querem aplausos em cada finta, sem terem marcado golos.
Moçambique está a perder por Vinte a Zero. É para aplaudirmos isso?!
O discurso de
divisionismo, de exclusão, em nada nos vai ajudar como País. A trombeta
nos chama, não um chamado para empunhar as armas, embora delas
precisemos; não um chamado para a batalha, embora estejamos
entrincheirados; mas um chamado para suportar o peso de uma longa e
incerta luta, ano após ano, numa luta contra os inimigos comuns do
homem: tirania, pobreza, doença e a própria guerra.
É disto que cada moçambicano se devia orgulhar!
E esta não é a hora de os moçambicanos se perguntarem o que o País pode fazer por eles, mas o que eles podem fazer pelo País!
DN – 19.05.2017
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