quarta-feira, 24 de maio de 2017

Manifestantes incendeiam edificios e pilham ministérios em protesto contra Michel Temer

BRASÍLIA

Manifestantes incendiaram ministérios, forças de segurança responderam com balas de borracha e bombas de gás. Michel Temer convocou as Forças Armadas para repôr a ordem na capital.

FERNANDO BIZERRA JR/EPA
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  • Agência Lusa
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Alguns edifícios onde se localizam ministérios brasileiros, em Brasília, foram incendiados e pilhados nesta quarta-feira durante um protesto contra o Presidente Michel Temer. Imagens transmitidas pela televisão mostram que foram destruídas as fachadas dos ministérios de Minas e Energia, dos Transportes, da Agricultura, do Meio Ambiente da Cultura e do Planejamento.
Com o agravamento dos confrontos, o Governo brasileiro deu ordem de evacuação de todos os edifícios da Esplanada dos Ministérios e chamou um contingente militar para ajudar a proteger os edifícios do executivo. A manifestação começou pacífica, mas rapidamente degenerou em violência cerca das 13h30 locais (15h30 em Lisboa), quando os manifestantes tentaram aproximar-se do Congresso.
O ministro da Defesa brasileiro Raul Jungmann, anunciou durante a tarde que Temer decretou a “ação de garantia da lei e da ordem” na Esplanada dos Ministérios onde se registaram violentos confrontos entre polícias e manifestantes.
Segundo o ministro, as tropas federais passarão a reforçar a segurança no local, onde os edifícios estavam a ser evacuados por ordem do Governo.
Jungmann disse ainda que o chefe de Estado brasileiro considera “inaceitáveis” os desacatos e o “descontrole” registados no protesto. “Ele [Michel Temer] não permitirá que atos como este venham a turbar um processo que se desenvolve de forma democrática e com respeito as instituições”, acrescentou.
Os organizadores da manifestação, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), reivindicam a presença de pelo menos 150 mil pessoas. O protesto visava inicialmente protestar contra reformas liberais promovidas pelo Governo, mas nos últimos dias o pretexto passou também a ser a destituição de Michel Temer e a realização de eleições diretas no país.

Michel Temer chamou as tropas federais para conter os protestos em Brasília. O exército deve ficar nas ruas da cidade pelo menos até ao dia 31 de maio (Victor Moriyama/Getty Images)
De acordo com a Folha de São Paulo, apesar de os confrontos terem envolvido bombas de gás e balas de borracha por parte da polícia, e o arremesso de pedras e paus o lado dos manifestantes, não há casos graves a assinalar, à exceção de um homem que vai ter de ser submetido a uma cirurgia reconstrutiva da mão, na sequência da explosão de um foguete, e de outro, que terá sido baleado (não são conhecidos mais detalhes).
“Foi acionado o Plano de Catástrofe, que envolve os Hospitais de Base, Hospital Regional da Asa Norte e Hospital Universitário de Brasília. Os casos de traumas mais graves são tratados no Base e os outros dois hospitais funcionam como suporte. Houve casos menos graves, de ferimentos com tiro de borracha e outros do tipo, que estão sendo levantados”, disse a Secretaria de Saúde à Folha.

Confrontos entre polícia e manifestantes em protesto contra Temer em Brasília

Confrontos entre a polícia e participantes numa manifestação estão a marcar um protesto nas ruas de Brasília contra o Presidente Michel Temer.
Joedson Alves/EPA
Confrontos entre a polícia e participantes numa manifestação estão a marcar um protesto nas ruas de Brasília contra o Presidente Michel Temer.
O protesto começou pacífico, mas degenerou em violência quando os manifestantes se aproximaram do edifício do Congresso e a polícia tentou conter o avanço disparando balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo. Polícias a cavalo tentaram também impedir a marcha dos manifestantes, que responderam arremessando pedras e incendiando caixotes do lixo.
Os organizadores do protesto, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), reivindicam que a presença de pelo menos 150 mil pessoas. A manifestação visava inicialmente protestar contra reformas liberais promovidas pelo Governo, mas nos últimos dias o pretexto passou também a ser a destituição de Michel Temer e a realização de eleições diretas no país.
O chefe de Estado brasileiro, que já enfrentava uma taxa baixíssima popularidade, com aprovação de apenas 9% da população segundo o instituto de pesquisa Datafolha, viu a sua situação política complicar-se após a revelação do seu suposto envolvimento num esquema de corrupção envolvendo a produtora de proteína animal JBS.
A suspeitas de corrupção investigadas pela operação judicial Lava Jato estenderam-se no dia 18 de maio ao Presidente brasileiro, Michel Temer, com a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Em causa está uma gravação de uma conversa entre o empresário Joesley Batista, da empresa JBS, e Temer sobre o alegado pagamento de uma mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha, que presidiu ao Congresso (parlamento) e principal aliado de Temer no afastamento de Dilma Rousseff da Presidência.
Nessa conversa, segundo os áudios divulgados, o Presidente terá recomendado ao empresário “manter” o pagamento de uma verba regular àquele dirigente do seu partido, que está acusado de vários crimes de corrupção. Temer sucedeu há um ano a Dilma Rousseff, de quem era vice-Presidente, mas, desde então, vários aliados têm sido atingidos pela operação judicial, por suspeitas de corrupção e de receberem pagamentos ilegais.
A degradação da situação política no país tem levado muitos dirigentes a exigirem eleições presidenciais (diretas ou via parlamento), já que Temer não tem um vice-Presidente que o substitua no caso de abertura de um ‘impeachment’, um processo de afastamento judicial do cargo.
Após a divulgação do áudio, Michel Temer recusou, em mais do que uma declaração ao país, apresentar a demissão e já pediu a suspensão da investigação até que seja verificada a autenticidade da gravação.

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