Moçambique: a penosa metamorfose da Frelimo
Ao fim de 42 anos de poder
absoluto, a Frelimo é forçada a aceitar o pluralismo político. Do velho
partido maoísta e anti-português já pouco resta – a não ser os tiques
ditatoriais de quem tudo quer e tudo manda.
Tem sido um lento e penoso caminho desde
que os dirigentes maoístas da Frelimo, com Samora Machel à cabeça, se
impuseram na mesa das negociações a um MFA dominado pelo PCP, em 1975.
Chegaram ao poder quase sem terem de
mexer um dedo e instalaram-se a seu bel-prazer, apoderando-se da riqueza
imensa de um Moçambique em pleno desenvolvimento – uma terra de
esperança de que os moçambicanos brancos foram expulsos em condições
dramáticas e revoltantes. Pela força das armas afastaram do poder todos
os rivais, sacrificando o país numa guerra civil cruel e sem sentido e
reduzindo-o a uma miséria pungente.
Aburguesaram-se, entretanto, e depressa
esqueceram o socialismo e a revolução do campesinato com que no passado
enchiam a boca: bem à mostra ficou o seu mais grosseiro desígnio de
enriquecerem na podridão, de comprarem fato de seda em Lisboa e em Paris
e de exibirem carros, casas e amores fáceis como troféus de caça.
Obrigados pela comunidade internacional a
aceitar o pluralismo político, fingiram professá-lo enquanto se
agarravam ainda mais aos ‘tachos’ e aos negócios de Estado. Dos
terroristas anti-europeus de antigamente pouco ou nada lhes resta – e os
poucos sobreviventes dos tempos da guerrilha contra Portugal são hoje
relíquias secas apenas lembradas em aniversários oficiais. Agora, que
soou a hora da verdade e têm de partilhar o poder com uma oposição
obstinada, é com relutância que têm de admitir a trégua que há-de levar,
se tudo correr bem, à paz duradoura prometida para o final deste ano.
- Leia este artigo na íntegra na edição impressa desta semana.
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