sexta-feira, 28 de abril de 2017

MDM exige “investigação séria” sobre corpos descobertos há um ano no centro de Moçambique


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MDM_logoO Movimento Democrático de Moçambique (MDM) defende uma "investigação séria" para apurar a proveniência dos corpos descobertos há um ano, ao abandono e em avançado estado de degradação, entre Gorongosa e Macossa, centro de Moçambique.
"Eu estive lá e vi os corpos espalhados. É necessário que se investigue a sua proveniência. Até agora, não se sabe de facto nada sobre isso", disse à Lusa a deputada do MDM, Sílvia Cheia, questionada a propósito da data.
Passado um ano sobre a descoberta, a maioria das fontes contactadas pela Lusa sobre o ponto de situação das investigações, remeteu-se ao silêncio.
A deputada do MDM foi a única de um partido da oposição a integrar a comissão parlamentar criada para investigar a existência de valas comuns na Gorongosa, centro de Moçambique, denunciada à Lusa por um grupo de camponeses nas proximidades do local onde jornalistas de vários órgãos fotografaram, a 30 de Abril de 2016, um total de 15 corpos em avançado estado de degradação.
A Renamo boicotou a comissão parlamentar (alegando que devia integrar membros da sociedade civil) onde, além do MDM (terceira força parlamentar) também tinha assento a Frelimo, no poder.
Na altura, o presidente da comissão parlamentar Edson Macuacua (Frelimo) negou a informação, considerando que os resultados das investigações permitiram afirmar de forma "categórica, inequívoca e definitiva" que não havia corpos.
Mas Sílvia Cheia lembra que a comissão parlamentar não escalou muitos pontos, limitando os seus trabalhos a uma ponte onde jornalistas já tinham fotografado os corpos.
"A forma como a comissão apareceu - com policiais fortemente armados - assustou as pessoas entrevistadas. E tendo em conta que estávamos num período de conflito na região, o receio foi maior. Mas sabemos que existiam mesmo corpos espalhados, eu própria os vi", reitera ainda hoje a deputada do MDM.
De acordo com a deputada, durante os trabalhos apurou-se que de facto que existiam corpos abandonados e esta informação foi posteriormente submetida a uma comissão permanente do parlamento, mas o ponto não foi debatido.
"O que se disse na altura foi que a Procuradoria da Província de Manica estaria a investigar o assunto para poder apurar como é que os corpos [que estavam por baixo da ponte] foram parar lá", acrescentou Sílvia Cheias.
A deputada critica também a forma superficial como a Procuradora-Geral, Beatriz Buchil, abordou o assunto aquando do recente informe anual no parlamento.
"Sabendo que aquela zona foi fortemente afectada pela crise política e militar, é necessário que se investigue, para que haja responsabilizações. Principalmente quando se tem em conta que isso coincidiu com denúncias de desaparecimento de membros de partidos políticos", observou.
A Lusa contactou a Procuradoria-Geral da República, que disse que a investigação prossegue a nível provincial, sem, no entanto, avançar qualquer detalhe.
O presidente da comissão parlamentar, Edson Macuacua, escusou-se também a prestar mais esclarecimentos.
A procuradoria provincial de Manica disse à Lusa, há dez dias, que vai divulgar em breve os resultados das autópsias a onze dos corpos encontrados.
Os exames forenses aos onze corpos foram concluídos em Março no Hospital Central da Beira (HCB) e os relatórios foram encaminhados para a procuradoria provincial de Manica, disse Bonifácio Cebola, médico-legista e porta-voz do HCB.
A 30 de Abril de 2016, jornalistas de vários órgãos de comunicação social, incluindo a Lusa, observaram e fotografaram 15 corpos espalhados no mato, entre os distritos da Gorongosa, província de Sofala, e Macossa, Manica.
Estes corpos foram também registados por vários órgãos de comunicação social moçambicanos e pela cadeia de televisão Al-Jazira, que mostrou restos humanos ainda visíveis três semanas depois de terem sido descobertos.
Os corpos foram abandonados nas proximidades do local onde camponeses alegaram à Lusa ter visto uma vala comum com mais de cem cadáveres, que foi desmentida pelas autoridades.
Na altura, os jornalistas não conseguiram ter acesso a esse outro local devido à forte presença militar no quadro do conflito que opôs as forças governamentais e o braço armado do maior partido de oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
Lusa – 28.04.2017

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