EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (50)
Bom dia, Presidente. Hoje deveria estar a esfregar as mãos de contente, fechado na ilusão de que a auditoria da Kroll trará resultados palpáveis. Todavia, não me restam mais ilusões. Eu e muitos moçambicanos sem parentes no Governo, na nomenklatura política do dia, fomos estuprados. E os estupradores sequer se deram ao trabalho de aplicar vaselina: foram directos ao assunto!
E como se não bastasse essa fornicação, a entrega do relatório às dívidas ocultas foi adiada. Vou chorar lágrimas de sangue!
Se havia, de certa forma, alguma esperança de se forçar mudanças internas do regime, essas foram decapitadas na quarta-feira, 26, com a aprovação da Conta Geral do Estado de 2015, que inclui as dívidas da MAM e Proindicus. Foram essas dívidas que deixaram o País de rastos. E hoje foram legalizadas pela ditadura do voto frelimista na Assembleia da República (AR).
Agora já não há mais dúvidas nem ilusões: temos que pagar. Mesmo o Laurindos que não teve, desse dinheiro, um vintém para o “My Love”. A aprovação da Conta Geral do Estado de 2015, é tudo menos garantia de um final feliz para os pobres moçambicanos.
E as acções dos deputados da Frelimo, partido que governa este empobrecido Moçambique há mais de 40 anos, não foram, de todo, surpreendentes. Mostraram, mais uma vez, que não são defensores do povo. Estão ali, na Assembleia da República, para defender interesses de um grupelho que rouba o País há décadas, enquanto o povo, a maioria, soçobra na miséria.
Não foram eles –os deputados da Frelimo- que fizeram de tudo para que as dívidas da Proindicus e MAM não fossem discutidas na AR? E mais: até nem queriam que fossem investigadas.
Agora, contra tudo e todos, legalizam-nas. Que ilações há-de tirar o Laurindos quando existe esta pressa toda antes da divulgação do relatório da auditoria da Kroll?
Os deputados da Frelimo, Presidente, não mexem palha sem que seja orientação superior. Neste caso a sua e da Comissão Política.
A pergunta é: o certo não seria o aprovarem a Conta Geral do Estado de 2015, depois de saberem para ondefoi parar o dinheiro que o Governo de Armando Guebuza – o visionário pediu emprestado?
Se o Presidente deu ordens para aprovação, pelos seus deputados, daquela conta, empurra-nos, obviamente, para uma única certeza: o Presidente Nyusi sabe de alguma coisa. Não é o santo que lhe confiamos o nosso voto.
Eu pensei que se tivesse solicitado a auditoria da Kroll, em virtude da aplicação de fundos públicos decorrente de uma decisão política ilegal. Enganei-me. Era para nos entreter. Jamais chegaremos a conhecer a identidade de todas as pessoas envolvidas no processo. Os lesa-pátria. Venceu, mais uma vez, o colarinho branco. Beatriz Buchili, a Procuradora-Geral da República medrosa, trará para o consumo popular, o que achar conveniente. Ela não pode ferir susceptibilidades.
Continuação de uma boa manhã, Presidente. Até sexta-feira. Ah! Já me ia esquecendo: vemo-nos às comemorações do Primeiro de Maio?
DN – 28.04.2017
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