A auditoria da consultora Kroll será determinante, mas é "quase
certo" que o país não vai conseguir regressar em breve aos mercados
internacionais, diz o analista da BMI Research que acompanha o tema.
Em entrevista à Lusa, David Earnshaw disse que “quase de certeza” que Moçambique não vai conseguir aceder aos mercados financeiros internacionais nos próximos tempos e acrescentou que “os riscos agravam-se se a Kroll emitir uma opinião adversa ou negativa no relatório da auditoria” que vai apresentar em meados de maio.
Em particular, David Earnshaw refere que a “recusa do Governo em dar prioridade aos detentores dos títulos de dívida pública” face aos que emprestaram dinheiro à Mozambique Asset Management e à Proindicus está a revelar-se “um verdadeiro entrave ao progresso para algum tipo de acordo ou renegociação dos termos” dos contratos.
O Governo de Moçambique entrou em incumprimento financeiro já este ano, quando falhou a primeira prestação de quase 60 milhões de dólares face à emissão de títulos de dívida pública que resultaram da reconversão das obrigações da Empresa Moçambicana de Atum (Ematum), no valor de 727,5 milhões de dólares.
Posteriormente, falhou também dois pagamentos das prestações dos empréstimos dados à MAM e à Proindicus, assumindo não ter capacidade financeira para fazer face aos encargos e defendendo uma reestruturação das dívidas com os credores.
Questionado sobre o impacto destes incumprimentos no sentimento dos investidores, David Earnshaw disse que “o contágio da crise da dívida ao sentimento dos investidores afetou fortemente todas as áreas que requerem um envolvimento significativo do Governo”, notando que o gás, por exemplo, é uma exceção porque “o Governo tem uma intervenção mínima”.
O analista da BMI Research, uma consultora do grupo que detém também a agência de notação financeira Fitch, considerou também que os sucessivos adiamentos da apresentação da auditoria da Kroll, uma das exigências dos doadores internacionais para voltarem a negociar ajuda financeira a Moçambique, não é um bom sinal.
“O facto de a finalização da auditoria ter sido adiada várias vezes pode sugerir que a Kroll tem enfrentado alguma resistência do Governo em aceder a toda a informação a que quer ter acesso”, concluiu o analista.
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