Informação mais recente do Banco de Moçambique aponta para a continuidade do recurso ao financiamento interno por parte do Estado. Com efeito, até Maio de 2017, o Estado financiou-se, em termos líquidos, em 5,2 mil milhões de meticais, através da utilização de bilhetes de tesouro (títulos emitidos pelo Executivo no Banco de Moçambique para se financiar, contraindo empréstimos de particulares, por uma determinada taxa de juro e por um prazo que pode ser de 91, 64 ou 364 dias). Só nos meses de Abril e Maio utilizou 621 milhões de meticais, elevando a sua dívida em Bilhetes de Tesouro para 15 206 milhões de meticais. Até finais do primeiro trimestre, o financiamento directo do Banco de Moçambique ao Estado totalizou 12 164 milhões de meticais, passando o total da dívida junto ao Banco de Moçambique para 47 322 milhões de meticais. Este valor, adicionado ao financiamento via Bilhetes de Tesouro e Obrigações do Tesouro (que acumulam 15 206 milhões de meticais e 33 342 milhões de meticais, respectivamente), totalizou, até o dia 31 de Maio, 95 870 milhões de meticais de dívida pública interna.
Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) chamou atenção para o facto de o crescimento da dívida pública interna pressionar as instituições de crédito e acabar reduzindo a disponibilidade de recursos para emprestar ao sector privado. É que o aumento do endividamento interno do Executivo tem servido como alternativa para o défice de financiamento externo desde Abril do ano passado, quando os doadores suspenderam o apoio na sequência da descoberta das dívidas que tinham sido escondidas.
FINANCIAMENTO AO SECTOR PRIVADO EM QUEDA
Relacionado a isso ou não, o facto é que os dados do boletim periódico “Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação”, publicado, esta quarta-feira, pelo Banco de Moçambique, revelam que o saldo do crédito à economia no sistema bancário nacional reduziu 12 029 milhões de meticais entre finais de Março e Maio de 2017. Mas argumenta que tal redução reflecte, primeiro, o impacto cambial de 8 555 milhões de meticais negativos (em resultado da apreciação) sobre os saldos de abertura (final de Março) do crédito em moeda estrangeira, na moeda originária e, em segundo lugar, a queda dos empréstimos denominados em meticais na ordem de 4139 milhões de meticais.
O crédito denominado em moeda estrangeira, no período em referência, aumentou no equivalente a 25 milhões de dólares (1 491 milhões de meticais), no entanto, insuficiente para contrabalançar o impacto cambial citado acima.
Em termos anuais, o crédito à economia aumentou 1,9% em Maio, após 17,5% em igual período de 2016, e 7,8% em Março de 2017.
TAXAS DE JURO A RETALHO CONTINUAM ALTAS
Em Maio de 2017, a taxa de juro média dos empréstimos do sistema financeiro com o público com um ano de maturidade (prazo) fixou-se em 28,6%, o que representa um decréscimo de 77 pontos base (pb) comparativamente a Fevereiro passado, e um aumento de 870 pb comparativamente a Maio de 2017.
Ainda em Maio, a taxa de juro média dos depósitos a prazo de um ano situou-se em 17,2%, o que representa um aumento de 96 pb em relação a Fevereiro, e 630 pb relativamente a Maio de 2016.
METICAL EM CONTÍNUA VALORIZAÇÃO
Entre finais de Março e Maio de 2017, o metical manteve a tendência de valorização tendo, no final de Maio, sido cotado a 60,8 face ao dólar americano (67,9 no final de Março), a 66,8 face ao euro (72,4 no final de Março) e 4,6 em relação ao rand (5,2 em Março).
A apreciação contínua do metical, numa situação de elevado diferencial entre a inflação doméstica e a dos principais parceiros comerciais de Moçambique, está a resultar numa apreciação da taxa de câmbio real efectiva (ITCER), que sinaliza a competitividade externa de Moçambique.
O Banco de Moçambique já havia manifestado preocupação com o risco de a apreciação do metical poder prejudicar a competitividade das exportações nacionais, uma vez que torna caros os produtos nacionais no exterior.
ESPERA-SE QUEDA CONTÍNUA DOS PREÇOS DE BENS E SERVIÇOS
As perspectivas para os próximos meses apontam para uma desaceleração da inflação anual em virtude do aumento da oferta dos produtos agrícolas (condições climáticas favoráveis e tréguas no conflito militar); apreciação do metical; efeito do ajustamento em baixa dos preços dos combustíveis líquidos e desaceleração da inflação de produtos alimentares na África do Sul.
O Banco de Moçambique lembra que nos meses de Abril e Maio de 2017 voltou-se a observar um abrandamento da inflação (subida do nível geral de preços), com os preços internos, medidos através do Índice de Preços no Consumidor (IPC) de Moçambique, a aumentarem em apenas 0,75% (abaixo da inflação de 2,11% registada no período de Fevereiro a Março). Este incremento dos preços elevou a inflação acumulada para 5,09%, mas ainda assim abaixo do observado em igual período de 2016 (8,47%), reforçando assim as perspectivas de refreamento das pressões inflacionárias. Com efeito, apesar de ainda se manter a um nível elevado, a inflação anual abrandou de 21,57%, em Março para 20,45% em Maio (18,27% no período homólogo de 2016). Entretanto, a inflação média anual reforçou a sua trajectória de aumento ao fixar-se em 22,33% (8,60% em Maio de 2016).
RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS
Entre Março e Maio de 2017, as reservas internacionais líquidas (reservas em moeda estrangeira que garantem pagamento de dívidas, realização de importações e outras transacções com o exterior) cresceram USD 244 milhões, tendo o Banco de Moçambique comprado dos bancos comerciais USD 338 milhões, fazendo com que as reservas brutas no final de Maio equivalessem a 6 meses de importações de bens e serviços não factoriais, excluindo as dos megaprojectos.
GRANDES ECONOMIAS RETOMAM CRESCIMENTO
Informação recente confirma o bom momento que as economias avançadas têm vindo a atravessar, tendo o crescimento se mantido robusto em quase todas as economias no primeiro trimestre de 2017, e a inflação continuado a convergir para as metas de médio prazo (cerca de 2%).
O bom desempenho destas economias resulta fundamentalmente do pacote de estímulos monetários e fiscais que as respectivas autoridades têm vindo a implementar há alguns anos, com vista a restaurar a confiança dos consumidores e dos investidores.
Aliás, na maior parte das economias, o consumo e investimento privados têm sido os principais motores do crescimento, num contexto de procura externa igualmente favorável.
RECUPERAÇÃO DO BRASIL E DA RÚSSIA CONSOLIDAM ECONOMIAS EMERGENTES
Dados recentes indicam que nas economias dos mercados emergentes, a par da manutenção, no primeiro trimestre de 2017, de um crescimento robusto na China, na Índia e na Coreia do Sul verificou-se também uma contínua recuperação económica no Brasil e na Rússia, países que durante um longo período regrediram na sequência da queda da procura e dos preços internacionais das mercadorias primárias.
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