Um grupo de pessoas
Há certas ocupações que não são de se invejar. A de Chefe de Estado é
uma delas. Milhões e milhões de pessoas estão com os olhos virados para
si à espera de soluções para a sua vida, mesmo naquelas coisas que
deviam ser da responsabilidade de cada um. Quando o país ainda por cima é
pouco desenvolvido, tem preguiçosos sem iniciativa no aparelho de
Estado e gente que não tem nenhum problema em colocar o país em chamas
para reclamar irregularidades eleitorais a ocupação fica menos invejável
ainda. E esses não são os únicos problemas. A pessoa tenta fazer alguma
coisa, aquilo que considera melhor nas circunstâncias, e ao invés de
ser elogiado só recebe críticas, críticas essas vindas de pessoas que se
consideram sabichonas lá do conforto do seu mural de Facebook. É
difícil não reagir mal a isso e chegar mesmo a desejar o silêncio dessa
gente.
Nessas circunstâncias, um desabafo como o que o Chefe de
Estado soltou recentemente é perfeitamente compreensível: “Há um grupo
de pessoas que passa a vida a encontrar coisas erradas no que fazemos,
sem nunca encontrar ou indicar possíveis saídas ou soluções. Isso é
cobardia”. E mesmo quando ainda no mesmo diapasão o Chefe de Estado
considera essas pessoas de “agitadoras para que haja violência em
Moçambique” e até “criminosas” dá para entender até que ponto ele está a
reagir sob o efeito do peso da responsabilidade que recai sobre os seus
ombros.
É fácil rebater cada um dos desabafos. Se ele tivesse
sido eleito para fazer coisas que agradem a todos não haveria
necessidade de eleições. O povo que ele diz ser seu patrão seria
uniforme e a democracia não seria o melhor método para o servir. Não
cabe a quem critica encontrar soluções, pois não há nada mais frustrante
do que propor coisas que nunca são feitas. É mais eficiente que a
pessoa que recebe as críticas procure ela própria pelas soluções. Essa
pessoa tem também plena liberdade para ignorar as críticas. Cobardia é o
que os seus assessores e colegas no governo provavelmente fazem, caso
não o critiquem, quando permitem que ele transforme um órgão tão
importante como a Presidência da República numa espécie de Inspeção
Geral do Estado e que trate dum assunto tão importante como a paz no
país sem o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade e sem dar
nenhuma satisfação.
“Agitadores” é um termo infeliz nas nossas
circunstâncias porque todos nós sabemos o que isso num passado recente
significou. Já o termo “criminoso” é complicado porque é, neste caso,
aplicado a pessoas que apenas manifestam discordância em relação à forma
como o processo é conduzido. Não é por essas pessoas criticarem que
haverá “bang-bang” no país. Em contrapartida, o Chefe de Estado está a
negociar com um indivíduo que violou abertamente a constituição, assumiu
a morte de membros das forças de defesa e segurança assim como a morte
de civis e apostou na divisão do país. Ao fazer isto, o Chefe de Estado
aceita esses crimes e assume o sacrifício de vidas inocentes como o
preço que se deve pagar para lidar com os problemas do país.
Mas
conforme eu dizia, o desabafo não é o problema. Tudo que é fácil de
refutar não pode ser problema. O problema é a falta de foco no meio de
tantos problemas. Se ele está tão seguro em relação ao caminho que
escolheu, se ele sabe que está a fazer aquilo que é correcto e
necessário neste momento porque se deixa distrair por cobardes,
agitadores e criminosos? É só ignorar essa gente e fazer aquilo que
precisa de ser feito. Aqui vem ao de cima um problema que eu apontei
logo aquando da sua investidura como Presidente. Critiquei o seu
discurso que me pareceu fraco. Lembro-me que pouca gente concordou
comigo então, ou melhor os que concordaram comigo foram as pessoas que
sempre estão contra tudo o que o governo faz. Eis o que escrevi na
altura:
“Há duas coisas que ele não disse, mas que em minha
opinião devia ter dito. Sei que é uma questão de apreciação política
diferente. Primeiro, eu acho que ele devia ter falado das
irregularidades durante as eleições. Ele é para mim, e para todo o
moçambicano sensato, um presidente legítimo. Mas as eleições foram
manchadas. Ele devia ter dito algo nesse sentido porque isso teria
criado espaço para ele estender uma mão aos que estão a caminhar
perigosamente para o mato político. Naquela passagem onde ele diz que é
presidente de todos os moçambicanos, ali mesmo, ele devia ter dito ‘eu
tenho consciência de que nem todos se revêm em mim; tenho consciência de
que restam dúvidas em alguns compatriotas sobre a legitimidade do
processo; eu tenho consciência disso; espero que todos os que estão
desapontados me deem a sua mão patriótica e se juntem a todos nós na
nossa aposta de trabalharmos com afinco na consolidação de instituições e
procedimentos que nos ajudem a gerar maiores níveis de confiança; as
tarefas que temos pela frente precisam de todos nós, nem que seja para
nos ajudarem a melhorar através da crítica construtiva dentro da ordem
constitucional; Moçambique é uno e indivisível; não é cada qual seguindo
o seu caminho que vamos criar as instituições que queremos; é
trabalhando juntos, de mãos dadas entoando com o nosso hino, que vamos
construir este país pedra a pedra’. E por aí fora…”
Sem algo
assim logo no início é difícil ter a impressão de que estas negociações
com o líder da Renamo sejam mais do que manifestação dum alto sentido de
improvisação. A solução para o problema da instabilidade política não é
a acomodação da Renamo, mas sim a melhoria do sistema político. E nisso
todas as forças vivas da sociedade têm que estar envolvidas.
A outra coisa que escrevi foi a seguinte:
“Devia também ter falado de Chitima e das cheias doutra maneira. Não
devia ter apenas mostrado solidariedade e prometido trabalhar. Isso é o
mínimo que esperamos dele. Devia ter aproveitado esta oportunidade ímpar
para dizer como é que ele pensa interpretar o acto governamental. Ele
devia ter dado uma ideia do que vai ser a sua governação, isto é como é
que ela vai abordar este tipo de problemas (recorrentes, pelo menos as
cheias). Vai reforçar a autonomia local para que seja ela a dar a
resposta? Vai insistir na centralização? Vai pedir mais ajuda? Vai
integrar mais o sector privado?”. Aqui também quando o vejo nesse papel
de Inspector Geral do Estado vejo a confirmação da impressão que se
ganha de que estamos a ser governados por pessoas que não parecem ter
uma ideia muito clara do que estão a fazer. Se todo o sector do aparelho
de Estado que o Chefe de Estado visita está cheio de problemas, muitos
deles de fácil solução conforme o que ele próprio tem andado a dizer,
então das duas uma: ou ele colocou as pessoas erradas para dirigirem
esses sectores (com a agravante de que essas pessoas não lhe estão a
dizer a verdade sobre o que se passa nos seus redutos) ou então só agora
é que ele se está a inteirar das coisas para poder desenhar a
estratégia que nos vai trazer o bem-estar.
O foco que falta ao
Presidente da República e, se calhar, ao seu governo, está nestes dois
assuntos aqui, não está em quem critica. Como é que ele pensa em
melhorar o sistema político de modo a que todos os moçambicanos nele se
revejam? Que tipo de governação precisamos para que não estejamos sempre
a resolver os mesmos problemas? Estes é que são os desafios.
Agora, é natural que ele não veja nesta crítica uma solução e que, por
isso, eu seja candidato a cobarde. Mas as pessoas que lhe fazem o
relatório do que parte do povo que ele elegeu seu patrão anda a dizer
sobre o que ele faz, ou não faz, deviam tomar nota. Servir o país não é
andar a queixar ao chefe. É reflectir seriamente sobre o que se diz e
tirar as ilações necessárias. É não deixar que o Chefe se distraia com
coisas superficiais.
Mas se calhar é mais prudente deixar de me
pronunciar sobre os assuntos do país. A mensagem está cada vez mais
clara. Na Pérola do Índico só tréguas é que não têm prazo. Grupo de
pessoas tem.
Wilson Profirio Nicaquela E essa prof? "... Mas se calhar é mais prudente deixar de me pronunciar sobre assuntos do País..."
Posso
entender da mesma forma que o prof, de que está igualmente desabafando?
Devemos e nos preocupar com retrocesso e não progressos? Para que tipo
de crítica /os pode ele (o PR) estar fazendo referência?
Leo D. P. Viegas Li
com muito interesse este seu post prof. Os ultimos paragrafos me
preocupam por dar a impressao de estar a capitular. Que se diga o pais
precisa de analises como as suas. Entretanto enquanto lia o seu post
dentre varios textos ocorrerem-me tres: Nicolau
Maquiavel (mal conhecido entre nos excepto suas maximas) sobretudo o
capitulo (Dos Secretarios que os Principes Mantem Junto de Si) e outro
capitulo (Como Evitar os Aduladores). Dois outros textos sao de Robert
Fatton (Predatory Rule:State and Civil Society in Africa) e o outro
texto e de Patrick Chabal e Jean Pascal Daloz ( Africa Works: Disorder
as Political Instrument ). Quando les estes textos a perola do indico
parece encaixar bem de tal maneira que nada me surpreende. Talvez o
Elisio tenha uma opiniao diferente. Mas fico a aguardar por novas
analises sobre o pais. Bom domingo.
Moises Caetano É a historia do burro, velho e o menino.
Lourenco Rosario Elísio!
Boa Monjane O que é na sua verdade, desenvolvimento?
Xavier Jorge Uamba Uff.
O caranguejo nao deseja andar inclinado, nasce torto. Acho que
precisamos de assassinar a maldita teoria de conspiração que reside em
nós, quando formos capazes de colhar nós mesmo com dois olhos
transparentes, com o dedo indicador virado para nós na busca inteligente
e sadia de soluçoes para os proprios desafios Jose Bione Carquete
As últimas dicas à oposição moçambicana
No (programa) Noite Informativa da sexta-feira, o comentador AJ Frangoulis, por sinal membro do MDM, o segundo maior partido da oposição, fez uma crítica à toda oposição com assentos parlamentares por nunca terem concertado as posições e submetido uma única petição no Conselho Constitucional.
No Noite Informativativa da quinta-feira, o comentador Adelino Buque, por sinal membro da Frelimo, apontou o problema dos líderes dos partidos políticos em Moçambique em nunca se encontrarem fora da Assembleia da República ou de actividades parlamentares. Buque fazendo referência no diálogo telefónico entre Nyusi e Dhlakama, não especificou que o problema era apenas dos partidos políticos da oposição, mas todos.
No Opinião feminino, a Fatima Mimbire, activista social, fez uma observação sobre a solicitação do MDM ao Providor da Justiça para submeter uma petição no Conselho Constitucional para a provação da Constitucionalidade da aprovação da Conta geral do Estado pela bancada da Frelimo. Se bem que percebi, a Fátima coloca a questão pelo facto de aquilo ainda não ter sido promulgado pelo Presidente da República e publicado no Boletim da República. Mas o MDM devia esperar por isso? Claro que não, mas encontrar a via legal para submeter a petição directamente no Conselho Constitucional da República e sobre essa via, a Fátima já havia sugerido na semana anterior. A oposição devia o fazer.
Em 2015 escrevi aqui sobre a alergia que os líderes da oposição têm em se encontrarem e tratar dos assuntos do país de forma concertada. Escrevi e era nesse momento em que os líderes da oposição mais se conformavam em um possível café e uma pose com o Presidente da República acompanhado de umas palavras bonitas sem conteúdo nenhum. Mas em estados de direito democrático, encontros de líderes dos partidos democráticos são regulares. No parlamento, as lideranças das bancadas aproximam-se para a concerteção sobre algum assunto e isso inclue o partido no poder, precisando. Assim funcionam as democracias em que para governar não seja necesário ter dois terços de assentos no parlamento, os dois terços que em certos países como o nosso servem para manifestação de arrogância insanável.
Finalmente, a concertação e a submissão de uma única petição no Conselho Constitucional para impugnação da legalização dos créditos ilegais pelos partidos políticos representados na Assembleia da República teria dado esperança a muitos moçambicanos no que concerne a uma oposição unida e não só. Não só, porque os indignados são moçambicanos independentemente da sua cor partidária. E mais os partidos representados no parlamento deviam ter reunido com outros partidos extra-parlamentar para colher a opinião. Lutero Simango, Ivone Soares, Domingos Raul, Cornelio Quivela
No (programa) Noite Informativa da sexta-feira, o comentador AJ Frangoulis, por sinal membro do MDM, o segundo maior partido da oposição, fez uma crítica à toda oposição com assentos parlamentares por nunca terem concertado as posições e submetido uma única petição no Conselho Constitucional.
No Noite Informativativa da quinta-feira, o comentador Adelino Buque, por sinal membro da Frelimo, apontou o problema dos líderes dos partidos políticos em Moçambique em nunca se encontrarem fora da Assembleia da República ou de actividades parlamentares. Buque fazendo referência no diálogo telefónico entre Nyusi e Dhlakama, não especificou que o problema era apenas dos partidos políticos da oposição, mas todos.
No Opinião feminino, a Fatima Mimbire, activista social, fez uma observação sobre a solicitação do MDM ao Providor da Justiça para submeter uma petição no Conselho Constitucional para a provação da Constitucionalidade da aprovação da Conta geral do Estado pela bancada da Frelimo. Se bem que percebi, a Fátima coloca a questão pelo facto de aquilo ainda não ter sido promulgado pelo Presidente da República e publicado no Boletim da República. Mas o MDM devia esperar por isso? Claro que não, mas encontrar a via legal para submeter a petição directamente no Conselho Constitucional da República e sobre essa via, a Fátima já havia sugerido na semana anterior. A oposição devia o fazer.
Em 2015 escrevi aqui sobre a alergia que os líderes da oposição têm em se encontrarem e tratar dos assuntos do país de forma concertada. Escrevi e era nesse momento em que os líderes da oposição mais se conformavam em um possível café e uma pose com o Presidente da República acompanhado de umas palavras bonitas sem conteúdo nenhum. Mas em estados de direito democrático, encontros de líderes dos partidos democráticos são regulares. No parlamento, as lideranças das bancadas aproximam-se para a concerteção sobre algum assunto e isso inclue o partido no poder, precisando. Assim funcionam as democracias em que para governar não seja necesário ter dois terços de assentos no parlamento, os dois terços que em certos países como o nosso servem para manifestação de arrogância insanável.
Finalmente, a concertação e a submissão de uma única petição no Conselho Constitucional para impugnação da legalização dos créditos ilegais pelos partidos políticos representados na Assembleia da República teria dado esperança a muitos moçambicanos no que concerne a uma oposição unida e não só. Não só, porque os indignados são moçambicanos independentemente da sua cor partidária. E mais os partidos representados no parlamento deviam ter reunido com outros partidos extra-parlamentar para colher a opinião. Lutero Simango, Ivone Soares, Domingos Raul, Cornelio Quivela
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