sábado, 20 de maio de 2017

Memórias sociais de ontem, dilemas políticos de hoje”

“MOÇAMBIQUE: Memórias sociais de ontem, dilemas políticos de hoje” por VITOR ALEXANDRE LOURENÇO(2009)

MoçambiqueMemoriasSociais_capaPRÓLOGO
Esta obra singular, concluída que foi a sua gestação, foi-me apresentada ritualmente pelo autor, num encontro programado no Museu Nacional de Etnologia de Lisboa. Ali, a sós, assumi a honrosa cumplicidade de elaborar o prólogo, desta tão arrojada investigação histórica de memórias sociais de Moçambique de ontem, obviamente com os seus dilemas políticos de hoje.
O autor, Vítor Alexandre Lourenço, versa o tema, tomando para matriz o exemplo étnico, histórico e político de Mandlakazi, dos últimos cem anos (do período colonial à actualidade). O tema coloca em mesa redonda o Poder Tradicional, frente-a-frente, tanto com a FRELIMO como com a RENAMO, questionando: qual o papel da Autoridade Tradicional nas actuais «mudanças políticas»? Qual o seu enquadramento étnico, histórico e político em Mandlakazi? E que relações políticas se estabelecem (coexistência de distintas lógicas legitimadoras) entre o Estado e as Autoridades Tradicionais?
Memórias sociais de ontem do Moçambique de hoje, são valiosas recordações que a tradição oral ainda pode testemunhar para a posteridade. São memórias verídicas que Vítor Alexandre Lourenço não presenciou, mas que em memória dos antepassados, descreve cientificamente, como fiel depositário, Mestre e protagonista historiador que é.
Dilemas políticos de hoje? Obviamente que sim: contradições, situações embaraçosas, perplexidades resultantes de «mudanças políticas», porque Moçambique do pós-independência navega veloz, numa órbita política, económica, às vezes contraditória e irreversível, como foi a conquista da Liberdade e da Paz, rumo à plenitude da sua história, construída «pedra-a-pedra», desde 25 de Setembro de 1964, data do início da Luta Armada de Libertação Nacional.
Esta importante obra historiográfica, para além de revelar as memórias sociais do período colonial, argumenta sobre as difíceis proposições contraditórias do «Poder da Frente ao Poder do Estado» e a situação da Autoridade Tradicional, tomando para exemplo Mandlakazi.
O mérito desta obra reside no significado histórico e na dimensão do significado dos acontecimentos inventariados que se desenrolaram na história, no tempo colonial (1930 - 1974), em que eram vigentes os dois poderes: o poder tradicional e o poder colonial. O sistema colonial, enxertado no sistema tradicional, asfixiava as chefaturas, a identidade e etnicidade moçambicanas. O poder redutor colonial sobrepunha-se à estrutura e legitimação tradicional, retirando-lhe a sua eficácia antropológica, social e religiosa. Em Mandlakazi, no então distrito de Gaza, o Poder Tradicional estava nas mãos do hosi que era a referência de união popular, entidade social legítima perante a lei do povo, no plano escatológico era o mediador dos Ancestrais. O poder colonial enxertando-se nesta cultura, criou o dilema da etnicidade, identidade e, foi capaz de mascarar e «assimilar» a identidade, através da cumplicidade com o regime colonial europeu, criando um ser novo, uma espécie de fantasma, o «negro-branco», denominado «assimilado».
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