sábado, 8 de julho de 2017

TRÉGUAS, POSIÇÕES E DESARMAMENTO


O país vive momentos animadores por conta de uma trégua por tempo indeterminado, que sucedeu uma série de "installment tréguas". São visíveis os ganhos tangíveis e intangíveis desta trégua "a la Renamo."
Quero crer que todos os moçambicanos, sem excepção, querem e fazem (cada um à sua maneira) esforços para se alcançar e manter este bem comum.
Entretanto preocupa-me, em primeiro lugar, que assuntos de Defesa e Segurança virem assunto de debates nos mídia, como se fosse um convite para um churrasco ou café. O problema é que as nossas FDS e o Estado já foram banalizados com todas estas supostas inspecções, vasculhas ou interrogatórios por entidades estranhas. O que é que mais nos resta? Ou seja, será que estamos em condições de reivindicar que temos o direito de algo que nos reste, a ser tratado com dignidade?
Mas o mais importante é que se por um lado o Governo afirma que já foram removidas as posições das FDS outrora ocupadas graças a abnegação, sangue, suor e lágrimas dos melhores filhos deste país, a Renamo afirma que só houve movimentação de posições. Para além de que, como defendi sempre, não fazer sentido essa de exigir que forças republicanas sejam impedidas de estar em certas zonas do território nacional (lembro que o Estado-Maior General está a escassos metros da Assembleia da República, onde se acham quadros seniores da Renamo), não acredito que se remova uma posição num par de dias.
Mas mais do que isso, pela intervenção do Ministro da Defesa Nacional nos últimos dias, fico sem saber se efetivamente as posições foram removidas (lembro que para mim era bom que não o fossem), pois numa delas perguntou: "como vamos remover as posições se eles também não querem entregar as armas?"
A esse respeito, mais uma nota: será que a entrega de armas pela Renamo faz parte do "deal"? Mas como saber se este processo só têm sido discutido a dois e ao telefone? Convém referenciar que mesmo em assuntos costumeiros como o lobolo, não é o noivo que vai directamente falar com a donzela, pedindo-a em casamento, mas uma delegação da família do jovem, que se encontra com a delegação congênere do lado da noiva.
Se este modelo de diálogo telefônico levar a paz efectiva, folgo por isso, mas não deixo de alertar para os riscos que isso acarreta!
PS: alguém sabe qual é a contrapartida que a Renamo deu ao Presidente Nyusi para exigir, de forma autoritária, o desmantelamento das posições? Não me venham dizer que é não atacar, porque isso é a essência da trégua!
Comentários
Floriberto Fernandes
Floriberto Fernandes Alexandre Chivale, o PR Nyusi tem estado a pedir, insistentemente, a todos moçambicanos, calma e paciência. Pretende-se fechar gaps de a 42 anos uma vez que o país nunca viveu paz efectiva desde a independência. Então vamos dar-lhe algum crédito. Alias ele disse em Tete, que há agitadores e que não fazem fé no esforço que ele e o velho Djakas estão a fazer para, de uma vez para sempre, pôr o país em paz. Por isso acho que uma análise como esta, mesmo estando muito bem elaborada como está, não ajuda muito. Temos que estar cientes que para termos os moçambicanos reconciliados e em paz vamos ter que "engolir sapos" como fez o Presidente da Colômbia para acabar uma guerra com mais de 50 anos e 200 mil mortos. Viva o Presidente Nyusi e viva a paz.

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