rémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2017 PMR Africa
Há matéria bastante para investigação no sumário Kroll, mas:
Ainda há militares
à entrada da Serra
Ilec Vilanculos 4
TEMA DA SEMANA 2 Savana 07-07-2017
José Jaime Macuane, um dos
analistas políticos mais respeitados
de Moçambique, disseca
ao SAVANA sobre algumas
ilações que se podem tirar do sumário executivo da firma internacional
Kroll às chamadas dívidas ocultas.
O académico tem dúvidas sobre a
capacidade de a Procuradoria-Geral
da República (PGR) agir contra figuras
da elite política que possam
estar envolvidas no escândalo dos
empréstimos secretamente avalizados
pelo Governo de Armando
Guebuza.
“Não. Não acho que [a PGR] tenha
[capacidade].”, declara.
Sobre o papel que o actual chefe de
Estado, Filipe Nyusi, teve no caso,
quando era ministro da Defesa, Macuane
entende que a divulgação de
informação nas redes sociais com
documentos oficiais saídos do Gabinete
do então ministro da Defesa
e alguns por ele assinados deita por
terra a ideia de que o Presidente
Nyusi desconhecia as operações das
dívidas ocultas.
“Contudo, [essa informação] não
prova que ele esteja envolvido na
parte obscura dessa operação”.
Sobre a situação política no país, o
analista considera que, enquanto
Afonso Dhlakama for politicamente
relevante, não vislumbra a possibilidade
de o pacote legislativo sobre
a descentralização não ser aprovado
antes de 2019, porque é central
à pacificação do país, pelo menos na
perspectiva do líder da Renamo.
Finalmente foi liberto o tão aguardado
sumário executivo do Relató-
rio Kroll, que provocou uma verdadeira
hecatombe de reacções. Como
é que reage a este documento que,
basicamente, confirma o que já se
escrevia na imprensa internacional e
nacional e se debatia em alguns círculos
restritos?
Há muitas reacções que se pode ter
em relação a este documento. Uma
delas, a mais chocante, é do extremo
erro de cálculo, e diria até amadorismo,
com que se arquitectou a opera-
ção de financiamento das três empresas
(Ematum, ProIndicus e MAM) e
seja lá do que for, mesmo sob a capa
pomposa de patriotismo, defesa da
soberania e independência económica.
Chocou-me confirmar aquilo que,
como disse, já se sabia: as empresas
não eram economicamente viáveis e o
relatório chama atenção à gestão das
três empresas por pessoas sem capacidade
e experiência de gestão de empresas
daquele calibre. Portanto, urdiu-se
um plano supostamente genial
e nem sequer se pensou em indicar
pessoas que pudessem colocar o plano
a funcionar adequadamente para
se atingir os objectivos definidos. O
segundo elemento é a informalidade
das nossas instituições, que a veria em
duas vertentes. A primeira é a forma
como altos gestores públicos e com
larga experiência aceitaram cometer
ilegalidades convencidos de que estavam
a defender o seu país. Isso confirma
também o que já sabemos, há
uma informalidade que campeia e que
se sobrepõe às instituições formais e
até às vezes a substitui. A segunda
vertente, mais preocupante, é o poder
que o aparelho securitário parece
ter sobre os destinos do país. Aquilo
que em outras paragens se chama por
“deep state”, ou Estado profundo. O
Estado profundo funciona como um
Governo das sombras, que subverte
as instituições existentes, se constitui
em poder paralelo e até se arvora
o poder de violar a constituição. Eu
não separaria este “deep state” dos fenómenos
de repressão, com mortes e
intimidações que vivemos nestes últimos
anos e até das curvas e contracurvas
e recuos da negociação pela paz.
Em alguns casos a repressão parece
ter sido ligada à questão das dívidas
ocultas. O estado profundo é um verdadeiro
perigo à democracia e à nossa
sobrevivência como Estado, apesar de
alguns dos seus autores argumentarem
que defendem a pátria. No fim,
paradoxalmente, de uma tentativa desastrosa
de defender a nossa soberania,
conforme vista por um grupo sem
legitimidade institucional para definir
unilateralmente o interesse público,
terminamos piores do que estávamos;
expostos ao escrutínio de organiza-
ções estrangeiras e comprometendo
futuro do nosso desenvolvimento
económico. Por isso é que a minha
reacção inicial de choque foi com o
extremo amadorismo dos executores
desta operação. E quando digo isso
não quero dizer que eles sejam maus
profissionais no que regularmente
fazem, mas sim na forma como pretenderam
entrar em operações complexas
a nível internacional, com organizações
e instituições que operam
nesta esfera com as quais não se deve
interagir com amadorismo. Espero
que tenha ficado a lição para o país de
que não se deve brincar com o capital
internacional.
Do sumário executivo do relatório
de auditoria, avulta a falta de cooperação
por parte de algumas entidades
envolvidas no caso das chamadas
dívidas ocultas. Considera que
o sentimento de impunidade e protecção
ao mais alto nível do Estado
pode ter encorajado esta postura?
Eu enquadraria isto naquilo que falei
antes, a existência de um poder paralelo
que não dá a mínima para as instituições
formais. Tenho a impressão
que alguém às vezes revoga a Constituição
quando lhe convém, não nos
avisa e não temos mecanismos para
trazê-la de volta. Isso é preocupante
para o nosso futuro como país.
Segredo de Estado
Acha que é coerente o argumento
de segredo de Estado evocado pelas
referidas entidades para a falta de
cooperação com os auditores? Não
houve um recurso abusivo ao instituto
de segredo de Estado?
Depende de como está estruturada a
questão de segredo do Estado dentro
da prática estatal existente. Em Mo-
çambique é fácil alegar-se segredo de
Estado para qualquer coisa. Mesmo
na administração pública, você pode
ir a uma instituição pública e pedir
legislação sobre o seu funcionamento,
publicada no Boletim da República,
não raras vezes, o funcionário lhe
pode dizer que precisa de autorização
do seu superior hierárquico para disponibilizar
o documento que é público.
Dentro desta lógica que descrevi,
não espanta. Há uma certa coerência
no recurso a esse instituto. Mas aqui
temos de entender o segredo de Estado
de um modo menos inocente,
como mecanismo de protecção de
uma operação que acredito que teve
elementos realmente em defesa do
Estado, mas também ilicitudes que
podem implicar figuras com poder
político. Neste âmbito, num contexto
em que se usa abusivamente do
segredo de Estado e nunca o mesmo
foi colocado a uma interpretação material
por quem de direito para analisar
a sua funcionalidade à integridade
do Estado, não nos devemos espantar
que assim tenha sido.
Após a publicação do relatório, a
expectativa é que o Ministério Pú-
blico faça a competente investigação
forense e dê andamento ao processo
judicial para a devida responsabilização
criminal e civil. Acha que o
Ministério Público moçambicano
tem a necessária autonomia para
cumprir esse dever?
Primeiro, é preciso ver se o Ministério
Público tem capacidade para uma investigação
forense sobre um assunto
tão tecnicamente complexo. Como
deve estar lembrado, no início deste
processo foi discutido se seria uma
auditoria forense ou não e depois se
ficou com o nome de “auditoria independente”.
Eu não sei em que se parece
um relatório de auditoria forense,
porque nunca li nenhum. A questão
que tenho é se o relatório integral da
auditoria da Kroll está próximo a de
uma auditoria forense. Pela leitura
do sumário executivo do relatório da
Kroll pode-se dizer que há matéria
bastante para fazer investigação, mas
ao mesmo tempo há aspectos técnicos
de operações financeiras que me
questiono se o MP tem capacidade
para dar seguimento sem apoio externo.
Quanto à autonomia do MP, tenho
minhas dúvidas, mas ainda tenho
esperança. Apenas o que acho que
nos deve colocar em alerta é de não
nos empolgarmos quando recebermos
gato por lebre. O que quero dizer com
isso é que devemos olhar para autonomia
do Ministério Público de forma
crítica: no passado levou à barra
de tribunal figuras políticas, mas que
não me parece ter sido por zelo em
combater a corrupção e outros crimes,
mas como consequência das dinâmicas
de poder dentro da elite governante,
isto é, como ajustes de contas
e outros expedientes que não necessariamente
o cumprimento da sua
missão. Em suma, acho que devemos
entender a autonomia do MP como
também condicionada pela correlação
de forças dentro da elite governante,
que define quem deve ir à frigideira
para resolver questões internas e para
aplacar o clamor popular pela justiça,
mas que no fim não é uma genuína
responsabilização.
Mas acha que a PGR tem capacidade
para enfrentar as elites políticas
envolvidas nestas operações?
Não. Não acho que tenha. Penso que
depende do apadrinhamento polí-
tico, como sempre precisou. Mas o
ambiente político pode ser propício
a este apadrinhamento. Por exemplo,
a competição e as disputas internas
dentro do partido Frelimo, com o
aproximar do XI Congresso e o jogo
da sucessão política e indicação do
candidato presidencial para as elei-
ções de 2019, podem determinar o
apoio ou a falta dele à empreitada da
PGR.
Envolvimento de Nyusi
O facto de o actual chefe de Estado
ser ministro da Defesa à altura da
contracção das dívidas mina a sua
autoridade política na sua eventual
determinação em ver o caso devidamente
esclarecido?
O vazamento de informação nas redes
sociais com documentos oficiais
saídos do Gabinete do então Ministro
da Defesa e alguns por ele assinados
deita por terra a ideia de que
o presidente Nyusi desconhecia as
operações das dívidas ocultas. Contudo,
não prova que ele esteja envolvido
na parte obscura dessa operação,
que é a sobrefacturação, aquisição de
bens que não eram parte do empréstimo
e a existência de equipamento
com especificações inadequadas para
o trabalho para o qual foi adquirido.
Também o posicionamento do actual
Ministro da Defesa de que se recusou
receber o material que lhe estava a ser
entregue, por ser inadequado, coloca
o presidente numa posição de benefício
da dúvida. Resta saber se os factos
materiais reforçam essa ideia de
pouco ou nenhum envolvimento do
presidente em todas as facetas desta
operação. E só mesmo essa informa-
ção, que não temos (pelo menos eu
não tenho) é que nos pode dizer se o
presidente está em posição de força
ou de fraqueza. E isso talvez só poderá
ser esclarecido com a divulgação de
todo o relatório.
Acredita numa aliança entre as alas
desavindas dentro do partido de
modo a apaziguar a situação?
A questão é, havendo acordo entre as
partes, como a Frelimo vai lidar com o
resto da sociedade. Se vai passar a ter
uma cultura de Estado mais efectiva,
ou se vai aumentar a repressão para
se dominar a sociedade mais descontente?
Não sei. O que penso é que a
Frelimo está colocada numa situação
de ter de fazer escolhas difíceis.
Os resultados, ainda que parciais,
do sumário executivo podem provocar
danos à imagem da Frelimo e de
Filipe Nyusi?
Da Frelimo já estão a provocar. Começando
pela inclusão das dívidas na
Conta Geral do Estado. Fica complicado
a Frelimo argumentar que tem
cultura de Estado e se identifica com
os interesses do povo depois da forma
como se posicionou em relação às dí-
vidas ocultas. Quanto a Nyusi, ainda
tem o benefício de ser visto, no meu
entender de forma perigosamente
condescendente (porque o enfraquece),
como o presidente que ainda não
controla o seu partido e ainda existem
forças que o combatem. Esta imagem
pode lhe permitir se distanciar de alguns
posicionamentos impopulares
do seu partido, mas não por muito
tempo e nem de forma eficaz, porque
alguns podem comprar essa ideia
outros não. Mais ainda, logo, logo o
presidente vai precisar do seu partido
unido para fazer campanha por ele
em 2019, se conseguir sair como candidato
da Frelimo no XI Congresso.
E em que condições acha que chegará
Nyusi ao próximo congresso da
Frelimo na sequência da divulgação
do sumário executivo da auditoria,
tendo em conta as graves más prá-
ticas que parecem ter ocorrido em
todo o processo das chamadas dívidas
ocultas?
Este relatório tem um grande potencial
de ser fracturante, porque a existir
responsabilização implica sacrificar
alguns camaradas e isto potencialmente
pode gerar divisão e conflitos
internos. Para mim é difícil antever se
responsabilizar alguns vai aumentar
ou diminuir o poder de Nyusi antes
do congresso, porque ainda não sabemos
do grau e gravidade do seu envolvimento
nas dívidas ocultas. Até
ao congresso só faltam dois meses e
meio. Se até lá houver alguma movimentação
do Ministério Público, em
termos de dedução da acusação aos
envolvidos, aí poderemos ter uma leitura
melhor.
A Frelimo pode sair “gravemente
ferida” em caso de um processo judicial
isento em relação aos autores
do escândalo das dívidas ocultas,
tendo em consideração o poder
dos envolvidos?
No sumário do relatório Kroll há matéria bastante para investigação, mas:
Duvido da capacidade da PGR
Por Francisco Carmona
“Em Moçambique é fácil alegar-se segredo de Estado para qualquer coisa”
TEMA DA SEMANA Savana 07-07-2017 3
Faz tempo que alguns militantes de
proa da Frelimo, como Sérgio Vieira,
Teodato Hunguana, Graça Machel e
Jorge Rebelo e há pouco tempo o Secretário
Geral da ACCLN, Fernando
Faustino, clamam por uma moraliza-
ção do partido Frelimo. Esta é uma
oportunidade para a moralização,
embora tenha um custo alto. Não há
como ser feita sem abrir feridas, algumas
de lenta ou difícil cura. Mas ao
mesmo tempo a Frelimo perde terreno
no apreço popular, pelo menos nas
zonas urbanas, seu antigo bastião, e
as eleições autárquicas mostram essa
tendência. A questão é como a Frelimo
poderá se manter vencedora sem
fazer sacrifícios e me parece que isso
seja pouco provável que dê certo nos
tempos que vêm.
Muitos querem a cabeça de Guebuza.
Acha que Guebuza deve ser
política e criminalmente responsabilizado
nestas operações?
O Canal de Moçambique desta semana
fala de uma possível manipulação
de Guebuza por securocratas
que o envolveram na operação das
dívidas ocultas. Guebuza deixou muitas
pessoas descontentes dentro e fora
do seu partido, com aquilo que parecia
ser um projecto nacional ousado,
mas que no fim se revelou, usando a
terminologia política em voga, um retumbante
e asfixiante fracasso. Como
chefe de Estado na altura, tem uma
grande quota de responsabilidade,
mas tudo depende de como os factos
se desenrolaram e numa investigação
séria e num julgamento de igual natureza
a responsabilização de Guebuza
pode não ser da forma como algumas
pessoas esperam. Para mim, o mais
crítico é que este processo de julgamento
das responsabilidades não se
transforme numa arma de arremesso
das elites que digladiam entre si e
usam isto como uma forma de ajuste
de contas, sem olhar para o interesse
nacional. A responsabilização deve ser
isenta de disputas e rancores internos
e externos à Frelimo e ser dentro do
âmbito do Estado de Direito. E a
sociedade deve estar atenta para que
não seja usado o tribunal da opinião
pública e o judiciário para as elites políticas
ajustarem as suas contas e tudo
continuar na mesma.
,QÁXrQFLDGRVGRDGRUHV
O desfecho deste caso será um teste
à influência dos doadores e das instituições
financeiras internacionais
na sua pressão por transparência,
prestação de contas e responsabilização
em Moçambique?
Será. Mas já existem sinais de impaciência
por parte dos actores internacionais
que querem fazer negócio
com o país. A posição dos actores internacionais
não é uniforme. Alguns
poderão desistir e passar a bola para
a frente. O FMI é que dará o mote
do que se vai seguir. Se este aceitar as
coisas como estão, poucos doadores
preferirão continuar na posição de
pressionar por responsabilização. Até
porque alguns têm interesses econó-
micos em Moçambique e querem
normalizar as relações com o país.
Há quem considera que este caso é
a derradeira oportunidade para os
parceiros internacionais exercerem
alguma influência, antes de o país
começar a ganhar alguma robustez
financeira e económica, face ao
advento dos ganhos dos recursos
naturais. Que comentário faz a esta
asserção?
Penso que sim. Em parte devemos
nos congratular por o país ter perspectivas
de se graduar de uma posição
de recipiente de ajuda externa para
um país autossuficiente. Infelizmente
não temos instituições de governação
democrática fortes o suficiente para
contrapor o crescente autoritarismo
das elites políticas e o descaso pela
“res publica”. Mas também isso deve
ser visto como uma oportunidade
para fazermos o que é nosso dever.
Por anos a nossa cidadania se acomodou
nas asas dos doadores à espera
que sejam eles a pressionar o governo
que elegemos para que faça o nosso
trabalho. Podemos aceitar isso como
uma fase histórica do processo de democratização,
porque cada país tem a
sua realidade e o papel dos actores internacionais
é importante em alguns
casos. Mas temos de assumir a nossa
responsabilidade de cidadania, sem
deixarmos de estar abertos a aprender
e receber apoio dos outros.
Há argumentos suficientes para não
se pagar essas dívidas? Do tipo que
as garantias foram ilegais, o processo
foi inconstitucional em clara violação
da lei orçamental.
Há argumentos suficientes nos dois
sentidos: de pagar e não pagar. Podemos
dizer que as dívidas violaram
a Constituição, a lei orçamental e até
da probidade pública. Mas ao mesmo
tempo a Assembleia da República
aprovou a sua inclusão na Conta Geral
do Estado. Ainda não vi argumentação
legal sobre esta decisão da AR.
Muitas vezes a eficácia da base legal
é uma questão de argumentação, do
histórico de decisões anteriores (jurisprudência)
e outros elementos. Em
qualquer decisão que tomemos, haverá
um argumento contrário a se contrapor.
Para mim, a questão de pagar
ou não pagar relaciona-se a como os
moçambicanos terão de suportar este
fardo da dívida e como Moçambique
se vai colocar no mercado financeiro
internacional, de que ainda vai precisar.
Essa é no meu entender a discussão
mais importante sob o ponto de
vista de consequências práticas, aliada
a como nos vamos precaver para não
cairmos outra vez neste tipo de erros.
O Relatório levou seis meses a ser
concluído, contra três meses iniciais,
mas Kroll não conseguiu informações
suficientes que mostram
para onde foi o dinheiro ou como
foi usado. Isto não coloca em causa a
credibilidade da própria Kroll?
Penso que é cedo para julgarmos o
trabalho técnico da Kroll, porque não
temos o relatório integral. Temos um
sumário executivo editado sabe-se
lá com base em que critérios. Mas
a reacção do Crédit Suisse de que
os dados sobre as comissões não são
correctos preocupa quanto à qualidade
do trabalho da Kroll, que deve
esclarecer este tipo de reacções. Sobre
o acesso à informação, a Kroll não
tinha como obrigar as entidades do
Estado a disponibilizar informação e
creio que aceitou o contrato na pressuposição
de que haveria colaboração
do Estado moçambicano com o seu
trabalho. Ora, se este não colaborou
como devia, a Kroll pode muito bem
alegar isso como uma fraqueza do seu
trabalho, mas que não deve ser à ela
imputável.
Diálogo político
No dia da independência, o Presidente
Nyusi anunciou a retirada, até
ao final de segunda-feira, das Forças
de Defesa e Segurança de oito posi-
ções na Gorongosa. Mas quarta-feira
passada, o líder da Renamo apareceu
publicamente a exigir que Nyusi
seja dono da sua palavra, porque as
posições militares anunciadas não
foram retiradas. Como é que olha
para a esta situação?
As idas e vindas do processo de paz
sugerem que existem forças que não
aparecem à luz do dia, no quadro das
instituições formais. O presidente
Nyusi já havia falado, no início do
seu mandato, de forças que contrariavam
as suas ordens, até que numa das
aparições públicas teve de explicitar
que ele é que era o Comandante em
Chefe das Forças de Defesa e Segurança.
Esta situação nos coloca, mais
uma vez, na posição de dúvida quanto
à autoridade do presidente Nyusi e
também da genuinidade do interesse
pela paz nos que comandam efectivamente
as nossas FDS. Como antes
disse, não creio que se deva olhar ao
presidente de forma condescendente,
como alguém mal-acompanhado
ou que cuja autoridade é desafiada,
apesar das suas boas intenções, porque
isso o enfraquece. Principalmente
tendo em conta que já vão dois anos
e meio do seu mandato. Portanto, está
no meio do mesmo e não fica bem dar
a imagem de que não governa efectivamente,
a não ser que seja verdade.
Cabe ao presidente mostrar que comanda
as FDS e que as suas intenções
de alcançar a paz são inequívocas, em
palavras e acções.
Dhlakama exige que o Governo seja
ágil para que até ao fim de 2017 haja
revisão pontual da Constituição e
com isso uma lei de eleição dos governadores
e a lei das finanças das
províncias. Com este marcar de
passo, acredita que teremos o pacote
legislativo sobre a descentralização
aprovado a tempo das eleições gerais
de 2019?
É possível, sim. Já houve muito debate
e estudos sobre esta matéria e só falta
mesmo efectivar esse manancial todo
em legislação. É tudo uma questão de
vontade política. Havendo, o pacote
pode ser aprovado a tempo. Enquanto
Dhlakama for politicamente relevante,
não vejo como este pacote não possa
ser aprovado antes de 2019, porque
é central à pacificação do país, pelo
menos na perspectiva de Dhlakama e
da Renamo.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 07-07-2017
V
inte e quatro horas depois
de a Renamo, através do
seu porta-voz António
Muchanga, ter desmentido
a retirada das Forças de Defesa
e Segurança (FDS) junto da serra
da Gorongosa, o Ministério da
Defesa Nacional (MDN) levou a
imprensa, esta quarta-feira, para
um périplo por algumas antigas
posições militares naquela região
da província de Sofala. Nem mais,
o objectivo era provar ao país e
ao mundo que as tropas governamentais
abandonaram a serra,
em cumprimento das ordens do
Comandante em Chefe das FDS,
Filipe Nyusi.
A equipa de jornalistas que, entre
quarta e quinta-feira, visitou parte
de antigas posições militares das
forças governamentais, seguiu uma
agenda pré-definida pelo MDN,
num roteiro que se assemelha a um
outro memorável que, ano passado,
“forçou” alguma imprensa menos
dada à crítica a reverberar que em
Manica e Sofala não havia corpos
espalhados nem vala comum pelas
matas de uma região limítrofe entre
as duas províncias do centro de
Moçambique.
Na deslocação desta quarta-feira,
dia de fecho da presente edição, o
SAVANA viu que na entrada da
serra da Gorongosa, pelo Posto Administrativo
de Canda, está fixada
uma posição militar. E como não
interessava aos “guias espirituais”
dos jornalistas, a caravana seguiu
sem escalar o posto que serve de
ponto de entrada ao cume da serra,
ido pela Estrada Nacional Número
Um (EN1), no desvio de Canda.
Entretanto, vale lembrar que, um
dia antes da digressão dos jornalistas,
António Muchanga, porta-voz
da Renamo, havia desmentido que
as posições das tropas governamentais
se tinha retirado, como garantira
o ministro da Defesa Nacional,
Salvador Mtumuke.
No contraditório, Muchanga disse
que o que estava a acontecer é que
as tropas estavam a mudar de posi-
ções, de uma para outra, mas sem
sair da serra, conforme entendimentos
entre o líder da Renamo e
o Presidente da República.
Nessa conferência de imprensa, o
porta-voz do maior partido da oposição
tinha dado exemplo de duas
posições que, segunda-feira, haviam
se mudado de Lourenço (como é
vulgarmente conhecida a região de
Nhandar) e Nharizoza, para Canda
e Nhaulanga, respectivamente.
Confrontado pelo nosso Jornal sobre
o caso, o comandante das FDS
estacionadas ao largo da Gorongosa
desdramatizou as acusações do partido
de Afonso Dhlakama.
“Winde Uani Bed Ford”, como é
conhecido o comandante nos meandros
militares, disse que os militares
posicionados em Canda não
são os que estavam em Nharizoza.
Esses, garantiu, foram transferidos
para a base de Satungira.
“Bed Ford” explicou que a posição
de Canda está ali posicionada antes
da eclosão da tensão político-
-militar. A ser verdade, há que se
questionar o que levou a que uma
posição militar se fixasse numa
mata serrada antes da eclosão das
hostilidades militares.
E uma das antigas posições militares
das FDS para onde os jornalistas
foram levados, esta quarta-feira,
é justamente a de Nharizoza, uma
antiga base da Renamo que, segundo
o comandante, foi tomada pelas
forças governamentais em Maio do
ano passado.
Curiosamente, é justamente na entrada
para a antiga base de Nharizoza
onde está situada a posição das
FDS que controla qualquer movimento
de e para o cume da Serra,
onde se acredita que esteja a residir
o presidente da Renamo, Afonso
Dhlakama.
Homem claramente de linha dura,
o comandante “Bed Ford” diz que
a posição de Nharizoza havia sido
tomada pelas FDS nas mãos do que
chamou de “bandidos armados da
Renamo”.
“Esta é uma das posições conquistadas
na perseguição aos bandidos
armados e que servia como sua base
logística”, disse, vincando, entretanto,
que as FDS abandonaram aquela
posição no passado 26 de Junho,
Mal entendidos ou estratégia de distração?
Ainda há militares à entrada da serra da Gorongosa
Por Armando Nhantumbo, nosso enviado à Gorongosa
Dois jornalistas, de órgãos
privados, integrados
na comitiva do
MDN, para verificação
da retirada das forças governamentais
de oito posições na Serra
da Gorongosa, foram impedidos
de continuar a viagem e retirados
das viaturas.
Os correspondentes do semanário
Zambeze em Manica, Benedito
Cobrissua, e da Agência
Lusa para a região centro, André
Catueira, igualmente vice-presidente
do Misa-Moçambique,
foram retirados da comitiva em
Inchope, supostamente por ordens
superiores.
André Catueira integrou a equipa
cerca das 08h30 desta quarta-
-feira, após o desembarque, do
Antanov da Força Aérea, dos
demais jornalistas vindos de Maputo
no Aeródromo de Chimoio,
tendo a equipa toda partido
numa Toyota Coaster, pertencente
à Assembleia Provincial de
Manica, para o restaurante Ponto
de Encontro, onde foi servido
um pequeno almoço conjunto.
Nesta ocasião, cerca das 09h00
veio juntar-se à equipa Benedito
Cobrissua e Domingos Boaventura
do semanário Domingo, que
foram autorizados pelo adido
de imprensa do MDN, Bernardo
Nakatembo, para integrar a
equipa.
Dois jornalistas afastados da comitiva
André Catueira integrou a equipa
para reforçar o colega do semanário
SAVANA, após um prévio acordo
entre a direcção editorial do jornal e
o adido de imprensa do MDN, no dia
anterior.
Posteriormente, os jornalistas partiram
do restaurante para o bairro da
Soalpo, junto à EN6, de onde foram
distribuídos em grupos de quatro jornalistas
em viaturas 4X4, que previamente
tinham sido destacadas para
levar os jornalistas.
De seguida o grupo partiu para o
cruzamento de Inchope, onde veio a
ser trocada a escolta, da viatura única
policial de marca Mahindra, de cor
verde militar, para três blindados e
outros veículos policiais ligeiros.
Nesta ocasião, quando os jornalistas
faziam imagens do momento, enquanto
decorria um briefing sobre as
cinco bases que deviam ser escaladas,
sendo duas na tarde de quarta-feira e
três no dia seguinte, o adido de imprensa
do MDN começou por perguntar
quem do grupo dos jornalistas
fazia parte do MISA. André Catueira
respondeu, prontamente, que fazia
também parte do MISA.
De seguida, o adido de imprensa informou
que André Catueira e Benedito
Cobrissua estavam impedidos de
continuar a fazer parte da comitiva
por “ordens superiores”, tendo sido
solicitados a retirar as suas mochilas
e a deixar as viaturas. Foi lhes indicado
a viatura Mahindra da anterior
escolta para lhes levar de volta à
Chimoio.
Na insistência para entender o
impedimento, o adido de imprensa
apenas repetiu que a Lusa
e o Zambeze não deviam tomar
parte da comitiva, sem, no entanto,
clarificar as motivações.
Em cumprimento da ordem, os
dois jornalistas tiraram as suas
mochilas e foram em direcção à
viatura indicada, quando lhes foi
informado que deviam seguir na
carroçaria da mesma, sem bancos,
para o regresso à Chimoio.
Prontamente, Catueira recusou-
-se seguir na viatura, tendo solicitado
uma pessoa que foi lhe
buscar a Inchope. Benedito Cobrissua
viajou nas condições precárias
oferecidas pelo MDN.
É preciso lembrar que, a 28 de
Abril do ano passado, foi a Lusa,
num despacho do seu colaborador,
que noticiou a existência de
uma vala comum com mais de
cem corpos na Serra da Gorongosa,
denunciada por camponeses,
o que irritou alguns sectores
governamentais. A Comissão de
Assuntos Constitucionais, Direitos
Humanos e Legalidade,
dirigida pelo deputado Edson
Macuácua, convocou o então delegado
da Lusa em Moçambique,
Henrique Botequilha, para prestar
explicações. O mesmo aconteceu
com André Catueira. (AC)
em cumprimento das ordens do
Comandante-em-Chefe das FDS,
Filipe Nyusi, que, semana passada,
voltou a ordenar a retirada das tropas
governamentais na Gorongosa.
De resto, a fonte militar que temos
vindo a citar insistiu que as tropas
governamentais que dali saíram estão
em Satungira e não Canda.
Outro “mal entendido” que marca o
jogo de acusações entre o Governo
e a Renamo tem que ver com o nú-
mero de posições que devem sair da
Gorongosa.
A Renamo tem reiterado que, para
criar um ambiente de confiança,
mas também como resultado das
conversações entre Afonso Dhlakama
e Filipe Nyusi, 26 posições espalhadas
por Gorongosa devem
abandonar a região, mas as FDS
falam de apenas oito posições.
Confrontado com a disparidade,
“Bed Ford” disse que as posições
que estão em causa são apenas as
que foram estabelecidas no contexto
da tensão político-militar.
Segundo ele, todas as outras posi-
ções já existiam antes das confrontações
armadas entre o Governo e
a Renamo, por isso, a sua desactivação
está fora de questão. Frisou
que, fora das oito, todas as restantes
posições militares ao largo da serra
da Gorongosa manter-se-ão onde
sempre estiveram.
Nharizoza, uma antiga base da Renamo que, em Maio de 2016, foi assaltada pelas FDS. A Renamo diz que as tropas
governamentais que aqui estavam são as que agora estão posicionadas em Canda, cerca de 20 quilómetros. Mas as FDS
desmentem.
“Winde Uani Bed Ford”, comandante das FDS ao largo da Gorongosa
TEMA DA SEMANA Savana 07-07-2017 5
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6 Savana 07-07-2017 SOCIEDADE
Apesar da divulgação do
sumário do relatório da
auditoria às chamadas
dívidas ocultas, o reiní-
cio das negociações entre o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e
os doadores internacionais não está
assegurado, escreve o portal de notícias
sobre Moçambique Zitamar.
“Seria espantoso se o FMI decidisse
normalizar as relações com Mo-
çambique com base neste relatório”,
comentou ao Zitamar um reputado
banqueiro do mercado de capitais
africano, falando em anonimato.
O tamanho da falta de cooperação
por parte de entidades relevantes para
a auditoria, prosseguiu a fonte do Zitamar,
foi chocante.
“Se eu fosse um país doador ou uma
instituição multilateral, ficaria encolerizado
com isto”, acrescentou,
dando conta do desapontamento em
relação aos resultados da auditoria.
Aquele portal refere que algumas
figuras do Governo moçambicano
estavam convencidas de que a divulgação
do sumário do relatório iria
desencadear a retomada automática
das negociações entre as instituições
multilaterais, doadores e o Governo
moçambicano.
Eles estavam convencidos que, uma
vez cumprido o pré-requisito de uma
auditoria internacional e independente,
as condições para a normaliza-
ção da cooperação com os parceiros
internacionais estariam criadas.
Contudo, assinala, o relatório completo
ainda não foi publicado e a
Procuradoria-Geral da República
(PGR) já fez saber que não determinou
nenhuma data para que tal venha
a acontecer.
Alguns diplomatas entendem que
Moçambique devia ser aplaudido
pelo facto de ter aceitado a realização
da auditoria, tendo em conta que essa
exigência teria sido liminarmente rejeitada
por outros países da região.
Porém, a simples publicação do relatório
poderá não ser suficiente para
os doadores, que ainda não articularam
entre si uma posição coordenada
em relação ao assunto.
“Os doadores estavam tão concentrados
na realização da auditoria, que
não pensaram sequer no que fariam,
depois da divulgação do documento,
principalmente face a resultados tão
decepcionantes”, escreve o Zitamar
News, citando fontes diplomáticas.
Será um processo penoso
No mínimo um relatório tão incompleto
quanto o que foi divulgado apenas
irá complicar e atrasar a retomada
das negociações em torno de um
novo programa de assistência, diz o
Zitamar, citando uma fonte diplomá-
tica em Maputo.
“É claro que todos preferiram um
cenário mais limpo, tal como as coisas
estão agora, será um recomeço e,
provavelmente, um calendário mais
longo”, acrescenta a referida fonte
diplomática.
A PGR reconheceu as inconsistências
e lacunas existentes no relatório,
manifestando a intenção de trabalhar
com países com cidadãos ou entidades
envolvidas na problemática das
dívidas.
Nessa perspectiva, a PGR terá expedido
solicitações para colaboração
aos EUA, Emirados Árabes Unidos,
França, Holanda e Reino Unido.
Robert Besseling, chefe da firma de
consultoria política Exxe Africa, considera
que as investigações naqueles
países poderão ser mais frutíferas do
que as que foram levadas a cabo em
Moçambique.
As negociações com os doadores poderão
também ser influenciadas pela
resposta do Governo às preocupações
do FMI em relação à gestão das fi-
nanças públicas.
As expectativas iniciais não são promissoras,
realça o Zitamar News. A
auditoria era vista como oportunidade
para as autoridades moçambicanas
demonstrarem compromisso com a
transparência e prestação de contas.
Ao invés de mostrar abertura, a falta
de cooperação e os bloqueios flagrantes
à auditoria revelou que altos quadros
do Estado receberam instruções
para não prestar informação detalhada
sobre os empréstimos, considera
Robert Besseling.
O presidente da Ematum, MAM e
ProIndicus, António Carlos do Rosário
(ACR), escreveu uma carta a
vangloriar-se de como terá expulso
do seu escritório auditores da Kroll
por supostamente terem pedido detalhes
sobre questões ligadas à segurança
do Estado.
“Hoje, a nossa independência econó-
mica está em causa. A luta continua.
Independência económica ou morte,
venceremos!”, escreveu ACR.
A questão é se a ausência de coopera-
ção com a Krool terá também correspondência
com falta de vontade do
Governo para implementar reformas
recomendadas pela PGR, afirmou
um diplomata em Maputo.
Contudo, o Zitamar estima que as
figuras que estiveram por detrás da
actuação de ACR durante a auditoria
terão pouca influência sobre o Governo.
O relatório e o congresso
da Frelimo
Todos os olhos estarão virados para o
próximo congresso da Frelimo, atentos
à reacção do partido ao relatório.
Se a estratégia do partido for no
sentido de pressão por uma maior
abertura e transparência do que de
protecção dos “camaradas”, então os
doadores e o FMI poderão sentir-se
impelidos a apressar a restauração da
cooperação com o Governo, afirmou
o diplomata.
No actual estágio, ninguém estará
disposto a colocar dinheiro, acrescentou.
Porém, prosseguiu o diplomata, pode
ser que a auditoria não esteja, sequer,
no centro das atenções do congresso.
“Politicamente falando, apenas a situação
económica importa à maioria
dos moçambicanos. Muitos moçambicanos
desconfiam da Frelimo, mas
poderão estar disponíveis para oferecer
o seu apoio, caso as condições
de vida melhorem”, considera Robert
Besseling.
Para o analista, impulsionar o crescimento
económico e baixar a inflação
poderá estar no coração das sessões
do próximo congresso do partido no
poder.
Apesar da contínua crise da dívida, a
economia moçambicana está a portar-se
minimamente bem.
“As perspectivas da economia mo-
çambicana estarão dependentes da
normalização das relações com o
FMI, mas surgiram pequenos sinais
positivos nos últimos meses”, considera
Pieter du Preez, economista da
NKC African Economics.
O metical fortaleceu-se em 30% face
ao dólar, as reservas internacionais lí-
quidas estão a aumentar e o preço do
carvão e do gás estão a ganhar terreno
e a multinacional norte-americana
Exxon Mobil está a finalizar o processo
de compra de parte da quota da
ENI na Bacia do Rovuma, que poderá
render centenas de milhões de
dólares ao Estado moçambicano.
Contudo, estes acontecimentos poderão
não se traduzir numa melhoria
imediata das condições de vida
dos moçambicanos, num cenário em
que o Governo será confrontado pelo
FMI no sentido de um maior aperto
fiscal.
Relatório da Kroll
Retomada da assistência pelo FMI não está garantida
A missão técnica do FMI voltará a Maputo entre os dias 10 e 19 de Julho para reunir-se com as autoridades governamentais
moçambicanas e está previsto um encontro com o Primeiro-Ministro
SOCIEDADE Savana 07-07-2017 7
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8 Savana 07-07-2017 SOCIEDADE SOCIEDADE
OStandard Bank alerta
para o risco de as expectativas
de retoma
da economia moçambicana
estarem dependentes da
evolução nos recursos naturais,
assinalando que em caso de recuo
no sector, o país vai perder
os ganhos que começa a registar.
“O grande risco que o país corre
é de termos grande parte da expectativa
de aceleração do crescimento
focada nos projectos do
gás natural, se houver um atraso
no arranque destes projectos,
significa que, provavelmente,
vamos viver períodos difíceis
por mais tempo”, declarou o
economista-chefe do Standard
Bank em Moçambique, Fáusio
Mussá, durante o encontro anual
do banco com os seus clientes
de referência.
Falando aos jornalistas à margem
da apresentação que fez em
Maputo sobre as perspectivas da
economia moçambicana, Mussá
assinalou que o país já superou
a fase mais conturbada da crise
económica que enfrentou nos
últimos meses.
“Provavelmente, o país já passou
o pior desta crise”, afirmou
Mussá.
Apontou a recuperação do metical
face ao dólar, a relativa aceleração
do Produto Interno Bruto
e a recuperação das Reservas
Internacionais Líquidas como
sinais de que o país está a dar sinais
promissores.
“A nossa convicção é de que
no próximo ano vamos ter uma
inflação a um dígito, este ano a
nossa expectativa mais ajustada
está em torno dos 14%, mas com
uma média ainda elevada, em
torno dos 18%”, declarou Fáusio
Mussá.
Porém, e na linha da “cartilha do
FMI”, Mussá recomendou que o
Governo tem de introduzir mais
reformas e resolver o problema
das empresas públicas, neste
momento, praticamente insolventes.
Apesar de uma aprecia-
ção do metical ter o potencial de
novos problemas para a economia,
ele manteve as projecções
de que a moeda nacional pode
chegar aos 50Mt por dólar.
Na rota da recuperação
O actual comportamento dos
indicadores de conjuntura, nomeadamente,
a aceleração do
Produto Interno Bruto (PIB),
redução da inflação e estabilidade
da moeda colocam Moçambique
na rota da recuperação,
afirmou Fáusio Mussá.
Fáusio Mussá apontou igualmente
a decisão do consórcio
liderado pela multinacional
italiana ENI de avançar com o
projecto de construção da plataforma
flutuante de produção de
Gás Natural Liquefeito, na bacia
do Rovuma, norte de Moçambique,
como sinal de que o país
está a recuperar a confiança dos
investidores internacionais.
“Tudo indica que os investidores
continuam a olhar para Moçambique
como um mercado potencial
e com grande apetite para
continuar a investir”, afirmou o
economista-chefe do Standard
Bank.
Por outro lado, prosseguiu, as
autoridades têm estado empenhadas
na criação de condições
que permitam a sustentabilidade
do serviço da dívida, através da
restruturação dos encargos do
país com o exterior.
“Penso que o país está a reunir
condições para criar confiança,
para que possa restruturar estas
dívidas e que possa ser possí-
vel ao longo de um período de
tempo fazer o serviço de dívida
sem comprometer a estabilidade
macroeconómica”, referiu Fáusio
Mussá.
Na apresentação que fez durante
a conferência, Fáusio Mussá
considerou que a divulgação do
relatório completo da auditoria
às chamadas dívidas ocultas de
Moçambique seria um acto de
transparência e iria ajudar na
promoção da confiança no país.
“O princípio base que deve ser
defendido em Moçambique e
em qualquer parte do mundo é
o princípio da transparência, havendo
condições para que esse
relatório seja divulgado, porque
não”, disse.
Uma actuação transparente em
O aviso é do Standard Bank
&RQÀDUQRVUHFXUVRVQDWXUDLVpDUULVFDGR
relação a Moçambique. “A transparência
só aumenta a confiança
no país”, declarou o economista-
-chefe do Standard Bank.
“Será que isto vai facilitar as
negociações com os credores do
país, será que isto vai facilitar o
acordo para um programa com o
Fundo Monetário Internacional,
ainda há uma série de pontos de
interrogação”, questionou.
Dívida insustentável
Fáusio Mussá realçou que Mo-
çambique precisa de recuperar
a credibilidade dos credores, de
modo a que estes dêem mais
tempo ao país, visando dispor de
um serviço de dívida mais flexí-
vel.
“O mais importante aqui não é
o rácio (da dívida) em si, o mais
importante é o serviço de dívida,
de quantos recursos o país tem
de dispor para cumprir com o
serviço da dívida e todos os estudos
indicam que não é sustentável
a forma como o país tem
de pagar esta dívida”, frisou o
economista-chefe do Standard
Bank.
Mussá disse que para o país seguir
em frente não pode ser abalado
por crises cíclicas nomeadamente
as confrontações entre o
Governo e a Renamo e a instabilidade
que se estabelece antes e
depois das eleições no país.
Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank
relação à dívida vai aumentar a
confiança dos investidores em
Savana 07-07-2017
9
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10 Savana 07-07-2017 SOCIEDADE
Se um dia após a publicação
do relatório
de auditoria da Kroll
às dívidas ocultas, o
Presidente da República, Filipe
Nyusi, demonstrava optimismo
quanto à retoma do programa de
apoio ao Orçamento do Estado
pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) e pela comunidade
internacional, uma semana depois,
o chefe de Estado considera
agora que o país enfrenta um
desafio na relação com aquele
organismo financeiro internacional.
Com base nesse raciocínio, Filipe
Nyusi pediu ao Banco Central
para fazer um acompanhamento
e monitoria contínua dos riscos
e incertezas que prevalecem no
sistema financeiro nacional, principalmente
num contexto caracterizado
pela escassez de recursos.
O repto foi lançado esta segunda-
-feira durante a inauguração do
complexo de três novos e sumptuosos
edifícios do Banco Mo-
çambique (BM).
A cerimónia juntou os cinco antigos
governadores do BM, Sérgio
Vieira, Prakash Ratilal, Eneas
Comiche, Adriano Maleiane e
Ernesto Gove, gestores da banca
e outras personalidades ligadas
ao sistema financeiro e ao mundo
dos negócios.
Falando instantes depois de cortar
a fita que simbolizou o momento
da inauguração e de uma
breve visita aos três edifícios, Filipe
Nyusi advertiu os quadros do
Banco de Moçambique para não
se distraírem com os sinais positivos
que a economia nacional está
a emitir.
Pelo contrário, apelou ao acompanhamento
contínuo e monitoria
da economia nacional face
aos riscos e incertezas que prevalecem,
como a volatilidade dos
preços das comodities, a nível internacional,
instabilidade política
na região e o alcance de uma paz
efectiva no país.
Segundo Nyusi, a paz é de extrema
importância para a gestão das
operações financeiras do Estado
num contexto em que não se conta
com a ajuda externa.
Disse ser igualmente necessário
considerar como grande desafio a
incerteza da retoma do programa
com o Fundo Monetário Internacional.
O chefe de Estado moçambicano
mostrou-se cauteloso no reatamento
da ajuda do FMI, após
ter manifestado maior optimismo
na declaração que fez à imprensa
a 25 de Junho, um dia após a divulgação
do sumário executivo do
relatório da auditoria às dívidas
ocultas.
“Os moçambicanos estão esperançosos
que, com a publicação
do relatório da auditoria das dívidas,
a comunidade internacional
retome a sua confiança e apoio ao
nosso país”, afirmou, na Praça dos
Heróis em Maputo.
Obra faraónica
O custo da nova infra-estrutura
do BM continua uma incógnita,
pois, quer o governador do Banco
Central, Rogério Zandamela,
quer o mentor do projecto, Ernesto
Gove, não se pronunciaram
sobre o tema, apesar das insistências
dos jornalistas.
Dados da construtora Teixeira
Duarte, divulgados em 2011, indicavam
que as obras custariam
2.203.949.912,52 meticais, cerca
de USD 73,4 milhões ao câmbio
da data.
Mas com a depreciação do metical
e a consequente alteração dos
preços, estima-se, segundo jornal
@verdade, que a empreitada se
tenha ficado pelos USD 315 milhões.
A infra-estrutura é composta por
três edifícios: A torre de escritó-
rios, adjacente ao actual edifício-
-sede, situado na Avenida 25 de
Setembro, conta com 29 pisos
destinados a escritórios, salas de
reuniões e formação. Possui ainda
duas caves, onde funciona a
tesouraria do BM, para o processamento,
armazenamento e destruição
de notas.
Depois há o silo-auto, com 19
pisos na ala frontal, que servem
de escritórios, e 14 pisos na parte
traseira, que servem de estacionamento,
com capacidade para 690
viaturas.
Este edifício conta também com
um museu, biblioteca, arquivo, ginásio
e um bar, de onde se pode
ver a beleza paisagística da capital.
Por fim, está o chamado pólo técnico,
que comporta o grupo gerador,
depósito e sistema de tratamento
de água.
Para o Presidente Nyusi, as infraOs
bispos da igreja
católica através da
Comissão Episcopal
de Justiça e
Paz pedem a declaração de
inconstitucionalidade da resolução
da Assembleia da
República (AR), que legalizou
as dívidas ocultas, bem
como a responsabilização dos
indivíduos e instituições que
sonegaram informações ao
auditor para o esclarecimento
cabal sobre o destino dado
aos dinheiros dos empréstimos.
No seu estilo acutilante, os
bispos católicos voltaram à
carga para desta vez reagirem
à publicação do sumário
executivo do relatório da auditória
às dívidas ocultas pela
Kroll.
Inspirados pela mensagem do
Papa Francisco “a necessidade
de resolver as causas estruturais
da pobreza não pode esperar”,
os bispos, através da
Comissão Episcopal de Justi-
ça e Paz, pedem uma actuação
livre e responsável por parte da
Procuradoria-geral da República
(PGR), de modo que seja feita a
justiça, para se poupar o povo do
sofrimento subjugado pelos governantes.
“Não podemos permitir que ao
povo moçambicano seja imputada
a responsabilidade de pagar
com miséria, sangue e morte as
dívidas contraídas em nome dele,
de forma ilegal e inconstitucional,”
declaram. Para esta comissão
que lida com matérias de Justiça e
Paz, não é justo que o povo pague
por algo de que não se beneficiou.
Deste modo, solicita ao órgão
competente para que declare inconstitucional
a inclusão, por parte
da AR, das dívidas ocultas na
Conta geral do Estado 2015.
Recorde-se que, em Abril passado,
com recurso à maioria, a
bancada da Frelimo aprovou a
Conta Geral do Estado de 2015,
que inscreve as dívidas contraídas
ilegalmente pelas empresas Mozambique
Asset Managemente
(MAM) e ProIndicus, com garantias
do Estado. Em sinal de
repúdio, a bancada da Renamo
optou por abandonar a sala
de sessões enquanto o MDM
votou contra.
Entende ainda a Comissão
que devem ser responsabilizados,
em primeiro lugar, aqueles
que contraíram directamente
as dívidas e, de seguida,
aos indivíduos e instituições
que não colaboraram com o
auditor no fornecimento de
informações para o esclarecimento
do destino dos empréstimos
contraídos e seus
beneficiários. Segundo aquela
comissão, ninguém está obrigado
a obedecer a disciplina
de qualquer partido político
ou dos seus dirigentes que
contradiga a sua consciência
cristã, pelo que advertem
que não se pode colocar um
partido muito menos os seus
dirigentes acima da justiça,
do amor a Deus e do amor
aos irmãos. Isto porque, no
final dos nossos dias, seremos
julgados conforme o amor e
não levaremos riquezas nem
o poder.
(A. Nhampossa)
“PGR deve actuar de forma livre
e responsável”
A posição é dos bispos católicos
1\XVLGL]TXHSDtVHQIUHQWDXPGHVDÀRFRP)0,
Por Argunaldo Nhampossa
-estruturas oferecem conforto e
dignificam a dimensão do povo
moçambicano e do seu crescimento.
“Moçambique já merecia uma
infra-estrutura à sua dimensão.
Estas são instalações modernas,
com um padrão de funcionalidade
e segurança ajustado ao que de
melhor se faz nos bancos centrais
pelo mundo fora”, disse.
Saudou as medidas tomadas pelo
banco regulador no quadro da estabilização
macroeconómica do
país, entre 2014 e 2016, altura em
que a inflação e a taxa de câmbio
atingiram os máximos históricos
dos últimos dez anos, situando-
-se nos 25% e 80 meticais, tendo
agora baixado para 20.7% até
Maio último e 60 meticais respectivamente.
“Estas medidas exigem não apenas
determinação e capacidade
técnicas, mas sobretudo meios de
trabalho”.
Por seu turno, Rogério Zandamela
disse que há muito se aguardava
pela materialização daquele
projecto, tendo, por isso, elogiado
a decisão tomada pelo seu antecessor
Ernesto Gove.
Considerou que as instalações
espelham o futuro do país que se
está a edificar.
Filipe Nyusi apela à gestão criteriosa dos recursos devido à falta de apoio
Naita Ussene
Savana 07-07-2017 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
NO DIA 26 DE ABRIL DE 2017 A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA LEGALIZOU AS DÍVIDAS
CONTRAÍDAS DE FORMA ILEGAL PELAS EMPRESAS PROINDICUS, NO VALOR DE 622 MILHÕES DE
DÓLARES AMERICANOS, E MAM, ORÇADAS EM 535 MILHÕES DE DÓLARES AMERICANOS,
PERFAZENDO AMBAS UM VALOR GLOBAL DE 1.157 MIL MILHÕES DE DÓLARES AMERICANOS
QUE O ESTADO MOÇAMBICANO DEVERÁ PAGAR COMO AVALISTA.
AO LEGALIZAREM AS DÍVIDAS QUE BENEFICIARAM UM GRUPO RESTRITO DE INDIVÍDUOS
PRÓXIMOS DO ANTIGO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ARMANDO GUEBUZA, ESTES DEPUTADOS
HIPOTECARAM O FUTURO DE MOÇAMBIQUE, PORQUE OS CREDORES INTERNACIONAIS ESTÃO
À ESPERA DOS LUCROS PROVENIENTES DO NEGÓCIO DO GÁS PARA QUE MOÇAMBIQUE PAGUE
O QUE DEVE AOS BANCOS QUE EMPRESTARAM ESSE DINHEIRO. PORTANTO, DAQUI A 6 OU 7
ANOS O DINHEIRO RESULTANTE DA VENDA DO GÁS NÃO SERVIRÁ PARA CONSTRUIR MELHORES
ESCOLAS, HOSPITAIS, ESTRADAS, PONTES, CAMINHOS-DE-FERRO, ETC., MAS SIM PARA PAGAR
AS DÍVIDAS DA CORRUPÇÃO ESCONDIDA.
ESTE DEPUTADO QUE ESTÁ NA FOTO ACIMA É UM DOS RESPONSÁVEIS POR ESTA BURLA
PRATICADA CONTRA MOÇAMBIQUE E OS MOÇAMBICANOS!
CENTRO DE INTEGRIDADE PÚBLICA
Anticorrupção - Transparência - Integridade
ALBERTO CHIPANDE
CÚMPLICE
12 Savana 07-07-2017 SOCIEDADE SOCIEDADE
Ojulgamento do ex-ministro
da Justiça, Assuntos
Constitucionais e
Religiosos, Abduremane
Lino de Almeida, acusado de
abuso de cargo e função, caminha
à sua recta final. Quando a pró-
xima edição (14 de Julho) deste
semanário chegar às bancas, nas
primeiras horas do dia, a quarta
secção criminal do Tribunal
Judicial de Kapfumo estará, por
seu turno, anunciando a sua decisão
em relação ao “Caso Meca”,
no qual o réu é acusado de pagar,
indevidamente, despesas de três
pessoas sem vínculo com o Estado,
num valor aproximado a 1.8
milhão de meticais, com recurso
ao Cofre dos Registos e Notariados.
Depois de três audiências para ouvir
os depoimentos do réu, declarantes
e testemunhas, o Tribunal
daquele distrito municipal da capital
do país abriu as portas, esta
semana, para ouvir as alegações
finais.
Tanto o Ministério Público (MP)
como a defesa reiteraram as suas
posições, deixando tudo nas mãos
de João Guilherme, juiz de causa.
O MP exige a condenação do réu
por se ter “provado, durante a instrução
preparatória e o julgamento,
ter agido à margem da lei”, enquanto
a defesa pede a sua absolvição
porque “não estão reunidos
elementos constitutivos do crime”.
“Não foi a primeira ordem
verbal”, defesa
Numa intervenção de quase vinte
minutos, o advogado de defesa,
Augusto Chivangue, reafirmou,
com uma voz grossa e bem audível,
que a viagem à Meca foi feita em
cumprimento das ordens do Chefe
de Estado.
Segundo aquele advogado, há um
esforço muito grande, por parte
do MP, de atribuir a iniciativa da
organização da viagem ao réu, enquanto,
no seu entender, “os factos
mostram que a mesma foi resultado
de ordens do seu superior hierárquico”.
Respondendo ao depoimento da
Ministra da Presidência para os
Assuntos da Casa Civil, Adelaide
Amurane, que afirmou que as
viagens ao estrangeiro são autorizadas
pelo Presidente da República
(PR), através de um despacho,
Chivangue disse que o seu constituinte
não carecia de autorização
porque “já tinha sido autorizado
por quem deve autorizar”.
“Ficou provado que o PR sempre
teve ciência da viagem do réu e dos
integrantes. Uma das testemunhas
comprovou que o PR acompanhou
este processo e que recebeu
os peregrinos, após a viagem”, sublinhou
aquele jurista, citando a
abertura da Embaixada da Arábia
Saudita, no país, como resultado.
Aliás, a defesa questionou ainda
como foi possível um draft (termo
usado por Amurane em referência
a uma carta não assinada) provocar
comoção na Presidência da Repú-
blica, se o assunto não era do seu
conhecimento.
Apesar de reconhecer que a ordem
foi verbal, Augusto Chivangue sublinha
que a mesma foi feita no
âmbito de uma “prática institucional”,
pois, “não era a primeira vez
que recebia ordens verbais”.
“No caso do indulto dos mil presos
(Dezembro de 2015), o réu não recebeu
ordem escrita, mas os resultados
foram notórios e reportados
pela imprensa”, sublinha.
O advogado recorre-se da tradição
africana para defender que a oralidade
é bastante comum na nossa
sociedade e a mesma reflecte-se no
Aparelho do Estado.
Prosseguindo, nas suas alegações
finais, a defesa fez saber ainda que
a outra prática institucional é o
recurso ao Cofre dos Registos e
Notariados para o pagamento das
despesas correntes daquele Ministério,
pelo que o Tribunal deve ter
em conta esse aspecto.
Sendo assim, a defesa pede ao Tribunal
para que verifique, durante
a tomada de decisão, o costume
(prática reiterada com convicção
de obrigatoriedade) comum no
Aparelho do Estado, em que “as
disposições legais não são cumpridas
ao pé da letra”.
Acrescenta ainda que o réu, para
além de ser jurista, é militar na
reserva, pelo que “recebeu uma ordem
do Comandante-em-Chefe
das Forças de Defesa e Segurança”.
“No exército cumpre-se ordens.
O Comandante ordena e o subalterno
executa”, frisou Chivangue,
classificando de “falaciosa e forçada
a alegação do MP” até porque,
uma das testemunhas confirmou
que o réu não foi responsável pela
selecção dos acompanhantes.
Para a defesa “não há matéria” que
nos conduz ao crime de que Abduremane
é acusado e questiona:
“que vantagem terá tirado desta
viagem? E como terá beneficiado a
terceiros que não conhece?”.
“Não estão reunidos elementos
constitutivos do crime arrolados
pelo MP. O réu não cometeu nenhum
crime, pelo que não tem
fundamento nenhum o pedido de
indeminização civil constante do
despacho de acusação do MP”,
terminou Chivangue.
MP acerta os números e
pede condenação exemplar
Por sua vez, o MP, representado
por Jacinta Mavulule, reitera que
o réu viajou à Meca sem nenhuma
autorização e pagou, indevidamente,
despesas dos seus acompanhantes
sem vínculo com o Estado.
Com uma voz fina e pouco audí-
vel, aquela magistrada disse que o
réu devia ter manifestado, formalmente,
a autorização da viagem até
porque é servidor público há muito
tempo, pelo que, “já sabe das normas
da Administração Pública”.
“O réu, para além de ser jurista,
era Ministro da Justiça, entidade
que presta assessoria jurídica à
Presidência da República. Como
Ministro da Justiça, esperávamos
um comportamento exemplar”,
destacou.
Para Mavulule, não interessa a indicação
dos três acompanhantes
do réu, mas o facto de as suas despesas
terem sido suportadas pelo
Estado e a autorização ter sido feita
pelo mesmo.
“Requeremos uma “condenação
exemplar” ao réu. Que seja condenado
a indemnizar o Ministério
no valor de 1.789 mil meticais”,
disse, na sua última intervenção.
Referir que, no concernente aos
números, o MP fez novos cálculos
e concluiu que o valor a ser devolvido
aproxima-se a 1.800 mil
e não 1.200 mil, conforme avança
na acusação.
O momento mais aguardado (leitura
da sentença) está agendado
para o próximo dia 14 de Julho,
onde ficar-se-á a saber o futuro de
Abduremane.
Julgamento do Caso Meca
Os prós e contras antes da decisão
Por Abílio Maolela
Abduremane no banco dos réus para ouvir o seu futuro.
Savana 07-07-2017 13 PUBLICIDADE SOCIEDADE
14 Savana 07-07-2017 Savana 07 -07-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
compensação, 6050 meticais, 4700
meticais por cajueiro e 4200 meticais
por mangueira.
Porém, nas contas feitas pelo CTV,
o valor que o governo quer que seja
pago às comunidades corresponde
apenas 50% do valor real.
Issufo Tacar diz que o preço justo a
pagar por cada coqueiro abatido seria
de 12.500 meticais.
Tacar reconhece que nas localidades
de Quitupo, Senga e Maganja as casas
são precárias, mas estão próximas de
fontes de rendimento. Isto é, das machambas
e do mar. Também conservam
os hábitos culturais e ancestrais.
Com os reassentamentos, as comunidades
estarão longe das machambas
e do mar assim como perderão seus
hábitos culturais.
É uma transformação enorme que o
executivo não está a levar em conta.
“Ademais, para além das casas, o governo
promete infra-estruturas sociais
como água e energia. Porém, as despesas
de montagem desses bens são
da responsabilidade das comunidades.
Sem fontes de rendimento como
é que a população irá sustentar essas
despesas”, questiona.
Ignorar-se experiências do
passado
Issufo Tacar diz que o processo de
reassentamento das comunidades de
Palma não é novo. No passado houve
exercícios similares nas províncias de
Gaza e Tete (no quadro do projecto
do Parque Nacional do Limpopo bem
como de Carvão).
Foram reassentamentos que provocaram
muito barulho, mas o governo
quer pegar nos erros do passado e
deles tirar ilações para evitar que os
mesmos se repitam no futuro.
No caso concreto do distrito de Palma,
o governo e as multinacionais
Anadarko e a ENI fizeram levantaAtrasos
e falta de clareza provocam incertezas e desespero
totalmente ignoradas.
Burahane Adinane sublinha que,
como membro do comité da comunidade
de Quitupo, por várias vezes, interpelou
as autoridades governamentais
de Palma para se inteirar do estágio
dos reassentamentos bem como
das indemnizações, mas sem sucesso.
porque, no seu entender, o processo
de reassentamentos e das indemnizações
é bastante complexo e exige
muita prudência para se evitar erros
do passado.
Diz que a legislação sobre reassentamentos,
aprovada em Agosto de 2012,
está desactualizada à realidade actual
e que precisa duma revisão urgente.
Há sensivelmente cinco anos que as
comunidades de Quitupo, Senga e
Maganja foram informadas que a
qualquer momento seriam movimentadas
para outros locais e que algumas
iriam perder as terras onde desenvolvem
suas actividades, nomeadamente
a agricultura e a pesca, mas a grande
preocupação da população é que as
esperanças dum futuro melhor estão
a esfumar-se.
Com vista a fazer uma radiografia
do actual estágio do processo de reassentamento
em Palma, a nossa reportagem
escalou o distrito e também
ouviu diferentes esferas da sociedade,
durante o seminário em que a Ordem
dos Advogados de Moçambique
(OAM) juntou à mesma mesa, em
Maputo, membros das comunidades
abrangidas pelos projectos, do governo,
da sociedade civil e a conclusão
foi de que o governo não está a desempenhar
devidamente o seu papel
de garante da observância da lei e,
muitas vezes, esconde informação de
interesse público para beneficiar as
corporações.
Burahane Adinane, líder comunitário
da comunidade de Quitupo, contou
que há sensivelmente sete anos que
vêm sendo prometidos que a implantação
dos projectos de exploração de
gás iria melhorar suas vidas, mas cada
vez que o tempo passa a situação continua
na mesma.
De acordo com Burahane Adinane,
quando as multinacionais iniciaram
suas pesquisas, em meados de 2008, as
comunidades foram exortadas a ceder
seus espaços para a construção de estradas,
acampamentos sem nenhuma
compensação.
Disse que a promessa foi de que logo
que iniciasse o projecto de GNL teriam
seus direitos ressarcidos. Referiu
ainda que na altura falou-se de postos
de trabalho, transferências para
lugares melhores e com habitações
condignas, as empresas iriam adquirir
todo o seu pescado, teriam escolas,
hospitais e transporte público para a
sua movimentação. Porém, os anos
vão passando e nada de concreto se
materializa.
Adinane diz que todas as decisões sobre
o processo de reassentamento são
tomadas pelo governo e pelas empresas
sem a população. As reuniões que
fazem com as comunidades servem
apenas para divulgar as decisões tomadas
e não para ouvir a voz do povo.
A título de exemplo, Adinane diz que
os preços que as concessionárias pretendem
pagar por cada árvore abatida
não foram negociados com a popula-
ção. É decisão unilateral do governo.
As propostas da comunidade foram
Reina um clima de incerteza,
desespero e frustração
no seio das comunidades
residentes nos povoados de
Quitupo, Senga e Maganja, distrito
de Palma, província de Cabo Delgado.
Trata-se duma área de sete mil
quilómetros quadrados, projectada
para as actividades de exploração do
gás da bacia do Rovuma.
A incerteza e o desespero de cerca de
mil famílias, que poderão ser afastadas
das suas zonas de residência habitual,
para dar lugar ao projecto de
GNL, resultam do facto de o governo
não ser claro sobre o seu futuro.
Numa altura em que alguns concessionários
como a italiana ENI e o
governo de Moçambique assinaram
a Decisão Final de Investimento sobre
a Área de Coral 4, as comunidades
locais ainda não sabem quando é
que vão sair das suas terras para novos
lugares, para onde é que serão deslocadas,
como é que os seus direitos
económicos e culturais serão salvaguardados.
O mais grave ainda é que, até ao momento,
o governo não aceita libertar,
para consumo público, o plano de reassentamento
aprovado em Dezembro
passado, violando a Lei de Direito
à Informação.
Por ordens do governo, as concessionárias
dos projectos de gás do Rovuma,
mormente a italiana ENI e a norte-americana
Anadarko, são proibidas
de se pronunciar publicamente sobre
questões ligadas aos reassentamentos
bem como as indeminizações e, ainda,
de manter contactos directos com as
comunidades.
O governo chamou si a responsabilidade
de servir de elo de ligação entre
as multinacionais e as comunidades.
Porém, as populações afectadas bem
como as organizações da sociedade
civil queixam-se do facto de o papel
do governo não corresponder às expectativas.
Há um sentimento comum de que,
em vez de servir de intermediário e
garante de observância da lei, o governo
aparece como advogado das
multinacionais em detrimento da população.
O executivo nega as acusações, fala de
colaboração e cooperação com todas
as partes interessadas e pede calma,
pequena.
Muanassa Alberto, residente de Senga,
mostrou-se preocupada pelo facto
de a tradição muçulmana, religião dominante
no distrito de Palma, admitir
que um homem contraia matrimónio
com mais de uma mulher.
Isso faz com que a esmagadora maioria
dos homens de Palma tenham entre
duas ou três mulheres, mas que o
processo de recenseamento colocou
essas mulheres como família única e
que terão direito a apenas uma casa.
Outra questão é que, aquando do censo,
havia jovens menores que foram
congregados num agregado familiar,
mas como o processo não avança,
acabaram criando suas famílias e desmembraram-se
dos seus pais. Porém,
essas novas famílias não constam nos
registos.
Para Muanassa, não é comum, na tradição
de Palma, duas mulheres compartilharem
a mesma casa. Porém, o
governo e as concessionárias querem
quebrar essa tradição e juntar as mulheres
numa mesma casa.
Acusou o executivo de se comportar
como um verdadeiro camaleão que
quando tem interesses com a população,
como é o caso de voto, mostra
uma cor e quando consegue seus objectivos
muda de cor.
Júlio Ernesto, oficial do campo da
União Provincial de Camponeses de
Cabo Delgado, uma organização que
trabalha na defesa das comunidades
no capítulo referente aos direitos da
terra, referiu que é com muita preocupação
que assiste à morosidade do
governo na tramitação dos processos
referentes à movimentação das comunidades.
Diz que a União Geral dos Camponeses
(UNAC) ao nível de Cabo
Delgado, nas suas actividades de monitoria
e assistência visando assegurar
os seus direitos sociais, económicos e
culturais dos camponeses sente que
falta alguma sensibilidade do executivo,
bem como das concessionárias na
resolução dos problemas da comunidade
camponesa de Palma. A União
provincial dos Camponeses de Cabo
Delgado desenvolve suas actividades
em parceria com o Instituto Panos
Por Raul Senda (texto e fotos)
Distrito de Palma: Atrasos e falta de clareza nos reassentamentos provocam incertezas e desespero no seio das comunidades abrangidas
mentos estatísticos sozinhos.
Nem os representantes da comunidades
tão-pouco as organizações da
sociedade civil foram convidados a
participar e, como consequência, foram
cometidos erros que, se não forem
corrigidos, podem prejudicar a
população no futuro.
Tacar diz, por exemplo, que o processo
do levantamento de dados para o
reassentamento das comunidades de
Palma ignorou aspectos antropológicos
e sociológicos.
Sublinha que se tem notado que o
governo funciona como advogado das
corporações e não abre espaço para
as comunidades negociarem directamente
com as empresas.
Refere ainda que as comunicações entre
as comunidades e o governo nunca
são documentadas e, quase sempre,
resumem-se na oralidade, o que dificulta
a comprovação dos compromissos
acordados.
O governo está a abdicar-se
do seu dever
Alcídio Sitóe, jurista e activista dos
direitos humanos, é da opinião de que
a não divulgação do plano de reassentamento
viola grosseiramente a Lei de
Direito à Informação, na medida em
que, dentro dum prazo certo, o governo
bem como as concessionárias têm
a obrigação de tornar pública toda a
informação que é do interesse geral.
Entende o advogado que ao não divulgar
o plano de reassentamento, o
governo e as empresas estão a violar
o direito do cidadão de ser mantido
informado e lhe prover de condições
para a sua participação no debate.
Para justificar a sua tese, Alcides Sitoe
cita vários dispositivos legais referentes
à Lei de Direito à Informação e
sublinha que a permanente participação
do cidadão na vida pública
pressupõe o acesso à informação de
interesse público e a administração
pública é obrigada, por lei, a disponibilizar
toda a informação de interesse
público.
No que concerne às indeminizações, o
jurista diz que a actuação do governo
e das corporações está a violar os direitos
das comunidades.
Sublinha o jurista que, por exemplo,
o artigo 7 da Lei 21/2014 de 18 de
Agosto, ou Lei dos Petróleos, diz que
o Estado garante uma justa indemnização,
paga pelos concessionários
Comunidades abrangidas pelo processo de reassentamentos em Palma
Para o administrador de
Palma, David Machimbuko,
é importante perceber
que, para chegar ao
fim toda a obra, passa por vários
processos, alguns delicados e outros
bons.
O mesmo acontece quando está-
-se perante grandes investimentos
como é o caso do que se está a verificar
na bacia do Rovuma.
Machimbuko diz que as empresas
responsáveis pela exploração de
hidrocarbonetos na bacia do Rovuma
acabam de sair da fase de
pesquisas e prospecção e só agora
estão a avançar para investimentos
e os ganhos virão mais tarde.
Mesmo assim, o governo não relaxa,
está a pressionar as empresas no
sentido de cumprir suas obrigações
para com as comunidades locais e
alguns resultados são visíveis. Sublinhou
que como nem tudo cabe
às concessionárias, o executivo
também está a fazer o seu papel.
David Machimbuko disse que há
cinco anos, o distrito de Palma não
era ligado por uma estrada asfaltada,
não tinha energia da rede nacional
e muito menos um hospital
de referência.
Hoje, já existem essas infra-estruturas.
Com o apoio das multinacionais
foi reabilitado, ampliado
e modernizado o hospital local.
Hoje o hospital da sede de Palma
conta com todos os serviços dum
hospital de grande nível. São avan-
ços.
No que concerne ao reassentamento
das comunidades das zonas
abrangidas pela construção da
GNL, David Machimbuko referiu
que se trata dum processo complexo
que tem suas especificidades e
precisam de muita prudência.
Referiu que são cerca de 556 famí-
lias que deverão sair na totalidade
e outras que poderão perder machambas
e algumas benfeitorias.
Diz que são pessoas que serão obrigadas
a começar nova vida noutros
locais, pelo que a sua transferência
deve garantir que não vivam priva-
ções.
Pelo contrário, os seus questionamentos
foram encarados como desafios e
dias depois foi afastado do comité.
De acordo com Burahane, o distrito
de Palma possui enormes diversidades
agro-ecológicas e todas as zonas
onde as comunidades se aglomeram é
porque há condições mínimas para a
prática da agricultura ou da pesca.
Com a movimentação, as comunidades
temem que sejam reassentadas em
zonas sem condições para a prática de
agricultura ou longe do mar, tal como
aconteceu com os compatriotas da
província de Tete.
Adinane diz que possui terras com
coqueiros e cajueiros. É através dessas
culturas que garante o sustento da
família. Porém, com os reassentamentos,
a informação em seu poder é de
que cada família irá receber 1.5 hectare,
o que na sua óptica é uma área
África Austral.
As lamentações das comunidades
abrangidas pelos projectos de gás são
reforçadas por Issufo Tacar, activista
do Centro Terra Viva (CTV) que
referiu que a Anadarko e a ENI estiveram
nos últimos três a quatro anos
envolvidas no processo de preparação
do plano de reassentamento que veio
a ser aprovado pelo governo em Dezembro
de 2016.
Contudo, não obstante ser um assunto
do interesse geral, o mesmo não é
do domínio público.
Frisa que mesmo as comunidades
abrangidas não têm nenhuma informação
sobre o supracitado plano.
Issufo Tacar refere que o governo está
a violar grosseiramente os direitos dos
cidadãos. Diz, por exemplo, que o governo
decidiu que, por cada coqueiro
abatido, o proprietário receberia, de
Machimbuko referiu que já foi aprovado
o plano de reassentamento bem
como a planta das casas que já foram
apresentadas e aceites pelas comunidades.
Dentro em breve irá iniciar
o processo de execução do plano de
reassentamento e, em simultâneo, a
construção das habitações.
“Neste momento, há técnicos que estão
no terreno a verificar essas especificidades.
Desde a questão ambiental,
áreas de produção agrícola, acessos,
lugares para a construção de hospitais,
escolas e outros condimentos referentes
à sobrevivência humana. Isto
mostra que não estamos relaxados.
Estamos a trabalhar e, em breve, os
frutos serão visíveis”, tranquilizou o
governante.
David Machimbuko referiu que esta
não é altura de falar de datas, na medida
em que o processo é longo e o que
o governo quer é garantir o bem-estar
das comunidades.
A tarefa é colectiva
Para José Muianga, substituto do
director nacional de Ordenamento
Territorial, movimentar um ser
humano do seu local de residência
habitual para um outro onde deve
iniciar nova vida é uma questão
sensível.
A complexidade do processo
obrigou o governo a tomar um
conjunto de medidas com vista a
encontrar uma solução definitiva e
não prejudicial.
Contou que, no ano passado, o governo
reuniu-se com as empresas
envolvidas nos projectos de gás,
sociedade civil e membros das comunidades
abrangidas para analisar
a questão dos reassentamentos
e encontrar uma solução conjunta.
Dessa auscultação verificou-se que
havia muitas lacunas no processo
de reassentamento.
Foi daí que se suspendeu o processo
e aprovou-se um novo plano
que se espera venha minimizar os
problemas.
“Todos os esforços do governo é
no sentido de garantir o bem-estar
das comunidades, é para desenvolver
o país. Acreditámos que esse é
também o objectivo da sociedade
civil. Por isso, numa operação tão
complexa como esta, precisámos
de todo o apoio, porque achamos
que o interesse é também de todos”,
disse.
Sobre a não divulgação do plano
de reassentamento aprovado em
Dezembro de 2016, José Muianga
referiu que não há nenhum interesse
do governo em esconder a
informação. O processo está na
fase de conciliação e adequação à
realidade para evitar-se erros do
passado e que oportunamente será
compartilhado com o público para
debates.
Muianga sublinhou que a realidade
mostra que a legislação sobre
os reassentamentos materializados
no regulamento 31/2012 de 18 de
Agosto está completamente desactualizado
e precisa de ser adequada
à realidade actual.
É preciso ter paciência
dos direitos dos petróleos e do gás,
às pessoas ou a comunidades que detém,
a qualquer título, direitos de uso
e aproveitamento da terra bem como
da água territorial.
Continua a sua explanação referindo
que o mesmo artigo refere que
quando a área de concessão abrange
espaços ocupados pelas famílias
ou comunidades que implique o seu
reassentamento, - caso de Palma -,
as concessionárias são obrigadas a
indemnizar os abrangidos de forma
justa e transparente para além de que
as indeminizações devem resultar de
um entendimento entre o governo, as
concessionárias e as comunidades.
Para Alcídio Sitoe, socorrendo-se na
lei 21/2014 de 18 de Agosto, a justa
indemnização abrange reassentamentos
em habitações condignas e em
melhores condições que as anteriores,
pagamento do valor de benfeitorias
nos termos da lei, preservação do património
histórico, cultural e históricos
das comunidades numa modalidade
acordada pelas partes para além
de apoio no desenvolvimento das actividades
de que dependem a vida e a
segurança alimentar e nutricional dos
abrangidos.
Diz que a justa indeminização não
é nenhum favor. É um imperativo
legal que deve ser obrigatoriamente
cumprido e, em nenhum momento, o
governo deve-se apresentar como advogado
das concessionárias.
Para o jurista, o governo é apenas intermediário
entre as partes e tem o
papel de garantir a observância da lei.
Burahane Adinane
Muanassa Alberto Issufo Tacar
Alcídio Sitóe
David Machimbuko, administrador de
Palma
José Muianga
16 Savana 07-07-2017 PUBLICIDADE SOCIEDADE
A Eni East Africa S.p.A. (EEA) convida a todas as empresas interessadas
na lista de serviços abaixo, a submeterem a sua Manifestação
de Interesse. Os serviços deverão ser executados em vários locais de
Moçambique (em, mas não limitado a Maputo, Palma e Pemba).
As empresas interessadas deverão submeter a sua Manifestação de
Interesse, através do seu registo no portal da EEA, abaixo indicado:
https://eprocurement.eni.it/int_eng/Suppliers/Qualification/Mozambique-Application
(para as candidaturas em língua inglesa) tura-Mozambico
(para as candidaturas em língua portuguesa/italiana)
IMPORTANTE: A submissão deverá fazer referência aos seguintes
códigos de Bens/Produtos/Serviços listados, no entanto a EEA irá
avaliar também aplicações para serviços não expressamente indicados
nesta lista.
Redacção:
Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo
Nhampossa, Armando Nhantumbo e
Abílio Maolela
)RWRJUDÀD
Naita Ussene (editor)
e Ilec Vilanculos
Colaboradores Permanentes:
Fernando Manuel, Fernando Lima,
António Cabrita, Carlos Serra,
Ivone Soares, Luis Guevane, João
Mosca, Paulo Mubalo (Desporto).
Colaboradores:
André Catueira (Manica)
Aunício Silva (Nampula)
Eugénio Arão (Inhambane)
António Munaíta (Zambézia)
Maquetização:
Auscêncio Machavane e
Hermenegildo Timana.
Revisão
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EDITORIAL Cartoon
Éirrefutável, para qualquer cidadão
atento, o argumento de
que se Moçambique tivesse de
contar com a actual juventude,
sobretudo aquela ligada ao centro do
poder político dominante, para a sua
libertação do colonialismo português,
a história do país teria seguido outro
rumo. Muito provavelmente teríamos
de aguardar por mais algumas décadas
para que Moçambique se tornasse
num país independente, ou então, esta
tarefa teria sido executada por outros
indivíduos. Moçambique teria de contar
com outros jovens, que de certeza,
estes nunca fariam parte. Da juventude
do establishment, jamais brotaria
algum Mondlane, Simango, Machel,
Marcelino, Dhlakama, Josina e tantos
outros, capazes de afrontar, abertamente,
o status quo colonial ou mesmo
pós-colonial. Com esta juventude não
haveria revolução, pois não haveria inconformismo
algum diante das injustiças
perpetradas pelo colonialismo ou
por qualquer outro regime opressor. A
injustiça, a corrupção, a ilegalidade, a
desigualdade e outras diversas formas
de opressão e segregação nunca os teriam
sido nem factor de indignação,
tampouco de incómodo, como foi para
a juventude do passado, ao ponto de
decidir pegar em armas e avançar para
a luta armada.
Ora, a verdadeira juventude deve representar
um estado de espírito em
que reine um elevado sentimento de
inconformismo, determinação, aventura,
questionamento, criatividade,
rebeldia, vontade de transformar, de
inovar e, enorme atitude de revolta,
especialmente, perante casos de injustiça
política e sócio-económica. É
assim que se caracteriza um jovem
normal – constantemente inconformado.
Mas, em Moçambique, a história
parece estar a ser realmente outra. A
proclamada juventude dos continuadores
– onde se inclui aqueles que se
orgulham de pertencer à tal chamada
geração da viragem – é, de facto,
composta por indivíduos que apostam,
inabalavelmente, na continuidade e na
permanência. Esta geração é feita de
indivíduos atrelados, permanentemente,
no passado do outrem. São indivíduos
que não aparentam ambição alguma
de marcar qualquer capítulo da história
da sua própria pátria, de tal forma que
muitos, rapidamente, entram e saem, da
história sem deixar qualquer rastos, até
mesmo quando passam por instituições
como a Assembleia da República, Ministérios,
organizações sociedade civil
sonantes, órgãos supremos do partido,
etc. O jovem deste grupo orgulha-se de
ser apenas paisagem ou objecto de ornamentação,
no seu próprio tempo, desafiando,
até mesmo, o próprio conceito
de juventude.
Esta juventude é estranhamente acrí-
tica e moribunda. Jovens que se orgulham
de não apenas comportar-se
como também de agir como se sexa ou
octogenários fossem. Vestem-se, falam,
caminham, pensam, ou melhor, agem
como autênticos macacos imitadores.
Politicamente, são verdadeiras caixas
de ressonância. Por conseguinte, não
expressam opinião, sentimento, nem
discurso político autónomo ou original.
O máximo que se lhes ouve dizer é a
famosa expressão: “Segundo o camarada
Presidente...”, de onde segue o relato
taxativo do extrato do tal discurso do
seu Presidente. Neste sentido são exí-
mios “secundadores”. O seu discurso
apenas corrobora, nunca acrescenta,
não rectifica, muito menos se atreve
a trazer o contraditório, até mesmo
quando tal se exige. Para além de não
contribuir em absolutamente nenhum
na génese, análise e na reconstrução
do discurso político em Moçambique,
esta juventude exibe-se, firmemente,
em prontidão combativa contra aqueles
que o fazem.
O seu desejo de continuidade e de imitação
é tanto que só lhes resta exibir
as mesmas rugas e o caminhar exausto
de um velho antigo-combatente. Essa
juventude não tem atitude e não se indigna
por absolutamente nenhum, nem
dentro nem fora do seu circulo político
e social. O marasmo destes jovens é
tanto que até deve intrigar o mais tenaz
anticrítico dentro do seu próprio grupo.
Imagino que várias devem ter sido as
ocasiões em que alguns indivíduos, com
ideais mais progressistas, dentro do seio
meio partidário, devem ter proposto alguns
desses jovens, na esperança de que
eles fossem trazer algo moderno. Por
exemplo, ao propor-lhes para responsabilidades
no governo da República
e nos órgãos supremos do partidão.
Porém, tal não deve ter sido o espanto,
ao notar que este grupo exonerou-se,
por completo, do seu próprio estatuto,
apostando, convicta e fanaticamente,
no seu próprio envelhecimento precoce.
A juventude a que aqui me refiro não
é idealista muito menos reformista. É,
simplesmente, social e politicamente
o que se pode apelidar de autênticos
seres heterotróficos parasitas, que abdicaram
do seu próprio direito à palavra
e à indignação, a favor de lugares
onde haja pasto fácil, em abundância.
Por conseguinte, já aparenta estar em
pleno leito de morte intelectual. Esta
juventude não ambiciona e nem inspira
a ninguém. Ela apenas se inspira na
versão dogmática do passado dos seus
heróis, seu lugar-mor. Ela nunca se indigna
nem perante os actos de corrup-
ção mais grosseiros que acontecem na
sua própria pátria, até contra si mesmo
e com consequências desastrosas para
o seu próprio futuro e dos seus filhos.
Esta juventude é, de facto, tão “autista”,
que de certeza que também ainda
não leu as conclusões do importante
relatório da Kroll Associates. Aliás, e o
pior ainda, é que não se espera que esta
juventude algum dia venha sequer a se
cruzar com o conteúdo deste documento.
Ela mais não faz, senão aguardar que
os seus ídolos o façam e orientem sobre
como se devem posicionar, publicamente,
perante os factos nele arrolados.
Jovem, mas afinal porquê te conformas
assim?
Vergonhosa, moribunda e conformada
O
ptimismo exacerbado é o que se pode dizer do espírito que se
apoderou dos promotores das três empresas que no seu conjunto
obtiveram garantias do Estado para contrair empréstimos
de mais de 2 biliões de dólares, agora conhecidos por
dívidas ocultas.
O mais grave é que foi um optimismo sem qualquer base objectiva
sobre a possível viabilização dos referidos projectos.
De acordo com o relatório de auditoria internacional, cujo resumo foi
divulgado pela Procuradoria Geral da República (PGR) no dia 24 de
Junho, as três empresas contraíram os respectivos créditos em 2013,
dentro do entendimento de que até Dezembro de 2016 já teriam conseguido
obter receitas totais de 2,4 biliões de dólares, o que lhes permitiria
amortizar uma parte dos empréstimos e ter um fluxo de caixa para
prosseguirem com as suas operações.
O resumo do relatório de auditoria indica que a ProIndicus contraiu
dois empréstimos junto do Credit Suisse e da VTB Capital, totalizando
622 milhões de dólares.
A empresa tinha uma projecção de receitas operacionais estimadas em
607,8 milhões de dólares até Dezembro de 2016, ao que depois de deduzidos
29,5 milhões de dólares de custos, deixava a empresa com um
remanescente de 556,2 milhões de dólares para a amortização da dívida.
O relatório nota, contudo, que até à data da conclusão da auditoria a
ProIndicus não tinha gerado “quaisquer receitas operacionais”.
A EMATUM, por sua vez, obteve dos dois bancos um empréstimo
total de 850 milhões de dólares, com um prazo de vencimento de sete
anos.
De acordo com o seu plano de negócios, a empresa contava gerar um
volume de receitas operacionais de cerca de 224 milhões de dólares
até Dezembro de 2016, de onde, deduzidos custos de 32,1 milhões de
dólares, restaria um fluxo de caixa de 192 milhões de dólares para a
amortização da dívida. Mas as demonstrações financeiras indicam que
a EMATUM só conseguiu gerar receitas equivalentes a 14 268 dólares,
em 2014.
A terceira empresa, a Mozambique Asset Management (MAM), contraiu
junto da VTB Capital um empréstimo total de 535 milhões de
dólares. A sua projecção de receitas era de 63,7 milhões de dólares no
final do primeiro ano de actividades. Depois de subtraídos 48,6 milhões
de dólares para o pagamento de juros, a empresa teria um saldo de cerca
de 16 milhões de dólares.
Mas tal como as outras duas, até à data da conclusão da auditoria a
MAM não tinha produzido nenhuma receita resultante das actividades
do seu objecto social.
A base para as futuras receitas da MAM estava ligada aos rendimentos
provenientes dos serviços de manutenção das embarcações da ProIndicus
e da EMATUM, a construção de embarcações, e serviços de manutenção
de embarcações comerciais para as empresas envolvidas nas
operações de pesquisa e extracção de gás na Bacia do Rovuma. Só que
nenhum acordo nesse sentido foi celebrado com qualquer um dos potenciais
clientes da MAM.
É notável, no conjunto das três empresas, que apesar de todas se destinarem
à prestação de serviços a terceiros, nenhuma delas terá antes de
se lançar no negócio celebrado qualquer tipo de entendimento sobre
possível toma por parte dos potenciais beneficiários dos seus serviços.
O que pode pressupor a ausência de estudos aprofundados sobre a viabilidade
dos negócios. Isto, associado aos relativamente curtos prazos
de amortização das dívidas, expôs as três empresas a um elevado risco
de insolvabilidade.
Há também questões de um modelo de gestão relaxado que se tornam
inconcebíveis para investimentos desta magnitude. Fazendo fé ao relatório
de auditoria, subentende-se a ausência de “qualificações necessárias,
capacidades ou experiência” por parte dos gestores para que lhe
fosse confiada tão complexa responsabilidade.
“Parece que as pessoas singulares fundamentais responsáveis pelas operações
diárias das empresas... não possuem as capacidades necessárias
para desempenhar as suas funções”, diz o relatório.
Com todas estas constatações, não espanta o nível de laxismo e optimismo
exacerbado com que um assunto de tamanha envergadura foi tratado.
Infelizmente, esta é apenas uma pequena amostra do que acontece
em toda a cadeia de gestão dos assuntos do Estado em Moçambique.
Dívidas ocultas: apenas uma
pequena amostra
Por Fredson Guilengue
OPINIÃO DE MADURO PARA VENEZUELANOS
Morrer... ...ou Morrer
Savana 07-07-2017 19 OPINIÃO
535
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
Há uma prática que, apesar
de estar enraizada
profundamente numa
certa faixa da nossa
sociedade, nas de alguns outros
países na África subsariana e
mesmo de alguma Europa, Ásia e
América Latina, não posso deixar
de deplorar visceralmente: é a de
gravar uma cruz na testa daqueles
que, tendo convivido connosco,
depois de mortos nos deixaram,
entre o seu espólio, uma, duas,
sete ou mais fotografias.
Para além de ser um exercício
inútil, ele resvala, no fim, para
um patamar de mau gosto e falta
de respeito duma exacerbação tal
que, por não ter limites, é indescritível.
E, analisando um pouco
mais a coisa, pode-se mesmo chegar
à conclusão – que não é falsa
– de que, no fundo, quem prega
uma cruz na testa de alguém que
com ele conviveu e morreu, e está
hoje representado apenas numa
foto, goza do secreto prazer de
saber que ele, ao menos, continua
vivo. O que não deixa de ser uma
sacanice.
Por extensão de ideias, também
não alinho muito com as expressões
“o meu falecido tio” ou “a
minha falecida irmã” ou “o nosso
falecido querido pai”, que come-
çam ou intermedeiam frases. Não
tem sentido! Se a pessoa faleceu,
faleceu. Se nós queremos dar a
ideia, no nosso discurso, de que
a pessoa de quem estamos a falar
já não pertence ao nosso mundo,
passou para o outro lado da fronteira,
basta conjugar o verbo no
passado.
Dei-me por feliz porque, semana
passada, obedecendo a um
impulso recorrente, fui vasculhar
um dos meus álbuns de fotografias,
onde notei que, de facto, se
eu pusesse cruzes nas pessoas que
ali estão ou utilizasse sobre elas
a expressão “a minha falecida”,
metade do livro estaria cheia de
cruzes e três em cada cinco frases
que pronunciasse começariam
daquele modo. Não tem sentido,
principalmente quando se chega
à idade em que estou e depois de
ter levado a vida que levei.
Não vivi intensamente, talvez,
mas conheci muita gente e convivi
com ela. E tenho obrigatoriamente
de reconhecer que mais de
metade daquela gente toda já ultrapassou
a fronteira e está a viver
do outro lado, o que é natural; a
idade faz com que os mortos sejam
supranumerários em relação
aos nossos vivos.
Bom, peguei num álbum ao acaso
e fui andando por aí, nessas
minhas divagações, até que, de
repente, parei numa foto. Eram
oito ou nove jovens, entre os 19 e
os 20 anos, e entre eles reconheci-
-me. Tive que me reconhecer. Virei
a foto do avesso e atrás estava
escrito “Escola de Aplicação Militar
de Boane. Março de 1974.” E
recordei-me logo de tudo aquilo.
Estávamos em frente à caserna
destinada aos jovens que estavam
no curso de sargentos milicianos.
Jovens saídos do liceu com o 5.º
ano ou 6.º, ou dos institutos Industrial
ou Comercial. Aspirantes
a furriéis, portanto. Mas o mais
interessante não é isso. É que,
daqueles oito jovens, eu poderia
colocar hoje cinco cruzes, uma na
testa de cada um deles, começando
pelo Salomão Nhantumbo.
O Salomão Nhantumbo era aquilo
a que se chamava um homem
que não tinha garbo militar, de tal
forma que, exasperado, o nosso
instrutor um dia pegou numa pedra,
colocou-lhe na mão esquerda
e disse: “Dr. Nhantumbo” – naquela
altura já se podia chamar
doutor a um instruendo, porque
se tinha dado o 25 de Abril, em
Portugal – “quando eu disser «esquerda
volver» o senhor tem de
se virar para o lado onde tem essa
pedra!” Mas o Nhantumbo começava
isso tudo com a sua larga
bagagem em Filosofia clássica, se
é assim que se chama. Discursava
horas e horas sobre Platão, Sócrates
e essas coisas. Muitos de nós
não entendíamos, mas ele tinha
uma capacidade de comunica-
ção incrível. Mais tarde voltei a
encontrar-me com ele já como
professores na Escola Secundá-
ria da Polana, no curso nocturno.
Bebemos uns copos, conversámos
sobre os velhos tempos da tropa e
por aí adiante… Depois morreu.
Morte prematura.
Olhei para a outra cara que estava
ali. Era o Francisco Jossias,
um baixote, em termos físicos.
Tínhamos sido colegas no Liceu
António Enes, onde ele se notabilizou
muito não pelas suas
faculdades de grande estudante,
mas pela sua capacidade de fazer
malabarismos com a bola como
ponta-de-lança na nossa equipa
de futebol de salão. Depois tentou
fazer carreira no futebol federado,
já depois da independência. Depois
soube que morreu, não sei de
quê. Seria mais uma cruz.
E estava ali, nessa foto, o Samuel
Matola, mais um palmo e meio de
gente, de pele muito clara, sorriso
contagioso, que foi um dos primeiros,
senão mesmo o primeiro,
director do Instituto Nacional de
Cinema, instituição que tinha um
dos maiores acervos da história
do Moçambique moderno em
termos de imagens fixas ou em
movimento – acervo que, como
eu já disse várias vezes, numa bela
noite ardeu em circunstâncias
que não serão nunca esclarecidas,
porque não é do interesse da nomenclatura
esclarecê-las. Havia
ali imagens muito comprometedoras.
E já lá vão 3 cruzes.
E depois vi nessa mesma foto o
Totó Vilanculos, também baixote
e sorridente. O Vilanculos,
depois da nossa desmobilização,
colocou-se num lugar chave na
recém-criada Administração do
Parque Imobiliário do Estado.
Devo a ele o facto de ter localizado
a flat onde vivo até agora, 41
anos depois, numa zona nevrálgica
da Cidade de Maputo. Nevrálgica
por uma razão simples:
estou a 500 m de duas escolas
secundárias gémeas, a 4 km duma
escola secundária, tenho uma casa
de modas que foi muito célebre
na cidade de Lourenço Marques,
uma cadeia de mercearias e bares
ao meu serviço – eu, que não sou
pouco amigo de bares e esplanadas;
tenho pastelarias e, no fundo,
toda esta zona onde continuo
até hoje era o nó dos transportes
públicos ou privados de Louren-
ço Marques e ainda o é hoje, na
Cidade de Maputo. Foi o Totó
Vilanculos que me arranjou este
lugar.
Em finais da década de ’80, eu e
o Kok Nam fomos a Tete requisitados
pelo partido Frelimo para
trabalhar para a Nação, como se
dizia na altura. Meteram-nos no
Hotel Zambeze, que nessa altura
era pouco menos que uma pocilga.
Fedia por todos os lados e,
apesar de estar a escassa distância
do rio Zambeze, não vertia água
das torneiras havia mais de duas
décadas. E não obstante a cidade
de Tete ser a mais quente do país,
os aparelhos de ar condicionado
montados nos quartos ou nas salas
de refeições não funcionavam.
Estávamos desesperados, até que
um ou dois dias depois nos cruzámos
com uma bela figura entre
a Univendas e o Hotel Zambeze.
Era o Manecas Guebuza, que tinha
estado comigo na tropa e está
nesta foto de que estou a falar.
– Onde vocês estão hospedados?
– No Hotel Zambeze.
– Nem se pode pensar!
O Manecas Guebuza, na altura,
era delegado provincial da Steia,
que tinha casas de hóspedes um
pouco na periferia da cidade. Casas
pré-fabricadas, três quartos, ar
condicionado em todos eles e na
sala, camas confortáveis, lençóis,
geleira disponível. Era o paraíso.
Olhei para aquela foto, olhei para
a cara do Manecas Guebuza, do
Salomão Nhantumbo, do Francisco
Jossias e do Zimba… O
Zimba, que acabou por ser o gerente
do Hotel Santa Cruz, aqui
na esquina das avenidas Amílcar
Cabral e 24 de Julho, numa altura
em que para se comer uma sandes
e beber um copo de cerveja,
tal como arranjar meio quilo de
carne de segunda num talho, depois
de dormir uma noite inteira
numa bicha, era preciso ajoelhar-
-se e lamber os pés – e digo os
pés por uma questão de respeito,
porque poderia dizer outra coisa
pior – a tudo o que era servente
e barman. E o Zimba era gerente
do Hotel Santa Cruz…
Olhei para a foto, para aqueles
oito mancebos, instruendos da
Escola de Aplicação Militar de
Boane, 1974, última incorporação
para a tropa portuguesa nas ex-
-colónias antes da desintegração
do império, e não chorei porque
não sou homem de chorar com
facilidade. Ou melhor, as minhas
lágrimas são como uma corrente
subterrânea. E entre gravar uma
cruz na testa de cada um dos
mortos e deixar a testa de todos
intactas, preferi a última.
Entre as intactas estou eu, com
um aerograma na mão (e lembro-
-me que o aerograma era da Anita,
minha namorada, com saudades
precoces de mim, a pensar
que talvez fosse morrer lá para as
matas de Niassa ou Cabo Delgado);
o outro é o Renato Cândido,
reformado como eu, mas ele
do Banco de Moçambique; e o
último um editor bem-sucedido
agora, um jornalista que admiro
muito, de nome Humberto Mandlate.
Todos nós, homens humildes
e comuns, temos como destino
carregar uma cruz durante a vida.
É natural. Mas, agora, fazer-nos
carregar essa cruz depois da morte,
gravando-a na nossa testa nas
fotografias que vos deixamos, é
duma crueldade imensa e insana.
E
ste é um texto sobre tribalidade,
não no sentido
clássico de tribo, mas no
sentido múltiplo de identidade
grupal e política.
Eis a pergunta: como nasce a
estrutura da tribalidade e como
funciona na prática?
A estrutura da tribalidade nasce
na interacção social quando
gerimos, protegemos ou almejamos
monopolizar recursos
de vida e poder fundamentais,
quando praticamos a estrutura
social dos semáforos:
primeiro estão, passam ou ganham
os nossos, depois os outros
se algo restar ou permitirmos.
A estrutura da tribalidade tem
um princípio ideológico simples:
o nosso grupo [família, linhagem,
classe de idade, região,
clube desportivo, unidade militar,
sindicato, partido político,
agrupamento de bairro, religião,
agrupamento científico] tem o
direito histórico à preeminência,
ao usufruto social e à verdade.
É esse princípio que comanda a
selecção identitária de pessoas,
adeptos, apaniguados, crentes,
militantes, funcionários e parentes.
Estrutura da tribalidade
Memória crepuscular
20 Savana 07-07-2017 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
P
edir publicamente a impugna-
ção das dívidas ocultas tornadas
públicas pelo voto maioritário
é mais um passo significativo,
através do fórum, que demonstra que
a sociedade, nos seus vários segmentos,
não está adormecida, não se conforma
com a atitude da bancada maioritária, é
um passo considerável no sinuoso processo
de exercício da jovem democracia
moçambicana.
A auditoria realizada pela Kroll produziu
de forma denunciada aquilo a que
podemos chamar de “crocodilo gigante”.
Olhando para o animal e respectiva
turma, percebe-se que cresceu, sim,
mas ninguém de viva voz se dignou a
respeitar ou, no mínimo, a interpretar o
significado da expressão “de pequenino
se torce o pepino”. O resultado óbvio é
Dívidas e crocodilos
que o pepino, de pequeno, começou a torcer
o seu próprio povo reduzindo-o a uma
paisagem padecendo de obediência. É nesse
compasso que o crocodilo e sua turma
se agigantaram exagerando no consumo
de patos criados pela população. Patos que,
por indução, se acreditou serem propriedade
do crocodilo; uma crença que mais não
era que uma moeda de troca pelo medo que
nutriam.
Um facto interessante começa a dominar a
praça: vários semanários exploram a referida
turma, ou seja, chapam no seu interior a
cara dos cúmplices. Estes não reagem. No
seu interior obviamente que não se calam.
Mas, é melhor que fiquem calados, no verdadeiro
sentido da palavra, para usufruí-
rem do exercício de percepção da máxima
que diz que “os cães ladram e a carroça passa”.
Faz parte do exercício procurar saber
quem são os cães e o que constitui a carro-
ça? Não se escolhe ser uma coisa ou outra.
Entretanto, como muitos creem parece que
a carroça vai mesmo passar… Se não forem
cães, nem carroça, talvez sejam, de facto,
crocodilos; e estes não ladram! Ao seu lado
a turma vibrou reforçando a irmandade, a
familiaridade, isto é, o crocodilo não faz de
outro (crocodilo) a sua presa. Podem até
ter as suas desavenças, mas a natureza não
permite que se alimentem entre eles. É isto
que o povo já comenta.
Voltando aos cúmplices chapados pelo
CIP nos jornais, é caso para perguntar:
como é que com tanta democracia interna
ao nível do partido, tanta sabedoria sobre
o sofrimento do povo empobrecido, tanto
domínio de procedimentos, indivíduos
iluminados, maduros e supostamente gozando
de autonomia, foram ao ponto de
aprovar algo que sabiam que prejudicaria
ao povo que eles próprios dizem defender?
Teriam sido os ditames da (in) disciplina
partidária?
Voltemos aos crocodilos. Na margem
estes descansam. O sol não os
incomoda e muito menos as moscas.
Da zona de conforto em que estão
conseguem perceber que o facto de
os cães ladrarem só ajuda a carroça a
passar. É como se os latidos fossem
uma espécie de combustível que faz
mover a carroça. Como os crocodilos
não são cães e nem carroça isso
não lhes afecta. Só uma cidadania
consciente e envolvente, organizada
e concisa, poderá tirar os crocodilos
da sua zona de conforto sem custos
para o necessário equilíbrio ecológico.
Está começar a aquecer!
Como primeira grande conclusão
cumpre afirmar que o critério que
aqui sustentámos assenta sobretudo
no facto da Administração não ser
titular dos interesses públicos que defende
em juízo, mas a lei que a vincula ao exercício
do direito de acção e lhe confere os mesmos
direitos das outras partes processuais.
Assim, permite-nos concluir do nosso lado o
que se segue:
a) Os Estados modernos ao consagrarem o
Estado de Direito democrático, inscrevendo-o
nas respectivas Constituições,
põem termo à suposta superioridade da
Administração Pública, submetendo-a
aos limites da lei e ao princípio da legalidade;
b) Nos interesses difusos aparece o particular
ou grupo de particulares, ou ainda,
apoiados por uma entidade de defesa de
interesses, fruto do alargamento dos direitos
subjectivos, como resultado da democratização
do direito;
c) De destacar, porém, que o Ministério
Público que pode desempenhar um papel
fundamental no controlo da legalidade
bem como na qualidade de (amicus
curiae), ficando, claramente expresso, o
cariz objectivista do contencioso administrativo.
d) Também é verdade que àquele órgão
usando os poderes que possui, adquire
um amplo controlo sem limitação, relativamente
à protecção dos direitos dos
particulares, nomeadamente quando age
no âmbito da acção popular, prevista no
artigo 81º da CRM;
e) Das teses da escola subjectivista se pode
extrair a defesa da existência de um direito
à legalidade feito valer no processo, que
consistia num (poder dos particulares de
exigir dos órgãos e agentes da Administração
a observância estrita dos preceitos
legais que os vinculam, serve, a um tempo,
os interesses privados dos particulares e o
interesse público de uma Administração
submissa à lei: é, pois, o mais característico
direito subjectivo público dos particulares);
A análise dos dois elementos de índole subjectiva
e objectiva do recurso contencioso de
anulação, não pode ser vista de forma parcial,
sob o risco de se perder a perspectiva que estes
encerram.
Deste modo retornamos à segunda grande
indagação sobre o instituto do “princípio do
incidente principal” o que resulta simplesmente
de saber se, sendo, é admissível ou não no
âmbito do recurso contencioso de anulação,
tal como é regulado no Código de Processo
Civil.
A busca de uma resposta à questão, passa por
saber se é aceite, e, neste caso, a resposta será
afirmativa, e, qual é o regime jurídico desse
incidente no âmbito do contencioso administrativo.
Deste modo se coloca como primeira questão,
qual é a razão de ser deste instituto.
Sabe-se à partida, que a resposta mais consentânea
seria baseada em três pressupostos,
se considerarmos que esta figura se destina a
permitir a entrada no processo de uma nova
parte principal, que não tomou iniciativa de
o desencadear nem se associou ao autor no
momento em que o processo foi instaurado,
mas que tem um direito próprio, paralelo ao
do autor, a fazer valer.
Neste contexto, em relação às pessoas que se
encontram nesta situação, a lei processual civil
poderia tomar uma de três posições:
Primeira, não admitir, de todo em todo, a
possibilidade de elas intervirem num processo
já em curso;
Segunda, admitir essa intervenção, mas apenas
nas fases iniciais do processo; Terceira,
admitir a intervenção, e permiti-la a todo o
tempo, enquanto a causa não estiver definitivamente
julgada.
A doutrina actualista e consolidada, defende
que no recurso contencioso de anulação,
nada obsta quanto a admissibilidade do incidente
de intervenção principal, o que se extrai
pacificamente da natureza mista do recurso
contencioso de anulação que funciona como
instrumento criado pela ordem jurídica para
protecção efectiva dos direitos subjectivos e
interesses legítimos dos particulares, (CRM,
O Contencioso Administrativo e o Elemento de
índole Subjectiva (Concl.)
art.º 253°, n° 3).
A interpretação a que se presta a disposição
constitucional supra, aliado a dois princípios
fundamentais, designadamente o princípio
da justiça e o princípio da eficiência do sistema
judicial, podemos extrair conclusões que permitam
defender e afirmar a admissibilidade
do princípio em causa no recurso contencioso
de anulação.
É deste modo que, aceite a admissibilidade
e o regime jurídico dele resultante, podemos
concluir afirmativamente nos seguintes termos:
i) O processo de recurso contencioso de
anulação perante os tribunais administrativos
comporta o incidente de interven-
ção principal, nos termos regulamentados
pelos artigos 351° e seguintes do Código
de Processo Civil, naturalmente com as
necessárias adaptações;
ii) Militam, neste sentido, as mesmas razões
que justificam a admissibilidade da
intervenção principal em processo civil,
nomeadamente o princípio da justiça e o
princípio da eficiência do sistema judicial,
havendo ainda mais fortes razões para
aceitar esse incidente no recurso contencioso
da anulação do que em processo
civil, dado que naquele há um interesse
objectivo da ordem jurídica na defesa da
legalidade;
iii) Não têm fundamento os argumentos habitualmente
utilizados em sentido contrário,
podendo afirmar-se que nada há,
na lei, na natureza do recurso contencioso
de anulação ou no seu regime jurídico,
que impeça a admissibilidade do incidente
de intervenção principal;
iv) Havendo vários titulares do direito de
anulação do mesmo acto administrativo,
todos com interesse directo, pessoal e
legítimo, e pedindo todos a anulação do
mesmo acto, a intervenção principal que
no caso couber é a prevista na alínea a) do
artigo 351°, do Código de Processo Civil
e não na alínea b);
v) De acordo com o artigo 353°, n° 1, a intervenção
fundada na alínea a) do artigo
351° é admissível a todo o tempo, enquanto
não estiver definitivamente julgada
a causa;
vi) Nesta hipótese, o interveniente principal
aceita a causa no estado em que ela se encontrar
no momento da sua intervenção
(aliás, uma regra fundamental no direito
processual) e, deste modo, goza, a partir
desse momento, de todos os direitos de
parte principal (art.º 353°, n° 2);
vii) Um dos direitos de que goza o interveniente,
como parte principal, é o de
prosseguir com o recurso até ao fim, se
o recorrente originário desistir do recurso,
mesmo que a intervenção tenha sido
apresentada fora do prazo de interposição
do recurso contencioso – porque o esgotamento
do prazo só acarreta a perda do
direito de recorrer, e não também a perda
do direito de, a todo o tempo, requerer
uma intervenção principal, uma vez que
se trata de direitos distintos.
Assim podemos concluir que apesar do direito
processual administrativo pátrio não
prever o princípio do incidente principal, duas
prerrogativas seriam chamadas para solucionar
o problema.
O elemento de índole subjectiva abrigado
pela disposição constitucional que sem dúvida
alguma, veio ampliar o leque de direitos
subjectivos dos cidadãos.
A exigência que o Direito impõe ao julgador,
relativamente ao cumprimento do princípio
da tutela jurisdicional efectiva, e ao princípio
da eficiência do sistema judicial.
É neste sentido que, apesar do direito administrativo
adjectivo não prever solução estabelecida
em forma de lei ou norma equivalente,
como foi referido supra, essa omissão
não deverá perturbar as decisões que forem
necessárias. Pois os romanos já haviam antecipado
este brocardo “ubi ius ibi remedium”.
Email: abraaopirabau@yahoo.com.br
Por Abraão Pira Bau
Savana 07-07-2017 21 PUBLICIDADE
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8ª EDIÇÃO DO CONCURSO DE FOTOGRAFIA
“VIDA SELVAGEM”
Com o objectivo de mostrar a diversidade e beleza da Vida Selvagem de
Moçambique, consciencializar o público e despertar nele o interesse pela
FRQVHUYDomRGD1DWXUH]DHFULDURJRVWRSHOD)RWRJUD¿D D$GPLQLVWUDomR1DFLRQDO
GDVÈUHDVGH&RQVHUYDomR $1$& WHPDEHUWDVLQVFULo}HVSDUDDSDUWLFLSDomRQR
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Quem pode participar?
2 FRQFXUVR HVWi DEHUWR D IRWyJUDIRV DPDGRUHV H SUR¿VVLRQDLV UHVLGHQWHV HP
Moçambique, com idade igual ou superior a 12 anos, divididos em duas categorias:
1ª Categoria: 12 aos 18 anos
2ª Categoria: 18 anos em diante
Diamond Arrow
2017
Moçambique Country Survey
Leaders and Achievers
Companies and institutions doing most in their sectors over
the past 12 months to stimulate the economic growth and
development of Moçambique
Jornal SAVANA –
Mediacoop SA
Newspapers
Outstanding – 1st overall
Rated by a random, national sample of 130 respondents comprising of CEO’s,
MD’s, business owners, company directors and managers and senior
government officials based in Moçambique
S
ão descritas como tensas e
de cortar à faca as relações
entre a Liga Moçambicana
de Futebol (LMF), entidade
que gere o principal campeonato
nacional de futebol do país,
o Moçambola, e a transportadora
oficial, a nossa companhia de bandeira
(LAM).
O cerne da discórdia prende-se
com a manifesta intenção das Linhas
Aéreas de Moçambique de
suspenderem a emissão de bilhetes
aéreos para as 16 equipas que militam
no Moçambola. Esta atitude
está a ser mal digerida na LMF,
até porque põe em risco o futuro
da prova.
Mas o recente contexto do país,
influenciado por factores endógenos
e exógenos, contribuiu para a
degradação das condições econó-
micas, daí não se poder estranhar
o posicionamento do Presidente
da República, quando afirma, repetidas
vezes, que Moçambique
está de volta. A crise fez-se sentir,
igualmente, no contexto desportivo,
onde os clubes passaram a ter
dificuldades de arcar com as suas
responsabilidades, em especial para
com os jogadores.
Esta triste realidade levou Ananias
Coana, presidente da LMF,
a avançar, na última Assembleia
Geral, realizada ainda este ano,
com o projecto de regionalização
de futebol, para minimizar as dificuldades.
Porém, o projecto não
passou porque os seus associados
não aceitaram.
A parceria entre as duas institui-
ções remonta a 16 anos, quando a
LMF tinha como presidente Alberto
Simango Júnior, actual presidente
da FMF, sendo que o actual
presidente da LMF, Ananias Coana,
ocupava vários cargos importantes
neste organismo, entre eles,
o de vogal e de vice-presidente,
o que lhe permite ver as mudan-
ças de relacionamento que estão a
acontecer com as várias direcções
da LAM.
Com efeito, durante esse período
que dura a parceria entre a LAM e
a LMF, desde 2001, a companhia
teve vários presidentes de Conselho
de Administração, entre eles,
José Viegas, Carlos Jeque, Silvestre
Sechene e António Pinto de Abreu
e, ao que tudo aponta, algumas direcções
vêem no relacionamento
entre as partes uma oportunidade
para alavancar o negócio, conhecidas
que são as dificuldades financeiras
que a empresa atravessa, e
outras se mostravam mais comprometidas
com a causa de futebol, no
espírito de responsabilidade social.
Como que a consubstanciar este
relacionamento amargo, a LAM
anunciou as novas taxas que devem
ser suportadas pela LMF, a saber,
taxa de emissão, taxa de combustí-
vel, para além do IVA.
Mais ainda: a LAM diz que não
LAM ameaça suspender emissão de passagens para o Moçambola e LMF pede intervenção do Governo
Ambiente de cortar à faca!
Por Paulo Mubalo
se responsabiliza pelas despesas de
alojamento e alimentação decorrentes
da reprogramação de vôos
que possa surgir por vários motivos.
Sobre o assunto, um renomado jurista,
que também fez parte da direcção
da Liga nos primeiros anos
da criação da instituição (actualmente
dirige um clube que participa
na Divisão de Honra), disse,
recentemente ao SAVANA, haver
um vazio em termos de a quem
cabe a responsabilidade na acomodação
dos jogadores, quando
os vôos atrasam, “o que não deve
continuar”.
Entende, ainda, que pelo que a
LAM faz, disponibilização de
transporte, os clubes, no mínimo,
deviam se precaver destas situações
e procurar resolvê-las, no lugar de
cruzarem os braços deixando tudo
à responsabilidade da LMF.
A questão das viagens aéreas versus
atrasos de vôos é um assunto
que fez correr muita tinta, sobretudo
depois que os jogadores do
Textáfrica acabaram dormindo nos
bancos do Aeroporto em Pemba,
durante a viagem para Chibuto.
Moçambola tremido?
Entretanto, o Presidente da LMF,
Ananias Coana, faz um esforço indisfarçável
para acalmar os desportistas
e não só, afirmando que o
Moçambola não está tremido, mas
ressalva a necessidade de haver
mais ponderação, tendo em conta
o facto deste organismo não sobreviver
das receitas uma vez que não
as produz.
Consta ainda que a LMF nunca se
recusou a assinar contrato com a
LAM, mas apenas a teria alertado
no sentido de respeitar escrupulosamente
as normas internacionais
da aviação civil e a revisão das taxas
que, nos contratos anteriores nunca
fizeram parte.
De outras fontes insuspeitas, apuramos
que as novas taxas sobre o
transporte aéreo das equipas do
Mocambola, concretamente, do
combustível e do IVA, poderão ser
isentas como fruto das negociações
que estão a decorrer entre o governo
e a LMF.
Coana é citado pelo matutino
Notícias desta semana a afirmar o
seguinte: “Tivemos a comunicação
antecipada sobre o novo contrato e
posterior negociação, mas a LAM
insistiu que já não podia cobrir essas
taxas e recorremos ao Governo
para que a LMF fosse isenta das
mesmas”, explicou Coana, que
aguarda pela resposta do Governo.
E enquanto esta não aparece, ainda
que o contrato continue a ser executado
nos moldes dos anos passados,
o espectro de incerteza mantem-se.
Sabe-se que a instituição
que regula as taxas é o Ministério
da Economia e Finanças.
Mas os próximos dias serão esclaO
Moçambola está ao rubro pelos piores motivos recedores.
Savana 07-07-2017 23 PUBLICIDADE DESPORTO
24 Savana 07-07-2017 CULTURA
A
plataforma cultural
Mbenga Artes e Reflexões
organiza, no dia 12
de Julho, pelas 18:00h,
na Galeria do Centro Cultural
Moçambicano-Alemão, um debate
subordinado ao tema Gestão
do Espólio de José Craveirinha &
Malangatana Valente Nguenha.
O encontro faz parte do projecto
Debate (oficina criativa) que pretende
incrementar as ferramentas e
informações sobre as artes e cultura,
tendo em vista a melhoria dos
conteúdos produzidos nestas áreas.
Segundo a organização do evento,
o debate surge da necessidade de
reflectir sobre a administração das
obras produzidas e não exibidas
pelos artistas, ainda em vida. “O
objectivo é despertar a sociedade
da importância que este material
possui, enquanto património cultural
do país e despertar os jornalistas
Mbenga debate obras de Craveirinha e Malangatana
para a necessidade de tratar este
tema com mais atenção de modo
que se possa melhor intervir e atrair
apoios”, entende o grupo.
Zeca Craveirinha e Mutxini Malangatana,
gestores do espólio de
José Craveirinha e Malangatana,
respectivamente, mostram-se expectantes
por acreditarem ser um
debate pertinente. Na ocasião,
partilharão a sua experiência, os
constrangimentos, as barreiras e o
aprendizado, nesta incursão.
José Craveirinha, Malangatana,
Ricardo Rangel, Alexandre Langa,
Carlos e Zaida Chongo. A lista é
extensa. O que é feito das obras
artísticas depois da morte dos autores?
Esta e outras perguntas serão respondidas
pelos gestores do espólio
destes artistas que já não estão entre
nós, no debate promovido pela
plataforma Mbenga.
O espaço musical está reservado
para o jovem músico moçambicano
Paulo Macamo, residente em Oslo,
Noroega. O encontro pretende
reflectir mais acerca da produção
artística nacional num ambiente
íntimo e descontraído.
No evento, que marca a estreia da
iniciativa, que se quer mensal, pretende-se
falar de arte, questionar,
trocar ideias e compreender outras
ideias.
A plataforma Mbenga: Artes e
Reflexões é formada por jovens
jornalistas e tem mais de três anos
no mercado. Produz conteúdos jornalísticos
(notícias, entrevistas, reportagens,
crónicas, críticas) e literários,
que já alcançam pouco mais
de cinco mil usuários.
A.S
O evento pretende debater ainda mais artistas de vários quadrantes culturais nacional
Visando revitalizar a actividade da agremiação, o Presidente da Comissão
Instaladora da Associação das Empresas Jornalísticas (AEJ) de Moçambique,
convoca todos os sócios de pleno direito da AEJ e demais membros da
família empresarial da comunicação social, para uma Reunião Geral, a ter
lugar nas instalações da sede da Mediacoop, situada na Av. Amílcar Cabral,
1049, em Maputo, pelas 10h00, no dia 14 de Julho de 2017, com a seguinte
agenda:
1 – Informação sobre o ponto de situação da agremiação;
2 – Apresentação, discussão e deliberação sobre o plano de actividades nos
próximos anos;
3 – Outros assuntos do interesse dos participantes.
O Presidente
5HÀQDOGR&KLOHQJXH
Maputo, 05 de Julho de 2017
Associação das Empresas Jornalísticas
AEJ
Reunião com Empresas da Comunicação Social
CONVOCATÓRIA
Uma diversidade de fãs
quenianos, residentes
na vibrante cidade de
Nairobi e na sua periferia,
aguardam com alguma
ansiedade pelo show do rapper
moçambicano Simba Sitoi.
O artista irá actuar na noite de
14 de Julho, no The Alchemist,
um dos mais importantes espaços
culturais do país e contará
com a participação de três
rappers quenianos, nomeadamente,
TAIO, Barrack Jacuzzi
e Marcus Wii.
O evento irá acontecer em
Kibera, na periferia de Nairobi,
um assentamento informal
considerado a maior favela do
mundo com mais de 2.5 miSimba
Sitoi actua no Quénia
lhões de habitantes.
Com a particularidade de ser o
primeiro concerto de Simba, no
país africano irmão, o espectáculo
musical tem a simbologia de marcar
igualmente a primeira actuação
em que o artista se irá apresentar
em palco a solo como Simba Sitoi,
promovendo, desse modo, a singularidade
da marca que o seu nome
carrega na cultura Hip-Hop.
Três anos depois da publicação da
obra discográfica The Heroes, em
2014, desenvolvido em colaboração
com o instrumentista português
Milton Gulli, Simba Sitoi assume
que o sucesso alcançado justifica a
maturidade actual, servindo-lhe de
um farol que lhe move a actualizar
e promover a marca Simba no mercado
internacional.
Desde a publicação do The
Heroes que ficou implícita a
cidadania que Simba desenvolve
no contexto da sua música
contra a não vulgarização da
figura da mulher, em videoclipes,
o combate a todo o tipo de
violência e a promoção dos valores
da cultura africana, com
enfoque para a diversidade linguística
e étnica.
Por isso, estimulado pelo espírito
da cidadania e da responsabilidade
social artística,
durante dois dias, Simba irá
ministrar um workshop sobre
o papel do Hip-Hop na promoção
da equidade de género,
prevenção da violência e na
promoção da saúde.
A.S
A
8 de Julho de 1895 foi
inaugurada a primeira ligação
ferroviária no país,
entre a então cidade de
Lourenço Marques (actual Maputo)
e o Transvaal, na África do Sul.
Para comemorar a data, o Museu
dos CFM promove, este sábado,
dia 8, um Workshop Cultural na
Estação Central, na baixa, onde
também deverá ser inaugurada uma
exposição de pintura de estudantes
da Escola Nacional de Artes Visuais
que retratam as horas de ponta
na estação.
O workshop cultural terá um programa
diversificado, entre visitas
guiadas ao Museu e a estação, exMuseu-CFM
promove
debate e exposição
posição de pintura e uma palestra
a ser proferida pelo Eng. Domingos
Bainha, um ferroviário de larga
experiência, tendo sido, ao longo de
15 anos, administrador executivo
na empresa.
A primeira ligação ferroviária, há
122 anos, constitui um acontecimento
extraordinário para a época
e estabeleceu o início de uma nova
era para o nosso país, pois permitiu
que um dos grandes avanços tecnológicos
da revolução industrial
- o caminho-de-ferro - chegasse a
Moçambique. Esta ligação permitiu
ainda a constituição da espinha
dorsal do sistema de transportes
que se iria desenvolver no século
seguinte. A.S
O
Centro Cultural Franco-
-Moçambicano (CCFM)
acolhe a 2ª edição do Festival
Raiz Tradicional, no
sábado, 8 de Julho, das 10:30 às
22:00h, com actividades e concertos
no jardim e na sala grande.
O festival serve de alicerce para
resguardar a vida da raiz cultural
moçambicana, suas origens rítmicas,
sua história, o fabrico e a forma
de tocar os instrumentos musicais
tradicionais.
O objectivo do Festival Raiz é,
sobretudo, o de consciencializar e
dinamizar o público e a sociedade
em geral do valor a dar à cultura
tradicional, através da música,
debates, workshops de fábrico de
instrumentos tradicionais, suas origens
e execução. Esta iniciativa pretende
também estimular e resgatar
talentos através de intercâmbios,
Festival Raiz no CCFM
assim como divulgar a música de
raiz tradicional moçambicana feita
por jovens. Por outro lado, procura
criar oportunidades de rotina para
espectáculos de música tradicional
esta será ainda uma oportunidade
de criar uma tarde festiva e diversificada
dedicada à cultura mo-
çambicana, enaltecendo também o
papel da mulher moçambicana na
sociedade, incluindo-a nesta manifestação
cultural.
A iniciativa é da Associação Esculturas
Humanas e parceiros e conta
com actividades não só de música
de raiz, mas também debates no
âmbito da etnomusicologia, exposições
de instrumentos musicais
tradicionais e feiras de produtos
diversos.
Esta iniciativa pretende colocar
Moçambique no mapa do mundo
em termos de valorização e preservação
de ritmos identitários nacionais.
A.S
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1226 DE JULHO'(
Enquanto na Baixa da cidade o Gov.Zandamela explicava
como ataca o polvo,na alta na Valentim Siti,....
2 Savana 07-07-2017 SUPLEMENTO Savana 07-07-2017 3
(VVH9LHLUDGR%HQÀFDSDJRXSDUD (DWpHQYLRXFDPLVHWHVGRPDQR(XVpELR
Savana 07-07-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Júlia Manhiça (Fotos) E
m mais um ambiente de trabalho, um colega acabou recordado a comemoração
de mais um aniversário da independência do país. Conta que calhou
enquanto via um programa alusivo à data num canal de televisão nacional,
em que vários membros da Frelimo apareciam rodeados a um rádio a ouvir
um discurso.
Todos os presentes ouviam com atenção o pequeno rádio velho. A mensagem devia
ser acatada e cumprida com todo o zelo. Actualmente, a maioria dos governantes já
não está preocupada com o cumprimento das orientações que lhes são imputadas.
Procuram a todo o custo enriquecer ilicitamente sem nenhum receio de serem
descobertos. E quando descobertos, nunca demonstram sinais de arrependimento.
Procuram a todo o custo justificar os seus actos ilícitos como lícitos.
Será que é essa a sociedade que os moçambicanos desejam? Acredito que não.
Mesmo com essas atitudes, a sociedade civil moçambicana procura a todo o custo
questionar esses procedimentos ilícitos. E a verdade, mesmo que se tente ocultar,
sempre vem à tona. O que ainda incomoda é que os culpados desses actos não são
responsabilizados.
Vivemos numa sociedade de impunidade que beneficia uma minoria? Mas como
diz o adágio popular, a justiça divina tarda mas não falha. Um dia vão pagar pelas
suas atrocidades.
Mesmo com a divulgação do relatório sobre as dívidas ocultas, soubemos que alguns
indivíduos confrotados para prestar alguns esclarecimentos procuraram não
citar certos nomes. Contudo, conseguimos os nomes das figuras que tiveram um
papel preponderante na materialização deste desfalque.
Essas figuras aparecem em público com caras lavadas. Como se não tivessem feito
nada de errado. O nome do antigo estadista moçambicano, Armando Guebuza, que
aparece nesta primeira imagem, foi incansavelmente citado.
Será que vivem acima da justiça. Reparem no à-vontade de Guebuza, a escutar o
que diz o antigo primeiro secretário da Frelimo na cidade de Maputo, Hermenegildo
Infante.
Estes comportamentos deixam alguns zeladores da justiça do país indignados. O
ambiente de impunidade irrita qualquer um. É o caso do antigo Presidente do
Tribunal Supremo, Mário Mangaze, que não consegue esconder o seu descontentamento.
Quem não mostra ar de preocupação com esta onda de impunidade que
vimemos é o antigo Presidente do Conselho Constitucional, Luís Mondlane, várias
vezes citado nos meios de comunicação social de se ter envolvido em situações
ilícitas.
Quem aproveitou para comentar o seu descontentamento sobre a situação que vivemos
no país foi o embaixador da Palestina em Moçambique, Fayer Abdul Jawad,
ao secretário-geral da Frelimo, Eliseu Machava, que preferiu disfarçar a sua repulsa
com o par de óculos escuros.
O outro que também aproveita para dar o seu parecer, talvez se justificando com os
factores culturais para tamanha ousadia de alguns dirigentes em cometerem actos
ilícitos, foi o Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, que deixa a vice-
-Ministra da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional, Leda
Hugo, com uma cara de consentimento.
Tamanho embaraço face à situação muitas vezes sem alguma para dizer. Pautando
por olhares carregados de perplexidade perante os atropelos que a verdade tem vindo
a apanhar ficou a Ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaú-
que, e o Ministro da Indústria e Comércio, Max Tonela. A verdade está com o povo
mesmo de diferentes formas.
Perdemos senso da verdade
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF +VMIP EF t "/0 99*7 t /o
1226 Diz-se... Diz-se
Ilec Vilanculo
Asustentabilidade da indústria
de pesca de camarão,
uma das principais
fontes de divisas do país,
está ameaçada. Um estudo do Fundo
Mundial da Natureza (WWF)
Mediterrâneo – Portugal indica
que o risco de insustentabilidade da
indústria de pesca de camarão deriva
duma combinação de factores
em que se destaca a sobrepesca que
provoca pressão sobre o camarão
juvenil, a pesca ilegal que defrauda o
país em mais de USD60 milhões por
ano, capturas acessórias, alterações
climáticas bem como ameaças aos
ecossistemas.
Publicado em Portugal e citado pela
imprensa espanhola, o estudo revela
que a captura de camarão caiu de
nove mil para 1.800 toneladas nos últimos
anos, quando comparado com
a década anterior ao ano 2012.
Explicando os contornos do estudo,
Maria João Rodrigues, coordenadora
do Programa Marinho na WWF
Moçambique, referiu que, como ac-
ção imediata, a organização apelou
ao mercado europeu, responsável
pelo consumo de cerca de 82% do
camarão pescado em Moçambique,
para um consumo mais moderado
para além de promover iniciativas
que permitam a sustentabilidade da
espécie.
" PSHBOJ[BÎÍP QFEJV BP NFSDBEP
europeu, sobretudo o espanhol, que
é um dos maiores importadores,
para “tomar decisões informadas” e
“apoiar” uma pesca sustentável através
de um consumo responsável.
Falando dos factores que contribuem
WWF lança um grito de alerta sobre o sector
Indústria de camarão em risco
no agravamento desta situação, a
WWF indica que os pescadores artesanais
pescam camarão juvenil antes
deste ter a oportunidade de reproduzir-se.
Por outro lado, nas águas
profundas, onde se pratica a pesca industrial,
as redes de arrasto põem em
risco o habitat do camarão.
De acordo com a WWF, a pesca ilegal
é outro problema que sufoca o
sector de camarão e estima-se que
grandes quantidades destes crustáceos
saem do país sem nenhum controlo.
Estima-se que Moçambique perde
entre 36 a 67 milhões de dólares ano
com pesca ilegal do camarão.
países do continente africano mais
vulneráveis às alterações climáticas
aumenta a pressão sobre as popula-
ções marinhas.
Perante esta situação, a WWF entende
que ainda é possível colocar a pesca
de camarão de Moçambique numa
base sustentável oferecendo melhores
rendimentos, impactos reduzidos no
meio marinho e maiores margens de
segurança a longo prazo.
Para tal, definiu três grandes prioridades
que consistem na sensibilização
dos governos, empresas, pescadores e
consumidores sobre os benefícios da
sustentabilidade e a reconstrução das
populações marinhas.
/FTTB MJOIB
DPN P BQPJP EB 88'
Moçambique está a desenvolver um
projecto de melhoria de pescas denominada
Marine Stewardship Council.
Dados do Ministério do Mar, Águas
*OUFSJPSFT F 1FTDBT JOEJDBN RVF
FN
2016, a pesca de camarão rondou em
volta de três mil toneladas, a mesma
cifra conseguida em 2015.
(R.S.)
do Banco Central, um complexo de edifícios que, mesmo antes da
inauguração, já estavam envolvidos em controvérsia. E a direcção
muitos detalhes que foram partilhados com convidados e jornalistas,
o custo da obra não foi revelado, embora os preços mais ventilados
variem entre os USD230 e os USD300 milhões, tudo com os fundos
do banco, ou seja, das operações que o regulador faz com a banca
comercial. Com os hábitos de transparência certamente adquiridos
dos Estados Unidos, será que o xerife da 25 de Setembro irá partilhar
esses números com o público ou vai dizer que é uma herança do seu
antecessor?
dos “lobistas” às declarações do xerife e que tanto enfureceram a elite
bancária da praça. Será mesmo ou os convites não chegaram a tempo?
a prisão de um dos mais influentes empresários locais por decisão
buraco de USD30 milhões, a maior dívida de um privado ao inditoso
banco. Há mais nervosos com a situação, pois poder-se-á provar que
não foram accionados todos os mecanismos habituais na concessão de
tão avultado crédito.
probabilidade de mais uma grande razia nos rinocerontes do Krueger
Park com o envolvimento de operativos mozas do eixo Magude-
cunhados, querem mesmo uma operação musculada do lado de cá
da fronteira, uma vez que detêm muita “inteligência” sobre as redes a
operar no parque. Será que vai haver mais uma confrontação e abates
à queima-roupa?
porque um seu coleguinha passou os jogos escolares para o seu pelouro
e foi buscar a mola – que diziam não existir – com o patrocínio de
apenas o cartão vermelho para impressionar o chefe…
governamentais moçambicanas com homens de negócios sem
escrúpulos vindos da China no negócio das madeiras. Desta feita, é o
na próxima edição
questões do ambiente e da conservação, há em Espanha o principal
destino das nossas gambas, uma campanha para se ter cuidado como
consumo “made in Mozambique” uma vez que o recurso tem sido
explorado sem se observarem as regras de reprodução das espécies, a
protecção aos juvenis e as quotas de captura. Por este andar, em breve
estaremos na aquacultura…
t 1FMB (PSPOHPTB EFDPSSF VN KPHP EF HBUP F SBUP 0T NJMJUBSFT B UPEP
o custo tentam demonstrar que há de facto retirada, com os mais
DÏQUJDPT B GBMBS FN SFQPTJDJPOBNFOUP /P mN EP EJB
TF OÍP IÈ
entendimento quem sofre é a paz, a confiança e os moçambicanos.
Será que os telefones dos chefes deixaram de funcionar?
t /ÍP EFJYB EF TFS TVSQSFFOEFOUF P OÞNFSP EF BEFTÜFT Ë DVMQBCJMJ[BÎÍP
dos responsáveis pelas dívidas escondidas e o apelo à divulgação
EP SFMBUØSJP ,SPMM
OB ÓOUFHSB " NBJPS TVSQSFTB Ï NFTNP P CBODP
azul, habitualmente uma instituição bem cinzenta, burocrática e
conservadora. Porque será?
t )È VN FYFNQMP nBHSBOUF EP SFHSFTTP EPT UFNQPT EP QBSUJEP &TUBEP
lá para as bandas do Guaza Muthine. É que, enquanto a sociedade
discute a despartidarização do Estado, nas barbas de Maputo, um
quadro de batuque e maçaroca acumula as funções de administrador
distrital com as primeiro secretário provincial do partido vermelho.
É mesmo para dizer que o barrulho do pai da democracia a partir da
Serra da Gorongosa ainda continua sem eco.
Em voz baixa
t 0 HPWFSOBEPS EF 5FUF EFWF FTUBS DPN VN FOPSNF NFMÍP
DPNP TF
diz na gíria, ou então a lembrar-se do nariz do Pinóquio. Depois de
se fabricarem inúmeros relatórios a negar a existência de refugiados
moçambicanos no Malawi, não é que as duas administrações
BDPSEBSBN FN SFQBUSJBS NBJT EF DPODJEBEÍPT OPTTPT 5VEP
ficção…
WWF preocupada com a captura de camarão em Moçambique
Savana 07-07-2016
EVENTOS
1
0DSXWR GH-XOKRGH $12;;,91o 1226
EVENTOS
Jimmy Dludlu em digressão mundial
O
músico moçambicano
de Jazz, Jimmy
Dludlu, com 34 anos
de carreira e sete álbuns
de originais e um DVD,
realiza, entre Julho de 2017 e
Junho de 2018, uma digressão
mundial para divulgar o seu
mais recente disco intitulado
“In the Groove”, publicado
ano passado.
A digressão mundial tem
como lema IN THE GROOVE:
“Moçambique: terra de
sol, praia e Afrojazz” e visa,
igualmente, divulgar uma
imagem positiva de Moçambique
depois de nos últimos
dois anos terem sido reportados
na media internacional
apenas assuntos negativos
relacionados com dívidas e
conflito político-militar. Deste
modo, Dludlu quer contribuir
no relançamento da boa
imagem de Moçambique no
mundo, projectando o país
como uma escolha para passar
férias e momentos de lazer,
mas também para fazer negó-
cios.
A digressão deverá escalar 15
países em todos os continentes
e espera-se que quase 30
milhões de pessoas assistam
aos seus concertos. As actua-
ções de Jimmy Dludlu, vencedor,
em 2016, do Ngoma
Moçambique com a música
“Ha Dheva” do álbum “In The
Groove”, serão feitas em Festivais
de Jazz e, em alguns casos,
deverá também participar
em programas televisivos, Talk
Shows, de maior audiência.
Como parte deste projecto,
entre os dias 27 a 30 de Abril
o guitarrista esteve presente
no JAZZAHEAD 2017 em
Bremen, na Alemanha, uma
das maiores Feiras Internacionais
de Jazz que reúne produtores
de concertos de Jazz,
agentes, músicos e todos os interessados
no mundo de Jazz,
para expor e discutir as novas
tendências deste estilo musical.
O stand de Jimmy Dludlu
estava integrado no pavilhão
da Brasil Music Export fruto
de uma parceria com uma empresa
brasileira que divulga o
músico pelo mundo.
A digressão teve seu pontapé
de saída no dia 1 de Julho
em Durban, na África do Sul.
Esta semana, no dia 8 de Julho,
Jimmy Dludlu vai actuar
no LUGANO JAZZ ESTIVAL
na Suíça. O músico
é uma das figuras de cartaz
deste festival que deverá ser
transmitido em Directo pela
TV Sueca para mais de cinco
milhões de pessoas na Suíça e
Itália. Jimmy vai actuar ainda
em Roma e Milão na Itá-
lia. Ainda na Europa, Jimmy
Dludlu é convidado especial
para a celebração dos 20 anos
do Saulkrasti Jazz Festival na
Letônia.
A equipa de trabalho do mú-
sico está ainda a negociar outros
espectáculos em Portugal,
Estados Unidos de América,
França, Nigéria, Austrália, Inglaterra,
Cabo Verde, Luxemburgo,
Holanda entre outros
países que durante o JazzAhead
manifestaram o interesse
em ter o músico moçambicano
a actuar nos seus países. A par
disso, a digressão poderá escalar
algumas províncias do país,
nomeadamente, Sofala, Nampula,
Cabo Delgado para além
de vários shows em Maputo e
na África do Sul. Esta digressão
de Jimmy Dludlu conta
com apoio do Banco Nacional
de Investimento (BNI).
Naita Ussene
Savana 07-07-2017 EVENTOS
2
A
SOLTRAIN, uma iniciativa
de treinamento solar
térmico sul-africana, realizou,
esta semana, em
Maputo, o seu quinto seminário
com o objectivo de, entre outros
aspectos, discutir as estratégias de
implementação do projecto “Roadmap
Solar Térmico” no país.
Discursando na abertura do evento,
a Presidente do Conselho de Administração
da Empresa Nacional
de Parques de Ciência e Tecnologia
(ENPCT), Flávia Dzimba, disse
que o uso da tecnologia solar térmica
no país ainda enfrenta muitos
desafios, com destaque para o seu
domínio técnico, divulgação, reforço
do quadro regulatório, assim
como o estabelecimento de mecanismos
e pacotes financeiros para
apoiar iniciativas públicas e privadas
do sector.
Dzimba sublinhou ainda haver
necessidade de uma fortificação
contínua e consistente do quadro
regulatório, de modo a estabelecer
confiança no investimento, incentivar
a massificação e estimular a
participação de todos os grupos de
interesse.
SOLTRAIN apresenta plano de implementação do
sistema solar térmico
O projecto apresenta uma visão solar
térmica até 2030, cuja proposta
é a instalação de uma área de 0,1
metros quadrados (0,07kwh) de
colectores solares térmicos por habitante,
para uma população de 34
milhões, em 2030, de acordo com
as suas estimativas.
Sublinhe-se que, até finais de 2014,
já haviam sido instalados colectores
solares térmicos para uma área de
500 metros quadrados e, até 2030,
espera-se instalar 3,4 milhões de
metros quadrados. Os sectores
prioritários para o uso do sistema
no país são residencial, turístico,
público, comercial e industrial. Entretanto,
durante a apresentação do
projecto, os participantes questionaram
o estágio actual do sistema
solar térmico no país, defendendo
que para se aderir à ideia é necessário
que se tenha exemplo do uso
desse sistema por parte dos seus
promotores.
A Universidade Eduardo Mondlane
(UEM), parceira do projecto,
avançou, na ocasião, que contribui
na componente de divulgação,
a partir da educação profissional
e transmissão de conhecimento
científico sobre a matéria. Segundo
o docente da Faculdade de Engenharia
naquela Universidade pú-
bica, Geraldo Nhumaio, é preciso
estender-se a ideia aos civis para o
uso deste sistema nos empreendimentos
em construção, em todo o
país, em detrimento dos acumuladores
eléctricos. Acrescentou ainda
que é exactamente nesse processo
em que o governo deve participar
no sentido de criar um regulamento
que obrigue os empreiteiros.
Refira-se que o “Roadmap Solar
Térmico” é um plano de implementação
do sistema solar térmico,
elaborado e discutido durante os
seminários realizados, em Maputo,
em Maio de 2013 e Março e Setembro
de 2015.
Os eventos contaram com a participação
dos técnicos dos Ministé-
rios dos Recursos Minerais e Energia,
Educação e Desenvolvimento
Humano, do Fundo de Energia,
Electricidade de Moçambique,
Universidade Eduardo Mondlane e
a Empresa Nacional de Parques de
Ciência e Tecnologia.
J
á estão disponíveis os bilhetes
para o segundo jogo da NBA
em África, a ter lugar no
próximo dia 5 de Agosto, no
Ticket Prodomeem, Joanesburgo,
África do Sul.
Este jogo, que teve lugar pela primeira
vez, no dia 1 de Agosto de
2015 no Ellis park arena, em Joanesburgo,
acontecerá novamente
após a 15ª edição do Basquetebol
Sem Fronteiras (BWB) África. O
seu formato será idêntico ao de
2015, em que a Team África enfrentou
a Team World.
A Associação Nacional de Basquetebol
(NBA) e a Associação
Nacional de Jogadores de Basquete
(NBPA), ambos dos EUA, anunciaram,
recentemente, que nomes
como Dirk Nowitzki (Dallas MaNBA
pela segunda vez
no continente africano
vericks; Alemanha), Kemba Walker
(Charlotte Hornets; EUA), Thabo
Sefolosha (Atlanta Hawks; Suíça;
parente da África do Sul) e Luol
Deng (Los Angeles Lakers; Sudão
do sul) irão fazer parte das equipas.
Já em Fevereiro do corrente ano,
a NBA e a NBPA anunciaram,
igualmente, que Bismack Biyombo
(Orlando Magic, República Democrática
do Congo) e Emmanuel
Mudiay (Denver Nuggets, Repú-
blica Democrática do Congo) iriam
jogar para a Team Africa e que o CJ
Mccollum (Portland Trail Blazers,
EUA) vai jogar para a Team World.
O evento tem apoio da UNICEF, a
fundação Nelson Mandela e a SOS
Children’s Villages África do Sul
(SOSCVSA), e será transmitido
em directo para África Subsaariana
nas plataformas tv e internet.
Savana 07-07-2016
EVENTOS
3
O
Millennium bim assinou,
em Maputo, quarta-feira,
4 de Julho, o protocolo de
adesão ao Clube Empresarial
da Gorongosa, no âmbito
da sua missão de responsabilidade
social em Moçambique “Mais
Moçambique Pra Mim”. Com o
objectivo de apoiar o Programa de
Educação “Clubes da Rapariga”, o
protocolo visa apoiar a capacitação
de raparigas jovens e adolescentes,
de forma a contribuir para uma
vida saudável e potencializá-las de
capacidades de sobrevivência.
O projecto “Clubes da Rapariga”
tem em vista melhorar a vida das
jovens que residem nas comunidades
inseridas no Parque Nacional
da Gorongosa. As mesmas estão
vulneráveis à pandemia do HIV-
-SIDA, devido à falta de educa-
ção básica (nas áreas rurais
do Parque, onde 81% das
mulheres são analfabetas),
discriminação e violência do
género.
Para melhorar esta realidade,
os “Clubes da Rapariga”
vai promover palestras com
mulheres bem-sucedidas na
sociedade, com um programa
de educação e actividades
recreativas sobre saúde, nutrição,
segurança, bem como
garantindo às raparigas o
acesso a estágios de curta
Millennium bim mantém
apoio ao Parque Nacional
da Gorongosa
duração para que possam adquirir
experiência e desenvolver a sua autoconfiança.
O contributo do Millennium bim
ao Parque Nacional da Gorongosa,
data a anos, um apoio contínuo que
resultou na construção da Escola
Primária de Nhancuco no
Parque, em 2008. Esta escola conseguiu
que cerca de 500 alunos se
matriculassem e tivessem acesso à
educação. Ainda em 2011, o banco
ofereceu material escolar e livros a
todos os alunos da Escola.
Numa outra vertente, o Millennium
bim, atento aos problemas
ambientais, como a diminuição e
extinção de algumas espécies animais,
pretende através destes programas
de educação sensibilizar a
população do Parque Nacional da
Gorongosa sobre a importância da
conservação da biodiversidade.
A Direcção de Arquivo Histórico de Moçambique
vem por este meio informar ao público em
geral e as Instituições Públicas assim como Privadas,
que encontram-se abertas as inscrições
para o curso de curta duração de Preservação e
Conservação Preventiva de Documentos.
Arquivo Histórico de Moçambique
ANÚNCIO DE CURSO
DE CURTA DURAÇÃO
A Direcção
(Ilegível)
1º Curso
(17.07.2017 a
27.07.2017)
17.07.2017
27.07.2017
2º Curso
(09.10.2017 a
19.10.2017)
09.10.2017
19.10.2017
Barracão
(AulasTeóricas)
Laboratório Campus
(Aulas Práticas)
Barracão (AulasTeóricas)
Laboratório Campus
(Aulas Práticas)
Data Local
Savana 07-07-2017 EVENTOS
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RELATÓRIO E CONTAS Savana 07-07-2017 1
RELATÓRIO E CONTAS 2016
MENSAGEM DO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
O ano de 2016 foi muito especial e extremamen
banco, descrito de seguida, foi alcançado num
contexto extremamente difícil para os países
africanos.
No caso particular da economia moçambicana,
a situação foi impactada pela suspensão do
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