segunda-feira, 5 de junho de 2017

Xiitas e sunitas. Catorze séculos da grande divisão do Islão










Xiitas e sunitas. Catorze séculos da grande divisão do Islão
09 Janeiro 2016596
Nuno André Martins


Cerca de 14 séculos de divisão estão a renascer fruto de interesses estratégicos das duas maiores potências do Médio Oriente, que têm levado a cabo uma guerras por procuração, em especial na Síria.
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Uma divisão de com 14 séculos no Islão renasceu e está a ser usada para fundamentar e intensificar uma autêntica guerra pelo poder no Médio Oriente. A tensão entre os dois maiores ramos do Islão, o sunismo e o xiismo, está a ser usada pelas duas maiores potências regionais para promover interesses nacionais e geoestratégicos, aumentando a tensão e a violência entre duas formas de viver o islamismo que nunca estiveram de acordo.

O Irão e a Arábia Saudita voltaram a pegar-se, agora devido à execução de um clérigo xiita pelos sauditas e pelo consequente ataque à embaixada saudita no Irão. A relação historicamente conflituosa entre as duas maiores potências da região está a ser potenciada pela divisão religiosa profunda entre estes dois regimes, que ambos estão a usar a seu favor para recrutar aliados e ganhar poder na região. A revolução islâmica no Irão (1979) fez renascer essas tensões. A segunda Guerra do Golfo (2003) e a Primavera Árabe (2011) marcaram o uso cada vez mais estratégico dessas mesmas tensões para defender os interesses políticos e estratégicos.

A luta pelo poder tornou-se, assim, cada vez mais um jogo do gato e do rato, onde ambos querem ser o gato. O apoio da Arábia Saudita a um grupo sunita num país leva o Irão quase automaticamente a apoiar a sua contraparte xiita, e vice-versa. O resultado tem sido um vasto leque de guerras por procuração na região e um tom de confrontação cada vez mais elevado.

O conflito religioso pode não ser a razão pela qual o Médio Oriente está num conflito sem precedentes, mas é fundamental para o entender e para uma eventual solução. Sem uma redução da tensão entre os dois maiores ramos do Islão, não haverá paz na região.



Milhares peregrinos durante o hajj, a peregrinação anual a Meca, o principal local sagrado do Islão que, juntamente com Medina, está em território saudita
A origem do conflito

Na sua origem, o conflito entre sunitas e xiitas é acima de tudo um conflito pela sucessão do profeta. Maomé uniu o mundo árabe, antes um conjunto de tribos beduínas que professavam a vários deuses, mas na altura da sua morte, em 632, não deixou um sucessor. Maomé não tinha um filho homem e não deixou indicações de como deveria ser feita a passagem de testemunho.

O resultado foi o reacender de antigas inimizades entre a comunidade muçulmana de Medina, na altura dividida em quatro grupos. Sem indicações, a sucessão recaiu sobre Abu Bakr, que se tornou califa, um dos primeiros convertidos ao Islão, e dos companheiros mais próximos do profeta. A escolha não foi bem recebida, especialmente entre os partidários do primo e genro de Maomé (era casado com a sua filha Fatima), Ali Ibn Abi Talib.

As três escolas da teologia xiita (mais os alauitas)

Na teologia xiita existem três ramos principais, com a principal a deter grande parte do relevo:

Os xiitas dos doze imãs: é o maior e mais conhecido grupo dentro do xiismo. Os seus seguidores seguem a linha dos doze imãs sucessivos, acreditando que o último imã ainda estaria vivo apesar de escondido desde 874, e que o último dos imãs, Muhammad al-Mahdi, “O Guia”, ainda é capaz de enviar mensagens ocultas aos fieis escolhidos. Alguns dos xiitas iranianos acreditam que o ayatollah Khomeini, o líder da revolução islâmica no Irão em 1979, teria recebido inspiração do último imã. Os doze imãs são considerados sucessores diretos corporais e espirituais do profeta Maomé.

Zaiditas: um ramo que deriva dos seguidores dos imãs, que partiu a linha no quinto imã. A maioria dos xiitas acredita que o quinto imã legítimo era Muhammad al-Baquir, filho de Ali e neto de Hussein, mas a minoria que viria a ser zaidista, reconheceu antes o seu irmão, Zayd bin Ali. Esta seita está praticamente limitada a uma minoria no Iémen e acredita que o verdadeiro xiita é qualquer muçulmano que siga as regras dos descendentes de Ali e Fatima (filha de Maomé), seja culto, piedoso e ativo politicamente.

Os xiitas dos sete imãs (ismaelitas): estão concentrados especialmente na diáspora, e acreditam que o último imã foi Ismael, o sétimo imã, que se terá ocultado no século XVIII. A teologia dos ismaelitas centra-se numa teoria cíclica histórica em torno do número 7 e consideram necessário distinguir entre os conteúdos eternamente válidos do Corão e os que se referem a um horizonte temporal condicionado. Para os ismaelitas, só os conteúdos eternamente válidos são obrigatórios.

O califado de Abu Bakr foi curto, de apenas dois anos, e tumultuoso. Abu Bakr teve nas suas mãos a difícil tarefa de recuperar as tribos que tinham abandonado o Islão com a morte do profeta e de acalmar os que entendiam que não lhe deviam lealdade. Com a unificação da Arábia concluída, seguiram-se mais dois califados, ambos de curta duração, na mesma linha, mas orientados para a expansão. Umar ibn al-Khattab foi escolhido por Abu Bakr para o suceder e durante o seu califado o Islão conquistou Damasco, Jerusalém e Alexandria, avançando ainda para a Mesopotâmia e para a Pérsia.

Umar ibn al-Khattab foi morto por um cristão persa em 644, dez anos após a assumir os destinos do califado, sucedendo-lhe Utman ibn Affan, o primeiro dos califas que não tinha o apoio de Ali. Utman, genro do profeta, nomeou o seu primo para governador da Síria, uma decisão vista como nepotismo. O seu tio, pai do primo que nomeou para governar a Síria, foi um dos mais ferozes inimigos de Maomé.

Utman ibn Affan foi assassinado e Ali chegou finalmente ao poder, tornando-se o quarto califa, contra os que achavam que o primo de Utman, Muawiyah, deveria assumir o lugar. A transição não foi pacífica e deu origem a uma guerra civil. Ali e Muawiyah enfrentaram-se na batalha de Siffin que, sem um claro vencedor, acabou por ser decidida por uma espécie de arbitragem, proposta por Muawiyah. Uma parte dos apoiantes de Ali abandonou-o por não aceitar a decisão de aceitar a arbitragem, dando origem a uma primeira grande cisão. Os que ficaram, fiéis a Ali e às pretensões de liderar o Islão, deram origem aos xiitas.

Ali foi assinado pouco depois, em 661, e Muawiyah aproveitou para subir ao poder, dando oriente à primeira dinastia sunita Omíada. Com a morte de Ali, os seus seguidores revoltaram-se contra a dinastia Omíada, argumentando que os legítimos sucessores e líderes do Islão eram os filhos de Ali e Fatima, no caso, Husayn.

Husayn foi morto depois de liderar a revolta contra o califado no que seria hoje o Iraque. Os omíadas, e mais tarde os abbasids, que lhes sucederam, iniciaram uma vaga de repressão contra os sucessores de Husayn, conhecidos como imãs e vistos como uma ameaça política contra os califas sunitas. A repressão levou a que o sexto imã, Já’far al-Sadiq, pedisse aos seus seguidores que se escondessem (e à fé que professavam) para garantir a sobrevivência dessa fé. O califado sunita passou então a ser hereditário.

As quatro escolas da teologia sunita

Na teologia sunita há quatro escolas principais, que assumiram os seus fundadores, e alguns dos movimentos principais estão dentro destas escolas.

Hanbalita (que inclui os movimentos waabistas e os salafistas): É a escola seguida pelos sunitas da Arábia Saudita (waabistas), Qatar e Emirados Árabes Unidas. É a mais fundamentalista das quatro, fundada por Ahmad ibn Hanbal, um jurista que defendia que a lei islâmica, a Sharia, se deve basear fundamentalmente no Corão e na Suna.

Hanafita e Shafita: A primeira e terceira escolas, são seguidas pelos sunitas da Síria, do Iraque (onde são minoria), Turquia, Paquistão, Indonésia e Egito. A escola hanafita é a mais antiga e, tal como a shafita (a maior e mais importante durante o período dos Abássidas), deu apoio aos alawitas.

Malikita: seguida pelos sunitas na Argélia, Marrocos, Sudão, Arábia Saudita (minoria) e Emirados Árabes Unidos (também são minoria). É uma das primeiras escolas e o seu fundador defendia o contrário dos califas omíadas, que as leis tinham de ter referência ao Corão, a importância da tradição oral e dos ensinamentos dos 4 califas “corretamente guiados”.



A divisão criada nas origens do Islão com a questão da sucessão do profeta permanece até aos dias de hoje. Os sunitas consideram que Maomé não designou um sucessor de propósito, deixando para os muçulmanos a escolha que considerassem mais apropriada, e justificam a sua legitimidade com base nos juristas e na tradição que sustenta que o califa deve ser escolhido por consenso da comunidade.

Os xiitas, ou seguidores de Ali, da disciplina e da liderança, entendem que Maomé nomeou publicamente Ali e consideram que a liderança não é uma questão que deva ser discutida, que só os descendentes diretos do profeta podem ser os verdadeiros imãs, os guias do Alcorão e da Suna, devido ao conhecimento secreto que lhes foi dado por Deus.

Os dois ramos partilham a fé no Alcorão e nas palavras de Maomé, têm orações semelhantes, apesar de divergirem nos seus rituais e na forma como interpretam a lei islâmica, a Sharia.

Muito desta divisão vem de uma vitimização que faz parte da identidade xiita devido à morte de Husayn e de uma longa história de marginalização pela maioria sunita, que representa cerca de 85% dos 1,6 mil milhões de muçulmanos em todo o mundo. Os xiitas estão entre os 10% e os 15%.
O ressurgir das tensões

Apesar da história sangrenta, sunitas e xiitas conviveram de forma geralmente pacífica ao longo da história, embora não amigavelmente. O conflito no Médio Oriente estava centrado em Israel, sendo então uma guerra do mundo árabe contra a nação judaica e os poderes ocidentais, especialmente os Estados Unidos.

Os conflitos eram esporádicos e aconteciam especialmente quando estava em causa uma luta pelo poder. A revolução islâmica em 1979 veio mudar tudo isto. O regresso do ayatollah Ruhollah Khomeini ao Irão para implementar a sua visão de um governo islâmico – Khomeini defendia que os clérigos tinham de estar no poder para cumprirem a sua função de implementar o Islão como Deus pretendia, através do mandato dos imãs xiitas – foi controverso até entre os xiitas. E teve forte oposição dos sunitas, que defendem a separação entre a liderança política e a religiosa.



Ruhollah Khomeini, pai da revolução islâmica, regressa ao Irão a 1 de feveiro de 1979. Estava exilado em França.

Ruhoullah Khomeini depôs o xá pouco depois e começou a sua experiência islâmica, pregando a união entre os muçulmanos, ao mesmo que apoiava grupos com agendas xiitas no Líbano, Iraque, Afeganistão, Bahrein e Paquistão. Os grupos sunitas, como o Hamas e a Irmandade Muçulmana, não aceitaram a sua liderança, apesar de admirarem o seu sucesso, e a Arábia Saudita, que tem uma minoria xiita de considerável dimensão, acabou por acelerar a propagação do wahabismo, um movimento da escola Hanbalita, de longe a mais fundamentalista entre as escolas do sunismo.

O resultado ficou à vista. Muitos dos episódios de violência na região desde 1979 têm mão iraniana e saudita, começando pela guerra entre o Iraque e o Irão no início da década de 80, em que os sauditas apoiaram o Iraque e militantes no Paquistão e Afeganistão na luta contra a União Soviética. E que foi usada também para atacar movimentos inspirados ou apoiados pelo Irão.
O impacto da guerra no Iraque e da Primavera Árabe

Após a revolução islâmica no Irão, grande parte da guerra pelo poder no Médio Oriente aconteceu nas sombras, com apoio a movimentos pelo Irão e pela Arábia Saudita. As ditaduras que governavam a maior parte dos países do Médio Oriente acabavam por estabelecer uma certa forma de equilíbrio – muitas vezes em forma de braço-de-ferro – entre as duas visões do Islão.

A segunda guerra do Golfo veio desestabilizar este equilíbrio precário. A invasão do Iraque em 2003 pela coligação liderada pelos Estados Unidos e Reino Unido resultou na queda de Saddam Hussein, um ditador sunita que governava com mão de ferro uma maioria xiita. Pela primeira vez, a histórica Bagdad passava a ser governada por xiitas. O caos que se seguiu fez com que os iraquianos se fechassem dentro da sua comunidade para se defenderem, polarizando ainda mais um país em guerra e deixando a maioria xiita no poder a lutar contra grupos terroristas sunitas, como é o caso da Al-Qaeda, e o que seria mais tarde o grupo que cresceu a partir da Al-Qaeda no Iraque, o Estado Islâmico.

A Primavera Árabe deu o empurrão necessário para que o conflito no Iraque passasse a um problema regional. Os conflitos que começaram como políticos, específicos de cada país embora com semelhanças, passaram rapidamente a uma questão religiosa. Clérigos sunitas pediam aos seus seguidores para se juntarem à batalha contra os grupos xiitas em defesa dos seus irmãos. Do outro lado, grupos xiitas, como o libanês Hezbollah, prometiam guerra na Síria para lutarem contra os “radicais sunitas”.
Mapa interativo do Council on Foreign Relations ajuda a perceber a distribuição de xiitas e sunitas no Médio Oriente
Síria, o centro do conflito

Depois de anos de batalhas mais ou menos abertas, a revolta na Síria acabou por montar o palco para a mais aberta guerra por procuração entre as duas maiores potências da região. Bashar al-Assad, um aliado de longa data do Irão, e a sua liderança minoritária alauita (uma seita dentro do xiismo que mistura doutrinas de outras religiões, como o judaísmo e o cristianismo), está sob pressão para abandonar o poder num confronto que degenerou em guerra civil, principalmente pelos Estados Unidos, Europa e os seus aliados do golfo. Os sunitas são a maioria no país.

O Irão e a Rússia juntaram-se para defender o regime e acusar os rebeldes, grupos maioritariamente sunitas, de serem os responsáveis pela violência na região. Do outro lado vem a pressão das monarquias do Golfo, em especial da Arábia Saudita, que, juntamente com os EUA, armavam os rebeldes. Aos grupos rebeldes que combatiam Assad juntaram-se movimentos terroristas sunitas, como a Al-Qaeda, através da sua afiliada Jabhat al-Nusra. E nas sombras cresceu uma ameaça a ambos, o Estado Islâmico, também um grupo sunita e que prega a violência sectária como forma de recrutar colaboradores e tem na sua génese a construção de um califado que una o mundo árabe, gerido com os preceitos ultraconservadores e práticas violentas que o caracterizam.

Mesmo com um inimigo comum, o Estado Islâmico, estes dois blocos têm em vista um objetivo de longo prazo mais precioso que acabar com este movimento terrorista: o poder na região. Por isso mesmo, muito da guerra contra o Estado Islâmico tem-se centrado na continuação ou destituição de Assad. Entre os ataques ao grupo terrorista, russos e iranianos estão a atacar também os opositores ao regime e a financiar movimentos xiitas. Do outro lado, a Arábia Saudita e as monarquias do Golfo respondem atacando as forças leais ao regime e fornecendo armas aos rebeldes, com muito do armamento a acabar nas mãos da Al-Qaeda e do Estado Islâmico, dois grupos que lutam entre si.



Uma rapariga brinca nos escombros da cidade de Kobane, na Síria. Segundo a ONU, mais de 250 mil pessoas morreram na guerra civil da Síria. A estimativa é de agosto do ano passado.
Guerras por procuração

A Síria é o maior e mais significativo exemplo da luta pelo domínio no Médio Oriente, mas está longe de ser o único palco onde Irão e Arábia Saudita estão envolvidos e, obviamente, em campos opostos. As tensões têm aumentado à medida que os movimentos apoiados pelo Irão têm ganho poder.

No Líbano, o Hezbollah – o movimento político e a milícia xiita – é de longe o mais poderoso ator na muito fraturada política libanesa e tem o apoio (embora não oficial) do Irão. No Bahrein, uma das monarquias do Golfo, é uma família sunita que lidera o país, apesar de a maioria da população ser xiita. No Iémen, militantes xiitas ligados ao Irão tomaram o poder. Os rebeldes huthi expandiram o seu território a sul da Arábia Saudita, deixando uma abertura para o Irão controlar rotas estratégicas ao longo do mar vermelho.

A crescente influência do Irão na região não está a passar despercebida aos sauditas e seus aliados. Para além da luta pelo poder na Síria, os sauditas enviaram forças para combater a revolta no Bahrein contra a monarquia sunita, e montaram uma coligação de dez países – que inclui os Estados Unidos – para tentar reverter o golpe de Estado dos huthi (há um ano).

A guerra no Iémen subiu de tom após a interceção pelos sauditas de um carregamento de armas enviado pelo Irão para os rebeldes huthi, com o Irão a enviar a sua própria marinha para o golfo de Áden, e esta semana quando o Irão acusou os sauditas de danificarem a embaixada iraniana na capital do Iémen num bombardeamento aéreo.



Forças houthis, com ligações ao Irão, celebram a conquista do poder no Iémen
Alianças à la carte

Se é verdade que muitas das alianças têm na sua base critérios sectários, também o é que nem sempre é assim, com demonstra o apoio a certos grupos considerados terroristas como parte da estratégia destes dois países para atrair seguidores e apoiantes. O Irão apoia o Hezbollah no Líbano, mas também o Hamas, um grupo sunita na Palestina, que não se juntou à união pedida por Khomeini aquando da revolução islâmica.

O Irão é um dos mais ferozes inimigos de Israel e fornece armas, dinheiro e mantimentos ao Hamas, que governa a Faixa de Gaza. Os rockets e morteiros utilizados pelo Hamas para atacar Israel são, em grande parte, fabricados no Irão.

A Arábia Saudita, segundo documentos revelados pelo Wikileaks, tem sido uma grande fonte de financiamento dos talibã no Afeganistão e da Al-Qaeda, grupo sunita com o qual os sauditas rejeitam ligações e o qual combate e que tinha como líder o saudita Osama bin Laden, que planeou os ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gémeas, em Nova Iorque.

Ambos os países, um pouco como é a história dos Estados Unidos na região, têm usado as alianças consoante é oportuno para os seus interesses na altura no conflito em causa, seja no Afeganistão, no Iraque ou na Síria.



Um manifestante do Hamas segura uma réplica de um rocket Qassam, habitualmente usados para atacar território israelita a partir da Faixa de Gaza
Até onde vai esta ‘Guerra Fria’?

Insegurança ou provocação, a verdade é que a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr no início deste ano de 2016 só veio aumentar mais uma vez as tensões na região. A monarquia saudita começou o ano executando o maior número de pessoas em 35 anos. Entre eles estavam 43 acusadas de apoiar a Al-Qaeda, e outros quatro xiitas, entre eles al-Nimr.

O clérigo estava preso desde julho de 2012, acusado de promover a intervenção externa no reino, e foi condenado à morte em 2014. Mas a sua execução estava suspensa desde então, com o Irão e os seus aliados a ameaçarem várias vezes os sauditas das consequências de levarem a cabo essa execução, entre eles o Hezbollah e movimentos xiitas no Iraque.

Os sauditas executaram mesmo Nimr al-Nimr e a máquina iraniana começou a funcionar, usando a seu favor a divisão sectária que existe no Islão para recrutar a população xiita. O ayatollah prometeu vingança com mão divina, o governo iraniano disse que a Arábia Saudita iria pagar caro a execução, seguindo-se protestos pela população xiita em vários países.



The unity or coexistence that Sheikh Nimr promoted.#AllahHuAkbar#MUST #SHARE #SALAWAT #AHLULBAYT #SMotUPublicado por Shia Muslims Of The Universe em Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2016
O clérigo Nimr al-Nimr num dos sermões em que ataca a monarquia da Arábia Saudita, mas defende que sunitas e xiitas não se devem atacar

O interesse do Irão vai muito mais além do que a religião. A minoria xiita na Arábia Saudita é a maioria na província oriental do reino, onde estão as maiores reservas de petróleo, a maior refinaria e de onde saem grande parte das exportações de petróleo, numa altura em que os sauditas já sofrem as consequências da profunda queda nos preços do petróleo.

A execução de Nimr al-Nimr acabou por ajudar o Irão, deixando a república islâmica na posição de protetora das minorias xiitas que se consideram oprimidas, seja isso verdade ou não, pelos sauditas ou por outras petromonarquias por si apoiadas.

Depois da execução e das promessas de vingança, a embaixada da Arábia Saudita no Irão foi atacada com bombas incendiárias, levando os sauditas a cortarem relações diplomáticas com o Irão. Entre provocações e acusações do Irão, cujo governo acusou os sauditas de tentarem desviar as atenções dos seus problemas internos criando problemas externos, os aliados sauditas – Bahrein, Kuwait e Sudão – juntaram-se ao movimento e cortaram relações com o Irão. Os Emirados Árabes Unidos mandaram regressar o enviado especial diplomático que tinham no país.

Por sua vez, a Arábia Saudita proibiu viagens e negócios com o Irão. O Irão baniu as importações sauditas. Seguiu-se a acusação iraniana do bombardeamento que terá atingido a sua embaixada no Iémen e ferido vários membros da equipa diplomática, em especial guardas.

Guerra? Ninguém quer arriscar, como o próprio ministro da Defesa saudita confessou esta sexta-feira à revista britânica The Economist: “Uma guerra entra a Arábia Saudita e o Irão seria o começo de uma grande catástrofe na região, e teria graves consequências no resto do mundo. Com certeza, não iremos permitir que tal aconteça”, disse.Continuar a ler

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Riade e Teerão. Mais do que uma guerra religiosa
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