"Quero ver o quão o empregado do povo está empolgado para satisfazer o seu patrão.
Cartas ao Presidente da República (57)
EUREKA por Laurindos Macuácua
Desculpa, Presidente, se esta minha carta lhe chega às mãos em má altura. Sei que o senhor está, provavelmente a esta hora, a fumar o “Cohiba” com o Presidente cubano. Não podia esperar até o Presidente regressar ao País. Tinha que descarregar toda a minha indignação neste formato. Caso contrário, bebia a cicuta. O Presidente, no seu regresso, encontrar-me-ia morto. Não consigo lidar com certas emoções.
O seu recente pronunciamento, Presidente, em Washington, quando disse que Moçambique está de regresso, deixou-me de bruços. Soou-se-me como uma amputação espiritual. Definitivamente foi um soco duro à boca do meu estômago.
De regresso? Afinal onde é que estava Moçambique? Esta pergunta talvez me possa responder mais tarde. Depois de uma exaustiva ponderação. Não lhe quero crucificar por causa da semântica!
Ora bem, em Washington o Presidente disse que Moçambique voltou ao crescimento, na sequência da descoberta de recursos naturais de grande valor económico, como o gás natural e o carvão. A minha pergunta é: afinal quem descarrilou Moçambique do seu crescimento, ou por outra, durante esse tempo que Moçambique não havia ido a nenhum sítio, quantas pessoas foram beneficiadas pelo seu crescimento?
Precisamos de consultar o Oráculo de Delfos?
Naquele, assim como neste tempo que Moçambique está de regresso, segundo sua perspectiva, as pessoas continuam a ser transportadas de “My Love”, os Mercedes são para os deputados, o caviar nunca esteve à mesa do pobre coitado que anda no “My Love”. Este só come, quando é possível, aquela comida que as senhoras - quais garimpeiras da vida - transportam nos seus “Vitz”, sempre à hora do almoço, em qualquer esquina da cidade capital.
EUREKA por Laurindos Macuácua
Desculpa, Presidente, se esta minha carta lhe chega às mãos em má altura. Sei que o senhor está, provavelmente a esta hora, a fumar o “Cohiba” com o Presidente cubano. Não podia esperar até o Presidente regressar ao País. Tinha que descarregar toda a minha indignação neste formato. Caso contrário, bebia a cicuta. O Presidente, no seu regresso, encontrar-me-ia morto. Não consigo lidar com certas emoções.
O seu recente pronunciamento, Presidente, em Washington, quando disse que Moçambique está de regresso, deixou-me de bruços. Soou-se-me como uma amputação espiritual. Definitivamente foi um soco duro à boca do meu estômago.
De regresso? Afinal onde é que estava Moçambique? Esta pergunta talvez me possa responder mais tarde. Depois de uma exaustiva ponderação. Não lhe quero crucificar por causa da semântica!
Ora bem, em Washington o Presidente disse que Moçambique voltou ao crescimento, na sequência da descoberta de recursos naturais de grande valor económico, como o gás natural e o carvão. A minha pergunta é: afinal quem descarrilou Moçambique do seu crescimento, ou por outra, durante esse tempo que Moçambique não havia ido a nenhum sítio, quantas pessoas foram beneficiadas pelo seu crescimento?
Precisamos de consultar o Oráculo de Delfos?
Naquele, assim como neste tempo que Moçambique está de regresso, segundo sua perspectiva, as pessoas continuam a ser transportadas de “My Love”, os Mercedes são para os deputados, o caviar nunca esteve à mesa do pobre coitado que anda no “My Love”. Este só come, quando é possível, aquela comida que as senhoras - quais garimpeiras da vida - transportam nos seus “Vitz”, sempre à hora do almoço, em qualquer esquina da cidade capital.
São restaurantes móveis!
A meu ver, enquanto não haver foco, Moçambique jamais regressará se é que foi a algum lugar. Continuará a deambular por esta estrada intricada e sinuosa. Deparar-se-á com tratantes que falar-lhe-ão de Tseke, como nos tempos da outra senhora quando o empobrecido povo foi prometido uma cesta básica mensal, mas até hoje está a ver navios. Sabe o Presidente quantos anos passam? Sabe qual foi a resposta dada ao povo depois de se ter babado ao ouvir a notícia da cesta básica?
Nenhuma. Tudo encalhou, como os barcos da Ematum…
Sei que muitos chamar-me-ão de louco, ingénuo. Mas continuo acreditando que um dia as coisas possam melhorar. É por isso que rezo para que o seu poder, Presidente, no congresso que se avizinha, seja reforçado de forma mais assertiva que em 2015 quando o senhor chegou ao poder. Faço votos para que isso aconteça. Quero perceber quem são esses, dentro do partido, que lhe impedem de trabalhar (existem?).
Quero ver o quão o empregado do povo está empolgado para satisfazer o seu patrão. Este, de resto, não está nada feliz com o seu desempenho. E, na hora certa, penalizar-lhe-á.
E há mais uma questão que lhe quero colocar, Presidente. É sobre a assinatura do Acordo Final de Investimento pela petrolífera ENI, no final de Maio. Há quem diga que poderá garantir uma receita fiscal de 16 mil milhões de dólares nos próximos dez anos. Mas o senhor e o seu Governo não estão a demasiado optimistas? É que, na minha profunda ignorância, presumo que o inicio da exportação não será tão cedo como a Frelimo espera, nem as receitas serão tão altas, talvez só lá para 2023 é que a exportação vai começar a sério.
E essa coisa de dizer que Moçambique está de volta, deve ser bem analisada. O Presidente deve seleccionar melhor o que diz em público. Não pode estar de volta um país, cujo Orçamento depende cerca de 60 por cento de doações estrangeiras. E estes, ao que me consta, ainda não estão dispostos a soltar os cordões à bolsa. Aliás, mesmo a divulgação de um sumário da auditoria encomendada à Kroll será suficiente para fazer avançar os processos da renegociação da dívida. Os donos do dinheiro querem mais informação, querem ver tomadas medidas enérgicas contra os que defraudaram o País. E como estes pertencem à súcia dos camaradas, tenho as minhas dúvidas que resultados palpáveis chegar-nos-ão antes do congresso. Ou seja, para os camaradas protegerem-se, sacrificarão o sempre espezinhado povo moçambicano.
DN – 16.06.2017
A meu ver, enquanto não haver foco, Moçambique jamais regressará se é que foi a algum lugar. Continuará a deambular por esta estrada intricada e sinuosa. Deparar-se-á com tratantes que falar-lhe-ão de Tseke, como nos tempos da outra senhora quando o empobrecido povo foi prometido uma cesta básica mensal, mas até hoje está a ver navios. Sabe o Presidente quantos anos passam? Sabe qual foi a resposta dada ao povo depois de se ter babado ao ouvir a notícia da cesta básica?
Nenhuma. Tudo encalhou, como os barcos da Ematum…
Sei que muitos chamar-me-ão de louco, ingénuo. Mas continuo acreditando que um dia as coisas possam melhorar. É por isso que rezo para que o seu poder, Presidente, no congresso que se avizinha, seja reforçado de forma mais assertiva que em 2015 quando o senhor chegou ao poder. Faço votos para que isso aconteça. Quero perceber quem são esses, dentro do partido, que lhe impedem de trabalhar (existem?).
Quero ver o quão o empregado do povo está empolgado para satisfazer o seu patrão. Este, de resto, não está nada feliz com o seu desempenho. E, na hora certa, penalizar-lhe-á.
E há mais uma questão que lhe quero colocar, Presidente. É sobre a assinatura do Acordo Final de Investimento pela petrolífera ENI, no final de Maio. Há quem diga que poderá garantir uma receita fiscal de 16 mil milhões de dólares nos próximos dez anos. Mas o senhor e o seu Governo não estão a demasiado optimistas? É que, na minha profunda ignorância, presumo que o inicio da exportação não será tão cedo como a Frelimo espera, nem as receitas serão tão altas, talvez só lá para 2023 é que a exportação vai começar a sério.
E essa coisa de dizer que Moçambique está de volta, deve ser bem analisada. O Presidente deve seleccionar melhor o que diz em público. Não pode estar de volta um país, cujo Orçamento depende cerca de 60 por cento de doações estrangeiras. E estes, ao que me consta, ainda não estão dispostos a soltar os cordões à bolsa. Aliás, mesmo a divulgação de um sumário da auditoria encomendada à Kroll será suficiente para fazer avançar os processos da renegociação da dívida. Os donos do dinheiro querem mais informação, querem ver tomadas medidas enérgicas contra os que defraudaram o País. E como estes pertencem à súcia dos camaradas, tenho as minhas dúvidas que resultados palpáveis chegar-nos-ão antes do congresso. Ou seja, para os camaradas protegerem-se, sacrificarão o sempre espezinhado povo moçambicano.
DN – 16.06.2017
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