segunda-feira, 19 de junho de 2017

ERC abre processo de averiguações sobre reportagem da TVI em Pedrógão


Mais de uma centena de participações chegaram este domingo e segunda-feira à ERC condenando a reportagem de Judite Sousa no incêndio de Pedrógão Grande.
Daniel Rocha/Arquivo
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DANIEL ROCHA/ARQUIVO
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) anunciou esta segunda-feira a abertura de um procedimento de averiguações a uma reportagem emitida no Jornal das 8 da TVI, sobre os incêndios em Pedrogão Grande, durante a noite deste domingo. A decisão foi tomada durante esta manhã pelo Conselho Regulador da ERC.
"Consciente do estado de choque em que o país se encontra", o órgão regulador vinca a sua solidariedade com a sociedade portuguesa "e espera que a comunicação social seja de uma sensibilidade profissional a toda a prova, neste momento de luto nacional", sublinha no comunicado.
O documento esclarece ainda que "chegaram à ERC mais de 100 participações que contestam o plano televisivo em que aparece um dos cadáveres da tragédia, na referida reportagem". A referida reportagem foi conduzida pela jornalista e directora-adjunta de Informação da TVI, Judite Sousa, confirmou ao PÚBLICO o vice-presidente da ERC, Alberto Arons de Carvalho.
O acompanhamento feito pela jornalista junto a uma das vítimas mortais chocou os telespectadores e causou revolta, gerando uma onda de críticas à estação televisiva. De acordo com Arons de Carvalho, as queixas, que já ultrapassaram uma centena, continuam a chegar à ERC.
A opção de abrir o processo de averiguações “permite uma deliberação mais rápida e eficiente”, uma vez que representa uma alternativa a uma análise queixa a queixa, esclarece o vice-presidente da ERC.
E que cenários podem resultar deste procedimento? Arons de Carvalha desenha algumas possibilidades. Desde “levar publicamente o procedimento à TVI” até, em situações mais graves, obrigar o órgão de comunicação a “a divulgar publicamente a parte conclusiva da deliberação da ERC”, uma situação que “não é muito frequente”, antecipa o responsável. Além disso, existe também a possibilidade de “considerar que entra no domínio do aceitável” e arquivar a queixa. 
O PÚBLICO tentou contactar a jornalista Judite Sousa e o director de Informação da TVI, Sérgio Figueiredo, e não obteve resposta. À N-TV, a jornalista recusou fazer comentários.
Horas antes, o Sindicato dos Jornalistas tinha já apelado aos meios de comunicação para que fizessem uma cobertura sóbria dos incêndios, condenando o sensacionalismo de alguns meios, sem especificar casos concretos.
O Sindicato dos Jornalistas lembrou alguns pontos do Código Deontológico dos Jornalistas, como a necessidade de "atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas" nos acontecimentos relatados pelos profissionais. 
No mesmo comunicado, o sindicato apelava à acção de órgãos reguladores, como a ERC e a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, "a agirem" perante os casos de cobertura noticiosa "que não cumpram as regras deontológicas". A reacção chegou momentos depois.

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