segunda-feira, 5 de junho de 2017

A história dos dois terroristas confirmados de Londres


Um homem traumatizado e o cúmplice mistério.

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A Scotland Yard confirmou os nomes de dois dos três terroristas de Londres. Chamam-se Khuram Shazad Butt e Rachid Redouane. Um oferecia chocolates a crianças. Outro é desconhecido da polícia.
A Scotland Yard confirmou os nomes de dois dos três terroristas de Londres. Chamam-se Khuram Shazad Butt e Rachid Redouane. Ambos viviam em Barking, zona leste de Londres, mas Khuram Shazad Butt era natural do Paquistão e Rachid Redouane marroquino com ascendência líbia.

Khuram Shazad Butt, um homem traumatizado

Khuram Shazad Butt, também conhecido por Abz, tinha 27 anos. Era ele que usava a t-shirt do Arsenal nas fotografias do atentado de 3 de junho em Londres. Nasceu a 20 de abril de 1990, era de origem paquistanesa mas tinha nacionalidade britânica. Teria doze anos quando foi atropelado à porta de casa, na zona este da capital britânica onde vivia com os pais e com o irmão mais velho. Nesse mesmo ano terá encontrado o pai morto deitado na cama. Enquanto o irmão mais velho se voluntariou para o Exército Reserva do Reino Unido, Khuram radicalizou-se em 2013 através de uma mesquita ultra-conservadora. Aceitou um casamento arranjado, de onde resultaram dois filhos que Khuram também terá tentado radicalizar, oferecendo-lhes doces e dinheiro com frequência.
De acordo com os vizinhos, que conviveram com os dois rapazes Butt desde crianças, eles tinham uma família saudável até 2002. Estudavam na Escola Primária de Shaftesbury e na Academia Stratford, em Forest Gate, antes de se mudarem para o Newham Sixth Form College. Em 2002, Khuram foi atropelado depois de ter corrido para a estrada entre dois automóveis estacionados. Um carro, que se aproximava, não o viu e acabou por o atropelar.
Os dentes de Khuram ficaram “completamente partidos” e as pernas sofreram “sérios danos”. A família acabou por ser indemnizada em 2.500 libras.
Um dos vizinhos contou que, numa manhã pouco depois do acidente, a mãe dos rapazes bateu-lhe à porta a pedir ajuda porque o marido, que era vendedor de fruta e vegetais no mercado local, “não estava bem”. O vizinho foi à casa da família e encontrou o homem já morto. Nessa altura, já Khuram tinha encontrado o pai deitado na cama e “chorava histericamente”.

A radicalização de Khuram

Depois de 2002, a vida da família mudou: a mãe deixou de pagar a renda da casa e passou a ser “rude e disruptiva” para com a vizinhança. Não deixava ninguém entrar na propriedade onde vivia com os dois filhos e ameaçava os vizinhos que queriam saber como a poderiam ajudar. Enquanto o irmão mais velho se tornou membro do exército britânico, Khuram entrou para uma mesquita no leste londrino em 2013.
Poucos meses depois de frequentar a mesquita, Khuram começou a vestir “roupas religiosas” e não falava com nenhuma mulher. A família nem sequer sabia que estava casado porque a última vez que o viu foi quando ele “prestava condolências à família de um membro da comunidade” que havia morrido. O casamento de Khuram, no entanto, terá ocorrido em 2012 no seio da mesquita onde o homem se filiou. A cerimónia em Chigwell teve 400 convidados.
Khuram seria agora “um homem completamente diferente, totalmente obcecado com a religião e muito crítico com toda a gente”. Depois disso, em 2014, a família terá regressado ao Paquistão quando soube que um familiar tinha morrido com uma infecção. De regresso ao Reino Unido, Khuram foi entrevistado para um documentário do Channel 4 sobre britânicos jihadistas. Posou com uma bandeira do Estado Islâmico no Regent’s Park, um parque em Westminster (Londres).

A suspeitas de jihadismo

Foi nessa altura que o MI5 terá investigado Khuram, embora o caso tenha sido abandonado porque “não havia evidências de que estava a planear qualquer ataque”. Há dois anos, um amigo do rapaz avisou as autoridades das as suspeitas que tinha acerca dele. De acordo com uma entrevista dada por esse amigo à BBC, Khuram costumava ver vídeos no YouTube publicados por Ahmad Musa Jibril, um pregador de mensagens de ódio.
Ao Good Morning Britain, uma vizinha diz ter ligado para a polícia há dois anos por ter visto Khuram a falar com duas crianças, dizendo: “Estou pronto para fazer o que precisar de fazer em nome de Alá. Estou pronto em nome de Alá para fazer o que precisa de ser feito, incluindo matar a minha própria mãe”. Essa vizinha terá tirado quatro fotografias e enviado para a polícia.
Erica Gasparri, uma vizinha de 42 anos, disse ao Daily Telegraph que Khuram tinha o hábito de esperar que as crianças saíssem da escola para lhes oferecer chocolates enquanto discursava durante horas. Chegou a conversar com ele depois de o filho mais novo de três ter chegado a casa e ter dito que queria ser muçulmano depois de ter estado à conversa com Khuram. Também há dois anos, Khuram foi expulso do Centro Islâmico Jabir Bin Zayd por ter interrompido o pregador que estava a discursar sobre a importância de votar em consciência, na época das eleições britânicas. Khuram ter-se-á levantado irritado e aos gritos, tendo depois sido expulso.
Desde então começou a ser pregador na sua própria casa, enquanto trabalhava numa rede de transportes e fazia um part-time num ginásio islâmico, onde também praticava boxe e taewondo.

O jihadista que era também “um rapaz simpático”

Outros vizinhos de Khuram contam que o homem de 27 anos era “um rapaz simpático”. Uma semana antes do ataque em Londres, Khuram convidou toda a vizinhança para um churrasco e cupcakes no jardim da sua casa. Um dos vizinhos viu-o a segurar a porta para uma senhora mais velha passar apenas dois dias antes dos ataques na capital britânica. Outro conta que, depois de o ter ajudado quando o carro do paquistanês de 27 anos se ter estragado já perto de carro, Khuram foi a sua casa no dia seguinte com alguma comida como forma de agradecimento pelo auxílio.
Quanto às aproximações com as crianças da vizinhança, um dos residentes no bairro do leste londrino diz que “ele costumava jogar ténis e era muito generoso com as crianças. Toda a gente deixava os filhos brincarem com ele”.

O cúmplice mistério

Rachid Redouane era marroquino, mas tinha ascendência líbia. Não era conhecido das autoridades. Nasceu a 31 de julho de 1986 e estava quase a completar 31 anos. Também se costumava apresentar como Rachid Elkhdar, com um cartão de identificação que tinha como data de nascimento 31 de julho de 1991. A sua identidade ainda está a ser investigada pela polícia. Chefe de pastelaria, viveu recentemente, até 2016, em Rathmines, Dublin, de acordo com a polícia irlandesa. Uma das pessoas detidas no domingo foi a mãe da sua filha de 18 meses, Charisse O’Leary.

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