segunda-feira, 3 de abril de 2017

Uma das prováveis causas indicadas pelos gestores de aviação civil moçambicana para a queda do Islander

Uma das prováveis causas indicadas pelos gestores de aviação civil moçambicana para a queda do Islander que matou seis pessoas a bordo na segunda-feira, dia 27, na cadeia montanhosa de Vumba, na fronteira entre Moçambique e o Zimbabwe, na província de Manica, ganhou azo com testemunhas a afirmarem que a camada de neblinas que se formara no topo da montanha poderá ter “atrapalhado a tripulação”, que já voava a baixa altitude, em aproximação ao aeródromo de Mutare. A serra de Vumba tem no seu pico uma altitude de 1 911 metros e é caracterizada, todos os dias nas primeiras horas, por neblinas intensas que só se dissipam ao aproximar do fim da manhã. A aeronave, com o registo C9- -AOV, modelo BN2A-3, da sé- rie número 024, matriculada em Moçambique há 43 anos,  foi fretada pela Cornelder Moçambique, para efetuar o voo Beira/ Mutare. Para além dos dois pilotos, a aeronave transportava quatro passageiros, todos eles executivos da Cornelder, empresa que opera o porto da Beira. A aeronave despenhou-se quando fazia aproximação à pista do aeródromo da cidade fronteiriça de Mutare, no Zimbabwe. Os quatro executivos, incluindo o administrador delegado da Cornelder, Adelino Mesquita, deslocavam-se à cidade zimbabueana para participar numa reunião do conselho de administração da Green Motor Services (GMS), uma empresa de despacho subsidiária da Cornelder. De acordo com Lawrence Takawira, Director Geral da GMS, ele encontrava-se no aeródromo, juntamente com funcionários da autoridade tributária e da migração do Zimbabwe, quando se aperceberam de que o avião não tinha chegado à hora marcada. “Telefonamos para o nosso escritório na Beira e fomos informados pela secretária que os quatro tinham atrasado a sua partida devido às condições atmosféricas. Disseram-nos que eles chegariam cerca das 09,00 horas, mas até às 11:00 horas eles não tinham ainda chegado”. Acrescentou que depois receberam informação de que um avião havia se despenhado no Monte Vumba. “Depois de alguma verificação, descobrimos que era o avião que transportava os nossos executivos. Fomos ao local e confirmamos que se tratava deles. A sua morte é uma triste perda tanto para Moçambique como para o Zimbabwe”, disse Takawira. Testemunhas oculares dizem que os destroços do avião e os corpos dos ocupantes estavam espalhados por todo o lado, perto do topo da montanha. Depois de várias tentativas para atingir o local da queda, os corpos foram depois colocados em sacos azuis largados por helicópteros da Força Aérea do Zimbabwe, e transportados para a morgue do Hospital Provincial de Mutare. O avião era operado pela ETA AIR Charter, uma firma de prestação de serviços de transporte aéreo, baseada na cidade da Beira. Vários populares, de ambos os lados da fronteira, acorreram ao local mal se aperceberam do sucedido. “É possível que os pilotos se teDesastre aéreo de Machipanda Neblina terá atrapalhado a tripulação Por André Catueira* nham atrapalhado com as nuvens e montanhas. Podem ter pensado que o monte estava abaixo”, disse Arone Sandramo, uma das testemunhas. O choque contra o monte se deu 1 600 metros de altitude, cerca de 300 metros abaixo do topo do Monte Vumba. Sandramo, que lembra um acidente semelhante em 1979, exactamente no mesmo local e com um aparelho igual, frisou que a aeronave vinha em baixa altitude e a invisibilidade da área, uma mistura de montes e floresta densa, poderá ter contribuído para a colisão. “Nesta zona as nuvens são muito baixas. Nas manhãs fica coberta com neblinas e o topo da montanha se torna invisível”, disse Azarias Mutume, que frequenta as montanhas, muito usadas para o contrabando de produtos para os dois países. Tanto estas como outras testemunhas defendem que, naquelas condições de neblinas cerradas, os pilotos deviam ter sobrevoado a cidade de Mutare, e posicionado o avião para aterrar como se estivessem a vir de Harare. “Desse lado da fronteira com Moçambique é que tem muitas montanhas altas, do lado de Mutare são mais baixas e seria mais fácil gerir a má visibilidade”, disse Manuel. Devido à sua localização, num vale e entre montanhas, a cidade de Mutare, a quarta maior do Zimbabwe, não tem um aeroporto, sendo as ligações áreas asseguradas por um aeródromo. Mortes Inicialmente foram anunciados cinco mortos, pois um dos pilotos tinha escapado com vida, mas não resistiu aos ferimentos. A aeronave, com uma autonomia de voo de três horas, era tripulada pelo comandante, Luís Lopes dos Santos Barroso, e acompanhado pelo filho, Rui Fonseca Pereira dos Santos. Para além de Mesquita, que é irmão do Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, morreram Isac Noor e António Jorge, administrador financeiro e assessor jurídico da Cornelder, respectivamente, e Banele Sibanda, de nacionalidade zimbabueana, e que era o director financeiro da empresa. Remoção dos corpos Após tomar conhecimento do acidente, a Força aérea Zimbabueana enviou para o local um helicóptero, que sem pousar e com recurso a cordas, largou inicialmente uma equipa que incluía militares e médicos legistas. “Dadas as difíceis condições de acesso ao local, só cerca das 17:40 horas foi possível a remoção dos corpos”, disse Leonardo Colher, chefe do departamento das rela- ções públicas no comando provincial da Polícia em Manica. A Polícia moçambicana chegou primeiro ao local do acidente, mas não tinha meios para iniciar a operação de remoção, tendo por isso solicitado a cooperação do Zimbabwe. Coube nesta operação à Polícia moçambicana guarnecer o local, para evitar eventuais actos de vandalismo, que poderiam terminar em roubos de bens alheios. Os corpos dos cinco moçambicanos foram transladados quarta- -feira para a cidade da Beira. Algumas notas técnicas O aeródromo de Mutare tem restrições, não tem controlador de tráfego aéreo. O movimento aé- reo é controlado através da rádio ajuda que se localiza a oito quiló- metros da pista. A pista do aeródromo de Mutare tem 950 metros de comprimento e está a uma altitude de 1040 metros. A zona onde a aeronave se despenhou, na aldeia de Zohwa, a 25 quilómetros de Mutare, tem, com alguma frequência, apresentado dificuldades de navegação aérea devido a problemas de visibilidade criados pelo nevoeiro que se faz sentir nas primeiras horas do dia, mesmo que não haja proForça área zimbabueana retirando os corpos do local do sinistro blemas de mau tempo. Isto é, a Parte dos destroços da aeronave que despenhou nas montanhas de Machipanda TEMA DA SEMANA Savana 31-03-2017 3 visibilidade é totalmente precária. É por isso que a cordilheira é denominada por Vumba o que significa nevoeiro, na língua Shona. Violação de segurança aérea Na altura da queda, a aeronave navegava a uma altitude de 1 600 metros, numa região cujo ponto mais alto das montanhas é de 1 911 metros. Para a zona em alusão, as normas de navegação recomendam que o piloto sobrevoe a uma altura de oito mil pés, o equivalente a 2 400 metros. Aeronave A aeronave acidentada era pilotada por Luís Santos Barroso que detinha uma licença comercial e por Rui Santos, seu filho, que ainda não possuía a qualificação de voo por instrumentos, um elemento obrigatório em voos comerciais como era o caso em alusão. As declarações das autoridades aeronáuticas nacionais não deixam claro sobre quem na realidade estava a pilotar o avião, facto que será devidamente esclarecido pela perícia feita pelas autoridades zimbabueanas no terreno. Luís Santos Barroso era um piloto muito experiente em voos charters, envolvendo vários tipos de aeronaves em situações adversas. A aeronave acidentada era de tipo islander de fabrico inglês. Considerado muito robusta e apropriada para pistas curtas, o avião foi adquirido em 1973 pela então empresa estatal de Transporte de Trabalho Aéreo (TTA). Com a onda de privatizações que se seguiu ao período da liberaliza- ção económica do país, a partir da metade dos anos 1980, a empresa foi alienada e passou a denominar-se TTA, SARL. Nessa altura, o aparelho sofreu grandes altera- ções, cujo detalhe não se conhece. Anos depois, a mesma aeronave foi adquirida pela Empresa de Transportes Aéreos (ETA). Na altura, o aparelho encontrava-se inibido de voar, pelo que teve de sofrer grandes intervenções para voltar a ser usada. Após a intervenção técnica, o aparelho foi inspeccionado e aprovado pelos técnicos do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). O último certificado de navegabilidade foi passado em Junho de 2016 e tinha validade de um ano. Porém, estranhamente, na manhã desta quarta-feira, o comandante João de Abreu, Presidente do Conselho de Administração (PCA) do IACM, disse que a aeronave tinha sido re-certificada em Janeiro de 2017, o que significava que o avião tinha denotado problemas sérios. Contudo, João de Abreu já não falou das razões que ditaram a reavaliação do avião e qual é a entidade que fez a revisão, visto que na Beira não existe uma empresa qualificada para tal. O avião caiu na serra Vumba cerca de das 8:10 e a Força Aérea do Zimbabwe iniciou as buscas às 09:00 horas. OPresidente da África do Sul, Jacob Zuma, não participou, na quarta-feira, nas exéquias fúnebres de Ahmed Kathrada, um dos veteranos da luta pela libertação daquele país, em cumprimento do desejo manifestado pela família deste. Zuma adiou o início da sessão do Conselho de Ministros no mesmo dia, afirmando que a medida visava permitir que outros membros do governo participassem nas cerimónias. A ausência de Zuma nas cerimónias foi confirmada pelo seu gabinete, “em cumprimento do desejo expresso pela família”. Não se sabe quais terão sido as razões que levaram a família, mas nos últimos tempos havia desavenças entre o Presidente e Kathrada, tendo este chegado mesmo a sugerir que Zuma se demitisse da Presidência. O funeral de Kathrada teve lugar numa altura em que circulavam rumores de que Zuma estaria a contemplar uma remodelação ministerial, que incluiria a demissão do Ministro das Finanças, Parvin Gordran, bem como do seu vice, Jonas Mcebisi. No início da semana, os dois foram mandados regressar ao país quando se encontravam numa campanha para a promoção internacional da África do Sul, e que os levaria a Londres e Washington. Kathrada morreu na segunda-feira, e uma mensagem transmitida na quarta-feira, Zuma disse: “A nação perdeu um dos seus mais valiosos e respeitados combatentes pela liberdade, Ahmed Mohamed Kathrada, um dos acusados no famoso julgamento de Rivónia. A morte de Kathrada é uma perda monumental não só para a sua família, mas também para todos os sul-africanos, uma vez que ele era um dos mais destemidos e dedicados arquitectos da África do Sul livre e democrática. Ele sacrificou a sua liberdade pessoal e consentiu sacrifícios para a libertação de toda a África do Sul e para a criação de uma África do Sul democrática, não racial, pacífica e próspera”. Kathrada era companheiro de Nelson Mandela, tendo ambos sido presos e julgados pelo regime do apartheid no famoso julgamento de Rivónia em 1964, no qual foram condenados à prisão perpétua e encarcerados em Robben Island. Na ausência forçada de Zuma, a delegação governamental ao funeral foi liderada pelo vice-Presidente Cyril Ramaphosa. Zuma impedido de participar no funeral de Ahmed Kathrada África do Sul África do Sul Devido a dificuldades de acesso à região, foi necessário recorrer-se a guinchos lançados por helicópteros para permitir que os militares acedessem ao local. Em cumprimento das normas do ICAO, a investigação do acidente deverá ser feita pelas autoridades zimbabueanos, cabendo ao IACM o papel de observador. *Dados adicionais da Redacção

Sem comentários: