Uma das prováveis causas
indicadas pelos
gestores de aviação
civil moçambicana
para a queda do Islander que
matou seis pessoas a bordo na
segunda-feira, dia 27, na cadeia
montanhosa de Vumba,
na fronteira entre Moçambique
e o Zimbabwe, na província de
Manica, ganhou azo com testemunhas
a afirmarem que a camada
de neblinas que se formara
no topo da montanha poderá
ter “atrapalhado a tripulação”,
que já voava a baixa altitude,
em aproximação ao aeródromo
de Mutare.
A serra de Vumba tem no seu
pico uma altitude de 1 911 metros
e é caracterizada, todos os
dias nas primeiras horas, por neblinas
intensas que só se dissipam
ao aproximar do fim da manhã.
A aeronave, com o registo C9-
-AOV, modelo BN2A-3, da sé-
rie número 024, matriculada em
Moçambique há 43 anos, foi
fretada pela Cornelder Moçambique,
para efetuar o voo Beira/
Mutare.
Para além dos dois pilotos, a aeronave
transportava quatro passageiros,
todos eles executivos
da Cornelder, empresa que opera
o porto da Beira. A aeronave
despenhou-se quando fazia aproximação
à pista do aeródromo da
cidade fronteiriça de Mutare, no
Zimbabwe.
Os quatro executivos, incluindo o
administrador delegado da Cornelder,
Adelino Mesquita, deslocavam-se
à cidade zimbabueana
para participar numa reunião do
conselho de administração da
Green Motor Services (GMS),
uma empresa de despacho subsidiária
da Cornelder.
De acordo com Lawrence Takawira,
Director Geral da GMS,
ele encontrava-se no aeródromo,
juntamente com funcionários da
autoridade tributária e da migração
do Zimbabwe, quando se
aperceberam de que o avião não
tinha chegado à hora marcada.
“Telefonamos para o nosso escritório
na Beira e fomos informados
pela secretária que os quatro
tinham atrasado a sua partida
devido às condições atmosféricas.
Disseram-nos que eles chegariam
cerca das 09,00 horas, mas até às
11:00 horas eles não tinham ainda
chegado”.
Acrescentou que depois receberam
informação de que um avião
havia se despenhado no Monte
Vumba.
“Depois de alguma verificação,
descobrimos que era o avião que
transportava os nossos executivos.
Fomos ao local e confirmamos
que se tratava deles. A sua morte
é uma triste perda tanto para
Moçambique como para o Zimbabwe”,
disse Takawira.
Testemunhas oculares dizem que
os destroços do avião e os corpos
dos ocupantes estavam espalhados
por todo o lado, perto do topo
da montanha.
Depois de várias tentativas para
atingir o local da queda, os corpos
foram depois colocados em sacos
azuis largados por helicópteros
da Força Aérea do Zimbabwe, e
transportados para a morgue do
Hospital Provincial de Mutare.
O avião era operado pela ETA
AIR Charter, uma firma de prestação
de serviços de transporte
aéreo, baseada na cidade da Beira.
Vários populares, de ambos os
lados da fronteira, acorreram ao
local mal se aperceberam do sucedido.
“É possível que os pilotos se teDesastre
aéreo de Machipanda
Neblina terá atrapalhado a tripulação
Por André Catueira*
nham atrapalhado com as nuvens
e montanhas. Podem ter pensado
que o monte estava abaixo”, disse
Arone Sandramo, uma das testemunhas.
O choque contra o monte se deu
1 600 metros de altitude, cerca
de 300 metros abaixo do topo do
Monte Vumba.
Sandramo, que lembra um acidente
semelhante em 1979, exactamente
no mesmo local e com
um aparelho igual, frisou que a
aeronave vinha em baixa altitude
e a invisibilidade da área, uma
mistura de montes e floresta densa,
poderá ter contribuído para a
colisão.
“Nesta zona as nuvens são muito
baixas. Nas manhãs fica coberta
com neblinas e o topo da montanha
se torna invisível”, disse
Azarias Mutume, que frequenta
as montanhas, muito usadas para
o contrabando de produtos para
os dois países.
Tanto estas como outras testemunhas
defendem que, naquelas
condições de neblinas cerradas, os
pilotos deviam ter sobrevoado a
cidade de Mutare, e posicionado
o avião para aterrar como se estivessem
a vir de Harare.
“Desse lado da fronteira com
Moçambique é que tem muitas
montanhas altas, do lado de Mutare
são mais baixas e seria mais
fácil gerir a má visibilidade”, disse
Manuel.
Devido à sua localização, num
vale e entre montanhas, a cidade
de Mutare, a quarta maior do
Zimbabwe, não tem um aeroporto,
sendo as ligações áreas asseguradas
por um aeródromo.
Mortes
Inicialmente foram anunciados
cinco mortos, pois um dos pilotos
tinha escapado com vida, mas não
resistiu aos ferimentos.
A aeronave, com uma autonomia
de voo de três horas, era tripulada
pelo comandante, Luís Lopes dos
Santos Barroso, e acompanhado
pelo filho, Rui Fonseca Pereira
dos Santos.
Para além de Mesquita, que é
irmão do Ministro dos Transportes
e Comunicações, Carlos
Mesquita, morreram Isac Noor
e António Jorge, administrador
financeiro e assessor jurídico da
Cornelder, respectivamente, e
Banele Sibanda, de nacionalidade
zimbabueana, e que era o director
financeiro da empresa.
Remoção dos corpos
Após tomar conhecimento do
acidente, a Força aérea Zimbabueana
enviou para o local um
helicóptero, que sem pousar e
com recurso a cordas, largou inicialmente
uma equipa que incluía
militares e médicos legistas.
“Dadas as difíceis condições de
acesso ao local, só cerca das 17:40
horas foi possível a remoção dos
corpos”, disse Leonardo Colher,
chefe do departamento das rela-
ções públicas no comando provincial
da Polícia em Manica.
A Polícia moçambicana chegou
primeiro ao local do acidente,
mas não tinha meios para iniciar
a operação de remoção, tendo por
isso solicitado a cooperação do
Zimbabwe.
Coube nesta operação à Polícia
moçambicana guarnecer o local,
para evitar eventuais actos de
vandalismo, que poderiam terminar
em roubos de bens alheios.
Os corpos dos cinco moçambicanos
foram transladados quarta-
-feira para a cidade da Beira.
Algumas notas técnicas
O aeródromo de Mutare tem restrições,
não tem controlador de
tráfego aéreo. O movimento aé-
reo é controlado através da rádio
ajuda que se localiza a oito quiló-
metros da pista.
A pista do aeródromo de Mutare
tem 950 metros de comprimento
e está a uma altitude de 1040
metros.
A zona onde a aeronave se despenhou,
na aldeia de Zohwa, a 25
quilómetros de Mutare, tem, com
alguma frequência, apresentado
dificuldades de navegação aérea
devido a problemas de visibilidade
criados pelo nevoeiro que se
faz sentir nas primeiras horas do
dia, mesmo que não haja proForça
área zimbabueana retirando os corpos do local do sinistro blemas de mau tempo. Isto é, a
Parte dos destroços da aeronave que despenhou nas montanhas de Machipanda
TEMA DA SEMANA Savana 31-03-2017 3
visibilidade é totalmente precária.
É por isso que a cordilheira é denominada
por Vumba o que significa
nevoeiro, na língua Shona.
Violação de segurança
aérea
Na altura da queda, a aeronave
navegava a uma altitude de 1 600
metros, numa região cujo ponto
mais alto das montanhas é de 1
911 metros.
Para a zona em alusão, as normas
de navegação recomendam que o
piloto sobrevoe a uma altura de
oito mil pés, o equivalente a 2 400
metros.
Aeronave
A aeronave acidentada era pilotada
por Luís Santos Barroso que
detinha uma licença comercial
e por Rui Santos, seu filho, que
ainda não possuía a qualificação
de voo por instrumentos, um
elemento obrigatório em voos
comerciais como era o caso em
alusão.
As declarações das autoridades
aeronáuticas nacionais não deixam
claro sobre quem na realidade
estava a pilotar o avião, facto
que será devidamente esclarecido
pela perícia feita pelas autoridades
zimbabueanas no terreno.
Luís Santos Barroso era um piloto
muito experiente em voos
charters, envolvendo vários tipos
de aeronaves em situações adversas.
A aeronave acidentada era de tipo
islander de fabrico inglês. Considerado
muito robusta e apropriada
para pistas curtas, o avião
foi adquirido em 1973 pela então
empresa estatal de Transporte de
Trabalho Aéreo (TTA).
Com a onda de privatizações que
se seguiu ao período da liberaliza-
ção económica do país, a partir da
metade dos anos 1980, a empresa
foi alienada e passou a denominar-se
TTA, SARL. Nessa altura,
o aparelho sofreu grandes altera-
ções, cujo detalhe não se conhece.
Anos depois, a mesma aeronave
foi adquirida pela Empresa de
Transportes Aéreos (ETA). Na
altura, o aparelho encontrava-se
inibido de voar, pelo que teve de
sofrer grandes intervenções para
voltar a ser usada.
Após a intervenção técnica, o
aparelho foi inspeccionado e
aprovado pelos técnicos do Instituto
de Aviação Civil de Moçambique
(IACM).
O último certificado de navegabilidade
foi passado em Junho de
2016 e tinha validade de um ano.
Porém, estranhamente, na manhã
desta quarta-feira, o comandante
João de Abreu, Presidente
do Conselho de Administração
(PCA) do IACM, disse que a
aeronave tinha sido re-certificada
em Janeiro de 2017, o que significava
que o avião tinha denotado
problemas sérios.
Contudo, João de Abreu já não
falou das razões que ditaram a
reavaliação do avião e qual é a entidade
que fez a revisão, visto que
na Beira não existe uma empresa
qualificada para tal.
O avião caiu na serra Vumba cerca
de das 8:10 e a Força Aérea do
Zimbabwe iniciou as buscas às
09:00 horas.
OPresidente da África do Sul, Jacob Zuma, não participou,
na quarta-feira, nas exéquias fúnebres de
Ahmed Kathrada, um dos veteranos da luta pela libertação
daquele país, em cumprimento do desejo
manifestado pela família deste.
Zuma adiou o início da sessão do Conselho de Ministros no
mesmo dia, afirmando que a medida visava permitir que outros
membros do governo participassem nas cerimónias.
A ausência de Zuma nas cerimónias foi confirmada pelo seu
gabinete, “em cumprimento do desejo expresso pela família”.
Não se sabe quais terão sido as razões que levaram a família,
mas nos últimos tempos havia desavenças entre o Presidente
e Kathrada, tendo este chegado mesmo a sugerir que Zuma se
demitisse da Presidência.
O funeral de Kathrada teve lugar numa altura em que circulavam
rumores de que Zuma estaria a contemplar uma remodelação
ministerial, que incluiria a demissão do Ministro das
Finanças, Parvin Gordran, bem como do seu vice, Jonas Mcebisi.
No início da semana, os dois foram mandados regressar ao
país quando se encontravam numa campanha para a promoção
internacional da África do Sul, e que os levaria a Londres e
Washington.
Kathrada morreu na segunda-feira, e uma mensagem transmitida
na quarta-feira, Zuma disse: “A nação perdeu um dos seus
mais valiosos e respeitados combatentes pela liberdade, Ahmed
Mohamed Kathrada, um dos acusados no famoso julgamento
de Rivónia. A morte de Kathrada é uma perda monumental não
só para a sua família, mas também para todos os sul-africanos,
uma vez que ele era um dos mais destemidos e dedicados arquitectos
da África do Sul livre e democrática. Ele sacrificou
a sua liberdade pessoal e consentiu sacrifícios para a libertação
de toda a África do Sul e para a criação de uma África do Sul
democrática, não racial, pacífica e próspera”.
Kathrada era companheiro de Nelson Mandela, tendo ambos
sido presos e julgados pelo regime do apartheid no famoso julgamento
de Rivónia em 1964, no qual foram condenados à prisão
perpétua e encarcerados em Robben Island.
Na ausência forçada de Zuma, a delegação governamental ao
funeral foi liderada pelo vice-Presidente Cyril Ramaphosa.
Zuma impedido de participar
no funeral de Ahmed Kathrada
África do Sul
África do Sul
Devido a dificuldades de acesso à
região, foi necessário recorrer-se a
guinchos lançados por helicópteros
para permitir que os militares
acedessem ao local.
Em cumprimento das normas do
ICAO, a investigação do acidente
deverá ser feita pelas autoridades
zimbabueanos, cabendo ao
IACM o papel de observador.
*Dados adicionais da Redacção
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