segunda-feira, 3 de abril de 2017

estão indecisos quanto ao regresso às suas casas

Ogrosso de deslocados da reedição, em 2016, do conflito político-militar entre o Governo e a Renamo, maior partido da oposição, na província de Manica, estão indecisos quanto ao regresso às suas casas, muitas das quais em zonas severamente atingidas por hostilidades militares, após três meses da vigência da trégua, que assiste um segundo prolongamento de dois meses até 4 de Maio. Com profundos relatos saudosos, algumas vítimas do conflito, que desta vez exteriorizou mais o ódio político, afirmam que não vão regressar mais à origem, por recear uma outra eclosão das hostilidades, preferindo instalar-se de forma de- finitiva nos centros de acomodação. “Pensar em voltar, não, eu já não consigo voltar”, diz com precisão Maria Jerónimo, uma deslocada no campo de acomodação de Vanduzi, desde Setembro de 2016, com 10 membros da família, justificando que pode não conseguir repetir a sorte que teve de escapar da guerra, em caso de uma nova eclosão. Muito simpática com o apoio do Governo, largamente criticado entre os deslocados, Maria afiança que seria trabalhoso ter de reintegrar as crianças nas escolas de Nhamatema (Báruè), de onde fugiu com seus parentes, uma zona que tem ressuscitado desde o início de Fevereiro. Fátima Mateus, outra vítima, repete copiosamente a justificação de Jerónimo e, mesmo sem perspectivas de ter um terreno para uma instalação definitiva, ela assegura que não pretende regressar à casa, mesmo depois de se alcançar uma paz definitiva entre as partes beligerantes. “É que nós não sabemos o que pensam esses políticos”, declarou Fátima Mateus, que ainda é fustigada por lembranças de boa vida deixada para trás devido à guerra, perante uma crítica situação da fome e falta de água no campo de deslocados de Vanduzi. Uma nuvem escura no ar atormenta Fátima Mateus, por sua tenda estar a admitir água, um desespero que desce em cascata para os seis membros da família que partilham uma minúscula tenda de aproximadamente quatro metros quadrados. Um outro grupo se opõe às motiva- ções para uma instalação definitiva nas tendas e busca oportunidades para regressar, mas avisa que há necessidade de um acordo de paz entre as partes, para que sejam criadas as condições de segurança para o seu retorno, por considerar desumano o estilo de vida nos centros de acomodação. António Fan e Abel João fugiram da mesma zona do Púnguè sul em Fevereiro. Fan diz que mesmo com um acordo de paz não pensa em regressar mais à origem, porque ficou traumatizado com as hostilidades militares durante o conflito, além de não conhecer as intenções dos políticos com os acordos de Paz. Já Abel João está a preparar o regresso à casa, porque a vida confi- nada nas tendas do campo de acomodação não se adequa aos seus objectivos de produzir alimentos e dar uma vida melhor à sua família de seis membros, albergada numa tenda do centro. “Se o acordo for mesmo alcançado, eu vou regressar à casa, porque não estou habituado a uma vida confi- nada”, disse Abel João, apontando com a mão as “vidas acabadas” no centro devido à falta de perspectivas. Não existem estatísticas oficiais do número de deslocados que deixaram os centros de acomodação para regressarem as suas casas, mas vá- rias tendas nos seis centros de acomodação instalados pelo Governo, através do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), estão vazias. Em Vanduzi, as entradas de pico foram em Outubro, quando durante duas semanas da abertura do centro registou-se 1.016 deslocados oriundos de 11 zonas, perfazendo 125 famílias, até 21 de Outubro de 2016. Esta semana, foram contabilizados 583 deslocados de guerra no centro de Vanduzi. Os gestores do centro de acomodação de Vanduzi, o terceiro maior centro que aloja deslocados de guerra em Manica, afirmam que muitos dos deslocados estão indecisos em regressar à casa, mas o grosso esta dividido entre ficar e sair das tendas. “Aqui temos algumas pessoas, que com essa trégua voltaram para os seus trabalhos e outros foram organizar as suas casas, para quando for alcançado um acordo de paz, possam voltar a viver lá”, disse Domingo Janeiro, líder das tendas, afian- çando que outro grupo de pessoas “está a dizer não, já não queremos voltar porque podemos repetir o sofrimento por duas vezes, pois não sabemos o que pensam os políticos, podem querer repetir a guerra”. Ao que apurou o SAVANA de outros deslocados no local, muitos estão a ser aliciados para não regressarem, supostamente para não voltarem a dar sustento aos guerrilheiros da Renamo nas suas comunidades. Outros não regressam, sob promessa de serem usados nas pró- ximas eleições autárquicas e gerais.  Moçambique vive o primeiro período, de mais um prolongamento de 60 dias, até 4 de Maio, da tré- gua declarada pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, dando fim às hostilidades militares na região centro de Moçambique.  Abandonado Pelo menos 87% dos deslocados integrados num plano agrário estatal, para sua independência alimentar, abandonaram a iniciativa no campo de Vanduzi, em Manica, centro de Moçambique, por considerar “mal concebida”. As vítimas do conflito político- -militar entre o Governo e a Renamo receberam porções de um hectare de terra por família para produzir comida e combater fome nas vésperas da campanha agrícola 2016/17, mas só receberam sementes este mês, já na fase de colheitas, explicou Domingo Janeiro, gestor do centro. No total, 79 famílias, que perfazem 583 deslocados, actualmente no centro de acomodação de Vanduzi, receberam terra para prática da agricultura entre Outubro a Dezembro, para suprir o défice e criar independência alimentar na comida distribuída pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC). Entretanto, 69 famí- lias abandonaram o plano este mês, ao concluir que a iniciativa foi “mal concebida”. “Das 79 famílias que tinham recebido machambas, 69 abandonaram o plano de produzir por causa da distância aos campos (quintas) e também por falta de sementes e distribuição tardia de sementes pelo Governo”, disse Domingo Janeiro, sustentando que a semente só chegou na semana passada aos deslocados, já fora da época para agricultura de sequeiro. Os deslocados entendem que as oito horas diárias que percorrem entre o centro de acomodação aos campos de cultivo e a distribuição, pelo Governo, de semente fora da época, tornam insustentável a campanha de produção, o que seria um esforço em vão, e apelam que o Governo reveja a sua política de apoio ao grupo. O responsável do centro disse que as nove famílias – uma família regressou a origem - que prometeram continuar com o plano estatal, receberam, semana passada, do Governo, 10 quilogramas de sementes de cereais e leguminosas para lançar à terra, quando já iniciou a colheita de parte destas culturas. As restantes 69 famílias que desistiram do plano, disse Domingo Janeiro, receberam três quilos de sementes, para que desenrasquem novos campos e façam a produção, apesar da iminência da fome aguda. “A fome ainda assola de forma severa os deslocados”, declarou Domingo Janeiro, considerando também que, com a distribuição tardia das sementes, não se pode esperar nenhuma produção, sobretudo de milho, o que faz com que os deslocados tenham ainda dependência única do apoio do Governo. A última distribuição de alimento foi feita a 15 de Fevereiro e até 24 de Março os deslocados não haviam sido reabastecidos pelo programa de apoio do INGC, que também não disponibiliza água aos deslocados há mais de um mês. Entretanto, os deslocados justi- ficam a desistência com a inconsistência do programa agrário do Governo, que apenas gastaria a sua força, sem resultados produtivos, e apelam para iniciativas sustentáveis na busca pela sua independência alimentar. Maria Jerónimo, que continua no plano estatal, e Fátima Mateus, que desistiu da iniciativa, são unânimes em afirmar que, fora da época para agricultura de sequeiro, nada se pode esperar como produção. O Governo, através do IN

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