segunda-feira, 3 de abril de 2017

udo se deve a problemas técnicos que se verificam nas aeronaves

Insegurança, incerteza e desespero é o cenário que o passageiro vive cada vez que se vê obrigado a viajar nos aviões das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), a única companhia aérea a fazer o transporte de carga e de passageiros no território moçambicano. Tudo se deve a problemas técnicos que se verificam nas aeronaves da companhia, que já levaram passageiros a ficarem em terra por mais de 14 horas e outros a desistir da viagem e exigir o reembolso do valor de bilhete porque o avião falhou descolagem por três vezes devido a deficiências mecânicas. No último domingo, 26, centenas de passageiros ficaram retidos nos aeroportos de Maputo, Nampula e Lichinga porque a aeronave que devia transportá-los não conseguiu levantar o vôo depois de três tentativas. A situação criou pânico e medo no seio dos passageiros, facto que obrigou alguns a pedir o reembolso do valor dos seus bilhetes. Segundo gestores da LAM, os atrasos e adiamentos dos vôos devem-se à inoperância de mais de 50% da frota da companhia. Neste momento, das sete aeronaves de que a LAM dispõe, quatro encontram- -se avariadas. A informação foi revelada, esta quarta-feira, à Vice-ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Rebelo, aquando da visita efectuada àquela empresa, para averiguar a situação. Um dos aparelhos que neste momento voa na terra é o Boeing 737-700, a maior aeronave da companhia com capacidade para transportar 142 passageiros. O aparelho não opera há quatro dias e não há previsões de quando estará pronto. Em Janeiro último, o mesmo aparelho esteve paralisado durante alguns dias, devido aos problemas que teve no nariz, quando descia para o aeroporto de Tete. “Estamos à espera das peças. Assim que chegarem vamos começar com a reparação, que poderá durar três dias”, disse Pascoal Bernardo, Director Técnico-Operacional. O Boeing 737-700 foi adquirido em Maio de 2014 em forma de leasing. À imprensa, Manuela Rebelo explicou que a paralisação das quatro aeronaves deveu-se à política de segurança, que constitui a “bandeira da companhia”. “Mesmo que seja o mínimo detalhe é importante estar em terra para que garantamos que os nossos passageiros viajem seguros”, explicou. A companhia não revela as consequências financeiras do problema, mas o SAVANA sabe que a paralisação do Boeing 737-700 representa a perda de 10 mil dólares/dia, o equivalente a 700 mil meticais. Gestores da companhia de bandeira sem mais espaço para continuar a esconder a crise Aviões da LAM voam na terra A visita de Manuela Rebelo foi marcada pela ausência, em bloco, dos membros do Conselho de Administração daquela empresa pública, facto minimizado pela governante. “O Presidente do Conselho Executivo (António Pinto) encontra-se fora do país a buscar apoios para ver se conseguimos melhorar a questão da nossa frota. Mas, a Directora Comercial e o Administrador Técnico-Operacional encontram-se aqui”, disse. Contas mal paradas A crise da LAM não é nova e de 2010 a esta parte já passaram por aquela empresa três Conselhos de Administração e a situação continua a mesma. Dados estatísticos referentes ao ano de 2015 indicam que a empresa registou prejuízos na ordem de 1,8 biliões de meticais, depois do ano anterior ter “aterrado” com proveitos negativos de cerca de 900 milhões de meticais. As contas de 2016 ainda estão a ser auditadas. Contudo, o SAVANA sabe que o buraco é ainda maior. Num passado não muito distante, trabalhadores da empresa redigiram uma missiva ao Primeiro-Ministro Carlos Agostinho de Rosário, queixando-se de uma alegada gestão danosa. Os trabalhadores alertaram o governo para o facto de tripulantes de alto gabarito estarem a rescindir contratos de trabalho por causa de um suposto mau ambiente laboral, agravado pela ausência das políticas de incentivo praticadas na indústria da aviação civil. Dizem, por exemplo, que a LAM paga uma factura elevadíssima a trabalhadores excedentários e reformados, que em nada contribuem para empresa em detrimento daqueles que tudo fazem para manter a empresa operacional. De acordo com os queixosos, mesmo nessa situação calamitosa, a LAM continua a arrendar viaturas e imóveis de luxo para os seus executivos. Exemplificando, as fontes diziam que a LAM gastou 2.940. 000,00 MT para pagar alojamento de Faizal Abdulgafar Sacugy, administrador Comercial e de Sistemas de Informação, durante sete meses no Hotel Cardoso. A delegada da LAM em Sofala também está a viver num hotel de luxo na Beira há meses e o aluguer da sua viatura custa à empresa cerca de 2.520.000,00MT. 3DVVDJHLURVVDFULÀFDGRV Devido ao elevado volume de gastos em despesas consideradas supérfluas e tendo em conta a frágil situação financeira da empresa, a LAM agravou o preço de bilhete de passagem em mais de 65% em 2016. Contudo, a alta de preço que o passageiro paga pelo bilhete não é correspondido pelos serviços prestados pela empresa. Em termos operacionais, a qualidade de serviços registou uma queda na ordem dos 90%. Há pouco mais de um ano, o Primeiro- Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, visitou a LAM, onde recomendou que se fizesse uma avaliação económico-Financeira mais profunda e apresentar opções a curto, médio e longo prazos, para levar a empresa a níveis de rentabilidade aceitáveis. Para o efeito, a LAM lançou um concurso para a contratação de serviços de consultoria para a restruturação da companhia. Segundo documentos na nossa posse, foram recebidas nove propostas das quais quatro são de empresas domiciliadas em Moçambique e igual número de empresas estrangeiras. O concurso foi ganho pela Lufthansa Consulting e não há indica- ções de que tenha começado a trabalhar, numa proposta que deverá custar à LAM USD434.500. A LAM é uma empresa privada detida maioritariamente pelo Estado com 96% e pelos Gestores Técnicos e Trabalhadores (GTT) com 4%. Fly Africa retida na quarta fase A situação que se vive nos aeroportos levantou o velho debate sobre a liberalização do espaço aéreo nacional, que apesar de estar aberto desde 2003, nenhuma companhia foi licenciada. No ano passado, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM) anunciou que o mercado doméstico estava prestes a ganhar uma nova companhia, a Fly Africa, de capitais da Nova Zelândia, facto que ainda não se verificou. Rebelo reitera que o espaço aéreo nacional encontra-se liberalizado, cabendo às companhias interessadas em operar seguirem os trâmites legais. Questionado sobre o estágio de licenciamento desta companhia, o Presidente do IACM, João de Abreu, disse que se encontra na fase quatro. “Ainda não conseguiu demonstrar onde será a sede, onde vai ter os angares, o corpo de manutenção, pilotos, etc.”, enumera Abreu, acrescentando que “não é só chegar aqui e não ter uma sede e nem onde tratar os equipamentos”. “A aviação não é um hobby (passatempo), é tratada de uma forma profissional e por profissionais”, afirma. “As companhias buscam mais facilidades que o cumprimento das normas e o nosso lema é a seguran- ça. Todas vêm a Moçambique com vontade, mas quando se exige as cinco fases (unidade, capacidade financeira, administrativa, operacional, etc.) terminam na fase quatro”, relevou. LAM torna-se

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