Insegurança, incerteza e desespero
é o cenário que o passageiro
vive cada vez que se vê
obrigado a viajar nos aviões das
Linhas Aéreas de Moçambique
(LAM), a única companhia aérea
a fazer o transporte de carga e de
passageiros no território moçambicano.
Tudo se deve a problemas técnicos
que se verificam nas aeronaves da
companhia, que já levaram passageiros
a ficarem em terra por mais
de 14 horas e outros a desistir da
viagem e exigir o reembolso do valor
de bilhete porque o avião falhou
descolagem por três vezes devido a
deficiências mecânicas.
No último domingo, 26, centenas
de passageiros ficaram retidos nos
aeroportos de Maputo, Nampula
e Lichinga porque a aeronave que
devia transportá-los não conseguiu
levantar o vôo depois de três tentativas.
A situação criou pânico e medo no
seio dos passageiros, facto que obrigou
alguns a pedir o reembolso do
valor dos seus bilhetes.
Segundo gestores da LAM, os
atrasos e adiamentos dos vôos devem-se
à inoperância de mais de
50% da frota da companhia. Neste
momento, das sete aeronaves de que
a LAM dispõe, quatro encontram-
-se avariadas.
A informação foi revelada, esta
quarta-feira, à Vice-ministra dos
Transportes e Comunicações, Manuela
Rebelo, aquando da visita
efectuada àquela empresa, para averiguar
a situação.
Um dos aparelhos que neste momento
voa na terra é o Boeing
737-700, a maior aeronave da companhia
com capacidade para transportar
142 passageiros. O aparelho
não opera há quatro dias e não há
previsões de quando estará pronto.
Em Janeiro último, o mesmo aparelho
esteve paralisado durante alguns
dias, devido aos problemas que teve
no nariz, quando descia para o aeroporto
de Tete.
“Estamos à espera das peças. Assim
que chegarem vamos começar com
a reparação, que poderá durar três
dias”, disse Pascoal Bernardo, Director
Técnico-Operacional.
O Boeing 737-700 foi adquirido
em Maio de 2014 em forma de leasing.
À imprensa, Manuela Rebelo explicou
que a paralisação das quatro
aeronaves deveu-se à política de segurança,
que constitui a “bandeira
da companhia”.
“Mesmo que seja o mínimo detalhe
é importante estar em terra para
que garantamos que os nossos passageiros
viajem seguros”, explicou.
A companhia não revela as consequências
financeiras do problema,
mas o SAVANA sabe que a paralisação
do Boeing 737-700 representa
a perda de 10 mil dólares/dia, o
equivalente a 700 mil meticais.
Gestores da companhia de bandeira sem mais espaço para continuar a esconder a crise
Aviões da LAM voam na terra
A visita de Manuela Rebelo foi
marcada pela ausência, em bloco,
dos membros do Conselho de
Administração daquela empresa
pública, facto minimizado pela governante.
“O Presidente do Conselho Executivo
(António Pinto) encontra-se
fora do país a buscar apoios para ver
se conseguimos melhorar a questão
da nossa frota. Mas, a Directora
Comercial e o Administrador
Técnico-Operacional encontram-se
aqui”, disse.
Contas mal paradas
A crise da LAM não é nova e de
2010 a esta parte já passaram por
aquela empresa três Conselhos de
Administração e a situação continua
a mesma.
Dados estatísticos referentes ao ano
de 2015 indicam que a empresa registou
prejuízos na ordem de 1,8 biliões
de meticais, depois do ano anterior
ter “aterrado” com proveitos
negativos de cerca de 900 milhões
de meticais.
As contas de 2016 ainda estão a ser
auditadas. Contudo, o SAVANA
sabe que o buraco é ainda maior.
Num passado não muito distante,
trabalhadores da empresa redigiram
uma missiva ao Primeiro-Ministro
Carlos Agostinho de Rosário, queixando-se
de uma alegada gestão
danosa.
Os trabalhadores alertaram o governo
para o facto de tripulantes
de alto gabarito estarem a rescindir
contratos de trabalho por causa de
um suposto mau ambiente laboral,
agravado pela ausência das políticas
de incentivo praticadas na indústria
da aviação civil.
Dizem, por exemplo, que a LAM
paga uma factura elevadíssima a
trabalhadores excedentários e reformados,
que em nada contribuem
para empresa em detrimento daqueles
que tudo fazem para manter
a empresa operacional.
De acordo com os queixosos, mesmo
nessa situação calamitosa, a
LAM continua a arrendar viaturas
e imóveis de luxo para os seus executivos.
Exemplificando, as fontes diziam
que a LAM gastou 2.940. 000,00
MT para pagar alojamento de Faizal
Abdulgafar Sacugy, administrador
Comercial e de Sistemas de
Informação, durante sete meses no
Hotel Cardoso.
A delegada da LAM em Sofala
também está a viver num hotel de
luxo na Beira há meses e o aluguer
da sua viatura custa à empresa cerca
de 2.520.000,00MT.
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Devido ao elevado volume de gastos
em despesas consideradas supérfluas
e tendo em conta a frágil
situação financeira da empresa, a
LAM agravou o preço de bilhete
de passagem em mais de 65% em
2016.
Contudo, a alta de preço que o passageiro
paga pelo bilhete não é correspondido
pelos serviços prestados
pela empresa.
Em termos operacionais, a qualidade
de serviços registou uma queda
na ordem dos 90%.
Há pouco mais de um ano, o Primeiro-
Ministro, Carlos Agostinho
do Rosário, visitou a LAM, onde
recomendou que se fizesse uma
avaliação económico-Financeira
mais profunda e apresentar opções
a curto, médio e longo prazos, para
levar a empresa a níveis de rentabilidade
aceitáveis.
Para o efeito, a LAM lançou um
concurso para a contratação de
serviços de consultoria para a restruturação
da companhia. Segundo
documentos na nossa posse, foram
recebidas nove propostas das quais
quatro são de empresas domiciliadas
em Moçambique e igual número
de empresas estrangeiras.
O concurso foi ganho pela Lufthansa
Consulting e não há indica-
ções de que tenha começado a trabalhar,
numa proposta que deverá
custar à LAM USD434.500.
A LAM é uma empresa privada detida
maioritariamente pelo Estado
com 96% e pelos Gestores Técnicos
e Trabalhadores (GTT) com 4%.
Fly Africa retida na quarta
fase
A situação que se vive nos aeroportos
levantou o velho debate sobre a
liberalização do espaço aéreo nacional,
que apesar de estar aberto desde
2003, nenhuma companhia foi
licenciada.
No ano passado, o Instituto de
Aviação Civil de Moçambique
(IACM) anunciou que o mercado
doméstico estava prestes a ganhar
uma nova companhia, a Fly Africa,
de capitais da Nova Zelândia, facto
que ainda não se verificou.
Rebelo reitera que o espaço aéreo
nacional encontra-se liberalizado,
cabendo às companhias interessadas
em operar seguirem os trâmites
legais.
Questionado sobre o estágio de
licenciamento desta companhia,
o Presidente do IACM, João de
Abreu, disse que se encontra na fase
quatro.
“Ainda não conseguiu demonstrar
onde será a sede, onde vai ter os angares,
o corpo de manutenção, pilotos,
etc.”, enumera Abreu, acrescentando
que “não é só chegar aqui e
não ter uma sede e nem onde tratar
os equipamentos”.
“A aviação não é um hobby (passatempo),
é tratada de uma forma
profissional e por profissionais”,
afirma.
“As companhias buscam mais facilidades
que o cumprimento das
normas e o nosso lema é a seguran-
ça. Todas vêm a Moçambique com
vontade, mas quando se exige as
cinco fases (unidade, capacidade financeira,
administrativa, operacional,
etc.) terminam na fase quatro”,
relevou.
LAM torna-se
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