Fez um ano na passada
sexta-feira, 6 de Abril, que
os moçambicanos perderam
vítima de doença o
Arcebispo Emérito da Beira,
Dom Jaime Pedro Gon-
çalves um dos principais
mediadores do Acordo Geral
da Paz de 1992 entre a
Frelimo e a RENAMO em
Roma.
Jaime Gonçalves foi o
mediador da Igreja Católica
moçambicana e do Vaticano
no Acordo Geral de
Paz, assinado a 04 de Outubro
de 1992, em Roma,
e que encerrou 16 anos de
guerra civil entre o Governo
da Frelimo (Frente de Libertação
de Moçambique)
e a RENAMO (Resistência
Nacional Moçambicana).
Dois meses antes da sua
morte, Dom Jaime Pedro
Gonçalves defendera que
o entendimento de Roma
ainda é a solução para os
conflitos no país e deve
ser revisitado pela Igreja,
quando Moçambique vive
uma nova crise política e
militar.
“O documento do Acordo
Geral de Paz continua
a ser o mais actual e ainda
é a luz para a solução
dos conflitos em Moçambique,
alertou o arcebispo
que também foi o autor do
livro “A Paz dos Moçambicanos”.
A RENAMO e os mo-
çambicanos reconhecem o
papel desempenhado por
este clérigo na pacificação
do país e as suas diversas
intervenções que contribuí-
ram para a implantação do
processo democrático em
Moçambique.
Dom Jaime sempre defendeu
que o povo espera
um novo diálogo sério mas
também questionou “onde
estão aqueles que fizeram
a reconciliação”, assinalando
que os acordos de
Roma foram obra da Igreja
Católica.
Para Jaime Gonçalves,
os acontecimentos em Mo-
çambique deixam claro que
o Acordo de Paz não está a
ser praticado pela Frelimo,
argumentando que a linha
dura do partido se recusou
a integrar os homens armados
da RENAMO, que
ficou um “movimento descamisado”,
e que há um
plano para eliminar o seu
líder, Afonso Dhlakama.
“Para mim foi uma humilhação
terrível o Presidente
da República, Filipe Nyusi,
o mais alto magistrado da
nação, ir a Angola aprender
como mataram Savimbi”,
afirmou dois meses o
arcebispo citado pela Lusa.
Recuando aos tempos
de Roma, o mediador católico
do Acordo de Paz
atribuiu ao ex-Presidente
norte-americano George
Bush influência decisiva
junto do Governo mo-
çambicano para aceitar
um diálogo directo, e que
até então parecia recusar,
com a oposição em 1992:
“Quem tinha esse poder
era Bush”.
Antes das negociações,
num período em que Mo-
çambique ainda vivia sob
regime de partido único.
Aí, falar da RENAMO era
potencialmente crime contra
a segurança do Estado.
Dom Jaime Gonçalves
recordou como foi levado
de avioneta por um jovem
piloto português até
uma pista sinalizada por
militares da RENAMO de
fachos na mão, e o pró-
prio Dhlakama apareceu
de moto para transportar
o religioso e, “admiravelmente,
aceitar o diálogo”.
Ele lembrou que os dirigentes
católicos, precisaram
de muita imaginação,
muito trabalho e muito risco
e os grandes êxitos desses
esforços foram levar a
Frelimo às negociações em
Roma e o Vaticano aparecer
como mediador no entendimento
histórico.
“Estão todos os dias enchendo
a boca a dizer paz,
paz, paz! Qual paz? Paz
de vergonha? Onde está a
paz?”, questionou.
Passado um ano, que
os moçambicanos perderam
este homem que foi
um dos obreiros da Paz, o
conflito, a aldrabice polí-
tica e a falta de seriedade
continuam, enquanto os
dirigentes deste país continuam
a encher a boca por
cantar a Paz, uma Paz que
demora chegar.
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