segunda-feira, 10 de abril de 2017

UM ANO SEM O DOM JAIME E SEM A PAZ

 Fez um ano na passada sexta-feira, 6 de Abril, que os moçambicanos perderam vítima de doença o Arcebispo Emérito da Beira, Dom Jaime Pedro Gon- çalves um dos principais mediadores do Acordo Geral da Paz de 1992 entre a Frelimo e a RENAMO em Roma. Jaime Gonçalves foi o mediador da Igreja Católica moçambicana e do Vaticano no Acordo Geral de Paz, assinado a 04 de Outubro de 1992, em Roma, e que encerrou 16 anos de guerra civil entre o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). Dois meses antes da sua morte, Dom Jaime Pedro Gonçalves defendera que o entendimento de Roma ainda é a solução para os conflitos no país e deve ser revisitado pela Igreja, quando Moçambique vive uma nova crise política e militar. “O documento do Acordo Geral de Paz continua a ser o mais actual e ainda é a luz para a solução dos conflitos em Moçambique, alertou o arcebispo que também foi o autor do livro “A Paz dos Moçambicanos”. A RENAMO e os mo- çambicanos reconhecem o papel desempenhado por este clérigo na pacificação do país e as suas diversas intervenções que contribuí- ram para a implantação do processo democrático em Moçambique. Dom Jaime sempre defendeu que o povo espera um novo diálogo sério mas também questionou “onde estão aqueles que fizeram a reconciliação”, assinalando que os acordos de Roma foram obra da Igreja Católica. Para Jaime Gonçalves, os acontecimentos em Mo- çambique deixam claro que o Acordo de Paz não está a ser praticado pela Frelimo, argumentando que a linha dura do partido se recusou a integrar os homens armados da RENAMO, que ficou um “movimento descamisado”, e que há um plano para eliminar o seu líder, Afonso Dhlakama. “Para mim foi uma humilhação terrível o Presidente da República, Filipe Nyusi, o mais alto magistrado da nação, ir a Angola aprender como mataram Savimbi”, afirmou dois meses o arcebispo citado pela Lusa. Recuando aos tempos de Roma, o mediador católico do Acordo de Paz atribuiu ao ex-Presidente norte-americano George Bush influência decisiva junto do Governo mo- çambicano para aceitar um diálogo directo, e que até então parecia recusar, com a oposição em 1992: “Quem tinha esse poder era Bush”. Antes das negociações, num período em que Mo- çambique ainda vivia sob regime de partido único. Aí, falar da RENAMO era potencialmente crime contra a segurança do Estado. Dom Jaime Gonçalves recordou como foi levado de avioneta por um jovem piloto português até uma pista sinalizada por militares da RENAMO de fachos na mão, e o pró- prio Dhlakama apareceu de moto para transportar o religioso e, “admiravelmente, aceitar o diálogo”. Ele lembrou que os dirigentes católicos, precisaram de muita imaginação, muito trabalho e muito risco e os grandes êxitos desses esforços foram levar a Frelimo às negociações em Roma e o Vaticano aparecer como mediador no entendimento histórico. “Estão todos os dias enchendo a boca a dizer paz, paz, paz! Qual paz? Paz de vergonha? Onde está a paz?”, questionou. Passado um ano, que os moçambicanos perderam este homem que foi um dos obreiros da Paz, o conflito, a aldrabice polí- tica e a falta de seriedade continuam, enquanto os dirigentes deste país continuam a encher a boca por cantar a Paz, uma Paz que demora chegar.

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