Depois da companhia de bandeira, Filipe Nyusi foi conhecer a transportadora pública de passageiros da capital. Aqui não havia como o Chefe de Estado se manter tranquilo. Logo à entrada, foi confrontado com dezenas de sucatas e autocarros parados devido a avarias. Nas oficinas, jovens mecânicos fazem a jornada conversando, pois “não há trabalho”. “Todos os autocarros estão a circular. Hoje ainda não tivemos avaria”, respondeu um mecânico à pergunta do Presidente da República sobre a ociosidade. Nyusi gostou de ver oficinas limpas, deu a volta e viu três autocarros parados há dias devido a problemas de pneus. Não gostou do que viu e voltou aos jovens da oficina: “Vocês disseram que não têm trabalho, mas estão aí autocarros parados. Será que vocês não podem reparar pneu?”. Os jovens explicaram que os pneus dos autocarros são reparados fora do país. E acrescentaram que não são apenas três autocarros parados devido a problemas de pneus: são muitos. Outros não circulam porque têm problemas de bateria. Ao todo, são mais de 30 autocarros. O PR parecia não acreditar no que estava a ouvir. Mandou juntar todos os operários para uma curta conversa. Começou por perguntar se já tinham recebido os salários em atraso, incluindo o 13º, ao que responderam positivamente. Questionou por que não estavam a conseguir pôr autocarros na estrada. A resposta não tardou: faltam peças. E os jovens sugeriram que, na compra de novos autocarros, devia se acautelar a questão da manutenção. Por exemplo, o equipamento de reparação de pneus que a Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo (EMTPM) tem não serve para os autocarros em circulação. “Estão a dizer-me que têm mais de 30 autocarros parados porque não conseguem resolver problemas de pneus e bateria. Vêm aí mais 80 autocarros e, até Dezembro, o número irá subir para 300. Mas vejo que teremos os mesmos problemas”.
Já sentado no Conselho Consultivo, que decorreu no Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM), Nyusi disse que o transporte urbano precisa de uma restruturação profunda. Rebobinou a “triste realidade” que testemunhou nas oficinas da empresa e concluiu que, mais do que a carência de autocarros, há problemas de mentalidades. “Se fizermos abate daqueles autocarros, vamos ver os mesmos a circular na nossa cidade. Nas mãos de privados, todos aqueles autocarros podem circular. O problema somos nós, relaxamos porque sempre haverá salário.”
Tarifas serão revistas
Uma das queixas dos transportadores urbanos prende-se com as baixas tarifas praticadas nas cidades de Maputo e Matola. Sobre a questão, Nyusi disse que o governo já está a negociar novas tarifas com as associações. Mas advertiu aos gestores das empresas públicas que, apesar de o transporte ser um serviço social, isso não pode justificar os problemas que constatou no terreno. “As oficinas da empresa de transportes públicos estão a transformar-se em cemitérios de autocarros. Vamos importar mais autocarros, mas sempre será dinheiro perdido”.
Ali mesmo, o Chefe de Estado pediu às empresas Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e MPDC (concessionária do porto de Maputo) que apoiem no transporte urbano na capital. Os representantes das duas empresas prometeram estudar, ao nível dos conselhos de administração, formas de intervir na solução para a crise de transporte nas cidades de Maputo e Matola.
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