TORTURA
Uma mulher foi presa pela própria família num cubículo após ter engravidado de um desconhecido aos 20 anos. Passados 16 anos a polícia libertou-a após uma denúncia anónima.
Foi no passado dia 9 de março que Maria Lúcia de Almeida Braga foi libertada pela polícia após 16 anos de cativeiro. A mulher foi mantida num cubículo, pela própria família, após ter ficado grávida de um desconhecido aos 20 anos. Agora, com 36 anos, conseguiu sair da ‘prisão privada’ a partir de uma denúncia anónima. A história foi publicada no site oficial da Polícia Civil do Ceará, Uruburetama, onde o incidente teve lugar.
“Mantida por trás de arames farpados e portas fechadas por cadeados“. É assim que começa o comunicado da polícia, que afirma que a fonte anónima da denúncia dizia inicialmente que a vítima estava presa há seis anos numa casa sem condições. Com uma investigação mais pormenorizada, concluiu-se que a mulher estava presa há mais de uma década e meia. Quando a polícia chegou ao local, Maria Lúcia encontrava-se despida e sem condições de higiene, uma vez que fazia as necessidades no chão.
A mulher, de agora 36 anos, foi mantida em cativeiro pela própria família num local sem luz ou casa de banho. Dormia apenas numa rede que lhe foi dada. Nesse mesmo local, de apenas três metros quadrados, a mulher deu à luz uma criança que foi dada a uma outra família pelo seu pai e irmão. A família adotiva da criança já terá sido identificada, segundo a Globo. A criança, de agora 15 anos, já sabe da situação.
Segundo a investigação da polícia, Maria mantinha uma vida normal até à sua prisão. Entrou num relacionamento que correu mal e, por isso, desenvolveu problemas psicológicos. Mais tarde, entrou num outro relacionamento e engravidou, conta o Jornal O Dia. Mas a família não queria que Maria engravidasse de novo e aprisionou-a.
A arrecadação onde Maria Lúcia se encontrava era longe o suficiente para que ninguém ouvisse os seus gritos. Arame farpado e quatro cadeados eram o suficiente para isolar Maria da zona rural de Uruburetama. Quando foi resgatada, Maria Lúcia encontrava-se “atónita” e rodeada de fezes e urina, segundo a descrição da polícia. “No dia em que a encontrámos, a vítima estava atónita. Ao longo dos últimos 20 dias, já ganhou algum peso, já escreve e começa a falar, mas ainda com dificuldade. Aos poucos, está a começar a viver”, afirmou o delegado Harley Filho. Assim que viu a polícia, Maria Lúcia “abriu os braços” e correu na sua direção, conta o jornal brasileiro O Povo.
Para a resgatar, Harley Filho descreveu como tudo aconteceu: “rompemos dois cadeados e um arame para ter acesso ao terreno. Na primeira casa havia um terceiro cadeado e, quando entramos no imóvel, no quarto que dava acesso à vítima, o último cadeado. A situação era deplorável. Havia uma rede e o odor de fezes e urina. Não havia banheiro. Despida, quando viu a equipe ela abriu os braços”, relatou Harley Filho.
Na casa, fechada e isolada, Maria recebia apenas duas refeições por dia: uma por volta das 10h00 e outra entre as 15h00 e as 16h00. Segundo explica a Globo, a mulher tentava fugir de cada vez que alguém entrava no cubículo para a alimentar ou limpar o local. Sempre sem sucesso.
Segundo o comunicado, os vizinhos sabiam da existência do crime, mas achavam uma “situação normal”. João de Almeida Braga, irmão da vítima e de 47 anos, já foi preso no domingo, conforme o comunicado da polícia. A acusação é feita com base em crimes de maus tratos e prisão privada. Os pais da vítima, segundo a polícia, são já muito idosos e com vários problemas de saúde. O pai terá sofrido de vários AVC e a mãe encontrava-se com vários problemas psicológicos e vivia sem se mexer ou falar na cama.
Eles são muito idosos e debilitados. Ele hoje tem mais de 70 anos e teve alguns AVCs. A mãe não ajudava, não aceitava, mas convivia com isto. Ela praticamente vivia no mesmo estado de penúria da filha. Conseguimos encontrar famílias dispostas a acolhe-los e eles estão a ser cuidados” disse o delegado à Globo.
O pai da vítima será indiciado por maus tratos mas devido às suas condições físicas e psicológicas não se irá pedir prisão.