| Tema de Fundo - Tema de Fundo |
| Escrito por Adérito Caldeira em 30 Março 2017 |
“Geralmente, numa família com dez membros apenas uma pessoa é que trabalha. Essa pessoa é que tenta sustentar outras nove. Isso significa que ela não terá como poupar dinheiro por causa do agregado familiar e, as vezes, o salário nem é suficiente” declarou ainda o ministro Maleiane, na passada segunda-feira(27), durante a abertura da reunião nacional de advocacia para o planeamento familiar, uma verdade que parece ter chocando alguns cidadãos.
Mas o facto é que uma “análise da dinâmica demográfica de vários países da África Subsariana, com base nos dados das Nações Unidas, colocou Moçambique entre os dez países onde a fecundidade tem maior contribuição absoluta no crescimento populacional”, constataram os académicos Carlos Arnaldo e Rogers Hansine num artigo inserido na publicação “Desafios para Moçambique 2015”, sobre as oportunidades e desafios do dividendo demográfico em Moçambique.
Se é verdade que “a questão da fecundidade, a questão de número de crianças, conta muito, porque, quando temos muitos dependentes, não conseguimos poupar, não conseguimos investir”, como explicou o Ministro da Economia e Finanças, a publicação do Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE) também argumenta que o dividendo demográfico é uma oportunidade transitória e ímpar criada pela transição demográfica, “porém a materialização e a capitalização deste bónus transitório dependem estritamente de como cada país antecipadamente orienta as suas política sociais e económicas e mobiliza recursos para tirar proveito desse momento ímpar da dinâmica da sua população”.
“É imperioso que um país ainda atrasado no processo de transição demográfica como Moçambique acelere a transição demográfica e, ao mesmo tempo, invista maciçamente na educação e na saúde, de modo a assegurar que o País esteja provido de um capital humano com potencial altamente produtivo. Necessariamente, estes investimentos deverão ser complementados com a criação de um quadro institucional que favoreça a criação de postos de trabalho decentes e seguros para acolher a abundante e devidamente qualificada força de trabalho”, defendem Carlos Arnaldo e Rogers Hansine.
“Constituição de uma força de trabalho com formação relevante constitui um dos mais sérios desafios para Moçambique”
“Isto explica-se pelo facto de a rápida redução da fecundidade conduzir ao aumento rápido do rácio da população economicamente activa sobre a população economicamente não activa; se o declínio da fecundidade for relativamente arrastado ou muito lento, o rácio da população economicamente activa sobre a população economicamente não activa estará sujeito a alterações ligeiras que poderão durar algumas décadas. Assim, o peso de uma estrutura da população denominada dependente continuará a fazer sentir os seus efeitos na economia por muito tempo”, indica o artigo que estamos a citar.
Os académicos Carlos Arnaldo e Rogers Hansine constataram que em Moçambique, parte substancial da força de trabalho não tem formação por isso, “no que diz respeito à materialização e capitalização do primeiro dividendo demográfico, a constituição de uma força de trabalho com formação relevante constitui, indubitavelmente, um dos mais sérios desafios para Moçambique”.
No artigo os académicos argumentam ainda que “embora um boom mineral possa mudar a sorte dos países instantaneamente no que diz respeito à performance económica, os efeitos benéficos da mudança da estrutura demográfica sobre o crescimento económico devem ser cuidadosamente planificados”.
A julgar pelos dados do planeamento familiar, que rondam os 25%, aos resultados ainda pouco significativos da educação da rapariga, ao estatuto ainda subalterno da mulher na família e na comunidade, pelo deficiente acesso à Saúde e as poucas oportunidade de trabalho decente, seguro e produtivo, os sucessivos Governos do partido Frelimo pouco têm feito para avançar no processo de transição demográfica. Contudo é assinalável a frontalidade com que a temática está a ser abordada publicamente.
|
sábado, 1 de abril de 2017
Filhos podem não ser riqueza, mas jovens em idade de trabalhar podem criar condições para o dividendo demográfico em Moçambique
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário