Três espiões russos julgados por operarem uma rede de espionagem dos EUA tentaram recrutar um dos ex-conselheiros de Trump. E ainda: um russo e um americano encontram-se secretamente nas Seychelles.
Um dos conselheiros de Donald Trump para a política externa durante a sua campanha eleitoral, Carter Page, encontrou-se com um membro dos serviços de informação russos e terá partilhado com ele documentos sobre a indústria energética americana. O encontro aconteceu nos escritórios da representação diplomática russa na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, Page já o confirmou, mas o consultor diz também que não partilhou nem qualquer informação sensível.
As suspeitas surgiram em janeiro de 2015, quando os investigadores do FBI quebraram um anel de espionagem russa a opera em solo norte-americano. Os documentos do tribunal, a que o site da Buzzfeed teve acesso em primeiro lugar, dizem que um dos espiões, Victor Podobnyy, tentou recrutar Page, que na altura trabalhava como consultor na área de energia em Nova Iorque, como fonte de informação. Numa gravação ouvida em tribunal, Podobnyy fala com um outro membro do grupo de espiões, Igor Sporyshev, sobre as suas tentativas de recrutar um novo membro com o nome de código “Male-1”. O próprio Page já confirmou que ele é mesmo o “Male-1” referido na gravação mas, no mesmo comunicado, garante que nunca passou aos russos informação “sensível”.
“Gosto que ele consiga aguentar com muito trabalho diferente. Por agora o entusiasmo dele chega-me. Também lhe prometi bastante”, terá Podobnyy dito na gravação.
Os documentos datam de 2015, e são parte de um investigação diferente, aos três espiões russos, um deles condenado e deportado para a Rússia e outros dois desaparecidos dado que viajam com identidades diplomáticas — e falsas — e que não está diretamente ligada às investigações do FBI que ainda decorrem na tentativa de aferir o nível de envolvimento de elementos russos nas eleições presidenciais norte-americanas. Carter Page é, porém, um dos nomes cujas potenciais ligações aos serviços de informação russos têm estado sob análise do FBI e dos Comités do Congresso norte-americano.
Carter Page não esteve com Donald Trump até ao fim da campanha, tendo sendo apenas seu conselheiro apenas por um curto período de tempo. Na segunda-feira, Trump disse que apenas partilhou “informação básica que está disponível ao público em vários trabalhos de pesquisa”, incluindo em algumas das suas aulas na Universidade de Nova Iorque.
Donald Trump continua a negar que ele ou algum dos seus homens próximos tenham mantido contacto com a Rússia durante a campanha para a presidência dos Estados Unidos. Para Trump é importante entender, antes de mais, os problemas com a segurança de dados e o facto de alguém andar a “pingar” para a comunicação social.
The real story turns out to be SURVEILLANCE and LEAKING! Find the leakers.— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) April 2, 2017
Os contactos de Page com os russos aconteceram três anos antes de Donald Trump lhe ter pedido para se juntar à sua equipa como conselheiro para política externa.
Porta dos fundos
Numa outra história mas parte do mesma pasta, o Washington Post escreveu na segunda-feira que os Emirados Árabes Unidos tentaram fomentar um encontro, já em janeiro de 2017, entre o empresário americano Erik Prince, findador da empresa de vigilância Blackwater, e um cidadão russo com ligações próximas a Vladimir Putin, como forma “de estabelecer uma ligação pela porta dos fundos entre Moscovo e o Presidente norte-americano”.
Erik Prince é um conhecido apoiante de Trump mas é mais conhecido com CEO da Blackwater, a infame firma de segurança privada cujos membros fora julgados e condenados por matarem civis durante a Guerra do Iraque. Além disso é próximo do estratega-mor de Trump, Steve Bannon, e irmão da secretária para a Educação, Betsy DeVos. Segundo os oficiais citados pelo Washington Post, os Emirados aceitaram mediar o encontro, que se passou nas ilhas Seychelles, na tentativa de que a Rússia pudesse rever as suas (boas) relações com o Irão e com a Síria.