SALVO PELA POPULAÇÃO DAS MASSAGENS DA FIR
(Eles queriam-me matar)
Desenganem-se os que ainda tinham dúvidas, porque eu, os meus amigos e os meus vizinhos já não temos razões para duvidar: querem-me matar. Se em 2011 parecia um mero aviso a agressão física que me infligiram cinco agentes da Força de Intervenção Rápida nas imediações da minha casa, na passada quarta-feira a tortura que sofri nas mãos de quatro agentes da mesma Força de Intervenção Rápida era mesmo sumária. Depois de dispararem para dispersar os populares, arrastaram-me até a escola primária da Munhuana, abandonada. Deitaram-me no capim lamacento e apontaram-me uma AKM na cabeça. Ainda ouvi o som do carregador a soar, mas foi nesse exacto momento que populares, amigos e vizinhos invadiram a escola, foram para cima dos agentes e estes fugiram em debandada. Eram cerca das 21 horas e eu tinha saído de casa para comprar refresco numa das barracas mais próximas. Fui torturado pela segunda vez pelos homens da FIR, mas desta vez tenho a certeza de que não se tratou de um mero aviso, mas sim de uma tentativa de execução que só não se consumou porque a acção dos meus algozes foi interrompida pela intervenção dos populares. E porque razão quereriam os agentes da FIR me assassinar? Seria mesmo por não trazer comigo o meu B.I. a ponto de me ameaçarem prender? De resto, ofereci resistência, porque não ter B.I. não é crime e eu só tinha saído de casa para comprar um refresco na barraca mais próxima. Porque resisti, eles começaram a me espancar, a ponto de darem tiros para o ar para dispersar a população. Arrastaram-me a chutos e pontapés, a coronhadas e tudo mais até a aquela escola imunda, deitaram-me no capim e pisaram-me com as suas botas. Carregaram as armas e apontaram-me na cabeça. Foi quando os populares invadiram a escola e eles fugiram em debandada quando descobri que eu também sou filho de Deus. E assim toda a gente sabe que queremme matar. Se eles são agentes de autoridade, porque me levaram para a escuridão da escola abandonada, deitaram-me no capim lamacento e apontaram-me armas na cabeça? Se eles são agentes do Estado, porque razãonão me levaram para a esquadra mais próxima? Se eles são polícias, porque razão fugiram da população quando esta invadiu a escola? Fiquei com dores nas costas, nas articulações, no joelho esquerdo já nem digo, tudo por conta da violência que me foi dispensada pelos homens da FIR. Fiquei ainda mais traumatizado do que antes. Dado que esta é a segunda vez que me torturam os homens da FIR, agora com novos requintes que cheiram a tentativa de execução, já ninguém tem dúvidas: querem-me matar. E porque querem me matar? Quando me torturam pela primeira vez os homens da FIR, em 2011, corri a 9ª Esquadra para apresentar uma queixa e aqui o oficial de permanência mandou-me voltar para casa, que aquela tinha sido uma tortura merecida porque eu falo muito. Portanto, tenho sido torturado pela FIR porque eu falo muito. Eu não sabia que a FIR torturava pessoas que falam muito. Os meus familiares, amigos, vizinhos e conhecidos aconselham-me a deixar de falar muito, porque vãome matar estes homens armados da FIR. Desta vez não fui apresentar queixa na esquadra porque não tenho que ouvir um oficial de permanência a me dizer que “é bom, por causa de falar muito”. Deresto, tenho recebido sermões encomendados vindos de vários lados, são pessoas que me aconselham a não levantar certos questionamentos sobre certos assuntos. O facto é que não tenho outra profissão senão esta de fazer perguntas. Enviar-me homens da FIR para me silenciarem será a última solução de quem já não tem melhor forma de me calar. Estão a gastar balas compradas com dinheiro do povo por minha causa. Enquanto eu for cidadão não deixarei de questionar. Talvez seja um defeito de profissão. Tenho alguns processos na justiça, através dos quais exijo esclarecimentos sobre determinadas matérias de interesse público e que tem a ver com a gestão da coisa pública. Não significa que eu não tenho medo de ser torturado ou ser assassinado pela FIR. São massagens que afectam o corpo, a alma e o espírito, mas não curam o cancro instalado no sistema. Um sistema que tortura e mata pessoas é um sistema podre. Não é por ter medo que deixaremos de questionar. O medo transforma pessoas saudáveis em farrapos humanos. Portanto, guardem as vossas balas!
PS: De referir que passam hoje cinco dias desde a entrada da 3ª Via do Pedido de Informação ao Conselho Superior da Comunicação Social sobre o estágio do caso G 40. Dos 21 dias previstos pela Lei do Direito à Informação, Tomás Viera Mário e seu elenco tem agora 16 dias para responder ao expediente. Pelo direito do povo à informação, pela liberdade de imprensa e de expressão, a luta continua...
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