Não posso ficar com isto só para mim...
---
Por Gustavo Mavie
‘’Os problemas nunca apodrecem’’, ditado popular dos vachopes ou chopes.
‘’A prevalência do mal deve-se ao silêncio dos bons’’, Martin Luther King Jr.
Antes de expor quem é o Manuel de Araújo que me leva a rotulá-lo de um mau e perigoso político, que neste caso é o foco deste meu artigo, é imperioso que explique primeiro porque é que chamei à colação o ditado do povo chope, que reza que ‘’os problemas nunca apodrecem’’.
Cito este ditado, porque grande parte do que vou relatar para sustentar que Manuel de Araújo é um mau e perigoso político, são factos ruins que ele protagonizou no ano de 2000, quando eu e ele vivíamos em Londres. São, pois, problemas que datam há 19 anos já, mas que irei usá-los para provar que ele não tem nada de santo que se diz ser, e que agora está a vender, por assim dizer, essa sua falsa imagem ao eleitorado da sua província para o eleger como seu governador. Espero provar com eles, porque é valida a tese do filósofo e pensador italiano, Geovani Papini, de que ‘’o passado nos explica o presente e nos faz antever o que será o futuro’’.
Depois deste intróito, passo a expor o que é que Manuel de Araújo fez em Londres, e que para mim é bastante e suficiente para se saber quem é afinal este político que agora faz tudo de lícito e ilícito para ver se é eleito.
Aqui vai o relato do que ele fez: Quando as populações do Sul de Moçambique, e grande parte das do seu Centro estavam a ser afectadas pelas cheias que ocorreram em 2000, e que são até aqui consideradas como tendo sido as piores de que há memória em toda a Historia milenar do nosso País, Manuel de Araújo viu nisso uma grandíssima oportunidade para o seu próprio rápido enriquecimento.
Para concretizar este seu Plano macabro, Manuel de Araújo foi à Embaixada de Moçambique e lá conseguiu como mestre da lábia, convencer o então Embaixador moçambicano em Londres, Koloma, a designá-lo como ponto focal e recebedor de todas as doações monetárias em cash e em espécie que entretanto já estavam sendo canalizadas pelos milhares de cidadãos britânicos e doutras nações que nessa altura residiam naquele País. Há que dizer que os britânicos são um dos povos mais sensíveis ao sofrimento de outras pessoas e, por isso, quando há uma tragédia num certo país, eles doam muito dinheiro.
Para garantir que as doações fossem canalizadas para aquela Embaixada sempre ao seu cuidado, Manuel de Araújo fez questão de elaborar com o seu próprio punho, uma mensagem que distribuiu depois via e-mail para milhões de endereços informando a todo o Mundo, como dizem os brasileiros, que todas as doações deviam ser enviadas para a Embaixada de Moçambique ao cuidado dele pessoalmente’’. Eu próprio recebi então no meu e-mail essa sua informação/instrução, e confesso que fiquei logo perplexo e disse cá para os meus botões ‘’aqui há gato escondido’’, porque era mais do que óbvio que ele queria se apoderar das doações. Ter sido ele próprio a narrar essa mensagem e não a Embaixada foi o que acabou ‘’deitando por fora o seu rico caldo’’, como se sói dizer na gíria popular.
Por feliz acaso, enquanto eu matutava sobre esta sua ‘’boa’’ vontade de ser o recebedor das doações para as então vítimas das cheias, outras tantas pessoas pensassem afinal da mesma maneira que eu assim que liam essa sua informação. Isto ficou provado quando minutos depois recebi um outro duma britânica que não havia gostado nada desse correio electrónico do agora candidato pela RENAMO a Governador da Zambézia.
Essa senhora, de nome Kate Gifford neste caso, reagiu da seguinte maneira: ‘’Depois de ler este e-mail de Manuel de Araújo instruindo-nos a enviar as nossas doações à Embaixada de Moçambique a seu cuidado, só me apeteceu chamar a polícia. Que confiança somos obrigados a ter com ele a ponto de enviarmos as nossas doações em nome dele? Estará ele a nos considerar idiotas? '’, fim da citação. Kate e o seu marido Tony Gifford foram grandes apoiantes da luta do povo moçambicano pela independência que foi liderada pela FRELIMO entre 1964 e 1974, como têm continuado a apoiar o desenvolvimento do nosso País.
Pouco depois de ler esta colérica mas justa reacção da Kate, e antes de terminar a minha reflexão, eis que recebo uma chamada telefónica de Salomão Machaieie, um moçambicano que reside em Londres há décadas já. Em tom irritado e de repulsa, Salomão quis saber se eu havia recebido já o e-mail de Manuel de Araújo e o da reacção da Kate. Respondi-lhe que sim, e que ainda estou pasmado com o seu nível de oportunismo.
Recordo-me ainda como hoje o espanto e choque com que Salomão questionou esta ousadia de Manuel de Araújo. Tive que lhe dizer, para tranquilizá-lo, que ele é assim mesmo. Disse-lhe que sei que é assim, porque o conheci em Maputo quando eu e ele éramos estudantes do ISRI, agora Universidade Joaquim Alberto Chissano, ou JAC simplesmente.
Salomão estava tão preocupado, porque tal como eu e outros que haviam recebido esse seu e-mail, estávamos certos de que essa sua predisposição era envenenada. Não tínhamos dúvidas que era para ele poder se apoderar das doações para o seu próprio benefício e não para canalizá-las depois para Moçambique em prol das vítimas das cheias como ele havia dito ao Embaixador Eduardo Koloma.
De tão preocupados que estávamos, concluímos logo que era urgentíssimo que fizemos algo para desfazermos este esquema de Manuel de Araújo. E foi então que ligamos à Embaixada para solicitarmos uma reunião de emergência em que iríamos pedir que não fosse mantido como ‘’ponto focal e colector de todas das doações’’. Para tal, falamos com Geraldo Saranga que era um dos diplomatas daquela nossa Embaixada então e agora um dos Directores e porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação aqui em Maputo.
Felizmente, o Dr. Saranga não se fez de rogado e aceitou que tivéssemos essa reunião no mesmo dia em que Manuel de Araújo havia circulado esse seu e-mail e que pedia que os que o recebessem o redistribuíssem também para que chegasse a mais potenciais doadores. Dissemos ao Saranga que era imperioso que Manuel de Araújo estivesse nessa reunião, ao que ele concordou. E de facto ele o convocou e fez-se presente com o seu ar manhoso como sempre. A reunião teve lugar nas instalações da Embaixada moçambicana a partir das 18 horas locais. Já não me recordo dos nomes de todos os presentes, mas além do próprio Dr. Geraldo Saranga, eu e o Salomão, estava também uma das filhas do agora falecido escultor moçambicano, Alberto Chissano. Tratou-se duma reunião bastante tensa dado o problema que se estava a debater. O próprio Manuel de Araújo estava zangado e com ar leonino, porque é um dos que não gosta de ser contrariado e muito menos desafiado. Ele gaba-se de ser um cultor e praticante fervoroso da Doutrina de Maquiavel.
Apesar da tentativa de Manuel de Araújo de que devia ser mantido como ponto focal e colector de todas as doações, incluindo as libras que eram enviadas nos envelopes, conseguimos inviabilizar essa sua estratégia, e decidimos que a Embaixada devia abri sem mais delongas, uma conta bancária onde os doadores iriam depositar os valores que fossem doar.
Confesso que este nosso esforço só conseguiu fechar apenas uma grande porta mas não conseguimos fechar todas as portas em que Manuel de Araújo recorreu alternativamente depois para se apoderar de algumas das doações dos britânicos e de todos os que viviam na Inglaterra e que também queriam ajudar as vítimas das cheias em Moçambique.
MANUEL DE ARAÚJO CRIA UMA SUA PRÓPRIA
RECEBEDORIA E CONTINUOU A RECEBER DOAÇÕES
RECEBEDORIA E CONTINUOU A RECEBER DOAÇÕES
Depois de lhe inviabilizarmos o esquema da Embaixada, Manuel de Araújo decidiu a solo criar a sua própria recebedoria de donativos. Para tal, ele viajou de imediato para Moçambique, para urdir uma nova estratégia que lhe permitisse continuar a amealhar doações. Nesta senda, ele criou um novo e-mail já não com o seu próprio nome, mas com outro que começava com a palavra ‘’AJUDA’’ seguido de uma arroba (@). Para conseguir as doações, Manuel de Araújo centrou a sua acção nas instituições académicas onde passou a organizar eventos e reuniões em prol das vítimas das cheias em Moçambique.
Esses eventos consistiam mais por eventos, como a promoção de espectáculos e noites dançantes, em que os participantes se predispunham a contribuir com alguns valores convencidos de que seriam depois canalizados para as vítimas das cheias. Pessoalmente estive em pelo menos três desses eventos que Manuel de Araújo co-organizou com mais dois amigos dele, um dos quais respondia, se a memoria não me falha, pelo nome de Charles ou Carlos em português. O que me leva a assumir que o valor que amealhou era para o seu próprio benefício é que nunca se fez acompanhar por nenhum membro da missão diplomática de Moçambique em Londres e nem fazia-se registos do que se contribuía. O próprio Manuel de Araújo é que recolhia os valores.
Mais tarde, para dar um ar de legitimidade à sua iniciativa de liderar a recolha das ajudas a Moçambique, assaltou a Presidência da Associação dos Moçambicanos Residentes na Inglaterra e na Irlanda do Norte. Aliás, é sua especialidade liderar associações. Mesmo no ISRI foi Presidente da nossa Associação dos Estudantes do ISRI. E sempre tem em vista tirar benéficos para ele próprio tal como tem sido nos partidos políticos em que se tem filiado.
Ora, do mesmo modo que abortamos o seu esquema na Embaixada porque não podíamos assumir cegamente que ele seria um portador honesto, não posso acreditar que ele tenha canalizado as doações que foi recolhendo em todas as universidades por onde promoveu tais noites dançantes na Grã-Bretanha.
Ademais, tenho fontes dignas de crédito, que me afiançaram que ele não canalizou também esses valores à Embaixada e muito menos à entidade moçambicana que estava incumbida de apoiar as vítimas das cheias de 2000. Se ele acha que as minhas fontes mentiram, então o desafio a provar documentalmente que canalizou tais doações que eu o vi recolher em Londres, incluindo na SOAS, uma das Escolas da Universidade de Londres onde ele era um dos estudantes em 2000. Alguns dirão porquê só contar agora estes casos sobre o Manuel de Araújo, quando passam quase 20 anos! Decidi contar agora para que as pessoas possam compreender que ele é capaz de tudo quando quer atingir um certo objectivo.
É por isso que estou mais convencido que terá sido ele próprio a queimar a casa da sua própria mãe, para que seja visto como uma vítima do regime da FRELIMO e do seu Presidente Nyusi como ele próprio acusou já na mesma noite sem apresentar provas, em que anunciou que a casa da sua mãe foi incendiada. Fez essa acusação para catalisar a sua hipótese de ser eleito Governador da Zambézia. Decidi contar agora também para que os eleitores que o não conhecem bem, se baseiem desta parte do seu passado, para o avaliar melhor, e saber que ele é de facto um desses políticos que, segundo Papini, diz o que não pensa, e pensa o que não diz, como faz o que não diz e diz o que não fará. Revelei este seu episódio de Londres, porque acredito também na tese do Cícero, de que ‘’o passado nos explica o presente e nos faz antever o futuro’’. Com base neste seu passado podemos antever que tipos de Governador terão os zambezianos caso seja eleito.
Manuel de Araújo é de facto um mau político, porque o que o move são os seus interesses e não os do povo que ele diz de boca cheia que quer servir. O que ele quer é servir-se a si próprio. É por isso que desde 2004 tem estado a saltar de um partido para outro. Aproveito dizer que quando lá em Londres me mostrou o cartão da FRELIMO em 1998 na minha casa, eu disse-lhe que ele não era um membro genuíno e que só havia se filiado para poder ter benefícios. Alguns dos que estavam também na minha casa nesse dia, acusaram-me de estar a exagerar, mas em 2004, Manuel de Araújo pulou da FRELIMO para a RENAMO. Foi então que um dos que acusara-me de estar a exagerar deu-me razão retroactivamente. Estou a falar de António Matonse, que mais tarde serviu como Embaixador de Moçambique em Angola.
Desde aquele 2004, Manuel de Araújo saltou da FRELIMO para a RENAMO, depois desta para o MDM e agora deste partido para a RENAMO de novo! Obviamente que não está à procura do melhor partido como um jogador de futebol que procura o melhor clube para brilhar. Ele está à procura sim das melhores oportunidades para se enriquecer. Quando deixou a FRELIMO em 2004, é que estava certo de que teria uma boa colocação na RENAMO que não estava a ter na FRELIMO. E teve essa colocação. Ficou um dos deputados da RENAMO entre 2005 a 2009.
Mas quando deixou a FRELIMO para a RENAMO é que estava convencido que a PERDIZ iria vencer as eleições de 2004 e dizia em surdina a amigos que Dhlakama o nomearia Ministro dos Negócios Estrangeiros, já que é formado em Relações Internacionais. Há quem diz que foi mesmo para garantir essa nomeação que ele casou com uma das irmãs da Ivone Soares que como sabemos, são sobrinhos do agora falecido Dhlakama. Para os que conhecem bem Manuel de Araújo, ele nunca dá um passo sem que seja por uma razão bem calculada. Ele é um excelente caçador de oportunidades e sabe como tirar máximo proveito em devido tempo. De todas as vezes que se filiou num Partido, era para ter a melhor fatia do bolo e não para esperar na bicha. Até saltou as bichas…que o digam os membros mais antigos do MDM e da RENAMO!
É por isso que quando se apercebeu que o salário de deputado na bancada da RENAMO nunca o faria rico, ele filiou-se ao MDM, porque tinha na sua mira o cargo de Presidente do Município de Quelimane, onde não só teria um salário mas, acima de tudo, um GORDO Orçamento à sua disposição que ele podia se apoderar de parte dele usando certos esquemas a que todos os corruptos se valem para roubar os fundos públicos.
Agora tem o seu olho e gula focados para o prestigioso e não menos lucrativo cargo de Governador Provincial, e por isso mandou passear o MDM e atrelou-se de novo à RENAMO, porque sabe que além da FRELIMO, é a PERDIZ que tem maior probabilidade de ganhar na Zambézia do que se fosse concorrer como cabeça de lista do MDM. Como se pode depreender, Manuel de Araújo é um caça-fortunas e não alguém que busca os melhores partidos para melhor servir os seus compatriotas como ele tem apregoado. Ele é do tipo desses políticos bem descritos por Frantz Fanon, que usam os partidos como instrumentos para a sua própria realização pessoal, como dos seus familiares, amigos e até das suas concubinas. Não são para servir as massas como apregoam aos quatro ventos. O que ele apregoa é uma isca para pescar os votos dos eleitores. Nada mais que isso.
Antes de terminar este artigo que já vai muito longo, quero dizer ao Manuel de Araújo que se continuar a se deixar levar pela sua excessiva ambição de acumulação, acabará parando um dia na cadeia. Digo isto porque é valida a tese que reza que ‘’não há nada oculto que não haja de se revelar um dia’’. Tenho a certeza se de facto tem estado a desviar fundos como o terá feito em relação às doações que segundo as minhas fontes recolheu em Londres entre 2000 e 2001, virão ao de cima um dia, e será levado à barra do Tribunal. Mesmo que venha a ganhar a 15 de Outubro e seja coroado Governador, tal não apagará os milandos que terá causado lá em Londres como no Município de Quelimane e os que poderá causar em caso de ser eleito.
Sei que de tanto teres feito das suas e nunca ter sido exposto ou ir parar à barra do tribunal, já acreditas que és tão bom que nunca será apanhado. Mas cuide-se amigo, porque como bem dizia a Galiza Matos Jr, os moçambicanos não são assim tão patetas: Galiza fez-te esta pergunta há uma semana num excelente artigo que publicou: (Será que acredita que) somos todos tão burros e patetas para não percebermos que este indivíduo (Manuel de Araújo), o mesmo de sempre, usa as mesmas máfias infantis para ganhar votos como se de uma vítima se tratasse?’’ Como disse, os problemas nunca apodrecem, e por isso acredito que um dia virão ao de cima, porque como bem disse o académico português Augusto de Castilho, ‘’quem tenta enterrar as verdades, semeia-as, e mais cedo ou tarde sempre germinam’’.
Um dia poderá se saber que terá se apoderado dos fundos doados em Londres. Também um dia poderá se provar que foi você mesmo que mandou queimar a casa da sua mãe para colher dividendos políticos. Mais não disse, citando um grande zambeziano e amigo que foi o grande escriba Manuel Txuma. Que Deus o tenha e que o mesmo Deus salve Moçambique dos abutres políticos que proliferam neste Terra de Mondlane e Samora, mais agora que estamos em campanha eleitoral como tem sido recorrente em momentos como este.
gustavomavie@gmail.com
1 comentário:
Se mocambique tivesse bibliotecas com consciencias optimistas,o país pouco lamentaria incapacidade para simples acomodaçao de criancas
que iniciam escolaridade sentadas nas salas de arvores.
Enviar um comentário