quarta-feira, 10 de maio de 2017

Nem com pneus e baterias novas autocarros saem do “cemitério” da EMTPM; Governo e chapeiros já acordaram nova tarifa para Maputo

Nem com pneus e baterias novas autocarros saem do “cemitério” da EMTPM; Governo e chapeiros já acordaram nova tarifa para Maputo
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Escrito por Adérito Caldeira  em 10 Maio 2017
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Foto de Adérito CaldeiraPelo menos 19 autocarros da Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo(EMTPM) que estavam imobilizados, devido a falta de pneus e baterias, deveriam ter voltados às ruas da capital moçambicana nesta terça-feira(09), mas o @Verdade constatou que tal não aconteceu, apesar do ultimato dado pelo ministro Carlos Mesquita aos gestores da empresa. Paralelamente o @Verdade apurou que o Governo e os operadores dos “chapas” já acordaram o aumento da actual tarifa vigente na cidade e província de Maputo, porém entenderam que esta não é a altura politicamente propícia para a sua efectivação.
Na passada sexta-feira(05) o ministro dos Transportes e Comunicações visitou a EMTPM, para ver o andamento das recomendações deixadas cerca de 15 dias antes pelo Presidente Filipe Nyusi. Dentre vários problemas que não têm soluções rápidas, nem fáceis, o Executivo decidiu desenrascar 180 pneus e 80 baterias para tirar das oficinas 30 autocarros dos 215 que estão avariados.
Com a garantia dos Caminhos de Ferro de Moçambique, que é a instituição que está a custear os pneus e baterias novas, de que esses componentes seriam entregues na manhã de segunda-feira(08) o ministro Mesquita deu um ultimato ao Conselho de Administração da empresa para que até terça-feira(09), “na pior das hipóteses”, 19 autocarros, cuja situação de manutenção requeria menos intervenções, estariam a operar nas vias da cidade de Maputo.
Foto de Adérito CaldeiraO @Verdade visitou a Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo no final da manhã desta terça-feira(09) e constatou que pneus estavam a ser trocados, baterias estavam a ser colocadas e outros autocarros já roncavam os motores, porém nenhum tinha saído das oficinas para reforçar a frota que está longe de minimizar o drama dos munícipes da capital.
“Depois de trocar os pneus e baterias os autocarros não saem logo para a estrada, têm que ir a revisão, trocar filtros, depois alinhar a direcção, é o trabalho que estamos a fazer”, explicou Nelson Massango, o director de operações da empresa, acrescentado que “se a gente tira daqui logo não vamos garantir a segurança do passageiro”.
Massango aclarou que “os pneus só recebemos no final da segunda-feira e não é possível trocar durante a noite. Hoje já estão a sair pouco pouco, mas amanhã é que garantimos todos os 19, vamos inundar a cidade”.
No entanto o @Verdade apurou que a EMTPM não gera receitas suficientes para abastecer toda a frota operacional e mantê-la na plenitude nas ruas, situação agravada com o corte de mais de 50% do subsídio de exploração que é concedido pelo Governo.
Nova tarifa para Maputo foi discutida e aprovada pelo Governo e FEMATRO
Embora os autocarros recuperados reforcem a frota de 42 em operação não irão acabar com o drama de falta de transporte na cidade de Maputo, e muito menos na província, que vive-se não só nas horas de ponta mas cada vez mais durante todas as horas como resultado da evidente redução do número de operadores semi-colectivos de passageiros, os “chapas cem”, que reclamam que a tarifa imposta, desde 2012, pelo Governo há muito tempo que deixou de compensar o negócio.
O @Verdade entretanto apurou que nas recentes negociações entre o Governo e a Federação Moçambicana das Associações de Transportes(FEMATRO) foi acordado um aumento da actual tarifa nos município de Maputo, Matola e Boane. A proposta dos chapeiros é que a tarifa chegue aos 19 meticais, o @Verdade sabe que o Executivo admite um aumento até 12 meticais.
As partes, que concordaram na revogação do subsídio numerário aos transportados que estava em vigor desde 2008, acordaram que devido ao agudizar da crise económica e financeira o momento não é “politicamente” adequado para efectivar o aumento decidido e por isso adiaram a decisão para os próximos meses mas deverá ser efectivada ainda durante o corrente ano, afinal o próximo ano é de Eleições Autárquicas e para o partido Frelimo manter-se no poder nos municípios de Maputo, Matola e Boane o transporte público é um elemento essencial.
O @Verdade já havia questionado de que forma os mais de oito mil chapeiros iriam sentir-se “compensados” pelas perdas que estão a ter no negócio de transporte urbano se o novo Memorando assinado entre o Ministério dos Transportes e Comunicações e a FEMATRO prevê apenas a aquisição de 300 autocarros.
Reduzir oito mil “chapas” para alguns grandes operadores de corredores dedicados
O @Verdade sabe que o primeiro lote destes autocarros que serão alocados aos privados virá da China, da doação que o país asiático fez para Moçambique em Outubro passado, e estão previstos chegar a Maputo até Junho. Há indicação que nessa altura será então introduzida a nova tarifa dos transportes urbanos de passageiros na capital moçambicana e municípios circundantes.
Entretanto, através deste novo Memorando, o Executivo está já a efectivar algumas das soluções avançadas nos vários estudos sobre o transporte urbano de passageiros na denominada “Área Metropolitana de Maputo”, que recomendam a redução do número de operadores.
“O actual sistema de licenciamento do transporte urbano de passageiros promove a concorrência entre os operadores dentro da mesma zona, o que não permite a implantação de serviços de transportes com escalas e frequências pré-definidas”, pode-se ler na alínea b do Memorando a que o @Verdade teve acesso.
A estratégia, comungada pelo Governo e a FEMATRO, passa pela redução dos mais de oito mil operadores existentes e aumentar a capacidade dos novos operadores, à semelhança do que está em implementação nas rotas Zimpeto-Museu e Zimpeto-Baixa onde o Governo importou 50 autocarros e entregou à gestão da Cooperativa de Transportadores do Corredor EN1 e circulam em corredores dedicados.
Outros corredores idênticos estão previstos ser criados – Museu/Matola/Mozal Baixa/Matola/Boane - para serem entregues a gestão de grandes operadores ficando os “minibus” com as rotas mais curtas de alimentação periférica.
Aliás com as anunciadas obras de alargamento da Estrada Nacional nº 4, que devem durar até meados de 2018, o já caótico e lento tráfego de e para Matola vai ficar ainda pior o que torna urgente uma solução de transporte público, quiçá com qualidade e confortos suficientemente atractivos para que os automobilistas deixem as viaturas em casa.
Mas para o transporte urbano de passageiros volte a tornar-se aliciante para os privados é necessário que as tarifas aumentem para que o negócio seja rentável.
Só mesmo os munícipes de Maputo, Matola e Boane é que não são, nem foram, consultados e terão de escolher entre: continuarem a sofrer com a falta de transporte ou conformarem-se em pagar cerca do dobro do custo da tarifa actual e quiçá o número de autocarros aumente e as enchentes reduzam.

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