quinta-feira, 4 de maio de 2017

Isabel, Também Queres a Minha Fortuna? Toma! - Rafael Marques

Isabel, Também Queres a Minha Fortuna? Toma! - Rafael Marques

Luanda - Fui ao Banco de Fomento Angola (BFA), agência Dack-Doy, levantar 870 dólares para uma viagem. Cumpri com todas as exigências. Dias antes fui ao banco fazer a reserva, levei o passaporte, assim como o visto e o bilhete de passagem.
Fonte: Facebook
Primeira complicação. Pediram-me uma declaração de compra do bilhete de passagem, porque o bilhete emitido, por si só, não bastava. Fui à Taag. Recebi a informação de que o bilhete era prova bastante.

Seguiram-se várias outras complicações. No acto de levantamento do dinheiro, a funcionária bancária implicou comigo porque fui lá um dia depois do previsto, razão pela qual teriam de dar prioridade a outros. Disse-me que o levantamento tinha de ser efectuado quarenta e oito horas após a reserva. O funcionário que efectuara a reserva tinha-me dito apenas que eu poderia passar dois ou três dias mais tarde, para saber se já tinham o dinheiro. Meteu-se o feriado de 1 de Maio pelo meio. Não li nem me apresentaram quaisquer instruções bancárias sobre os procedimentos de levantamento da conta em dólares por motivo de viagem ao exterior.

Depois de umas quantas idas e voltas, ultrapassou-se a questão do prazo. Passámos ao bilhete de passagem. Era necessária a declaração da Taag a confirmar que me vendera o bilhete. Expliquei que a Taag não aceitava passar-me tal declaração, mas tinha o talão do multicaixa, do BFA, a confirmar o pagamento. Com muito má vontade, a funcionária passou à complicação seguinte: o visto.

Discretamente, usou os dedos para contar os meses de validade e concluiu que o visto estava expirado e, portanto, não podia dar-me o meu dinheiro. Mostrei-lhe o mesmo visto de múltiplas entradas, com data de validade até Outubro de 2017. Em sua defesa, indisposta, argumentou que estava com problemas de visão.

Pronto. Passámos à complicação seguinte: o valor que eu queria levantar. Expliquei que queria levantar o valor da reserva, que já tinha sido anotado e aprovado. Nova pequena complicação para ganhar tempo: a conta tinha pouco mais de 900 dólares.

Adiante, a funcionária informou-me de que teria de me dar notas de 1 e 5 dólares. Expliquei-lhe que lá fora as casas de câmbio e os bancos não se importam. Em Angola, discriminamos o dólar de cabeça grande e o de cabeça pequena, apesar do mesmo valor facial. A cabeça grande vale mais. A minha cabeça só queria o meu dinheiro.

Passou-se, então, um período de cágado, para se fotocopiarem os documentos submetidos. Já lá estava a ultrapassar obstáculos há quase uma hora. Feitas as cópias, finalmente assinei o recibo e acenei-o ao activista Emiliano Catombela, que me acompanhava e parecia enfadado com o espectáculo. Finalmente receberia o meu dinheiro.

Então, a funcionária, ao invés de me dar o dinheiro, trouxe-me mais um problema. A assinatura não conferia, pelo que não poderia pagar-me. Fiz-lhe notar que sou cliente do banco há 20 anos e nunca tive semelhante problema. Assinei novamente, como tenho assinado sempre, mas disseram-me que não dava mesmo, não podiam pagar.

A supervisora, com quem tive o desagrado de falar, também estava com muito má disposição. Perguntei-lhe se todas aquelas manobras visavam apenas privar-me do meu dinheiro. Ela foi taxativa: ou eu ia até à agência onde há 20 anos abri a conta ou não pagava. Percebi, então, que estava perante uma série de artifícios, num carrossel para andar às voltas.
Viajo sem o tal dinheiro.

O BFA é da Isabel dos Santos. Ela guarda a minha fortuna e bem pode ficar com ela. Bom proveito. Basta de humilhação.

Rafael Marques de Morais

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