quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Philipe Gagnaux e a independência de Moçambique (1)

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SR. DIRECTOR!
 
Eu gostaria de ter podido ver e ouvir o senhor Philipe Gagnaux a afirmar no programa “Pontos de Vista” no canal da STV que a guerra de libertação de Moçambique foi um mero exercício desnecessário, inútil e estéril porque era uma questão de esperar um pouco que Moçambique estaria independente do colonialismo português sem a guerra colonial e que Mondlane, a Frelimo e os moçambicanos que aderiram e participaram na luta de libertação nacional não passaram de oportunistas ou mercenários sem causa.
Maputo, Sábado, 29 de Maio de 2010:: Notícias
Os comentários que ouvi e os comentários escritos que li na Imprensa local levaram-me a acreditar na veracidade do ponto de vista do senhor Philipe Gagnaux e ele não deve conhecer a política colonial que norteou Portugal, como potência colonizadora de um Estado-Igreja:
1.   Expandir a fé cristã e o império;
2.   Missão civilizadora de Portugal no mundo e no império;
3.   Portugal uno e indivisível;
4.   Deus e pátria andaram sempre juntos desde que Portugal nasceu.
Na política colonial ultramarina de Portugal nunca apareceu os termos “auto-determinação e independência” nos compêndios da colonização portuguesa. As possessões portuguesas ultramarinas não eram colónias, mas sim uma extensão e prolongamento de Portugal continental no ultramar. Uma independência negociada de uma colónia portuguesa nunca fez parte da política colonial de Portugal. Todas as colónias portuguesas tiveram que fazer guerra para se libertar, a partir do Brasil na América Latina no século XIX até às colónias portuguesas africanas de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe no século XX e XXI.
Costuma-se dizer que a Grã-Bretanha, como potência colonizadora, aprendeu a lição com a guerra colonial contra os americanos dos EUA e nunca mais se meteram e se envolveram em guerras coloniais. Portugal não aprendeu com a independência do Brasil, independência declarada pelo príncipe herdeiro D. Pedro. Afirmar que Moçambique alcançaria sua independência sem a guerra de libertação é desconhecer o princípio e a mentalidade portuguesa do mito de um Portugal uno e indivisível, um mito que se tornou sagrado na política ultramarina portuguesa a partir do século XIX até ao século XX.
No primeiro degrau das escadas do Conselho Executivo da cidade de Maputo o Governo colonial português mandou inscrever com pedra escura a seguinte inscrição “aqui é Portugal”, inscrição que só desapareceu com a independência nacional em 1975, na mesma altura da queda de Mouzinho de Albuquerque e humilhação de Ngungunhana, o imperador de Gaza.
Mais uma achega. Portugal nunca aprendeu conhecer e avaliar as suas forças, capacidades e potencialidades militares e de defesa. Quando a Grã-Bretanha se retirou do sul do continente asiático da Índia e Paquistão como consequência da descolonização devido à situação criada pela II Guerra Mundial em 1947, Portugal não se apercebeu que não tinha forças e poder, de se manter em Goa, Damão e Diu sem a presença poderosa da Grã-Bretanha no sub-continente asiático e que a Índia não havia de tolerar a presença de uma potência colonizadora fraca e incapaz de se defender perante as forças armadas da poderosa Índia de Nehru.
Quando Nehru pediu as negociações para a entrega e retirada de Portugal nos três enclaves, Portugal de Salazar recusou negociar e a Índia invadiu os enclaves com as forças do mar, do ar e da terra, e Portugal não resistiu. Salazar apenas limitou-se a castigar o então governador da Índia portuguesa com a despromoção por não poder oferecer resistência às poderosíssimas forças da Índia. Qualquer político que não fosse Salazar teria preferido negociar a evacuação do que enfrentar uma derrota vergonhosa.
Portugal não se apercebeu que a II Guerra Mundial havia enfraquecido as potências colonizadoras europeias a ponto de economicamente inviabilizar a manutenção das forças militares de ocupação e de toda a máquina administrativa no ultramar. O enfraquecimento da Grã-Bretanha era automaticamente o enfraquecimento e pobreza de Portugal. Portugal, que era a terceira potência colonizadora depois da França e Grã-Bretanha, não se dignou iniciar o processo de descolonização a seguir o exemplo dos seus pares mais poderosos.
Portugal na sua falta de visão política e intransigência não foi capaz de analisar a sua capacidade económica de poder arcar com as despesas da guerra colonial em três frentes, nomeadamente em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Voltou para casa derrotado e cabisbaixo a chuchar o dedo da derrota para criar e lidar com os “regressados”.
A criação dos PALOP’s, a Lusofonia e a RTP-África é uma tentativa de justificar e manter a sua presença nas ex-colónias africanas que as independências rejeitaram e romperam. Como a designação “PALOP’s” exclui o Brasil, Portugal encontrou como único recurso a criação e desenvolvimento da Lusofonia e da CPLP para dizer ao mundo que Portugal foi outrora uma grande potência colonizadora e que a língua é o único elo que liga Portugal continental o Brasil e os PALOP’s.
  • Gabriel Simbine
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