As eleições
para o Parlamento Europeu - que marcaram o regresso do Dr. Mário
Soares à actividade política - tiveram os desfechos já
conhecidos, ou seja: uma vitória (relativa) do Partido Socialista,
em casa, e derrota (quase absoluta) do seu cabeça de lista, fora.
Se considero relativa a vitória
do PS, é porque este Partido, embora tivesse recebido o maior número
de votos não conseguiu levar de vencida o adversário tido
como o seu mais temível opositor e contra o qual assestou mais denodadamente
as baterias - a abstenção.
Quanto a Mário Soares, o facto de agora se apresentar como remota a possibilidade de ele vir a assumir a presidência do Parlamento de Estrasburgo - que era e continua a ser a sua suprema aspiração, daí a razão fundamental da sua candidatura - não pode deixar de se considerar um fracasso. Gostei disso, confesso. Dão-me, sempre, um grande prazer os deslizes, as "broncas" e os desaires de Soares. Não porque Ihe deseje algum mal, mas porque jamais poderei esquecer ou perdoar, os muitos males que ele causou aos desalojados de Angola (no número dos quais me incluo) e, sobretudo, o mal que chegou a admitir poder fazer e que só não aconteceu porque não calhou. Não passou de intenção, é certo; mas de uma intenção reveladora da aversão que o grande responsável pela descolonização nutre pelos seus compatriotas que desejavam continuar em Angola. Aversão claramente expressa numa entrevista que Mário Soares deu a uma jornalista alemã e foi publicada na conceituada revista "Der Spiegel" em 1974. Dela respigamos o seguinte trecho: Mário Soares - Em Angola haverá certamente uma série de situações mais ou menos desesperadas e tensões perigosas entre as raças. Apesar disso julgo que, por ora, o exército poderá manter a ordem - a ordem democrática. Der Spiegel - Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre os portugueses brancos? Mário Soares - Ele não hesitará e não pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo. Estas cínicas declarações marcaram-me para o resto da vida. Acho, portanto, que ninguém tem o direito de me censurar por esfregar as mãos de contentamento face aos fracassos de Mário Soares, como foi o caso de ver cair por terra a sua doce ilusão de se tornar o “supra-sumo” da política europeia. Não se trata da justa vingança do chinês, mas a deste que assina. VITORINO LOUREIRO (In “O LOBITO” Junho de 1999) |
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