NA FRELIMO E
A INVASÃO DO INSTITUTO MOÇAMBICANO POR UMA QUADRILHA DE TERRORISTAS QUE
ENQUADRAVA SAMORA MACHEL, JOAQUIM CHISSANO, AURELIO MANAVE, ARRANCATUDO
E OUTROS
A história da Frelimo está repleta de
traições, terrorismo não só contra os portugueses, mas, também, contra
os seus próprios seguidores e as próprias populações. É uma história
repleta de tragédias, pelo que não resisto a publicar o comentário de
Francisco Nota Moisés, publicado em Macua.blogs.com a propósito do artigo “FRELIMO – Mais revelações do Inferno (4)."
“ Confirmo, em grande parte, a historia
de Álvaro Teixeira. Não conhecia, porém, a história do furriel Pedro
Câmara. Mas Boaventura Pomba das Dividas e o seu companheiro Daniel,
cujo nome completo não vou dar aqui por este ainda parecer estar vivo ou
estar a viver algures em Moçambique. Eles desertaram do exército
português, não se renderam. Recebi Boaventura e Daniel na minha casa em
Nairobi. Ajudei-os com comida, outras despesas e financeiramente para
irem a Etiópia. Boaventura e Daniel, que não tinham respeito pela
maneira de combater dos guerrilheiros da Frelimo, disseram-me que tinham
desertado do exército português. Em Nachingwea, Samora Machel acusou-os
de terem sido enviados pelos portugueses para matá-lo. Daniel e o seu
radiotransmissor do Exército Português apareceram num jornal tanzaniano,
acusados que quererem matar Machel. Mas como verdadeiros militares,
conseguiram sair da Tanzânia e chegaram em Nairobi.
Quanto ao malogrado Inácio Chondzi, ele viveu comigo na mesma casa em Nairobi antes de ir a Etiópia e depois para Portugal, onde talvez se tenha tornado num agente da Frelimo, por razoes financeiras. Antes daquilo, ele era um pleno revoltado contra a liderança da Frelimo. Ele combateu em Tete e estava destacado para proteger o Segundo Congresso da Frelimo em 1968. Foi ele que, em Nairobi, me deu detalhes sobre a dispersão do congresso e os intensos ataques aéreos portugueses contra o local, embora já tivesse ouvido na Tanzânia muita e toda a coisa sobre a derrocada do congresso em virtude da intervenção aérea portuguesa na mesma semana em que o acontecimento tomou lugar.
UmBhalane tem razão ao dizer que há
diferença entre a palavra rendição e deserção. Rendição é quando alguém
está derrotado e levanta os braços ou vai ao seu inimigo com a bandeira
branca e diz: sim estou derrotado e rendo-me. Deserção é quando alguém
deixa o exército por razoes de insatisfação ou vai algures ou mesmo ao
seu inimigo, como foi o caso do Arrancatudo, comandante destemido da
Frelimo que, depois de desavenças com os seus colegas, foi ao lado dos
portugueses a quem revelou segredos sobre as bases da Frelimo, no
Niassa, o que permitiu a Forca aérea portuguesa levar a cabo ataques
devastadores contra as bases da Frelimo, de acordo com Chico Almeida,
comandante da Frelimo falando ao autor no campo de refugiados de Rutamba
no sul da Tanzânia. De acordo com Almeida, Arrancatudo viria a morrer
numa emboscada da Frelimo quando estava numa coluna militar portuguesa
que regressava dum ataque a uma base da Frelimo, no Niassa. Almeida
disse-me que Arrancatudo, natural da Zambézia, recebeu um tiro de bazuca
no peito e foi o fim dele.
Um pouco sobre o Arrancatudo -- na
noite do dia 3 de Março de 1968, Arrancatudo veio atacar-nos no
Instituto Moçambicano em Dar Es Salaam. Enquadrado numa unidade de
bandidos que incluía Samora Machel, Joaquim Chissano, Aurélio Manave e
outros. Os terroristas forçaram-nos a sair dos dormitórios aos pontapés,
porradas, socos e gritos impiedosos. Em menos de meia hora, nós, os
estudantes passamos mal, humilhados e forçados a alinhar no pátio do
Instituto.
Nesta meia hora, o mundo tinha parado
para nós e eu não sabia se muitos de nós havíamos de viver ou sobreviver
visto que os terroristas estavam armados até aos dentes com pistolas
que levavam ate 12 balas cada uma.
A razão do assalto: a revolta dos
estudantes contra a liderança do Mondlane e a razão imediata foi
motivada porque o Daniel Chatama tinha batido a bem bater em Xadreque,
um agente da Frelimo, no seio dos estudantes. Marcela, uma agente dos
líderes que veio a ser a esposa do Chissano, telefonou ao seu amante
quando Chatama disciplinava Xadreque contra o seu Pide-ismo. Xadreque,
Chissano e Chatama tinham sido treinados em conjunto, pelo KGB na União
Soviética. Quando o grupo dos terroristas se aproximava, um tal Pedro
Kufa (nome da família não verdadeiro, visto que este homem vive na
África) gritou em Sena para alertar o Chatama que era o objectivo numero
1 dos terroristas, dizendo: Chissano alikudza, Chissano alikudza (lá
vem o Chissano, lá vem o Chissano)....
Como que possuído por espíritos,
Chatama removeu a janela do seu quarto e saltou pelas traseiras e pôs-se
a correr para a esquadra alertando a polícia que o Instituto estava
sendo invadido por líderes da Frelimo. Num abrir e fechar de olhos, a
polícia tanzaniana estava no local. Um oficial da polícia prendeu o
terrorista Chissano que disse em inglês: "I am a Frelimo leader." O
oficial larga-o e agarra o terrorista Machel pela barba. Machel, que não
sabia inglês, mas podia entendê-lo porque tinha vivido, como mineiro,
na África do Sul onde fora tsotsi (bandido) disse a Chissano: "diga-lhe
também que sou dirigente da Frelimo." "He is a Frelimo leader too,"
disse o bandido Chissano. Então o oficial da policia largou-o, também.
Mal largados, os dois terroristas
desapareceram da cena, como gazelas escapadas dum assalto de leões.
Arrancatudo e os verdadeiros militares tinham desaparecido quando viram a
polícia a chegar. Nos dias que se seguiram, os terroristas Chissano e
Machel tiveram que ir comparecer na policia para explicarem os
acontecimentos. Samora levou um homem de nome Issa, que no
interrogatório de Samora Machel pela polícia, dizia o contrário em
Swahili do que Machel dizia em “pretoguês”. Depois daquilo, Issa fugiu
de Dar Es Salaam, sabendo que Machel havia de matá-lo por tê-lo mal
interpretado e incriminado na policia.
O bandido e terrorista Aurelio Manave,
comprido e maciço, que suava massivamente a toda a hora, não teve a
mesma agilidade como os outros. Ao aparecimento da polícia, foi se
esconder na palha por debaixo dum coqueiro, mas nós retirámo-lo daí e a
policia deu aos estudantes plena liberdade de agir contra ele. Assim
porradas, pontapés, cuspidelas choveram contra o terrorista que a
polícia algemou. E alguém mesmo mijou no Manave. Foi assim marchando,
enquanto os estudantes lhe batiam, até a esquadra da polícia, onde foi
despido, deixado só em cuecas e “chamboqueado” até que grunhiu com ranho
sair-lhe copiosamente das narinas. Um polícia mostrou ao grupo dos
estudantes, que gritavam que a justiça fosse feita ao malfeitor, uma
pistola que tinha retirado do Manave. Desarmada a pistola, o polícia
removeu 9 balas, faltavam 3 balas, o que quer dizer que o terrorista
tinha disparado três balas que não atingiram ninguém.
Março de 1968 foi o apogeu da revolta
contra a liderança de Mondlane, Chissano, Machel e os demais dirigentes.
Dentro de dias lerão aqui os leitores o relato sobre o assalto ao
escritório da Frelimo por um grupo de homens e mulheres macondes,
armados de catanas, varas, cornos, no dia 11 de Março de 1968. Uma das
mulheres levava o seu bebé atrás da sua coluna.”
Francisco Nota Moisés
Ovar, 25 de Janeiro de 2010
Álvaro Teixeira (GE)
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