Guebuza
encontrava-se naquele Centro de Bagamoyo havia uma semana. Tinha vindo
de Moçambique com os seus conterrâneos José Mazuze, Pascoal Nhapule,
Francisco Langa, Josina Mutemba (namorada de Filipe Samuel Magaia).
Também era frequente a presença de Filipe Samuel Magaia naquele Centro,
onde vinha para nos politizar.
Quanto
a Filipe Samuel Magaia (1º Comandante de todas as forças da DSD da
FRELIMO), foi vítima de uma emboscada por parte das próprias forças,
para deixar Josina viúva, para mais tarde desposar Samora Machel e para o
mesmo tomar o lugar do mesmo Filipe Magaia. O comandante de todas as
forças da FRELIMO, estava por conseguinte em Kongwa e Filipe Samuel
Magaia por ocupar uma posição hierarquicamente superior encontrava-se em
Dar-es-Saalam, onde encontrava-se sediada a FRELIMO. Apesar deste
distanciamento e tempo como militar da FRELIMO nunca vi estes dois
elementos juntos, o que antevia uma certa animosidade entre eles, talvez
sublimado pelo facto de um ser da Zambézia (Magaia) e outro de Gaza
(Samora).
…………
Samora
saía poucas vezes de Kongwa e talvez por esse motivo teve facilidade em
manipular os quadros militares até à morte de Magaia, altura em que lhe
ficou com a namorada assim como com o Departamento de Defesa,
entregando o da Segurança ao amigo Joaquim Chissano, tudo com o
consentimento do Dr. Mondlane.
…………
De
referir também que quase todos os quadros da FRELIMO sabiam que tinha
sido Samora Machel, Alberto Chipande, Joaquim Chissano e Sebastião
Marcos Mabote que planearam a morte de Filipe Magaia com o consentimento
do próprio Eduardo Mondlane.
Alguns
quadros da FRELIMO que testemunharam a morte de Filipe Magaia foram
fuzilados em Cabo Delgado. Um deles chamava-se Lino Ibraimo e o seu
executor foi João Fascitela Pelembe. Por sua vez Luís Arrancatudo, que
tinha sido instrutor em Bagamoyo, foi fuzilado na Base de Catur, no
Niassa, por ordens de Sebastião Mabote e de José Moiane.
………….
Os
chamados Destacamentos Femininos eram vítimas de abusos sexuais, feitos
na sua maioria pelos chefes. As raparigas grávidas eram obrigadas a ter
depois relações sexuais com simples soldados, para posteriormente estes
serem acusados de mau comportamento e serem severamente punidos com
castigos exemplares. As mulheres grávidas eram enviadas para o Campo de
Tunduro, onde Francisco Manhanga era Comandante, coadjuvado por
Bonifácio Gruveta. De referir ainda que em muitos casos as mulheres que
engravidavam eram obrigadas também a abortar por métodos criminosos e os
seus fetos deitados no caixote de lixo, com o conhecimento das
autoridades tanzanianas que nunca tomaram medidas para impedir tais
actos, pois diziam que esse era um assunto moçambicano.
O
Campo de Tunduro, servia também como local de descanso para os chefes
da FRELIMO. Ali levavam uma vida de burguesia, tinham tudo à disposição,
incluindo as raparigas e as mulheres mais bonitas da Organização. Muito
dinheiro que a Organização possuía era gasto nestas libertinagens.
Excertos do livro a publicar brevemente
(Declarações de testemunha insuspeita)
Ovar, 26 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
tags: descrição do inferno, frelimo
Publicado por gruposespeciais às 12:58
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Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009
MINHA VIDA DE GE – Parte 6 (O adeus ao Dondo)
(… Continuação)
E, assim,
chegamos ao fim da instrução dos Grupos Especiais. Todos os dias partiam
vários Grupos para os respectivos Teatros de Guerra, até que chegou a
vez de o meu Grupo partir para o Fúdze. Não fazia a mínima ideia onde
era isso. A única informação que possuía é que era para norte de Vila
Gouveia (Catandica), na entrada da picada para a Macossa. Subimos para
as Berliets e iniciamos a saída. Para trás começaram a ficar as noitadas
e os fins-de-semana na belíssima cidade da Beira e o Dondo, uma pequena
vila de que aprendi a gostar e o meu restaurante preferido, o Garrafão.
Para trás ficou, também, a minha “pretinha” que foi, propositadamente
ao CIGE, para se despedir de mim. Choramos os dois, uma cena que
perdurará, para sempre na minha vida. No dia anterior já me tinha
despedido da May Lung, a minha “chinoquinha” da Beira, uma miúda
adorável e cuja paixão era mútua, mas este aspecto ficará para artigos
posteriores.
A minha primeira farda de GE
Começamos a
passar os canaviais da Açucareira de Mafambisse e recordei-me do que,
uns meses antes, lá se tinha passado. Na véspera de um fim-de-semana,
haviam procedido a uma desratização dos canaviais. Era habitual os
recrutas, durante os dias de descanso, irem dar uma volta pelos
canaviais para caçar ratos que, segundo eles, era um petisco, mas nesse
fim-de-semana, os ratos tinham sido envenenados e o resultado foi
trágico: várias mortes de recrutas, por envenenamento e outros que, por
assistência imediata ou por intoxicação menor, conseguiram escapar. Do
meu GE não morreu ninguém, porque, por felicidade, estavam de serviço
nesse fatídico fim-de-semana.
Deixamos para trás Vila Machado e fizemos uma paragem, para descanso, em Vila Pery (Chimoio).
No dia seguinte,
de manhã cedo, partimos para a segunda e última etapa, passamos o
Vandúzi, atravessamos a ponte sobre o Púnguè e, a partir daí, foi
começar a subir para Vila Gouveia (Catandica), onde voltamos a fazer uma
pequena paragem, só para reabastecimento e logo de seguida, encetamos o
percurso de cerca de 30 quilómetros até ao Fúdze.
Num momento de descontracção
Lá chegados, foi
uma decepção. O Aquartelamento era, quase todo ele, constituído por
tendas de lona e foram montadas outras para o GE.
Eu instalei-me
numa cantina abandonada, com um cheiro nauseabundo, onde só se conseguia
dormir com rede mosquiteira e com as janelas todas abertas.
Foi o início da minha “Descida ao Inferno”…
Ovar, 24 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 14:36
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Sexta-feira, 4 de Setembro de 2009
MINHA VIDA DE GE – Parte 5
(… Continuação)
Começamos a
instrução dos militares, praticamente, a partir do zero o que, de certo
modo, facilitou o nosso trabalho, pelo menos na parte que me disse
respeito. Os novos recrutas vinham de aldeias distantes, dispersas pela
Serra Choa, onde, poucos meses antes, a Frelimo tinha aberto um corredor
de infiltração em direcção a Manica com todo o cortejo de desgraças que
isso provocou nas populações que não aderiram ao Movimento de
Libertação, obrigando-as a refugiarem-se em povoações mais próximas da
estrada que liga o Vandúzi a Tete e que seriam alojadas nos aldeamentos
de Nhassacara, Fúdze, Nhampassa e outros que foram sendo construídos ao
longo da referida estrutura rodoviária e por onde passava todo o
material necessário à construção da Barragem de Cahora Bassa com a
consequente segurança, não só do ponto de vista psicológico, como
militar, que todo este movimento dava às referidas populações.
O cortejo de
desgraças a que acima me refiro e que irei descrever em artigos
seguintes, além de me terem sido relatados pela próprias populações,
verifiquei-os no próprio terreno e foram-me confirmados, há bem pouco
tempo, pelo ex-Comandante da Frelimo, cujo nome, para já, não estou
autorizado a divulgar e que foi o responsável pela instalação da Frelimo
ao longo de toda a zona a sul de Tete, incluindo a Serra Choa. Os
Moçambicanos desse tempo conhecem-no muito bem e os altos responsáveis
da Frelimo sabem de quem estou a falar, porque lhe coube a glória de ser
o primeiro guerrilheiro da Frelimo a atravessar a fronteira psicológica
que constituía o Rio Zambeze.
Mas voltando ao
Dondo e ao CIGE e à estaca zero, é importante referir que uma grande
parte dos recrutas não falava português, havendo uma grande percentagem
que falava inglês, porque trabalharam alguns anos na ex-Rodésia, hoje
Zimbábué e que fugiram das guerras que se travavam junto à fronteira,
das ZANU do Robert Mugabe contra o regime de Ian Smith e da Frelimo,
contra o regime colonial português. Como não conhecia uma única palavra
do dialecto local, que era comum a todos, comecei a dar a instrução nas
duas línguas, português e inglês o que veio a permitir que, para o fim
da instrução, já todos falassem e compreendessem, dentro do necessário, o
português. Tive uma grande ajuda de um recruta, o Vasco, o mais culto
de todos, que tinha andado a estudar em Vila Gouveia e, à noite, passava
uma grande parte do tempo a ensinar a língua portuguesa aos seus
companheiros do Grupo.
A instrução incidia em três vertentes: a física, a psicológica e a de combate.
Sobre a vertente
física, pouco há dizer, porque eram pessoas bem dotadas fisicamente,
pelo que os exercícios serviam mais para uma integração de grupo,
coordenação de movimentos e de adaptação à arma, a fim de que ela se
tornasse como uma extensão do próprio corpo.
A vertente
psicológica, do meu ponto vista, era a mais importante. Baseei-me muito
na informação que cada um possuía, quase todos os recrutas tinham
passado por alguma experiência ou tinham conhecimento de acções do
“terrorismo” praticadas pela Frelimo, sempre que abria uma nova frente
de guerrilha e que consistiam em assassínios dos que não aderiam ao
movimento, raptos, essencialmente de mulheres e de roubos de cabeças de
gado. Estas acções provocavam o ódio aos “bandidos”, como lhes chamavam
e, como cada um, prestava, perante o Grupo, o seu depoimento, este era
assimilado por todos, como se dissesse respeito a cada um. Estava
lançada a semente para a criação do espírito de grupo e trabalharmos
todos estes elementos na parte psicológica, majorando, ainda mais, a
necessidade do combate à Frelimo.
A par da vertente
psicológica, era ministrada a instrução de combate que passava pela
luta corpo a corpo, preparação de emboscadas, reacção a emboscadas,
formas de progressão na mata, tiro ao alvo, utilização das granadas,
tiro de morteiro, etc. Estes conhecimentos de combate introduzia no
Grupo um sensação de segurança, cuja evolução de notava de dia para dia,
aliada ao facto de que, ao possuírem uma arma, lhes aumentava a
auto-estima e o sentimento de vingança.
GE´s - Moçambique "máquinas de guerra" (foto do JN de 15/02/1996)
Por estes motivos
é que os GE´s eram considerados como “autênticas máquinas de guerra”,
muito temidos pela Frelimo, porque estávamos a operar nos mesmos
terrenos.
(continua…)
Ovar, 4 de Setembro de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 14:27
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Descolonização de Moçambique - Parte 2
A VERDADEIRA HISTÓRIA DO CAP. LUIS FERNANDES - GEP
A MINHA VIDA DE GE – Parte 3
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