Figueiró dos Vinhos - Paços do Concelho
Figueiró dos Vinhos, 27 de Junho de 2009
Foi a
primeira vez que estive presente no convívio de ex-militares que
serviram na 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20, aquartelada em Olivença, no
extremo norte do Niassa, em Moçambique. Já há algum tempo que aguardava,
com ansiedade, a chegada deste dia, porque era a primeira vez que iria
encontrar camaradas com os quais convivi há 36 anos.
Em amena "cavaqueira" antes do Almoço
A
minha ansiedade ia crescendo, durante a minha viagem de Ovar até ao
local do Encontro, parecendo-me que os 140 Kms. seriam mais de 300. Até
que, por fim, cheguei a um local aprazível e com todas as condições para
um óptimo convívio.
O José
Martins da Graça está, de facto, de parabéns, porque tratou de tudo, ao
pormenor, e contemplou-nos com um repasto digno de se ver e de se
comer. A sopa de pedra e a caldeirada de cabrito estavam divinais e
acrescentar a isso, os bolos e as sardinhas assadas culminaram um
convívio que eu recordarei, para sempre.
Parabéns, amigo Graça.
As
recordações dos tempos vividos em Olivença eram o tema das conversas dos
pequenos grupos que se iam formando. Todos tinham mais uma história
para contar, mais um momento de recordação de histórias comuns, tão
presentes na nossa memória que me pareceu que tínhamos rebobinado o
filme e estávamos, de novo, a ser os protagonistas do mesmo filme rodado
36 anos atrás.
O Almoço (José Graça em 1º. plano) | A conversa de fim de almoço | Os bolos comemorativos |
Há uma ideia muito importante que retive deste encontro e que passo a explanar:
- Pelo
País, em quase todos os fins de semana, realizam-se encontros de
ex-militares que serviram nas ex-colónias. Há, ainda, franjas da nossa
população que vêem esses encontros como concentrações de saudosistas de
um passado fascista e colonialista e com um certo cunho de
reaccionarismo. Eu próprio comungava desta ideia. Afinal, estava
redondamente enganado. Não existe qualquer frustração, qualquer
saudosismo e, muito menos, qualquer sentimento anti-independência das
ex-colónias. A forma como essa independência foi feita é que se torna,
extremamente, polémica e que, do meu ponto de vista, no caso de
Moçambique representou uma capitulação dos nossos governantes de então
perante um movimento que se autoproclamava de “Libertação”, mas que
acabou por conduzir Moçambique a uma ditadura estalinista, com
resultados que perdurarão por algumas décadas.
À volta da mesa dos bolos comemorativos | Foto comum de Olivença (1973). Ismael, Patrício Costa e Esposa, Raimundo, Álvaro Teixeira e José Graça | Foto de conjunto |
Enfim,
foi um óptimo encontro em nada faltou e incluiu, até, alguns dos toques
de corneta a que estávamos habituados e que regulavam a nossa vida no
Aquartelamento de Olivença.
Durante o Almoço
Já ficou agendada a “Operação Olivença 2010”.
Se Deus quiser, será em Ovar, no último Sábado do mês de Junho.
Um abraço fraterno para todos e até “Olivença 2010”.
Ovar, 29 de Junho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)
Publicado por gruposespeciais às 20:58
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Segunda-feira, 22 de Junho de 2009
A MINHA VIDA DE GE – Parte 2
No dia seguinte, se a memória não me
falha, 28/04/1973, embarquei num “Friendship” da DETA. Era o adeus ao
Niassa. Pela janela do avião ia observando a paisagem e, pela última
vez, vi as águas do Lago Niassa, que nunca me pareceram tão belas como
nesse dia. Aquela combinação de cores do verde ao azul era, de facto, a
imagem do Paraíso, tão belo que não se apaga da minha memória. Imagens
hipnotizantes.
Boeing 737 da DETA
O avião fez escala em Tete sob um
calor tão intenso que, quando saí e pus os pés na pista, fui a correr
para a Aerogare, porque parecia que estava a calcar brasas. Sabia que,
em Tete, o calor era imenso, mas nunca imaginei que fosse assim. Fui a
uma casa de banho da Aerogare para passar água pelas mãos e pela cara,
mas, quando abri a torneira esta começou a jorrar uma água barrenta e
tão quente, que desisti. Fui ao bar beber uma garrafa de água e foi,
nessa altura, que vi, pela primeira vez, os aviões-bombardeiros Fiat da
nossa Força Aérea que estavam estacionados na pista. Tinham, de facto,
uma imagem assustadora, mas, do meu ponto vista, não foram tão eficazes
quanto isso, porque missão das Nossas Forças Armadas não era atacar
populações indefesas, apesar da propaganda da Frelimo, mas suster
ataques da guerrilha contra as suas próprias populações. Isto não se
trata de um branqueamento do nosso papel na Guerra, mas a confirmação do
que se passava no terreno. É evidente que a acção dissuasora passava,
também, pelos ataques às bases de guerrilha da Frelimo, como é
perfeitamente compreensível, uma vez que, além de serem um suporte da
guerrilha, eram, na sua maioria alimentadas por roubos de produtos
comestíveis produzidos nas “machambas” dos aldeamentos, passando, também
pelo roubo de gado e era, por estas razões, que a maioria dos aldeões
apelidava os guerrilheiros de bandidos. Aproveito para referir aqui o
massacre de Wiriamu que foi o único praticado na Guerra Colonial, por
uma companhia de Comandos, que, psicologicamente estariam tresloucados. A
notícia deste massacre correu mundo e foi, efectivamente, reconhecido
por todos, incluindo nós, como uma vergonha, mas que não passou de uma
excepção. Os Movimentos de Libertação levaram à prática massacres de
dimensões muito superiores (cito os massacres da UPA, em Angola), mas
que tiveram a bênção do, na época, Comunismo Internacional. Isto para
não referir os massacres contra as próprias populações cometidos na
Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, no período imediato à
independência.
A cidade de Tete
Depois de cerca de duas horas no
aeroporto de Tete, entrei no avião com destino à Beira. Depois de quase
sete meses no mato, chego, finalmente, à civilização.
A cidade da Beira pareceu-me muito mais linda e acolhedora do que, quando lá estive, no início de Outubro do ano anterior.
Instalei-me na Residencial Nery, junto
à Praça do Capri e interroguei-me como era possível haver tanto
conforto, depois do que tinha passado no Aquartelamento de Olivença e as
noites passadas no mato rodeado de mosquitos insaciáveis e a ouvir o
rugir dos leões que passavam por perto.
Aeroporto da Beira
Aqui começou o intervalo da minha
guerra. Procurei viver todos os instantes da minha vida, porque tinha a
consciência de que, uns meses depois, iria enfrentar perigos muito
maiores do que os passados em Olivença.
A Praça do "Café Capri"
As minhas idas ao Café Capri faziam
parte de um ritual. Este Café era o ponto principal de passagem e de
encontro dos nossos militares que, entre um “batido” ou uma cerveja,
contavam as suas peripécias passadas em terras do fim do mundo. Muitos
lamentavam a morte de camaradas e outros faziam a festa do regresso a
Portugal. Observei comportamentos, desde o comportamento normal até ao
dos “cacimbados”, muitos quais nunca mais conseguiram ultrapassar os
seus traumas e vivem, como fantasmas, por todo esse Portugal,
alcoolizados, drogados, abandonados pelas suas próprias famílias, sem
que os nossos governantes tomem medidas para a sua protecção, apesar das
promessas de todos os governos da era democrática. Estes são as grandes
vítimas dos oportunistas que se aproveitaram da Revolução.
Quem não se lembra destes "símbolos"?
Moulin Rouge | Prédio "Miramortos" |
Ovar, 22 de Junho de 2009
(Continua…)
Publicado por gruposespeciais às 16:41
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Domingo, 14 de Junho de 2009
A MINHA VIDA DE GE - Parte 1
Nos finais do mês de Abril de 1973 fui
nomeado para ir para os Grupos Especiais (GE´s), não porque, fosse
voluntário, mas, porque era o mais novo da 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20.
Aceitei esta situação, não tinha outra alternativa, com o espírito de
missão que tive, sempre, como militar das Forças Armadas Portuguesas.
Era mais um desafio na minha curta carreira militar. A minha juventude e
o espírito com que, sempre, encarei novos desafios foram, para mim, uma
fonte de inspiração e de descoberta de outras realidades de uma Guerra
na qual estava envolvido. Sabia, de antemão, que este novo desafio era
perigoso, mas, por outro lado, só a possibilidade de sair daquele lugar
perdido no extremo norte do Niassa (Olivença), ainda me motivou mais.
É óbvio que as saudades dos meus
amigos, que deixei em Olivença, com os quais partilhei as agruras do que
era viver no “fim do mundo” e percorrer uma imensidão de território,
completamente despovoado, ficaram gravados, para sempre, na minha
memória. Nunca mais esquecerei as noitadas de jogos na messe, os
momentos de convívio no “parrot”, muitas vezes, ao som da guitarra
dedilhada pelo alferes Oliveira, um ou outro “charro” de suruma que se
fumava, com prazer e não por vício, as idas à pista de aviação, sempre
que chegava o avião do Subtil, enfim, todos os pequenos prazeres que nos
eram permitidos naquela situação, nos intervalos das operações.
E lá embarquei eu, mais uma vez, no
avião do Subtil para Vila Cabral. Recordo-me da última imagem de
Olivença e, durante a viagem, não parei de olhar para mata que tinha
calcorreado durante seis meses. As imagens que me iam passando pelos
olhos eram de uma beleza imensa, mas continuava a estranhar a ausência
de qualquer actividade humana em toda aquela área. Pela última vez, vi
Nova Coimbra e o Lunho, com o belíssimo Lago Niassa como imagem de fundo
e, perante aquelas imagens, interrogava-me como era possível haver
guerra num paraíso!!??. Mas que ela existia, não havia dúvidas.
Emboscadas, ataques a aquartelamentos e a arma mais cobarde que pode
existir e de que a Frelimo se valia, que eram as minas. Esta arma
cobarde foi a que mais mortos e estropiados causou nas nossas tropas,
para além da desmoralização, que a detonação de um engenho destes,
provocava, mas, para a Frelimo era extremamente útil, porque era a forma
de colmatar a falta de combatentes para continuar a sua luta armada. O
padre Mateus Gwengere veio, mais tarde, a pagar com a vida no “ Campo de
Extermínio de N´telela”, a sua oposição à política seguida por Samora
Machel, que, para aumentar o número de guerrilheiros, passou a seduzir
os adolescentes e jovens estudantes moçambicanos para a guerra. O padre
Gwengere opôs-se, porque, em sua opinião, aqueles adolescentes e jovens
deviam continuar a estudar para serem os futuros quadros de uma Nação
livre e independente, mas a formação maoísta do núcleo duro da Frelimo
considerava que, em primeiro lugar, dever-se-ia conquistar a
independência e, após isso, construir o “homem novo”. Os resultados
estão à vista e falam por si…
Adeus, Olivença (04/1973)
Cheguei a Vila Cabral (Lichinga) ao
fim da manhã. Como já estava habituado a estas viagens, também sabia
onde encontrar os meus amigos de Ovar. A mensagem chegou a todos “Jantar
oferecido por mim, no Planalto”. Todos os que estavam disponíveis,
compareceram, mas o tema da conversa era a minha ida para os GE´s. Lá
lhes expliquei a situação e, com mais ou menos uma “bazooka” de
Laurentina, acabamos a noite.
Era altura de ir dormir, porque, no dia seguinte, esperava-me uma viagem cansativa até à Beira.
(continua…)
Publicado por gruposespeciais às 21:03
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Terça-feira, 9 de Junho de 2009
A DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE CAMINHA PARA O FIM?
Estação dos Caminhos de Ferro - Maputo
Peço desculpa por ainda não ter
abordado a minha vida nos Grupos Especiais (GE), mas ainda não vai ser
desta vez, porque há assuntos que considero mais urgentes e que são
relativos à actual situação política em Moçambique.
Em Moçambique vive-se, neste momento,
num regime falsamente chamado democrático, uma vez que a chamada
Oposição não constitui uma alternativa de poder. O maior partido da
Oposição, a Renamo, está num processo de “autofagia”, o que, a quatro
meses de um processo eleitoral, não pressagia nada de bom.
A Casa de Ferro - Maputo
Por outro lado, a Frelimo instituiu um
clima de medo no País, que dificulta as movimentações do novo partido,
Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que está a ter uma forte
adesão da juventude e das classes mais instruídas, cenário que está a
provocar, dentro da Frelimo, uma forte agitação.
Tenho recebido largas centenas de
mensagens que abordam os mais variados temas, tem a ver com a forma como
deve ser passada a mensagem da MUDANÇA, mas há um tema que é, quase
comum: “ Como será a vida, em Moçambique, pós-Frelimo?”.
E o que é curioso é que esta questão,
também é colocada por “frelimistas”. Daqui concluir que Moçambique,
ainda, vive uma situação fascismo mascarado. A Frelimo domina todas as
actividades, sejam elas económicas, culturais, políticas, etc., com um
sentido paternalista muito forte, não deixando desabrochar qualquer
movimento pró-democracia. O objectivo da Frelimo passa por conseguir uma
maioria qualificada de dois terços, a fim de poder modificar o regime. A
Frelimo nunca conseguiu interiorizar a sua derrota concretizada nos
Acordos de Roma, em 1992 e tudo tem feito para voltar à situação
anterior aos referidos Acordos.
Imagem da Fortaleza - Maputo
Há outra questão que é comum a uma
grande maioria das mensagens e que é o desconhecimento da história de
Moçambique nos últimos 35 anos. Tenho procurado passar a informação de
que o passado da Frelimo é tenebroso e que esse passado começou com o
assassinato, pela própria Frelimo, do seu presidente Eduardo Mondlane.
Ainda não encontrei uma pessoa que fosse que tivesse conhecimento desses
factos. As reacções convergem para duas conclusões retiradas pelos
próprios:
1 – A incredulidade perante os factos,
um sentimento de revolta e o temor que outras coisas do mesmo género
possam acontecer, num futuro próximo, se a Frelimo venha a conseguir um
poder ainda mais absoluto;
2 – A desilusão das pessoas que
pensavam que achavam a Frelimo um partido impoluto e não um grupo de
assassinos e afirmam “A História que nos ensinaram, afinal, não passa
tudo de uma mentira” ou “O Paraíso que nos descreveram, foi, afinal um
Campo de Morte”.
Estação dos Caminhos de Ferro - cidade da Beira
Através deste Blog, peço a todos os
Democratas que apoiem os Democratas Moçambicanos que se estão a rever no
MDM para um futuro melhor, mais próspero, mais livre e mais justo para
Moçambique.
Usem e abusem do meu Mail, que eu farei chegar as mensagens aos destinatários.
Obrigado a todos
Álvaro Teixeira
Já depois deste de ter colocado este "Post" no meu Blog, recebi esta mensagem de Moçambique, da parte do Engº. Daviz Simango:
"Nacala 9/6/2008
Houve tentativa de atentado, mas graças a Deus, ele protegeu-nos.
A democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se só você pode salvar Moçambique.
Porque juntos podemos! "
Houve tentativa de atentado, mas graças a Deus, ele protegeu-nos.
A democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se só você pode salvar Moçambique.
Porque juntos podemos! "
Isto é extremamente preocupante e confirma tudo o que escrevi no "Post".
Anexo a mensagem enviada para:
- Presidente da República Portuguesa
- Primeiro Ministro de Portugal
- Secretário-Geral da ONU
- Presidente dos EUA, Barack Obama
"
I am
Portuguese, but y love Mozambique. The notices that y received of
Mozambique are very preoccupied. The democracy it's on danger.
Yesterday, on Nampula, Mozambique, is one attempt of one someone's life
of Daviz Simango, president of the democrat party MDM. This party is
founded of a son of a hero of the Liberation War, in Mozambique, Urias
Simango, vice-president of Frelimo, and killed by Frelimo.
Y has a blog about Mozambique: http://guposespeciais.blogs.s apo.pt
The
messages that y received of the people of Mozambique are very
preoccupying. This case is a preoccupation of the Democratic World.
Democratic salutations.
1 comentário:
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