quinta-feira, 23 de agosto de 2012

OPERAÇÃO OLIVENÇA – 2009



Figueiró dos Vinhos - Paços do Concelho

Figueiró dos Vinhos, 27 de Junho de 2009
Foi a primeira vez que estive presente no convívio de ex-militares que serviram na 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20, aquartelada em Olivença, no extremo norte do Niassa, em Moçambique. Já há algum tempo que aguardava, com ansiedade, a chegada deste dia, porque era a primeira vez que iria encontrar camaradas com os quais convivi há 36 anos.
 
Em amena "cavaqueira" antes do Almoço
A minha ansiedade ia crescendo, durante a minha viagem de Ovar até ao local do Encontro, parecendo-me que os 140 Kms. seriam mais de 300. Até que, por fim, cheguei a um local aprazível e com todas as condições para um óptimo convívio.
O José Martins da Graça está, de facto, de parabéns, porque tratou de tudo, ao pormenor, e contemplou-nos com um repasto digno de se ver e de se comer. A sopa de pedra e a caldeirada de cabrito estavam divinais e acrescentar a isso, os bolos e as sardinhas assadas culminaram um convívio que eu recordarei, para sempre.
Parabéns, amigo Graça.
As recordações dos tempos vividos em Olivença eram o tema das conversas dos pequenos grupos que se iam formando. Todos tinham mais uma história para contar, mais um momento de recordação de histórias comuns, tão presentes na nossa memória que me pareceu que tínhamos rebobinado o filme e estávamos, de novo, a ser os protagonistas do mesmo filme rodado 36 anos atrás.
 
O Almoço (José Graça em 1º. plano) A conversa de fim de almoço Os bolos comemorativos
Há uma ideia muito importante que retive deste encontro e que passo a explanar:
- Pelo País, em quase todos os fins de semana, realizam-se encontros de ex-militares que serviram nas ex-colónias. Há, ainda, franjas da nossa população que vêem esses encontros como concentrações de saudosistas de um passado fascista e colonialista e com um certo cunho de reaccionarismo. Eu próprio comungava desta ideia. Afinal, estava redondamente enganado. Não existe qualquer frustração, qualquer saudosismo e, muito menos, qualquer sentimento anti-independência das ex-colónias. A forma como essa independência foi feita é que se torna, extremamente, polémica e que, do meu ponto de vista, no caso de Moçambique representou uma capitulação dos nossos governantes de então perante um movimento que se autoproclamava de “Libertação”, mas que acabou por conduzir Moçambique a uma ditadura estalinista, com resultados que perdurarão por algumas décadas.
 
À volta da mesa dos bolos comemorativos Foto comum de Olivença (1973). Ismael, Patrício Costa e Esposa, Raimundo, Álvaro Teixeira e José Graça Foto de conjunto
Enfim, foi um óptimo encontro em nada faltou e incluiu, até, alguns dos toques de corneta a que estávamos habituados e que regulavam a nossa vida no Aquartelamento de Olivença.
 
Durante o Almoço
Já ficou agendada a “Operação Olivença 2010”.
Se Deus quiser, será em Ovar, no último Sábado do mês de Junho.
Um abraço fraterno para todos e até “Olivença 2010”.
 
Ovar, 29 de Junho de 2009
Álvaro Teixeira (GE)



Segunda-feira, 22 de Junho de 2009
A MINHA VIDA DE GE – Parte 2

No dia seguinte, se a memória não me falha, 28/04/1973, embarquei num “Friendship” da DETA. Era o adeus ao Niassa. Pela janela do avião ia observando a paisagem e, pela última vez, vi as águas do Lago Niassa, que nunca me pareceram tão belas como nesse dia. Aquela combinação de cores do verde ao azul era, de facto, a imagem do Paraíso, tão belo que não se apaga da minha memória. Imagens hipnotizantes.
 
Boeing 737 da DETA
O avião fez escala em Tete sob um calor tão intenso que, quando saí e pus os pés na pista, fui a correr para a Aerogare, porque parecia que estava a calcar brasas. Sabia que, em Tete, o calor era imenso, mas nunca imaginei que fosse assim. Fui a uma casa de banho da Aerogare para passar água pelas mãos e pela cara, mas, quando abri a torneira esta começou a jorrar uma água barrenta e tão quente, que desisti. Fui ao bar beber uma garrafa de água e foi, nessa altura, que vi, pela primeira vez, os aviões-bombardeiros Fiat da nossa Força Aérea que estavam estacionados na pista. Tinham, de facto, uma imagem assustadora, mas, do meu ponto vista, não foram tão eficazes quanto isso, porque missão das Nossas Forças Armadas não era atacar populações indefesas, apesar da propaganda da Frelimo, mas suster ataques da guerrilha contra as suas próprias populações. Isto não se trata de um branqueamento do nosso papel na Guerra, mas a confirmação do que se passava no terreno. É evidente que a acção dissuasora passava, também, pelos ataques às bases de guerrilha da Frelimo, como é perfeitamente compreensível, uma vez que, além de serem um suporte da guerrilha, eram, na sua maioria alimentadas por roubos de produtos comestíveis produzidos nas “machambas” dos aldeamentos, passando, também pelo roubo de gado e era, por estas razões, que a maioria dos aldeões apelidava os guerrilheiros de bandidos. Aproveito para referir aqui o massacre de Wiriamu que foi o único praticado na Guerra Colonial, por uma companhia de Comandos, que, psicologicamente estariam tresloucados. A notícia deste massacre correu mundo e foi, efectivamente, reconhecido por todos, incluindo nós, como uma vergonha, mas que não passou de uma excepção. Os Movimentos de Libertação levaram à prática massacres de dimensões muito superiores (cito os massacres da UPA, em Angola), mas que tiveram a bênção do, na época, Comunismo Internacional. Isto para não referir os massacres contra as próprias populações cometidos na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, no período imediato à independência.
 
A cidade de Tete
Depois de cerca de duas horas no aeroporto de Tete, entrei no avião com destino à Beira. Depois de quase sete meses no mato, chego, finalmente, à civilização.
A cidade da Beira pareceu-me muito mais linda e acolhedora do que, quando lá estive, no início de Outubro do ano anterior.
Instalei-me na Residencial Nery, junto à Praça do Capri e interroguei-me como era possível haver tanto conforto, depois do que tinha passado no Aquartelamento de Olivença e as noites passadas no mato rodeado de mosquitos insaciáveis e a ouvir o rugir dos leões que passavam por perto.
Aeroporto da Beira
Aqui começou o intervalo da minha guerra. Procurei viver todos os instantes da minha vida, porque tinha a consciência de que, uns meses depois, iria enfrentar perigos muito maiores do que os passados em Olivença.
A Praça do "Café Capri"
As minhas idas ao Café Capri faziam parte de um ritual. Este Café era o ponto principal de passagem e de encontro dos nossos militares que, entre um “batido” ou uma cerveja, contavam as suas peripécias passadas em terras do fim do mundo. Muitos lamentavam a morte de camaradas e outros faziam a festa do regresso a Portugal. Observei comportamentos, desde o comportamento normal até ao dos “cacimbados”, muitos quais nunca mais conseguiram ultrapassar os seus traumas e vivem, como fantasmas, por todo esse Portugal, alcoolizados, drogados, abandonados pelas suas próprias famílias, sem que os nossos governantes tomem medidas para a sua protecção, apesar das promessas de todos os governos da era democrática. Estes são as grandes vítimas dos oportunistas que se aproveitaram da Revolução.
 Quem não se lembra destes "símbolos"?
Moulin Rouge Prédio "Miramortos"
 
Ovar, 22 de Junho de 2009
 
(Continua…)



Domingo, 14 de Junho de 2009
A MINHA VIDA DE GE - Parte 1



Nos finais do mês de Abril de 1973 fui nomeado para ir para os Grupos Especiais (GE´s), não porque, fosse voluntário, mas, porque era o mais novo da 3ª. C. Caç. do B. Caç. 20. Aceitei esta situação, não tinha outra alternativa, com o espírito de missão que tive, sempre, como militar das Forças Armadas Portuguesas. Era mais um desafio na minha curta carreira militar. A minha juventude e o espírito com que, sempre, encarei novos desafios foram, para mim, uma fonte de inspiração e de descoberta de outras realidades de uma Guerra na qual estava envolvido. Sabia, de antemão, que este novo desafio era perigoso, mas, por outro lado, só a possibilidade de sair daquele lugar perdido no extremo norte do Niassa (Olivença), ainda me motivou mais.
É óbvio que as saudades dos meus amigos, que deixei em Olivença, com os quais partilhei as agruras do que era viver no “fim do mundo” e percorrer uma imensidão de território, completamente despovoado, ficaram gravados, para sempre, na minha memória. Nunca mais esquecerei as noitadas de jogos na messe, os momentos de convívio no “parrot”, muitas vezes, ao som da guitarra dedilhada pelo alferes Oliveira, um ou outro “charro” de suruma que se fumava, com prazer e não por vício, as idas à pista de aviação, sempre que chegava o avião do Subtil, enfim, todos os pequenos prazeres que nos eram permitidos naquela situação, nos intervalos das operações.
 
 E lá embarquei eu, mais uma vez, no avião do Subtil para Vila Cabral. Recordo-me da última imagem de Olivença e, durante a viagem, não parei de olhar para mata que tinha calcorreado durante seis meses. As imagens que me iam passando pelos olhos eram de uma beleza imensa, mas continuava a estranhar a ausência de qualquer actividade humana em toda aquela área. Pela última vez, vi Nova Coimbra e o Lunho, com o belíssimo Lago Niassa como imagem de fundo e, perante aquelas imagens, interrogava-me como era possível haver guerra num paraíso!!??. Mas que ela existia, não havia dúvidas. Emboscadas, ataques a aquartelamentos e a arma mais cobarde que pode existir e de que a Frelimo se valia, que eram as minas. Esta arma cobarde foi a que mais mortos e estropiados causou nas nossas tropas, para além da desmoralização, que a detonação de um engenho destes, provocava, mas, para a Frelimo era extremamente útil, porque era a forma de colmatar a falta de combatentes para continuar a sua luta armada. O padre Mateus Gwengere veio, mais tarde, a pagar com a vida no “ Campo de Extermínio de N´telela”, a sua oposição à política seguida por Samora Machel, que, para aumentar o número de guerrilheiros, passou a seduzir os adolescentes e jovens estudantes moçambicanos para a guerra. O padre Gwengere opôs-se, porque, em sua opinião, aqueles adolescentes e jovens deviam continuar a estudar para serem os futuros quadros de uma Nação livre e independente, mas a formação maoísta do núcleo duro da Frelimo considerava que, em primeiro lugar, dever-se-ia conquistar a independência e, após isso, construir o “homem novo”. Os resultados estão à vista e falam por si…
 
Adeus, Olivença (04/1973)
Cheguei a Vila Cabral (Lichinga) ao fim da manhã. Como já estava habituado a estas viagens, também sabia onde encontrar os meus amigos de Ovar. A mensagem chegou a todos “Jantar oferecido por mim, no Planalto”. Todos os que estavam disponíveis, compareceram, mas o tema da conversa era a minha ida para os GE´s. Lá lhes expliquei a situação e, com mais ou menos uma “bazooka” de Laurentina, acabamos a noite.
Era altura de ir dormir, porque, no dia seguinte, esperava-me uma viagem cansativa até à Beira.
(continua…)



Terça-feira, 9 de Junho de 2009
A DEMOCRACIA EM MOÇAMBIQUE CAMINHA PARA O FIM?
Estação dos Caminhos de Ferro - Maputo 

Peço desculpa por ainda não ter abordado a minha vida nos Grupos Especiais (GE), mas ainda não vai ser desta vez, porque há assuntos que considero mais urgentes e que são relativos à actual situação política em Moçambique.
Em Moçambique vive-se, neste momento, num regime falsamente chamado democrático, uma vez que a chamada Oposição não constitui uma alternativa de poder. O maior partido da Oposição, a Renamo, está num processo de “autofagia”, o que, a quatro meses de um processo eleitoral, não pressagia nada de bom.
 A Casa de Ferro - Maputo
Por outro lado, a Frelimo instituiu um clima de medo no País, que dificulta as movimentações do novo partido, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que está a ter uma forte adesão da juventude e das classes mais instruídas, cenário que está a provocar, dentro da Frelimo, uma forte agitação.
Tenho recebido largas centenas de mensagens que abordam os mais variados temas, tem a ver com a forma como deve ser passada a mensagem da MUDANÇA, mas há um tema que é, quase comum: “ Como será a vida, em Moçambique, pós-Frelimo?”.
E o que é curioso é que esta questão, também é colocada por “frelimistas”. Daqui concluir que Moçambique, ainda, vive uma situação fascismo mascarado. A Frelimo domina todas as actividades, sejam elas económicas, culturais, políticas, etc., com um sentido paternalista muito forte, não deixando desabrochar qualquer movimento pró-democracia. O objectivo da Frelimo passa por conseguir uma maioria qualificada de dois terços, a fim de poder modificar o regime. A Frelimo nunca conseguiu interiorizar a sua derrota concretizada nos Acordos de Roma, em 1992 e tudo tem feito para voltar à situação anterior aos referidos Acordos.
 
Imagem da Fortaleza - Maputo
Há outra questão que é comum a uma grande maioria das mensagens e que é o desconhecimento da história de Moçambique nos últimos 35 anos. Tenho procurado passar a informação de que o passado da Frelimo é tenebroso e que esse passado começou com o assassinato, pela própria Frelimo, do seu presidente Eduardo Mondlane. Ainda não encontrei uma pessoa que fosse que tivesse conhecimento desses factos. As reacções convergem para duas conclusões retiradas pelos próprios:
1 – A incredulidade perante os factos, um sentimento de revolta e o temor que outras coisas do mesmo género possam acontecer, num futuro próximo, se a Frelimo venha a conseguir um poder ainda mais absoluto;
2 – A desilusão das pessoas que pensavam que achavam a Frelimo um partido impoluto e não um grupo de assassinos e afirmam “A História que nos ensinaram, afinal, não passa tudo de uma mentira” ou “O Paraíso que nos descreveram, foi, afinal um Campo de Morte”.
 Estação dos Caminhos de Ferro - cidade da Beira
Através deste Blog, peço a todos os Democratas que apoiem os Democratas Moçambicanos que se estão a rever no MDM para um futuro melhor, mais próspero, mais livre e mais justo para Moçambique.
Usem e abusem do meu Mail, que eu farei chegar as mensagens aos destinatários.
Obrigado a todos
Álvaro Teixeira
 
Já depois deste de ter colocado este "Post" no meu Blog, recebi esta mensagem de Moçambique, da parte do Engº. Daviz Simango:
"Nacala 9/6/2008

Houve tentativa de atentado, mas graças a Deus, ele protegeu-nos.
A democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se só você pode salvar Moçambique.
Porque juntos podemos! "
Isto é extremamente preocupante e confirma tudo o que escrevi no "Post".
 
Anexo a mensagem enviada para:
- Presidente da República Portuguesa
- Primeiro Ministro de Portugal
- Secretário-Geral da ONU
- Presidente dos EUA, Barack Obama
"
I am Portuguese, but y love Mozambique. The notices that y received of Mozambique are very preoccupied. The democracy it's on danger. Yesterday, on Nampula, Mozambique, is one attempt of one someone's life of Daviz Simango, president of the democrat party MDM. This party is founded of a son of a hero of the Liberation War, in Mozambique, Urias Simango, vice-president of Frelimo, and killed by Frelimo.
Y has a blog about Mozambique: http://guposespeciais.blogs.sapo.pt
The messages that y received of the people of Mozambique are very preoccupying. This case is a preoccupation of the Democratic World.
Democratic salutations.

1 comentário:

Anónimo disse...

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