- Reginaldo Silva
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É frequente ouvirmos dizer, sobretudo da parte de
sensibilidades afectas ao “regime”, mas não só, que Angola não tem
oposição ou que os adversários políticos do partido no poder são muito
fracos para se apresentarem como uma alternativa credível aos eleitores.
Por Reginaldo Silva·
Por Reginaldo Silva·
Esta semana ouvimos do (novo) candidato número 1 da lista do MPLA às
próximas eleições gerais, João Lourenço, uma apreciação ainda mais
arrasadora, tendo o actual Ministro da Defesa usado o adjectivo
“malandros” para classificar os seus adversários, que ainda ninguém sabe
bem quais serão.
Tal só será possível saber, depois do Tribunal Constitucional ter
deliberado sobre os processos que lhe serão submetidos ao abrigo da Lei
Orgânica das Eleições, após estas terem sido oficialmente convocadas
pelo Presidente da República, o que também ainda não aconteceu.
Entre inexistentes, fracos e malandros, os membros oposição angolana
que se dividem actualmente, por 4 ou 5 partidos basicamente, não têm
parado de colecionar adjectivos nesta “troca de galhardetes” com o
partido da situação.
Esta última, a dos malandros, não estava nas nossas contas.
Convenhamos que esta “troca”, com maior ou menor elevação, já faz
parte de qualquer disputa política democrática que toma contornos ainda
mais agressivos durante os anos eleitorais.
A luta pelo poder não é mesmo feita com beijinhos, embora haja sempre
alguns limites, que todos aceitam mas é só da boca para fora.
No caso deste ano em Angola e embora a procissão já tenha saído do
adro, com a inédita pré-campanha eleitoral do M, ainda estamos no
principio dos “beefs” que vêm por aí.
Apertem pois os cintos de segurança e preparem-se para o pior,
porque nas eleições tudo pode acontecer em matéria de “descida aos
infernos”, como tivemos a oportunidade de acompanhar muito recentemente
na campanha norte-americana.
Estamos entre as pessoas que diante da situação concreta que é a
asfixiante (sem aspas) realidade política angolana, achamos que mesmo
assim a Oposição podia fazer muito mais e melhor para se afirmar e
ganhar mais espaço, pois ainda há muito por conquistar.
O que, entretanto, ela faz ou lhe deixam fazer, em termos mais
objectivos não pode de forma alguma ser ignorado e devidamente
valorizado, por quem aprecia nas calmas o panorama, sem outras
conhecidas paixões.
É a mais pura ficção dizer que os partidos políticos têm direito a
tratamento igual pelas entidades públicas, conforme reza a
Constituição.
Se há desigualdades gritantes neste país, uma delas está, certamente,
bem visível no tratamento que é dispensado aos partidos políticos da
oposição pelas entidades públicas, a começar pelos médias.
Neste contexto marcado por uma verdadeira hostilidade institucional,
fazer política em Angola não é nada fácil. É de facto uma grande
aventura cheia de riscos e perigos.
Quando ouvimos das sensibilidades aqui referidas no início, dizer que
o país precisa de ter uma oposição forte, só mesmo com uma boa dose de
humor conseguimos digerir um tal desejo que partilhamos por inteiro, mas
em relação ao qual temos uma visão completamente distinta.
Cada vez acreditamos mais, que Angola só vai mesmo resolver os seus
problemas que não têm parado de se agravar, se o país acordar um dia
destes, no dia seguinte, com uma realidade política mais equilibrada,
bem diferente daquela que tem prevalecido nos últimos 40 anos.
O PAÍS
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