A um ano de novo pleito autarquico, o MDM parece estar definhando. Em Nampula, a ruptura com o actual edil Amurane é irreversível. Na semana passada, Amurane lançou farpas veladas contra os irmãos Simango (que mandam no partido), ao sugerir que há quem pensa em instalar uma "dinastia" em Moçambique.
A resposta das hostes dirigentes do MDM foi dada ontem, embrulhada numa entrevista do Presidente da Assembleia Municipal de Nampula, M. Tocovo, que se insurgiu contra novas obras domésticas erguidas debaixo de um viaduto recentenente construído na cidade. Ele apontou o dedo ao executivo da edilidade, afirmando que havia indícios claros de corrupção, fazendo uma tirada irônica "para aqueles que se dizem imunes à corrupção". Ficou claro na veemência do palavreado de Tocovo, que seu objetivo era mesmo "desmascarar" Amurane. O MDM está claramente em desnorte na capital no norte. E agora com a ida de Daviz Simango aos Países Baiixos na mala do Presidente Nyusi, há deputados do terceiro partido engolindo sapos: eles se insurgiram com veemência contra o branqueanento parlamentar das dividas da MAM e da Proindicus. Devia Simango recusar o convite? Creio que não. Até porque é uma viagem de Estado; até porque a Holanda tem uma cooperação tradicional com a Beira em virtude das condições geográficas da cidade; até porque terão sido os holandeses a sugerir a Nyusi que incluísse Beira na viagem.
Seja como for, não deixa de ser um sapo para os deputados que consideram Nyusi como parte do problema da dívida. E numa altura em que a Frenamo está novamente em maré casamenteira (Dhlakama apelou ontem aos membros da Renamo para não hostilizarem os da Frelimo), era de esperar um MDM mais atento a ratoeiras e mais mobilizador, tendo em conta que o partido depende de capital politico externo para vingar nas autárquicas. Por isso, foi penoso ver o deputado
Gilberto Carvalho perdido em pre-campanhã nos arredores de Maputo, num evento em que foram notórias as ausências de figuras de proa de do Sul como Frangoulis, Venâncio Modlane e Silverio Ronguane. Até um aspirante a deputado pelo MDM, militante do partido, o jornalista da TIM Sérgio Banze, pautou pela ausência. Mistérios.
Nyusi atira a bola aos doadores
No passado sábado, logo que se confirmou a recepcão do relatório da Kroll pela PGR, Filipe Nyusi chutou a bola para o campo dos doadores e esfregou as mãos de contente, enchendo o peito de folego.
Para ele, a ajuda financeira ja pode ser retomada. A auditoria chegou ao fim, a prospeção da Paz está no bom caminho e o Governo tem feito reformas económicas.
Os doadores ainda não reagiram. Espera-se que isso possa vir a acontecer a breve trecho. Mas o avanço de Nyusi reflecte as enormes dificuldades orçamentais do Governo.
E levanta uma questao: a de se saber se a auditoria da dívida era um fim em si ou um meio. Na colocação de Nyusi, a auditoria era mesmo um fim. A mesma perspectiva da embaixadora cessante da Suécia, Irina Nyoni, que em finais de Marco deu uma entrevista ao Savana onde ela se mostrava relutante (e resignada) em manter uma peleja de ringue com o Governo. Nyusi percebeu o discurso de Nyoni considerando-o como representativo de todos os doadores, e agora estende-lhes as mãos indicando um campo de futebol de praia.
Nyoni dizia que as consequências da auditoria depediam da PGR. Mas no fim de semana, o FMI contrastou, apelidando a auditoria como sendo "forense". Daqui se pode duvidar que o FMI esteja disposto a mergulhar também na areia. Por isso advinho que uma peleja de luvas se mantenha entre o fundo e o Governo. O corte nos subsídios ao pão e na gasolina (incluindo os subsídios aos funcionários do Estado) são parte da cartilha do FMI para a reforma pos-divida oculta, mas ainda não se viram mudanças profundas (pro-transparência e anti-despesismo) na generalidade das empresas públicas e participadas.
Quanto ao relatorio da Kroll, reina a expectativa de se saber se ele basta por si só ou mais acções poderão ser colocadas na mesa como condição para a retomada do apoio orçamental, nomeadamente a recuperação pelo Estado dos dinheiros desviados.
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