quarta-feira, 22 de agosto de 2012

AFONSO DHLAKAMA, O «AVÔ» DO MDM

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Canal de Opinião
por Jafar Gulamo Jafar

Ano de eleições, ano de intimidação. A cada ameaça de derrota, surge a velha morte, a prisão, a tortura, a política do medo. Eis a democracia que temos, a política que temos. E o nosso eterno líder calado, estrategicamente mudo. Quando é para se pronunciar, grita que é o maior, que é o responsável por não haver resposta armada, que se ele quisesse, já tinha posto o país a ferro e fogo. Mas que não, que como ele é fiel à sua palavra, não deu ordens para invadir a Ponta Vermelha, aconselhou calma aos seus homens, dispostos a tudo, prontos para a guerra. A continuar assim, vai ser ameaça de prisão por um lado, devidamente temperada com alguns presos e servida com muitas inaugurações, por um lado, e um festival de basófia militar do outro.
Tudo para ocultar a incapacidade de resposta política pronta, a falta de visão e de intervenção. Enquanto ouvimos a velha máxima de que «a vitória prepara-se, a vitória organiza-se», ele continua a derrotar os inimigos internos, as ameaças de dentro, para se manter a todo o custo na liderança. É o chefe das vassouras.
Tanto varreu, tanto limpou, que já não tem ninguém para varrer. Nem sequer percebeu que os militantes mais esclarecidos se foram embora, ele não os afastou, eles é que foram demonstrar que estavam na política por direito próprio, por mérito, por convicção. Querem ter a oportunidade de manifestar a sua posição, de debater ideias, de participar na vida política, que é afinal o fim último da actividade política.
Contrariamente à opinião de alguns peritos, há quem pense que o objectivo primordial não é a conquista do poder, mas a possibilidade de discutir, de debater os problemas do país, por forma a fazer com que da discussão possa nascer a luz, como aprendemos nos bancos de escola.
O que o líder tem feito é contribuir para que exista um monólogo chato e infrutífero, que não leva a lado nenhum. Podemos identificar algumas áreas vitais para o futuro do país, que nunca foram discutidas pelos cidadãos, e que trarão consequências imprevisíveis. Uma delas é a nossa integração na SADCC, no que toca à livre circulação de pessoas e bens. A decisão foi tomada, o nosso Parlamento não discutiu o problema, o governo tratou a questão como se fosse um mero problema técnico, e Moçambique corre o risco de se transformar num mercado da África do Sul, sem obter contrapartidas económicas, nem reforçar a capacidade produtiva.
Outro exemplo é o da política agrícola do país, objecto já de inúmeras mudanças e de opções fracassadas. O chefe, preocupado em gerir empresas falidas, nem sequer se apercebeu que o governo prepara dossiers, faz campanhas, erra estrondosamente. Ele, calado…!
Primeiro veio a agricultura familiar, baseada na enxada e no par de bois, e o chefe não tugiu nem mugiu. Depois veio o biodiesel, e nada de reacção. Acabou a jatropha, e nada!!! Chegou a revolução verde, e ele não está, ausentou-se, não ouviu falar.
O cidadão procura terra e não encontra, existem milhares de hectares improdutivos e o chefe está de férias.
Assiste, calado à partidarização do Estado, às viagens missionárias de Ministros e Directores nacionais aos distritos, para frelimizar o país.
Não vê o regresso em força à distribuição forçada de cartões de partido, como condição para ser estudante universitário, para ser dirigente no Estado, para ter a vida facilitada.
Não entende que em matéria de economia o cerco aperta, a oligarquia vai dividindo tranquilamente o bolo.
Não se apercebeu que o regabofe da distribuição de dinheiro nos distritos não passou de uma manobra de compra de votos, a troco de financiamentos.
Que financiamentos esses, que não passaram pelo crivo dos estudos de viabilidade económica, cujos destinatários não são capazes de rentabilizar o que receberam, que não vão devolver o dinheiro.
Onde estava o senhor, senhor Afonso Dhlakama, que não exigiu um debate alargado do assunto? Porquê 7 milhões e não 70? E para quê? Que programas são esses, destinados a todos, mas decididos só por alguns?
Os dirigentes moçambicanos fartam-se de apoiar o Robert Mugabe, e o grande líder calado, sem opinião, sem participar na campanha que todo o mundo lançou para travar o descalabro de  um País e a miséria de milhões de cidadãos.
A sua falta de intervenção nota-se particularmente no capítulo da segurança dos cidadãos. Ele assiste impávido à inactividade do sistema judicial, à escolha de casos a julgar, enquanto milhares de processos nem sequer chegam a julgamento. Está no camarote a ver inocentes a ser condenados, e os culpados a pavonear-se em grandes automóveis e vivendo em mansões.
Apesar da denúncia sistemática de crimes e escândalos, ele não se pronuncia, e tudo fica na mesma, as autoridades nem sequer ligam, os processos não nascem.
O partido tem obrigações para com os eleitores, e não as cumpre porque o chefe é um incapaz (serásó isso?). o Pior é que não faz nem deixa fazer.
Tamanha inacção pode ter causado o nascimento de um novo partido, cujo sucesso vai depender de muitos factores, de muito trabalho, e de grande clarividência.
Não parece que sejam de seguir os exemplos dos partidos que existem na praça, sendo que os erros da Renamo devem ser o exemplo do que não se deve fazer em política.
Não se pode querer fazer tudo sózinho, nem em política, nem noutra qualquer actividade. Não se pode concentrar toda a actividade nas mão de um punhado de pessoas, e muito menos fazer do partido um corpo fechado, avesso a ideias novas, a sangue jovem e a novos membros.
A transformação de um partido num grupo regional, étnico ou tribal, é um delito social, contrário aos mais elementares princípios democráticos, prática corrente nos partidos existentes, apesar de parecer o contrário.
Vale recordar o que ficou dos comentários tecidos em redor da vitória de Barak Obama, quando os nossos dirigentes, grandes cultores da nacionalidade «originária», se ufanaram de existir um presidente «negro», nos EUA. Nem sequer é preciso dizer que, ou os homens são daltónicos, ou, quando convém, o homem já é «negro», como o Lewis Hamilton, enquanto que aqui, o tratamento aos não negros, é o que todos sabemos.
Foi um acto inteligente, iniciar um partido com os contactos internacionais, com o relacionamento com os moçambicanos na diáspora. É preciso mostrar seriedade, mostrar que todos somos necessários e poucos para construir Moçambique.
Diferentemente do Régulo «despontual», nem sequer passaria pela cabeça que o Presidente atrasar-se sistematicamente, fazer «secar» durante horas embaixadores, jornalistas, convidados, para não falar de membros do partido.
O que vos escreve, acreditando estar a lidar com alguém civilizado, tentou marcar umas três audiências, mas nem sequer foi recebido. Mas isto, como já era hábito, não surpreendeu. Faz-nos voltar aos tempos das reuniões que eram marcadas para as 17 horas e começavam às 23 horas, para terminarem na madrugada seguinte. Ou das outras que deviam começar às 8 horas e começavam às 13 horas.
Coitados dos diplomatas que, querendo ajudar o partido, eram obrigados a grandes sessões de espera, como pedintes.
E os jornalistas, esses, mesmo secando, não informavam o público, como era seu dever, da grande «despontualidade» do Grande Líder.
Claro que, como um dos melhores presidentes de Município do País, as pretéritas linhas nem sequer servem de lembrete, apenas de memorando, pois ele, certamente, também sofreu com as secas que apanhou.
Importante, sem dúvida, é o grande trabalho que tem que fazer para dar voz aos cidadãos de Maputo e de Gaza, fazer com que se lhes acabe a apatia e falta de representatividade.
Por culpa exclusiva do chefe, todas as tentativas de representar estes cidadãos falharam redondamente, e estes deixaram de se ver representados no Parlamento. Os universitários, esses nem se interessam mais pela política, o mesmo se dizendo dos jovens em geral.
Um dos grandes desafios é desmistificar o cenário actual, onde parece ter havido uma «Conferência de Berlim» que dividiu o país em Norte e Sul.
Há que conquistar o eleitorado, que dar uma imagem de transparência, de abertura permanente, de trabalho sério e responsável. Os partidos não podem ter secretários gerais de opereta, meros verbos de encher, para assinar documentos e pouco mais. Os partidos têm que ter estudiosos dos assuntos nacionais, cada área deve ser tratada com competência, para que hajam respostas prontas e atempadas, uma verdadeira fiscalização da actividade política.
Não basta falar de «governo sombra», se calhar é preferível nem sequer falar, desde que se trabalhe e se intervenha.
O Grande Líder, que se auto intitulou o pai da democracia, rapidamente arranjou mais um título, agora é, também, o avô do MDM. (Jafar Gulamo Jafar, Matola, 06 Abril de 2009) (*) jurista
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 08.04.2009
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